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01/04/2013

Resumos sobre a Fé cristã 69


2. Creio na Santa Igreja Católica

2.1. A revelação da Igreja

A Igreja é um mistério (cf., p. ex., Rm 16,25-27), quer dizer, uma realidade em que entram em contacto e comunhão Deus e os homens. Igreja vem do grego ekklesia, que significa assembleia dos convocados. No Antigo Testamento foi utilizada para traduzir o quahal Yahweh, ou assembleia reunida por Deus para O honrar com o culto devido. São exemplos disso a assembleia do Sinai, e a que se reuniu nos tempos do rei Josías a fim de louvar a Deus e voltar à pureza da Lei (reforma). No Novo Testamento há várias acepções, em continuidade com o Antigo, mas designa especialmente o povo que Deus convoca e reúne de todos os confins da terra, para constituir a assembleia daqueles que, pela fé e pelo Baptismo, se tornam filhos de Deus, membros de Cristo e templo do Espírito Santo (cf. Catecismo, 777; Compêndio, 147).

Na Sagrada Escritura, a Igreja recebe diversos nomes, cada um dos quais sublinha especialmente alguns aspectos do mistério da comunhão de Deus com os homens. “Povo de Deus” é um título que Israel recebeu. Quando se aplica à Igreja, novo Israel, quer dizer que Deus não quis salvar os homens isoladamente, mas constituindo-os num único povo reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que O conhecesse na verdade e O servisse santamente 3. Também significa que ela foi eleita por Deus, que é uma comunidade visível que está a caminho – entre as nações – da sua pátria definitiva. Nesse povo, todos têm a comum dignidade dos filhos de Deus, uma missão comum, ser sal da terra e um fim comum, que é o Reino de Deus. Todos participam das três funções de Cristo, real, profética e sacerdotal (cf. Catecismo, 782-786).

Quando dizemos que a Igreja é o “corpo de Cristo” queremos sublinhar que, através do envio do Espírito Santo, Cristo une intimamente consigo os fiéis, sobretudo na Eucaristia, incorpora-os à sua Pessoa pelo Espírito Santo, mantendo-se e crescendo unidos entre si na caridade, formando um só corpo na diversidade dos membros e funções. Também se indica que a saúde ou a doença de um membro se repercute em todo o corpo (cf. 1 Cor 12, 1-24), e que os fiéis, como membros de Cristo, são seus instrumentos para agir no mundo (cf. Catecismo, 787-795). A Igreja é também chamada “Esposa de Cristo” (cf. Ef 5, 26 seg.), o que acentua, na união que a Igreja tem com Cristo, a distinção de ambos os sujeitos. Também assinala que a Aliança de Deus com os homens é definitiva, porque Deus é fiel às suas promessas, e que a Igreja também corresponde fielmente, sendo Mãe fecunda de todos os filhos de Deus.

A Igreja é também “templo do Espírito Santo”, porque Ele vive no corpo da Igreja, edifica-a na caridade com a Palavra de Deus, com os sacramentos, com as virtudes e os carismas 4. Como Cristo foi o verdadeiro templo do Espírito Santo (cf. Jo 2, 19-22), esta imagem assinala também que cada cristão é Igreja e templo do Espírito Santo. Os carismas são dons que o Espírito concede a cada pessoa para o bem dos homens, para as necessidades do mundo e particularmente para a edificação da Igreja. Corresponde aos pastores discernir e avaliar os carismas (cf. 1 Ts 5, 20-22; Compêndio, 160).

«A Igreja encontra sua origem e a sua realização plena no eterno desígnio de Deus. Foi preparada na Antiga Aliança com a eleição de Israel, sinal da reunião futura de todas as nações. Fundada pelas palavras e as acções de Jesus Cristo, foi realizada, sobretudo, mediante a sua Morte redentora e a sua Ressurreição. Foi depois, manifestada como mistério de salvação mediante a efusão do Espírito Santo no Pentecostes. Terá a sua realização plena no final dos tempos, como assembleia celeste de todos os redimidos» (Compêndio, 149; cf. Catecismo, 778).

Quando Deus revela o seu desígnio de salvação, que é permanente, manifesta também como o deseja realizar. Esse desígnio não o levou a cabo com um único acto, mas primeiro foi preparando a humanidade para acolher a Salvação; só mais tarde se revelou plenamente em Cristo. Esse oferecimento de Salvação, na comunhão divina e na unidade da humanidade, foi definitivamente outorgado aos homens através do dom do Espírito Santo, que foi derramado nos corações dos crentes pondo-nos em contacto pessoal e permanente com Cristo. Ao ser filhos de Deus em Cristo, reconhecemo-nos irmãos dos outros filhos de Deus. Não há uma fraternidade, ou unidade do género humano, que não se baseie na comum filiação divina que nos foi oferecida pelo Pai em Cristo; não há uma fraternidade sem um Pai comum, a quem chegamos pelo Espírito Santo.

Não foram os homens que fundaram a Igreja; nem sequer é uma resposta humana nobre a uma experiência de salvação realizada por Deus em Cristo. Nos mistérios da vida de Cristo, o ungido pelo Espírito, cumpriram-se as promessas anunciadas na Lei e nos profetas. Também se pode dizer que a fundação da Igreja coincide com a vida de Jesus Cristo; a Igreja vai tomando forma em relação à missão de Cristo entre os homens, e para os homens. Não há um momento em que Cristo tenha fundado a Igreja, mas fundou-a em toda a sua vida: desde a Encarnação até à Morte, Ressurreição, Ascensão e com o envio do Paráclito. Ao longo da vida, Cristo – em quem habitava o Espírito – foi manifestando como devia ser a sua Igreja, dispondo primeiro umas coisas e depois outras. Depois da Ascensão, o Espírito foi enviado à Igreja e nela permanece unindo-a à missão de Cristo, recordando-lhe o que o Senhor revelou, e guiando-a ao longo da história até à sua plenitude. Ele é a causa da presença de Cristo na Igreja pelos sacramentos e pela Palavra, e adorna-a continuamente com diversos dons hierárquicos e carismáticos 5. Pela sua presença cumpre-se a promessa do Senhor de estar sempre com os seus até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 20).

O Concílio Vaticano II retomou uma antiga expressão para designar a Igreja: “comunhão”. Com isso indica-se que a Igreja é a expansão da comunhão íntima da Santíssima Trindade aos homens; e que nesta terra ela é já comunhão com a Trindade divina, embora não se tenha consumado ainda na sua plenitude. Além de comunhão, a Igreja é sinal e instrumento dessa comunhão para todos os homens. Por ela participamos na vida íntima de Deus e pertencemos à família de Deus como filhos no Filho pelo Espírito 6. Isto realiza-se de forma específica nos sacramentos, principalmente na Eucaristia, também chamada muitas vezes comunhão (cf. 1 Cor 10, 16). Por último, chama-se também comunhão porque a Igreja configura e determina o espaço da oração cristã (cf. Catecismo, 2655, 2672, 2790).

Miguel de Salis Amaral

Bibliografia:

Catecismo da Igreja Católica, 683-688; 731-741.
Compêndio do Catecismo de la Igreja Católica, 136-146.
João Paulo II, Enc. Dominum et Vivificantem, 18-V-1986, 3-26.
João Paulo II, Catequese sobre o Espírito Santo, 8-XII-1989.
São Josemaria, Homilia «O Grande Desconhecido», em Cristo que Passa, 127-138.

Leituras recomendadas:

Catecismo da Igreja Católica, 748-945.
Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 147-193.
São Josemaria, Homilia «Lealdade à Igreja», em Amar a Igreja, Rei dos Livros, Lisboa 1986.

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Notas:
3 Cf. Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, 4 e 9; São Cipriano, De Orat Dom, 23 (CSEL 3, 285).
4 «Quando invocares, pois, Deus Pai, recorda-te de que foi o Espírito quem, ao mover a tua alma, te deu essa oração. Se não existisse o Espírito Santo, não haveria na Igreja qualquer palavra de sabedoria ou de ciência, porque está escrito: é dada pelo Espírito a palavra de sabedoria (I Cor XII, 8)... Se o Espírito Santo não estivesse presente, a Igreja não existiria. Mas, se a Igreja existe, é certo que o Espírito Santo não falta» (São João Crisóstomo, Sermones panegyrici in solemnitates D. N. Iesu Christi, hom. 1, De Sancta Pentecostes, n. 3-4, PG 50, 457).
5 Cf. Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 4 e 12.
6 Cf. Concílio Vaticano II, Const. Gaudium et Spes, 22.

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