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22/03/2013

Tratado dos actos humanos 67


Questão 18: Da bondade e da malícia dos actos humanos em geral.

Art. 3 ― Se as circunstâncias tornam uma acção boa ou má.



(II Sent., dist. XXVI, a . 5, De Malo, q. 2, a . 4, ad 5).

O terceiro discute-se assim. ― Parece que as circunstâncias não tornam uma acção boa


1. ― Pois, as circunstâncias circunstam ao acto, existindo como que fora dele, segundo já se disse 1. Ora, o bem e o mal existem nas próprias coisas, como diz Aristóteles 2. Logo, as acções não são nem boas nem más em virtude das circunstâncias.

2. Demais. ― É sobretudo da bondade e malícia dos actos que trata a ciência dos costumes. Ora, as circunstâncias, sendo acidentes dos actos, escapam à consideração da ciência, pois nenhuma trata do que é acidental, como diz Aristóteles 3. Logo, a bondade e a malícia dos actos não resulta das circunstâncias.

3. Demais. ― O que convém a uma coisa substancialmente não se lhe atribui acidentalmente. Ora, do primeiro modo é que o bem e o mal convêm às acções pois elas podem ser genericamente boas ou más, como já se disse 4. Logo, não lhes convêm serem boas ou más em virtude das circunstâncias.

Mas, em contrário, diz o Filósofo 5, que o homem virtuoso age como e quando deve, e conforme às demais circunstâncias. Logo, ao contrário, o vicioso, dado a cada espécie de vício, age como e quando não deve e em desconformidade com as demais circunstâncias. Logo, as acções humanas são boas ou más conforme as circunstâncias.

Os seres naturais não recebem da forma substancial, que as especifica, toda a plenitude da perfeição que lhes é devida, mas muito lhes acrescentam os acidentes supervenientes, assim ao homem, a figura, a cor e os demais acidentes, dos quais, a falta de algum, para a proporção normal, redunda em mal. Pois, o mesmo se dá com as acções, cuja plenitude de bondade não consiste toda na espécie, mas no que lhes advém como acidente. Ora, tais são as circunstâncias devidas. Logo, se uma delas falta, a acção há-de ser má.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― As circunstâncias são exteriores à acção, por não serem da essência desta, embora nela existam, como acidentes, do mesmo modo que os acidentes das substâncias naturais são exteriores às essências delas.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Nem todos os acidentes têm relações contingentes com a substância, mas alguns têm-nas necessárias, e como tal são objectos  da consideração científica. E é deste modo que a ciência dos costumes considera as circunstâncias dos actos.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― O bem e o ser convertem-se. Ora, assim como este é substancial e acidental, assim também, tanto dos seres naturais como das acções morais, o bem é essencial e substancial.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 7, a. 1.
2. VI Metaph., lect. IV.
3. VI Metaph., lect. II.
4. Q. 18, a. 2.
5. II Ethic., lect. III.

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