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27/04/2013

Tratado das paixões da alma 9



Art. 2 ― Se o amor é a primeira das paixões do concupiscível.



(I, q. 20, a. 1, infra, q. 27, a. 4, III Sent., dist. XXVII, q. 1, a. 3, IV Cont. Gent., cap. XIX, De Verit., q. 26, a. 4, De Virtut., q. 3, a. 3, De Div. Nom., cap. IV, lect. IX).


O segundo discute-se assim. ― Parece que o amor não é a primeira das paixões do concupiscível.

1. ― Pois, a denominação da virtude concupiscível deriva da concupiscência, paixão idêntica ao desejo. Ora, a denominação é dada pelo que é mais importante, como diz Aristóteles 1. Logo, a concupiscência tem precedência sobre o amor.

2. Demais. ― O amor importa uma certa união, pois é uma força unitiva e consistente, como diz Dionísio 2. Ora, a concupiscência ou desejo é um movimento para a união com a coisa cobiçada ou desejada. Logo, tem prioridade sobre o amor.

3. Demais. ― A causa é anterior ao efeito. Ora, a deleitação é às vezes causa do amor, pois alguns amam por deleitação, como diz Aristóteles 3. Logo, é anterior ao amor, que portanto não é a primeira entre as paixões do concupiscível.

Mas, em contrário, diz Agostinho que todas as paixões são causadas pelo amor, pois o amor, desejando ardentemente possuir o seu objecto, é desejo, quando porém já o possui e o goza é alegria 4. Logo, o amor é a primeira das paixões do concupiscível.

Os objectos do concupiscível são o bem e o mal. Ora, sendo este a privação daquele, o bem há-de necessariamente ter prioridade. Logo, todas as paixões que o têm por objecto são naturalmente anteriores às que têm o mal como objecto tendo cada uma a sua paixão oposta, pois, buscando-se o bem é forçoso eliminar-se o mal oposto.

Ora, o bem tem a natureza de fim que é, embora, primeiro na intenção e posterior, na execução. Donde a ordem das paixões do concupiscível pode ser considerada relativamente à intenção ou à execução. Quanto a esta, é primeiro aquilo que primeiramente existe no ser que tende para o fim. Ora, é manifesto que tudo o que tende para um fim há-de ter, primeiro, aptidão para o alcançar e proporção com ele, pois, nada tende para um fim não proporcionado. Segundo, há-de ser movido para o fim. Terceiro, repousa no fim alcançado. Ora, essa aptidão própria da proporção do apetite com o bem é o amor, que não é mais do que a complacência no bem. Depois, o movimento para o bem é o desejo ou concupiscência. E por fim o repouso no bem é a alegria ou deleitação. Donde, segundo esta ordem, o amor precede o desejo e este, a deleitação. O contrário, porém dá-se na ordem da intenção, porque a deleitação intencionada causa o desejo e o amor, pois ela é o gozo do bem que, como o bem mesmo, é de certo modo fim, conforme já dissemos 5.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― As coisas são denominadas conforme nós as conhecemos, pois, as palavras são signos das coisas inteligidas, segundo o Filósofo 6. Ora, conhecemos comumente a causa pelo efeito. Ora, o efeito do amor, quando o objecto amado já é possuído, é a deleitação, quando porém ainda não o é, é desejo ou concupiscência. Pois, como diz Agostinho, o amor é mais sentido quando o produz a carência 7. Logo, entre todas as paixões do concupiscível, a concupiscência é a mais sensível, e por isso a potência recebe dela a sua denominação.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Há união dupla entre a coisa amada e o amante. ― Uma real, por conjunção com a própria coisa que é amada. E tal união respeita à alegria ou à deleitação, resultante do desejo. ― Outra é a união afectiva, por aptidão ou proporção, assim, quando um ser tem aptidão relativamente a outro e inclinação para ele deste já participa. É assim que o amor implica a união, a qual precede ao movimento do desejo.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A deleitação causa o amor, enquanto tem prioridade na intenção.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. II De Anima, lect. IX.
2. IV cap. De div. Nom., lect. IX.
3. VIII Ethic., lect. III, IV.
4. XIV De civ. Dei, cap. VII.
5. Q. 11, a. 3 ad 4.
6. I Peri., lect. II.
7. X De Trin., cap. XII.

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