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15/01/2013

Tratado dos actos humanos 2


Art. 2 ― Se há voluntariedade nos brutos.




(II Sent., dist. XXV, a . 1, ad 6, De Verit., q. 23, a . 1, III Ethic., lect. IV).


O segundo discute-se assim. ― Parece que não há voluntariedade nos brutos.



1. ― Pois, voluntariedade vem de vontade e esta, fundando-se na razão, não pode existir nos brutos. Logo, neles não há voluntariedade.

2. Demais. ― Por os actos humanos serem voluntários, diz-se que o homem é senhor deles. Ora, os brutos, que não agem, mas antes são levados ― como diz Damasceno 1 ― não têm o domínio sobre seus actos. Logo, neles não há voluntariedade.

3. Demais. ― Damasceno diz 2 que os actos voluntários têm como sequência o louvor e o vitupério. Ora, tal não se dá com os actos dos brutos. Logo, neles não há voluntariedade.

Mas, em contrário, diz o Filósofo 3, que às crianças e aos brutos é comum a voluntariedade. E o mesmo diz Gregório Nisseno e Damasceno.

Como já se disse 4, a essência da voluntariedade implica em que o princípio do acto seja interno, como algum conhecimento do fim. Ora, é este conhecimento duplo: o perfeito e o imperfeito. Pelo perfeito não só é apreendida a coisa constitutiva do fim, mas também a ideia de fim e a proporção entre este e o que se lhe ordena. E tal conhecimento do fim só é próprio à criatura racional. O conhecimento imperfeito do fim é o consistente na só apreensão dele, sem se conhecer a ideia de fim e a proporção entre o acto e este. E tal conhecimento existe nos brutos, pelo sentido e pela estimativa natural. ― Donde, do perfeito conhecimento do fim depende a voluntariedade, na sua essência perfeita, pelo qual alguém pode, apreendido o fim e deliberando sobre ele e sobre o que para ele conduz, ser ou não movido para tal. ― Porém, ao conhecimento imperfeito do fim segue-se a voluntariedade, no sentido imperfeito, enquanto alguém, apreendendo o fim, não delibera mas é, subitamente, movido para ele. Donde, a voluntariedade, na acepção perfeita, só é própria da natureza racional, mas, na imperfeita, também existe nos brutos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A vontade, designando o apetite racional, não pode existir nos seres carecedores de razão. Ao passo que a denominação de voluntariedade procede da vontade e pode aplicar-se aos seres nos quais há participação da vontade, por alguma conveniência com ela. E deste modo a voluntariedade atribui-se aos brutos, enquanto, por algum conhecimento, são movidos para o fim.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O homem é senhor dos seus actos porque delibera sobre eles. Pois, é porque a razão deliberante se refere a termos opostos, que a vontade pode tender para um deles. Mas nesta acepção não há voluntariedade nos brutos, como já se disse.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― O louvor e o vitupério são consecutivos ao acto voluntário, quanto à ideia perfeita de voluntário, que não existe nos brutos.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Lib. II Orthod. Fid., cap. XXVII.
2. Ibidem, cap. XXIV.
3. III Ethic., lect. V.
4. Q. 6, a. 1.

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