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11/02/2013

Tratado dos actos humanos 29


Art. 3 ― Se há fruição só do último fim.




(I Sent., dist. I, q. 2, a . 1, Ad Philem., lect II).

O terceiro discute-se assim. ― Parece que não é só do último fim que há fruição.







1. ― Pois, diz o Apóstolo (Fm 1, 20): Sim, irmão. Eu me gozarei de ti no Senhor. Ora, é manifesto que Paulo não colocou o seu último fim no homem. Logo, não é só do último fim que se frui.

2. Demais. ― Fruto é o que se frui. Ora, diz o Apóstolo (Gl 5, 22): O fruto do espírito é a caridade, o gozo, a paz e coisas semelhantes, que não têm natureza de último fim. Logo, não é só deste que há fruição.

3. Demais. ― Os actos da vontade refletem-se sobre si mesmos, pois queremos o querer e amamos o amar. Ora, fruir é acto da vontade, pois, como diz Agostinho, com a vontade fruímos 1. Logo, fruímos da nossa fruição. E não sendo esta o fim último do homem, senão o bem incriado, que é Deus, não é portanto a fruição só do último fim.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Não fruímos quando queremos algo, por causa de outra coisa 2. Ora, só o fim último não é desejado por causa de nada. Logo, só dele há fruição.

Como já se disse 3, a ideia de fruto compreende dois elementos: ser último e aquietar o apetite, com certa doçura e deleite. Ora, o que é último pode sê-lo absoluta ou relativamente: absolutamente se não se refere a outra coisa, relativamente, se se refere a certas coisas. Ora, chama-se propriamente fruto, do qual fruímos em sentido próprio, aquilo que é absolutamente último, com que nos deleitamos a título de fim derradeiro. ― Mas de nenhum modo pode chamar-se fruto ao que não é deleitável em si mesmo, mas desejado somente em dependência de outra coisa, assim uma poção amarga, desejada por causa da saúde. ― Ao que porém traz consigo um certo deleite, à qual se referem realidades precedentes, podemos de algum modo chamar fruto, mas não fruímos disso, segundo a ideia própria e completa de fruto. Donde, diz Agostinho: fruímos das coisas conhecidas nas quais descansa a vontade, com delícias 4. Ora, absolutamente, ela não descansa senão no fim último, pois enquanto está na expectativa de alguma coisa, o movimento da vontade fica suspenso, embora já tenha chegado a um termo. Assim, no movimento local, embora o meio do caminho seja princípio e fim, não é contudo considerado como fim actual senão quando nele repousamos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como pondera Agostinho 5, se o Apóstolo tivesse dito ― Eu me gozarei de ti ― e não acrescentasse ― no Senhor ― teria posto aí o fim do deleite, mas fazendo o acréscimo referido, significou que pôs o fim no Senhor e dele fruiu, como se dissesse que fruiu do irmão, não a título de termo, mas de meio.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O fruto refere-se, de um modo, à arvore que o produz e, de outro, ao homem que o goza. Àquela, como o efeito se refere à causa, a este, como último esperado deleitável. Ora, às coisas enumeradas pelo Apóstolo, no passo aduzido, chamam-se frutos porque são certos efeitos do Espírito Santo em nós, sendo por isso denominados frutos do Espírito Santo, não porém que delas fruamos a título de fim último. ― Ou, de outro modo, chamam-se frutos, segundo Ambrósio, porque são buscados por si mesmos, não decerto por não se referirem à bem-aventurança, mas por terem em si mesmos a razão de nos agradarem.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Como já se disse antes, fim significa, de um modo, a própria coisa e, de outro, a aquisição dela. Não há aí porém dois fins, mas um só, considerado em si mesmo e aplicado a outro. Ora, Deus é o último fim como a realidade que é buscada por último, e é fruição, como posse do fim último. Assim, pois, como Deus não é fim diferente da fruição dele, assim pela mesma ideia de fruição fruímos de Deus e da fruição divina. E o mesmo se dá com a bem-aventurança criada, que consiste na fruição.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. X De Trinit., cap. X.
2. X De Trinit., cap. XI.
3. Q. 11, a. 1.
4. X De Trinit., cap. X.
5. I De Doctrina christ., cap. XXXIII

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