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28/03/2013

Resumos sobre a Fé cristã 65

Jesus Cristo. Deus e Homem verdadeiro. 4

4. A Humanidade Santíssima de Jesus Cristo

«Na Encarnação “a natureza humana foi assumida, não absorvida” (GS 22, 2)» (Catecismo, 470). Por isso a Igreja ensinou «a plena realidade da alma humana, com as suas operações de inteligência e vontade, e do corpo humano de Cristo. Mas, paralelamente, a mesma Igreja teve de lembrar repetidamente que a natureza humana de Cristo pertence, como própria, à pessoa divina do Filho de Deus que a assumiu. Tudo o que Ele fez e faz nela, depende de “um da Trindade”. Portanto, o Filho de Deus comunica à sua humanidade, o seu próprio modo de existir pessoal na Santíssima Trindade. E assim, tanto na sua alma, como no seu corpo, Cristo exprime humanamente os costumes divinos da Trindade (cf. Jo 14, 9-10» (Catecismo, 470).

A alma humana de Cristo é dotada de um verdadeiro conhecimento humano. A doutrina católica ensinou tradicionalmente que Cristo, enquanto homem, possuía um conhecimento adquirido, uma ciência infusa e a ciência beata própria dos bem-aventurados no Céu. O conhecimento adquirido de Cristo não podia ser, por si mesmo, ilimitado: «por isso o Filho de Deus, fazendo-Se homem, pôde aceitar “crescer em sabedoria, estatura e graça” (Lc 2, 52) e também teve de Se informar sobre o que, na condição humana, deve aprender-se de modo experimental (cf. Mc 6, 38; 8, 27; Jo 11, 34)» (Catecismo, 472). Cristo, em quem repousa a plenitude do Espírito Santo com os Seus dons (cf. Is 11, 1-3), possuiu também a ciência infusa, quer dizer, aquele conhecimento que não se adquire directamente pelo trabalho da razão, mas é infundido directamente por Deus na inteligência humana. Com efeito, «o Filho também mostrava, no seu conhecimento humano, a clarividência divina que tinha dos pensamentos secretos do coração dos homens (cf. Mc 2, 8; Jo 2, 25; 6, 61» (Catecismo, 473). Cristo possuía também a ciência própria dos beatos: «Pela sua união com a Sabedoria divina na pessoa do Verbo Encarnado, o conhecimento humano de Cristo gozava, em plenitude, da ciência dos desígnios eternos que tinha vindo revelar (cf. Mc 8, 31; 9, 31; 10, 33-34; 14, 18-20, 26-30» (Catecismo, 474). Por tudo isto deve afirmar-se que Cristo, enquanto homem, é infalível: admitir o erro n’Ele seria admiti-lo no Verbo, única pessoa existente em Cristo. No que se refere a uma eventual ignorância propriamente dita, é preciso ter presente que «o que neste domínio reconhece ignorar (cf. Mc 13, 32) declara, noutro ponto não ter a missão de o revelar (cf. Act 1, 7)» (Catecismo, 474). Entende-se que Cristo era humanamente consciente de ser o Verbo e da sua missão salvífica 13. Por outro lado, a teologia católica, ao pensar que Cristo possuía já na terra a visão imediata de Deus, negou sempre a existência em Cristo da virtude da fé 14.

Frente às heresias monoenergeta e monotelista que, em lógica continuidade com o monofisismo precedente, afirmavam que em Cristo há uma só operação ou uma só vontade, a Igreja confessou no III Concílio ecuménico de Constantinopla, no ano 681, que «Cristo possui duas vontades e duas operações naturais, divinas e humanas, não opostas mas cooperantes, de forma que o Verbo feito carne quis humanamente, em obediência ao Pai, tudo quanto decidiu divinamente com o Pai e o Espírito Santo para a nossa salvação (cf. DS 556-559). A vontade humana de Cristo “segue a sua vontade divina sem fazer resistência nem oposição em relação a ela, antes estando subordinada a essa vontade omnipotente” (DS 556)» (Catecismo, 475). Trata-se de uma questão fundamental pois está directamente relacionada com o ser de Cristo e com a nossa salvação. São Máximo, o Confessor, distinguiu-se neste esforço doutrinal de clarificação e serviu-se, com grande eficácia, da conhecida passagem da oração de Jesus no Horto, em que aparece o acordo da vontade humana de Cristo com a vontade do Pai (cf. Mt 26, 39).

Consequência da dualidade de naturezas é também a dualidade de operações. Em Cristo há duas operações, as divinas, procedentes da sua natureza divina e as humanas, que procedem da natureza humana. Fala-se também de operações teândricas para referir aquelas em que a operação humana actua como instrumento da divina: é o caso dos milagres realizados por Cristo.

O realismo da Encarnação do Verbo manifestou-se também na última grande controvérsia cristológica da época patrística: a disputa sobre as imagens. O costume de representar Cristo, em frescos, ícones, baixos-relevos, etc., é antiquíssima e existem testemunhos que remontam, pelo menos, ao século segundo. A crise iconoclasta produziu-se em Constantinopla no início do século VIII e teve origem numa decisão do Imperador. Já antes tinha havido teólogos que se tinham mostrado, ao longo dos séculos, partidários ou contrários ao uso das imagens, mas ambas as tendências tinham coexistido pacificamente. Os opositores costumavam aduzir que Deus não tem limites e não pode, portanto, encerrar-se no interior dumas linhas, duns traços, não se pode circunscrever. No entanto, como assinalou São João Damasceno é a própria Encarnação que circunscreve o Verbo que não se pode circunscrever «Uma vez que o Verbo se fez carne, assumindo uma verdadeira natureza humana, o corpo de Cristo era circunscrito. Portanto, o rosto humano de Jesus pode ser “pintado” (Gl 3, 2)» (Catecismo, 476). No II Concílio ecuménico de Niceia, do ano 787, «a Igreja reconheceu como legítimo que Ele fosse representado em santas imagens» (Catecismo, 476). Com efeito, «as particularidades individuais do corpo de Cristo exprimem a pessoa divina do Filho de Deus. Este fez seus, os traços do seu corpo humano de tal modo que, pintados numa imagem sagrada, podem ser venerados porque o crente que venera a Sua imagem, venera nela a pessoa nela representada» 15.

A alma de Cristo, ao não ser divina por essência mas humana, foi aperfeiçoada, como as almas dos outros homens, mediante a graça habitual, que é «um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural que aperfeiçoa a alma, mesmo para a tornar capaz de viver com Deus e de agir por seu amor» (Catecismo, 2000). Cristo é santo, como anunciou o arcanjo S. Gabriel a S. Santa Maria na Anunciação (Lc 1, 35). A humanidade de Cristo é radicalmente santa, fonte e paradigma de santidade de todos os homens. Pela Encarnação, a natureza humana de Cristo foi elevada à maior união com a divindade – com a Pessoa do Verbo – à qual criatura alguma pode ser elevada. Do ponto de vista da humanidade do Senhor, a união hipostática é o maior dom que jamais se tenha podido receber, e costuma conhecer-se com o nome de graça de união. Pela graça habitual a alma de Cristo foi divinizada com essa transformação que eleva a natureza e as operações da alma ao plano da vida íntima de Deus, proporcionando às suas operações sobrenaturais uma conaturalidade que, de outro modo, não teria. A sua plenitude de graça implica também a existência das virtudes infusas e dos dons do Espírito Santo. Desta plenitude de graça de Cristo, «todos recebemos, graça sobre graça» (Jo 1, 16). A graça e os dons foram outorgados a Cristo não só em atenção à sua dignidade de Filho, mas também em atenção à sua missão de novo Adão e Cabeça da Igreja. Por isso, fala-se duma graça capital em Cristo, que não é uma graça distinta da graça pessoal do Senhor, mas um aspecto dessa mesma graça que sublinha a sua acção santificadora sobre os membros da Igreja. A Igreja, com efeito, «é o Corpo de Cristo» (Catecismo, 805), um Corpo «cuja cabeça é Cristo: ela vive d’Ele, n’Ele e para Ele; e Ele vive com ela e nela» (Catecismo, 807).

O Coração do Verbo encarnado. «Jesus, conheceu-nos e amou-nos, a todos e a cada um, durante a Sua vida, a Sua agonia e a Sua paixão, entregando-Se por cada um de nós: “O Filho de Deus amou-me e entregou-Se por mim”. Amou-nos a todos com um coração humano» (Catecismo, 478). Por este motivo, o Sagrado Coração de Jesus «é considerado sinal e símbolo, por excelência daquele amor com que o divino Redentor ama, sem cessar, o eterno Pai e todos os homens» (cf. ibidem).

josé antonio riestra

Bibliografia básica:

Catecismo da Igreja Católica, 422-483.
Bento XVI-Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré, Esfera dos Livros, Lisboa 2007, pp. 395-435.

Leituras recomendadas:

A. Amato, Jesús el Señor, BAC, Madrid 1998.
F. Ocáriz – L.F. Mateo Seco – J.A. Riestra, El misterio de Jesucristo, 3ª ed., EUNSA, Pamplona 2004.

(Resumos da Fé cristã: © 2013, Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet)

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Notas:
13 Cf. Comissão Teológica Internacional, La conciencia que Jesús tenía de Sí mismo y de su misión (1985), em ID., Documentos 1969-1996, 2ª ed., BAC, Madrid 2000, 377-391.
14 Cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Notificação, n. V, 26-XI-2006.
15 Concílio de Niceia II, DS 601.

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