Páginas

15/03/2013

Tratado dos actos humanos 61


Questão 17: Dos actos ordenados pela vontade.

Art. 6 ― Se um acto da razão pode ser ordenado.




(De Vertut., q. 1, a . 7).

O sexto discute-se assim. ― Parece que um acto da razão não pode ser ordenado.



1. ― Pois, é inadmissível que alguém ordene a si mesmo. Ora, é a razão que ordena, como já se disse 1. Logo, o seu acto não pode ser ordenado.

2. Demais. ― O essencial é diverso do participado. Ora, a potência, cujo acto é ordenado pela razão, é razão participativamente, com diz o Filósofo 2. Logo, não pode ser ordenado o acto da potência que é, por essência, razão.

3. Demais. ― É ordenado o acto que está em nosso poder. Ora, conhecer e julgar a verdade, acto da razão, não está sempre em nosso poder. Logo, o acto da razão não pode ser ordenado.

Mas, em contrário. ― O que fazemos livremente, podemos ordenar. Ora, o acto da razão exerce-se livremente, pois, como diz Damasceno, o homem procura, perscruta, julga e dispõe livremente 3. Logo, o acto da razão pode ser ordenado.

A razão podendo refletir sobre si mesma, ordena não só os actos das outras potências mas, o seu próprio, e portanto, este pode ser ordenado. Devemos porém atender a que o acto da razão pode ser considerado sob duplo aspecto: relativamente ao seu exercício, e então pode sempre ser ordenado, como quando se indica a alguém que preste atenção e use da razão, e relativamente ao objeto, e então ele se desdobra em dois. Ou, se trata da apreensão de uma verdade qualquer, e isso não está em nosso poder, pois depende de luz natural ou sobrenatural, de que dispomos, e portanto, neste caso, o acto da razão não está em nosso poder e não pode ser ordenado. Ou se trata de dar a razão o seu assentimento ao que apreende aquilo a que o nosso intelecto assente naturalmente, como os primeiros princípios, dar o assentimento ou o dissentimento não depende de nós, mas, da ordem da natureza, e portanto, propriamente falando, isso não pode ser ordenado por nós. Há porém certas verdades apreendidas que não convencem o intelecto de tal modo, que não possa assentir ou dissentir ou, pelo menos, suspender o assentimento ou o dissentimento, por uma causa qualquer, e em tais casos, assentir ou dissentir está em nosso poder e cai sob nossa ordem.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A razão ordena a si mesma como a vontade a si mesma se move, conforme já se disse 4, e isso se dá porque essas duas faculdades podem refletir sobre o próprio acto e passar de um para outro.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Por causa da diversidade dos objectos, submetidos ao acto da razão, nada impede que esta participe de si mesma, assim como o conhecimento das conclusões participa do conhecimento dos princípios.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Resulta clara do que foi dito.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.

___________________________
Notas:
1. Q. 17, a. 1.
2. I Ethic., lect. XX.
3. II Orth. Fid., cap. XXII.
4. Q. 9 a. 3.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.