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21/03/2013

Tratado dos actos humanos 66


Questão 18: Da bondade e da malícia dos actos humanos em geral.

Art. 2 ― Se a acção humana haure no objecto a sua bondade ou malícia.



(Infra, q. 19, a . 1, II Sent., dist. 36, a . 5).

O segundo discute-se assim. ― Parece que a acção humana não haure no objecto a bondade ou a malícia.


1. ― Pois, o objecto de uma acção é uma realidade. Ora, o mal, está não nas coisas, mas no uso que delas fazem os pecadores, como diz Agostinho 1. Logo, a acção humana não haure no objecto a sua bondade ou malícia.

2. Demais. ― O objecto é como a matéria da acção. Ora, a bondade de uma coisa não provém da matéria, mas antes, da forma, que a actualiza. Logo, não é no objecto que os actos haurem a bondade ou a malícia.

3. Demais. ― O objecto da potência activa está para a acção, como o efeito para a causa. Ora, a bondade da causa não depende do efeito, mas antes, ao contrário. Logo, não se tira do objecto a bondade nem a malícia do acto humano.

Mas, em contrário, diz a Escritura (Os 9, 10): e se tornaram abomináveis como as coisas que amaram. Ora, o homem, pela malícia dos seus actos, é que se torna abominável perante Deus. Logo, essa malícia depende dos maus objectos que o homem ama. E o mesmo se deve dizer da bondade.

Conforme já se disse 2, o bem e o mal das acções, como das demais coisas, depende da plenitude ou da deficiência do ser. Ora, o que em primeiro lugar concorre para tal plenitude é aquilo que especifica. E assim como a forma é a que especifica um ser natural, assim o objecto é o que especifica o acto, como o termo, o movimento. Donde, assim como a bondade primeira de um ser natural depende da sua forma, que o especifica, assim a primeira bondade do acto moral depende do objecto conveniente, e por isso alguns costumam falar do que é bom, no seu género, como, p. ex., usar o que se possui. E assim como, nos seres naturais, o primeiro mal consiste em o ser gerado não conseguir a sua forma específica, p. ex., se a geração, em vez de produzir um homem, produz outro ser, assim também o primeiro mal nos actos morais, é o procedente do objecto, como tomar o bem de outrem. E este chama-se o mal no seu género, tomando género no sentido de espécie, como quando dizemos género humano para significar toda a espécie humana.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Embora as coisas exteriores sejam em si mesmas boas, nem sempre contudo mantêm a proporção devida com tal acção ou tal outra, e por isso, consideradas como objectos de tais acções, cessam de ser boas.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O objecto não é a matéria da qual procede a acção, mas a matéria sobre a qual ela recai, e exerce de certo modo a função de forma, enquanto especifica.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Nem sempre o objecto de uma acção humana é o de uma potência activa. Pois, a potência apetitiva é de certo modo passiva, enquanto movida pelo objecto desejado, e contudo é princípio de actos humanos. Além disso, os objectos das potências activas não são eleitos senão quando já transformados, assim, o alimento transformado é o efeito da potência nutritiva, ao passo que o ainda não transformado é como a matéria sobre a qual age essa potência. Além disso, sendo o objecto de certo modo efeito da potência activa, resulta que é o termo da acção dela. E por consequência dá-lhe a forma e a espécie, pois o movimento especifica-se pelo termo. E embora a bondade de uma acção não seja causada pela bondade do seu efeito, contudo chamamos boa a acção capaz de produzir bom efeito, de modo que na proporção entre a acção e o efeito consiste a própria razão da sua bondade.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. III De doct. Christ., cap. XII.
2. Q. 18, a. 1.

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