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06/02/2013

Tratado dos actos humanos 24





Art. 2 ― Se a vontade é necessariamente movida pelo seu objecto.




(I, q. 82, a . 1, 2, II Sent., dist. XXV, a . 2, De Verit., q. 22, a . 6, De Malo, q. 6, Perih., lect. XIV).

O segundo discute-se assim. ― Parece que a vontade é necessariamente movida pelo seu objecto.



1. ― Pois, o objecto da vontade está para ela como o motivo para o móvel, conforme se vê em Aristóteles 1. Ora, o motivo, sendo suficiente, move necessariamente o móvel. Logo, a vontade pode ser movida necessariamente pelo seu objecto.

2. Demais. ― Como a vontade é uma virtude imaterial, assim também o intelecto, e ambas potências se ordenam a objecto universal, como já se disse 2. Ora, o intelecto é movido necessariamente pelo seu objecto. Logo, também a vontade pelo seu.

3. Demais. ― Tudo o que queremos ou é fim ou algo a este ordenado. Ora, o fim, segundo se sabe, é necessariamente querido, pois é como o princípio, nas ciências especulativas, no que assentimos necessariamente. Mas o fim sendo a razão de querermos os meios, resulta que também a estes queremos necessariamente. Logo, a vontade é movida necessariamente pelo seu objecto.

Mas, em contrário, as potências racionais, segundo o Filósofo 3, se movem entre os contrários. Ora, a vontade é potência racional, pois está na razão, como diz Aristóteles 4. Logo, move-se entre os contrários e portanto não é movida necessariamente para nenhum deles.

A vontade movida é de duplo modo: quanto ao exercício do acto e quanto à especificação dele, procedente do objecto. ― Ora, do primeiro modo a vontade não é movida necessariamente por nenhum objecto, pois podemos não cogitar de um objecto e por consequência não querê-lo actualmente.

Mas quanto ao segundo modo de moção, a vontade ora é necessariamente movida pelo objecto ora não. Pois no movimento de qualquer potência, pelo seu objecto, deve considerar--se a razão por que este move aquela. Assim, o visível move a vista sob o aspecto de cor actualmente visível, Donde, proposta à vista, a cor necessariamente move-a, a menos que a desviemos, e isto pertence ao exercício do acto. Se porém fosse proposto à vista algo de colorido, não actualmente, de todos os modos, mas, de certo modo, sim, e, de certo, não, a vista não veria tal objecto necessariamente, pois, podendo visá-lo, donde, não actualmente colorido, não o veria. Ora, assim como o actualmente colorido é o objecto da vista, assim o bem o é da vontade. Donde, um objecto proposto à vontade, que seja bom universalmente e sob todos os pontos de vista, a vontade, se quer alguma coisa, há-de tender necessariamente para ele, pois não poderia querer o contrário. Se porém se propuser um objecto que não seja bom, sob os pontos de vista, a vontade não tende necessariamente para ele.

E como a falta de qualquer bem tem a natureza de não-bom, só o bem perfeito e indiciente é tal que a vontade não pode deixar de querê-lo, e isso é a bem-aventurança. Ao passo que quaisquer outros bens particulares, enquanto deficientes, podem ser considerados como não-bens e, como tais, ser repelidos ou aceitos pela vontade, cujo objecto pode uma mesma coisa, e luzes diversas.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Só é motivo suficiente de uma potência o objecto que tem, totalmente, a natureza de motivo, se porém de algum modo for deficiente, não moverá de modo necessário, como já se disse.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O intelecto é movido necessariamente pelo objecto que é sempre e necessariamente verdadeiro, não porém pelo que sendo contingente ― como já se disse que é o bem ― pode ser verdadeiro e falso.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― O fim último move a vontade necessariamente, porque é o bem perfeito. E de modo semelhante, tudo o que é ordenado a esse fim, sem o que este não pode ser alcançado, como existir, viver e meios tais. Tudo porém sem o que o fim pode ser alcançado não é querido necessariamente por quem quer o fim, assim também, as conclusões, sem as quais os princípios podem ser verdadeiros, quem admite os princípios não as admite necessariamente.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. III De Anima, lect. XV.
2. Q. 10, a. 1 ad 3.
3. IX Metaph., lect. II.
4. III De Anima, lect. XIV

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