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13/02/2013

Tratado dos actos humanos 31




Questão 12: Da intenção.


Em seguida devemos tratar da intenção.
E sobre esta Questão, cinco artigos se discutem:

Art. 1 ― Se a intenção é acto do intelecto ou da vontade.
Art. 2 ― Se a intenção só se refere ao fim último.
Art. 3 ― Se se pode Intender várias coisas simultaneamente.
Art. 4 ― Se é um só e mesmo movimento a intenção do fim e a vontade dos meios.
Art. 5 ― Se os brutos Intendem o fim.


Art. 1 ― Se a intenção é acto do intelecto ou da vontade.

(II Sent., dist. XXXVIII, a. 3, De Verit., q. 22, a . 13).

O primeiro discute-se assim. Parece que a intenção é acto do intelecto e não da vontade.

1. ― Pois, diz a Escritura (Mt 6, 22): Se o teu olho for simples, todo o teu corpo será luminoso, significando olho, a intenção, como diz Agostinho 1. Ora, os olhos, sendo instrumentos da visão, significam potência apreensiva. Logo, a intenção não é acto da potência apetitiva, mas da apreensiva.

2. Demais. ― No mesmo passo observa Agostinho, que a intenção é chamada luz pelo Senhor, quando o Evangelho diz (Mt 6, 23): Se pois a luz que em ti há são trevas, etc. Ora, a luz diz respeito ao conhecimento. Logo, também a intenção.

3. Demais. ― A intenção designa um certo ordenar-se ao fim. Ora, ordenar é próprio da razão. Logo, a intenção pertence a esta e não à vontade.

4. Demais. ― O acto da vontade recai sobre o fim ou sobre os meios. Quando recai sobre o fim chama-se vontade ou fruição, quando recai sobre os meios, eleição, ora, de uma e outra difere a intenção. Logo, esta não é acto da vontade.

Mas, em contrário, diz Agostinho 2: a intenção da vontade une o corpo visto à vista, e semelhantemente, a imagem existente na memória à fina ponta do espírito, que cogita interiormente. Logo, a intenção é acto da vontade.

Intenção, como o próprio nome o indica, significa tender para alguma coisa. Ora, para alguma coisa tende tanto a acção do motor como o movimento do móvel. Ora, pela acção do motor é que o movimento do móvel tende. Logo, a intenção, primária e principalmente é própria do que move para o fim, e por isso dizemos que o arquiteto, bem como todos os que ordenam, move os outros pelo seu império, ao fim para o qual ele tende. Ora, como já se estabeleceu 3, a vontade move para o fim todas as outras potências da alma. Donde é manifesto, que a intenção é propriamente acto da vontade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Chama-se intenção aos olhos, metaforicamente, não que ela seja própria do conhecimento, mas porque pressupõe este, pelo qual é proposto à vontade o fim para onde ela a move. Assim, com os olhos prevemos para onde devemos corporalmente tender.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Chama-se à intenção luz porque é manifesta ao que entende. Por isso também as obras se chamam trevas, porque o homem sabe o que entende, mas não o que resulta da obra, como Agostinho expõe no mesmo passo.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Por certo que a vontade não ordena, mas tende contudo para alguma coisa, segundo a ordem da razão. Donde, esse nome de intenção designa um acto da vontade, pressuposta à ordenação da razão, que ordena uma coisa para o fim.

RESPOSTA À QUARTA. ― A intenção é acto da vontade relativamente ao fim. Ora, de tríplice modo a vontade visa o fim. Absolutamente, e então chama-se vontade o acto pelo qual queremos, de modo absoluto, a saúde ou coisa semelhante, que exista. De outra maneira, o fim é considerado como o em que a vontade descansa, e então a fruição respeita ao fim. Em terceiro lugar, o fim é considerado como o termo de algo que para ele ordena, e é assim que a intenção diz respeito ao fim. Pois, não intendemos a saúde só porque a queremos, mas porque queremos alcançá-la por alguma meio.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Lib. II De ser. Dom. in monte (cap. XIII).
2. XI De Trinit., cap. IV.
3. Q. 9, a. 1.

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