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03/03/2013

Resumos sobre a Fé Cristã 55



2. A Sagrada Escritura, testemunho da Revelação


O povo de Israel, sob inspiração e mandato de Deus, ao longo dos séculos registou por escrito o testemunho da Revelação de Deus na sua história, relacionando-a directamente com a revelação do único e verdadeiro Deus feita aos nossos Pais. Através da Sagrada Escritura, as palavras de Deus manifestam-se com palavras humanas, até assumir, no Verbo Encarnado, a própria natureza humana. Além das Escrituras de Israel, acolhidas pela Igreja e conhecidas como Antigo ou Primeiro Testamento, os apóstolos e os primeiros discípulos registaram também, por escrito, o testemunho da Revelação de Deus tal como se realizou plenamente no Seu Verbo, de cuja passagem pela Terra foram testemunhas, de modo particular, do mistério pascal da Sua morte e ressurreição, dando, assim, origem aos livros do Novo Testamento.

A verdade de que o Deus, de quem as Escrituras de Israel dão testemunho, é o único e verdadeiro Deus, criador do céu e da terra, põe-se em evidência, em particular, nos “livros sapienciais”. O seu conteúdo supera os confins do povo de Israel para suscitar o interesse pela experiência comum do género humano diante dos grandes temas da existência, desde o sentido do cosmos ao sentido da vida do homem (Sabedoria); desde as interrogações sobre a morte e do que vem a seguir a ela, até ao significado da actividade humana sobre a terra (Qoh); desde as relações familiares e sociais à virtude que deve regulá-las para viver de acordo com os planos de Deus criador e alcançar, assim, a plenitude da própria humanidade (Provérbios, Ben Sirá, etc.).

Deus é o autor da Sagrada Escritura, que os autores sagrados (hagiógrafos), também eles autores do texto, redigiram sob a inspiração do Espírito Santo. Para a sua composição, Deus «escolheu e serviu-se de homens, na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria» 6 (cf. Catecismo, 106). Tudo o que os escritores sagrados afirmam pode considerar-se «afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve acreditar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada nas sagradas Letras» 7.

Para compreender correctamente a Sagrada Escritura há que ter presente o sentido da Escritura – literal e espiritual; este último reconhecível também no alegórico, moral e analógico – e os diversos géneros literários em que foram redigidos os diferentes livros ou partes dos mesmos (cf. Catecismo, 110, 115-117). Em particular, a Sagrada Escritura deve ser lida na Igreja, ou seja, à luz da sua tradição viva e da analogia da fé (cf. Catecismo, 111-114): a Escritura deve ser lida e compreendida de acordo com o mesmo Espírito com que foi escrita.

Os diversos estudiosos que se esforçam por interpretar e aprofundar o conteúdo da Escritura propõem os seus resultados a partir da autoridade científica pessoal. Ao Magistério da Igreja compete a função de formular uma interpretação autêntica, vinculativa para os fiéis, baseada na autoridade do Espírito que assiste ao ministério docente do Romano Pontífice e dos Bispos em comunhão com ele. Graças a esta assistência divina, a Igreja, já desde os primeiros séculos, reconheceu os livros que continham o testemunho da Revelação, no Antigo e no Novo Testamento, formulando assim o “cânon” da Sagrada Escritura (cf. Catecismo, 120-127).

Uma recta interpretação da Sagrada Escritura, reconhecendo os diferentes sentidos e géneros literários nela presentes, é necessária quando os autores sagrados descrevem aspectos do mundo que pertencem também ao âmbito das ciências naturais: a formação dos elementos do cosmos, a aparição das diversas formas de vida sobre a terra, a origem do género humano e, em geral, os fenómenos naturais. Deve evitar-se o erro do fundamentalismo, que não se separa do sentido literal e do género histórico, quando seria lícito fazê-lo. Também deve evitar-se o erro de quem considera as narrações bíblicas como formas puramente mitológicas, sem nenhum conteúdo de verdade a transmitir sobre a história dos acontecimentos e a sua radical dependência da vontade de Deus 8.

giuseppe tanzella-nitti

Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja Católica, 50-133.
Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 1-20.
João Paulo II, Enc. Fides et Ratio, 14-IX-1988, 7-15.

© 2013, Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet
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Notas:
6 Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 11.
7 Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 11.
8 Podem encontrar-se elementos interessantes para uma correcta interpretação da relação com as ciências em Leão XIII, Enc. Providentissimus Deus, 18-XI-1893; Bento XV, Enc. Spiritus Paraclitus, 15-IX-1920 e Pio XII, Enc. Humani Generis, 12-VII-1950.

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