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17/01/2013

Tratado dos actos humanos 4


Art. 4 ― Se se pode violentar a vontade.



(I, q. 82, a . 1, II Sent., dist. XXV, a . 2, IV. Dist. XXXIX, a . 1, De Verit., q. 22, a . 5, 8).




O quarto discute-se assim. ― Parece que a vontade pode ser violentada.


1. ― Pois, um ser pode ser violentado por outro, que lhe é superior. Ora, há um ser ― Deus ― mais poderoso que a vontade humana. Logo, esta pode ser coagida por ele.

2. Demais. ― Tudo o que é passivo é coagido pelo activo correspondente, quando imutado por este. Ora, a vontade, motor movido, como diz Aristóteles 1, é virtude passiva. Sendo ela, pois, às vezes movida pelo activo, correspondente, resulta, que às vezes é coagida.

3. Demais. ― Movimento violento é o que vai contra a natureza. Ora, o movimento da vontade é às vezes contra a natureza, como é claro no movimento dela para pecar, contrário à natureza, conforme Damasceno 2. Logo, o movimento da vontade pode ser coagido.

Mas, em contrário, como diz Agostinho 3, o que se faz por vontade não se faz por necessidade. Logo, o que se faz por vontade não pode ser coagido, e portanto a vontade não pode ser coagida a agir.

Duplo é o acto da vontade: um é acto seu imediato, como elícito e é o querer, outro é o acto por ela imperado e exercido mediante outra potência, como andar e falar, imperados pela vontade, exercidos porém pela potência motiva. Nestes, a vontade pode sofrer violência pela qual os membros externos podem ser impedidos de executarem o império da vontade. Mas, o acto próprio da vontade, em si mesmo, não pode ser violentado. E a razão, é que tal acto não é mais do que uma inclinação procedente do princípio cognoscitivo interior, assim como o apetite natural é uma inclinação procedente do princípio interno, sem conhecimento. Ora, o que é coagido ou violento procede de um princípio exterior. Donde, vai contra a essência mesma do acto da vontade ser coagido ou violento. Assim, como é contra a essência da inclinação natural ou do movimento da pedra o ser levada para cima, embora tal se possa dar por violência, não podendo porém esse movimento violento proceder da natural inclinação dela. Assim também o homem pode ser arrastado por violência mas que tal lhe proceda da vontade repugna à essência da violência.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Deus, mais poderoso que a vontade humana, pode movê-la, conforme aquilo da Escritura (Pr 21, 1): O coração do rei se acha na mão do Senhor, ele o inclinará para qualquer parte que quiser. Ora, se tal fosse por violência, já não seria com acto da vontade, nem seria movida a vontade, mas algo contra ela.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Nem sempre, que um ser passivo é imutado pelo ativo correspondente o movimento é violento, mas só quando tal se dá contra a inclinação interior do passivo. Do contrário todas as alterações e gerações dos corpos simples seriam não naturais e violentas. São porém naturais, pela aptidão interior da matéria ou do sujeito, para tal disposição. E semelhantemente, quando a vontade é movida pelo apetecível, conforme a sua inclinação própria, o movimento não é violento, mas, voluntário.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Aquilo para o que tende a vontade, pecando, é mau e contra a natureza racional, na verdade das coisas, contudo, é apreendido como bom e conveniente à natureza, por ser conveniente ao homem quanto a alguma paixão do sentido, ou a algum hábito corrupto.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. III De Anima, lect. XV.
2. IV Orth. Fid., cap. XX.
3. IIIV De civit. Dei, cap. X.

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