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02/12/2012

Tratado sobre a conservação e o governo das coisas 71


Questão 118: Da geração da alma humana.


Art. 3 — Se as almas humanas foram criadas simultaneamente, no princípio do mundo.

(Supra, q. 90, a. 4, I Sant., dist. VIII. q. 5. a. 2, ad 6, II Sent., dist. III, q. I, a. 4, ad I, dist. XVII, q. 2, a. 2,· II Cont. Gent., cap.LXXXIII, LXXIV, De Pot., q.3, a. 10, De Malo, q. 5, a. 4, ad Hebr., cap. I, lect. IV).

O terceiro discute-se assim. — Parece que as almas humanas foram criadas simultaneamente, no princípio do mundo.


1. — Pois, diz a Escritura: Deus descansou de toda a obra que fizera. Ora, tal não se daria se cada dia Deus criasse novas almas. Logo, todas foram criadas simultaneamente.

2. Demais. — As substâncias espirituais concorrem, especialmente, para a perfeição do universo. Se, pois, as almas fossem criadas simultaneamente com os corpos, inumeráveis substâncias espirituais seriam acrescentadas quotidianamente à perfeição do mesmo, e então, este, desde o princípio, seria imperfeito. O que vai contra aquilo da Escritura: Deus acabou a obra que tinha feito.

3. Demais. — Fim e princípio de uma mesma cousa se correspondem. Ora a alma intelectiva permanece, uma vez destruído o corpo. Logo, começou a existir antes dele.

Mas, em contrário, diz um autor, que a alma é criada simultaneamente com o corpo.

Alguns ensinaram que é acidental à alma intelectiva estar unida ao corpo, considerando-a como da mesma condição que as substâncias espirituais, não unidas a corpo. Donde concluíram que as almas dos homens foram criadas, no princípio, simultaneamente com os anjos.

Mas esta opinião é falsa. — Primeiro, quanto ao ponto de partida. Pois, se fosse acidental à alma estar unida ao corpo, resultaria que o homem, constituído por essa união, seria um ser acidental, ou que a alma seria o homem — tudo o que é falso, como já se demonstrou. — E além disso, que a alma humana não é da mesma natureza que os anjos, a própria diversidade, nos modos de inteligir, o demonstra, como se estabeleceu antes. Assim, o homem intelige recebendo os dados, dos sentidos, e voltando-se para os fantasmas, como antes se demonstrou. E portanto, a sua alma necessita estar unida ao corpo, do qual precisa para a operação da parte sensitiva. O que não se pode dizer do anjo. — Segundo, é falsa a opinião em si mesma. Pois, se é natural à alma estar unida ao corpo, existir sem corpo vai-lhe contra a natureza, e assim existindo, não realiza a perfeição desta. Ora, é inadmissível que Deus começasse a sua obra por criaturas imperfeitas e pelo que é contra a natureza, pois, não fez o homem sem mãos ou sem pés, que são partes naturais dele. E com maior razão, não fez a alma sem o corpo.

Mas, se alguém disser que não é natural à alma estar unida ao corpo, necessário é inquirir à causa porque está unida. Ora, é ne­cessário admitir-se, que o está por sua vontade ou por outra causa. — Por sua vontade, não é admissível. Primeiro, porque essa vontade seria irracional, se, não precisando do corpo, quisesse estar unida com ele, se porém precisasse, ser-lhe-ia natural estar com ele unida, porque a natureza não falha no necessário. Segundo, porque nenhuma razão havia para a vontade da alma, criada no princípio do mundo, decidir, só agora, depois de tanto tempo, a unir-se ao corpo, pois, a substância espiritual, escapando à acção das revoluções do céu, está fora do tempo. Terceiro, porque resultaria que é por acaso que uma determinada alma está unida a um determinado corpo, pois, para isso, é necessário o concurso de duas vontades — a da alma adveniente e a do homem gerador. — Se porém é contra a vontade, e contra a sua natureza, que está unida ao corpo, necessário é que tal se dê por uma causa violenta, e então isso lhe há-de ser penoso e triste, o que é conforme o erro de Orígenes, que dizia estarem as almas unidas ao corpo, como pena do pecado.

Donde, todas essas consequências sendo inadmissíveis, deve admitir-se, absolutamente, que as almas não foram criadas antes dos cor­pos, mas são criadas ao mesmo tempo que são infundidas neles.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Diz-se que Deus cessou, no sétimo dia, não de fazer qualquer obra, pois, diz a Escritura: Meu Pai opera até hoje, mas, de fazer novos géneros e espécies de cousas, que ainda não preexistissem de certo modo nas primeiras obras. Assim, pois, as almas actualmente criadas preexistiam, pela semelhança específica, nas primeiras obras, nas quais foi criada a alma de Adão.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Quanto ao número dos indivíduos, algo pode ser acrescentado, cada dia, à perfeição do universo, não, porém, quanto às espécies.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O permanecer a alma sem o corpo resulta da corrupção do corpo, subsequente ao pecado. E por isso não era conveniente que, por ele, começassem as obras de Deus, porque, como diz a Escritura: Deus não fez a morte, mas os ímpios a chamaram para si com mãos e palavras.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.

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