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27/01/2013

Tratado dos actos humanos 15


Art. 2 ― Se a vontade quer também os meios ou só o fim.




(I Sent., dist. XLV, a. 2, ad 1, II dist. XXIV, q. 1a a. a . 3, ad 3, De Verit., q. 22, a . 13, ad 9).

O segundo discute-se assim. ― Parece que a vontade não quer os meios, mas só fim.




1. — Pois, diz o Filósofo: a vontade quer o fim, a eleição, porém, os meios 1.

2. Demais. ― A coisas genericamente diversas ordenam-se potências diversas da alma, como diz Aristóteles 2. Ora, o fim e os meios pertencem a géneros diversos do bem, pois, o fim que é o bem honesto ou deleitável pertence ao género da qualidade, da acção ou da paixão, ao passo que o bem chamado útil, que existe para o fim, é relativo a alguma coisa, como diz Aristóteles 3. Logo, se a vontade só quer o fim, não pode querer os meios.

3. Demais. ― Os hábitos, sendo perfeições das potências, a elas se proporcionam. Ora, dos hábitos chamados artes operativas, uns visam o fim, outros, o meio. Assim, à arte de pilotar cabe o uso do navio, que é o fim deste, à fazer navios porém, a construção da nau, que é meio, para um fim. Logo, querendo o fim, a vontade não quer os meios.

Mas, em contrário, nas coisas naturais, pela mesma potência são percorridos os meios e é alcançado o termo. Ora, o que diz respeito ao fim, são meios, pelos quais se chega aquele, como termo. Logo, se a vontade quer o fim há de também querer os meios.

Vontade significa, pois, a própria potência pela qual queremos, ora, o acto mesmo de vontade.

Se, pois, tratamos da vontade enquanto potência, ela estende-se tanto ao fim como aos meios. Ora, cada potência estende-se a tudo aquilo em que pode existir, de qualquer modo, por natureza o seu objecto, assim, a vista estende-se a tudo aquilo que participa de algum modo da cor. Ora, a ideia de bem, objecto da potência da vontade, encontra-se não só no fim mas também nos meios.

Se porém tratamos da vontade, enquanto acto, então propriamente falando, ela só quer o fim. Pois todo acto, que tira da potência a sua denominação, designa um acto simples dessa potência, assim, inteligir designa um acto simples do intelecto. Ora, o acto simples de uma potência recai sobre o objecto da potência em si. Ora, o que é, em si mesmo, bem e querido, é o fim. Logo, a vontade propriamente quer o fim em si, ao passo que os meios não são bens e nem são queridos, em si mesmos, mas em ordem ao fim. E por isso a vontade não os quer senão na medida em que quer o fim, portanto este é o que ela quer neles. Assim, inteligir, propriamente, refere-se ao que é conhecido, em si, i. é, os princípios, enquanto que do conhecido por meio dos princípios não se diz que há inteligência, senão na medida em que nisso os próprios princípios são considerados. Assim, pois, o fim está para os apetecíveis, como o princípio, para os inteligíveis, segundo Aristóteles 4.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O Filósofo refere-se à vontade, enquanto ela designa propriamente um acto simples seu, não porém como designando uma potência.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Coisas genericamente diversas e igualmente independentes, entre si, ordenam-se a potências diversas, assim, ao som e à cor, géneros diversos de sensíveis, ordena-se à audição e a visão. Ora, o honesto e o útil não são igualmente independentes, entre si, mas estão um para o outro, como o que existe para si e o que existe para outro. E por isso ambos referem-se sempre à mesma potência, assim como, pela potência visiva sente-se a cor e a luz, pela qual aquela é vista.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Nem tudo o que diversifica o hábito diversifica a potência. Pois os hábitos são algumas determinações das potências para alguns actos especiais. Contudo, qualquer arte operativa considera tanto o fim como o meio. P. ex., a arte de pilotar considera aquilo que manda, por um lado, como fim, o para aquilo que opera, e de outro, como meio,. Pelo contrário, a arte de fazer navio considera como meio aquilo que opera e, como fim, aquilo ao que ordena o operado. E assim por diante: em cada arte operativa há um fim que lhe é próprio e algo que é o meio e que propriamente lhe pertence.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. III Ethic., lect. V.
2. VI Ethic., lect. I.
3. I Ethic. Lect. VI.
4. VII Ethic., lect. VIII.

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