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27/03/2013

Tratado dos actos humanos 72


Questão 18: Da bondade e da malícia dos actos humanos em geral.

Art. 8 – Se há actos especificamente indiferentes.




(II Sent., dist. XL, a . 5: De Malo, 1. 2, a . 5).

O oitavo discute-se assim. ― Parece que não há actos especificamente indiferentes.


1. ― Pois, o mal é a privação do bem, segundo Agostinho 1. Ora, privação e posse opõem-se imediatamente, conforme o Filósofo 2. Logo, nenhum acto é especificamente indiferente, quase médio entre o bem e o mal.

2. Demais. ― Os actos humanos se especificam pelo fim ou pelo objecto, com já se disse 3. Ora, um e outro é bom ou mau. Logo, todo acto humano é especificamente bom ou mau e nenhum é indiferente.

3. Demais. ― Como já se disse 4, é considerado bom o acto que tem a devida perfeição de bondade, mau, aquele ao qual ela falece. Ora, necessariamente todo acto ou tem a plenitude total da sua bondade ou algo dela lhe falta. Logo, e necessariamente, todo acto é especificamente bom ou mau e nenhum, indiferente.

Mas, em contrário, diz Agostinho: há certos fatos intermediários que podem ser produzidos com bom ou mau ânimo, dos quais seria temerário julgar 5. Logo, há actos especificamente indiferentes.

Como já se disse 6, todo acto se especifica pelo seu objecto, e o acto humano chamado moral especifica-se pelo seu objecto, referido ao princípio dos actos humanos, que é a razão. Donde, se o objecto do acto inclui algo de conveniente à ordem da razão, esse acto será especificamente bom, p. ex., dar esmola a um pobre. Se porém incluir algo de repugnante à ordem da razão, será especificamente mau, p. ex., furtar, i. é, apoderar-se do alheio. Ora, pode acontecer que o objecto do acto não inclua nada de pertencente à sobredita ordem, p. ex., ajuntar uma palha do chão, ir ao campo e outros. E tais actos são especificamente indiferentes.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Há duas espécies de privação: Uma é a do ser, a qual nada deixa e tudo elimina, assim, a cegueira elimina totalmente a vista, as trevas, a luz, a morte, a vida, e entre esta privação e o modo de ser que lhe é oposto não há intermediário possível. A outra consiste em ser privado de certo modo, assim a doença é privação da saúde, não por eliminá-la totalmente, mas por predispor para a sua perda total, que se dá pela morte, e esta privação, deixando alguma coisa, não está sempre em oposição imediata como o seu contrário. Ora, deste modo é que o mal é privação do bem, como diz Simplício 7, pois, deixando algo dele, não o exclui totalmente. Donde, pode haver um meio-termo entre o bem e o mal.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Todo objecto ou fim tem alguma bondade ou malícia, pelo menos natural mas, nem sempre implica a bondade ou malícia moral, considerada em relação à razão, como já se disse. Ora, é desta última que agora se trata.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Nem tudo o que convém a um acto lhe pertence à espécie. Donde, embora em a noção da sua espécie não esteja compreendido tudo o que pertence à plenitude da bondade do acto, nem por isso este há de ser especificamente mau ou bom, assim, o homem não é especificamente nem virtuoso nem vicioso.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Enchir., cap. XI.
2. Praedicam., cap. VIII.
3. Q. 18, a. 6.
4. Q. 18, a. 1.
5. Lib. II De serm. Domini in monte, cap. XVIII.
6. Q. 18, a. 2, 5.
7. Comment. Super lib. Praedicamentorum (in cap. De oppos.).


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