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19/02/2013

Resumos da Fé Cristã


A natureza de Deus e a Sua actuação 3

2. Como é Deus?

O Deus da Sagrada Escritura não é uma projecção do homem, pois a Sua absoluta transcendência só pode ser descoberta a partir de fora do mundo e, por isso, como fruto de uma revelação; quer dizer, não há propriamente uma revelação intra-mundana. Ou, dito de outro modo, a natureza como lugar da revelação de Deus 6 remete sempre para um Deus transcendente. Sem esta perspectiva, não teria sido possível para o homem chegar a estas verdades. Deus é ao mesmo tempo exigente 7 e amante, muito mais do que o homem se atreveria a esperar. De facto, podemos imaginar facilmente um Deus omnipotente, mas custa-nos reconhecer que essa omnipotência nos possa amar 8. Entre a concepção humana e a imagem de Deus revelada há, simultaneamente, continuidade e descontinuidade, porque Deus é o Bem, a Beleza, o Ser, como dizia a filosofia, mas, ao mesmo tempo, esse Deus ama-me a mim, que sou nada em comparação com Ele. O eterno procura o temporal e isso altera radicalmente as nossas expectativas e a nossa perspectiva de Deus.

 Em primeiro lugar Deus é Uno, mas não no sentido matemático como um ponto, mas é Uno em sentido absoluto desse Bem, dessa Beleza e desse Ser de quem tudo procede. Pode dizer-se que é Uno porque não há outro deus e porque não tem partes; mas, ao mesmo tempo, há que dizer que é Uno porque é fonte de toda a unidade. De facto, sem Ele tudo se decompõe e regressa ao não ser: a Sua unidade é a unidade de um Amor que também é Vida e dá a vida. Por isso, esta unidade é infinitamente mais do que uma simples negação da multiplicidade.

 A unidade leva a reconhecer Deus como o único verdadeiro. Mais ainda, Ele é a Verdade e a medida e fonte de tudo o que é verdadeiro (cf. Compêndio, 41); e isto porque justamente Ele é o Ser. Por vezes, tem-se medo desta identificação, porque parece que, dizendo que a verdade é una, se torna impossível todo o diálogo. Por isso, é tão necessário considerar que Deus não é verdadeiro no sentido humano do termo, que é sempre parcial. Mas que n’Ele a Verdade se identifica com o Ser, com o Bem e com a Beleza. Não se trata de uma verdade meramente lógica e formal, mas de uma verdade que se identifica com o Amor que é Comunicação, em sentido pleno: efusão criativa, exclusivo e universal ao mesmo tempo, vida íntima divina partilhada e participada pelo homem. Não estamos a falar da verdade das fórmulas ou das ideias, que são sempre insuficientes, mas da verdade do real que, no caso de Deus, coincide com o Amor. Além disso, dizer que Deus é a Verdade quer dizer que a Verdade é o Amor. Isto não mete nenhum medo e não limita a liberdade. De modo que, a imutabilidade de Deus e a Sua unicidade coincidem com a sua Verdade, enquanto que é a verdade de um Amor que não pode passar.

giulio maspero

Bibliografia básica

Catecismo da Igreja Católica, 199-231; 268-274.
Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 36-43; 50.

Leituras recomendadas:

São Josemaria, Homilia «Humildade», em Amigos de Deus, 104-109.
J. Ratzinger, El Dios de los cristianos. Meditaciones, Ed. Sígueme, Salamanca 2005.

(Resumos da Fé cristã: © 2013, Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet)
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Notas:
6 João Paulo II, Enc. Fides et Ratio, 14-IX-1998, 19.
7 Deus pede ao homem – a Abraão – que saia da terra prometida, que deixe as suas seguranças, confia nos pequenos, pede coisas de acordo com uma lógica diferente da humana, como no caso de Oseias. É claro que não pode ser uma projecção das aspirações ou dos desejos humanos.
8 «Como é possível darmo-nos conta disso, apercebermo-nos de que Deus nos ama e não enlouquecermos também nós de amor? É necessário deixar que essas verdades da nossa fé vão calando na alma, até mudarem toda a nossa vida. Deus ama-nos! O Omnipotente, o Todo Poderoso, o que fez os céus e a terra» (São Josemaria, Cristo que Passa, 144).

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