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13/01/2013

Tratado da bem-aventurança 38





Questão 5: Da consecução da bem-aventurança.


Art. 8 — Se todos desejam a bem-aventurança.

(IV Sent., dist. XLIX, q. 1, a . 3, q ª 1).




O oitavo discute-se assim. — Parece nem todos desejam a bem-aventurança.



1. — Pois, sendo o bem apreendido o objecto do apetite, como diz Aristóteles, ninguém pode desejar o que ignora 1. Ora, muitos ignoram o que seja a bem-aventurança, e o evidencia, como diz Agostinho, o terem uns posto a bem-aventurança no prazer do corpo, outros, na virtude da alma, outros, em outras coisas 2. Logo, nem todos desejam a bem-aventurança.

2. Demais. — Como já se disse 3, a essência da bem-aventurança é a visão da essência divina. Ora, alguns dizem ser impossível ao homem ver a Deus em essência, e portanto, não desejam tal. Logo, nem todos os homens desejam a bem-aventurança.

3. Demais. — Agostinho diz, que feliz é quem tem tudo o que quer e nada quer mal 4. Ora, nem todos querem tal, pois, uns querem mal certas coisas, e contudo consentem em querê-las. Logo, nem todos querem a bem-aventurança.

Mas, em contrário, Agostinho: Se um comediante dissesse — Todos quereis ser felizes e não quereis ser miserável — diria algo que ninguém deixaria de confessar, na sua vontade 5.

A bem-aventurança pode ser considerada a dupla luz. — Quanto à sua essência comum, e então necessariamente todo homem a quer. Pois, a essência comum da bem-aventurança está em ela ser o bem perfeito, como já se disse 6. Ora, sendo o bem o objecto da vontade, o bem perfeito de alguém é o que lhe satisfaz totalmente a vontade. Donde, desejar a bem-aventurança não é senão desejar que a vontade seja saciada, o que todos querem. — De outro modo, podemos considerar a bem-aventurança quanto à sua noção especial, i. é, quanto ao que ela consiste. E então, nem todos a conhecem porque não sabem a que coisa convenha à essência comum dela. E por conseguinte, nesta acepção nem todos a querem.

Donde se deduz clara a RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A vontade segue a apreensão do intelecto ou da razão, mas assim como acontece que uma coisa, idêntica na realidade, é todavia diversa quanto à consideração da razão, assim também se dá que uma coisa é idêntica, na realidade, e todavia, sob um aspecto, é desejada e, sob outro, não. A bem-aventurança, portanto, pode ser considerada quanto à noção de bem final e perfeito, e nisso consiste a essência comum dela, e, então, a vontade tende para ela, necessariamente, como já se disse 7. E pode também ser considerada sob outros pontos de vista especiais quanto à própria operação, ou quanto à potência operativa, ou quanto ao objecto, e então a vontade não tende para ela necessariamente.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A definição de bem-aventurança dada por certos — Feliz é quem tem tudo o que quer, ou, a quem tudo lhe sucede como deseja — entendida de um modo, é boa e suficiente, de outro modo, porém, é imperfeita. — Assim, se a entendermos, absolutamente, de todas as coisas que o homem quer com desejo natural, então é verdade que quem tem tudo o que quer é feliz. Pois nada sacia o apetite natural do homem, senão o bem perfeito, que é a bem-aventurança. — Entendida, porém do que o homem quer pela apreensão da razão, então o possuir o homem certas coisas, que quer, é antes miséria que bem-aventurança, enquanto tais coisas, possuídas impedem-no de possuir o que quer naturalmente, assim como a razão recebe como verdadeiras, às vezes, coisas que impedem o conhecimento da verdade. — E conforme este ponto de vista, Agostinho acrescenta 8, para a perfeição da bem-aventurança, que nada quer mal. Embora a primeira expressão — feliz é quem tem tudo o que quer — bem entendida, já podia bastar.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. III De Anima.
2. XIII De Trin.
3. Q. 8 a. 8.
4. XIII De Trin.
5. XIII De Trin.
6. Q. 5, a. 3, 4.
7. Q. 5, a. 8, q. 5 a. 4 ad 2.
8. XIII De Trin.

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