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30/12/2012

Tratado da bem-aventurança 26


Questão 4: Do necessário à bem-aventurança.



Art. 2 — Se o deleite, na bem-aventurança, tem prioridade sobre a visão.

(II Sent., dist. XXXVIII, a . 2, ad 6, III Cont. Gent., cap. XXVI, X Ethic., lect VI).

O segundo discute-se assim. — Parece que o deleite tem, na bem-aventurança, prioridade sobre a visão.




1. — Pois, como diz Aristóteles, o deleite é a perfeição do acto (1). Ora, a perfeição é mais excelente que o perfectível. Logo, o deleite tem prioridade sobre a operação do intelecto, que é a visão.

2. Demais. — Aquilo que faz uma coisa ser apetecível tem prioridade. Ora, as operações são apetecidas pelos seus deleites, por isso, a natureza apôs o deleite às actividades necessárias à conservação do indivíduo e da espécie, para que tais operações não fossem abandonadas pelos animais. Logo, o deleite tem prioridade, na bem-aventurança, sobre a visão, operação do intelecto.

3. Demais. — A visão corresponde à fé, ao passo que o deleite, ou fruição, à caridade. Ora, esta é maior que a fé, como diz o Apóstolo (1 Cor 13). Logo, o deleite ou fruição tem prioridade sobre a visão.

Mas, em contrário. — A causa tem prioridade sobre o efeito. Ora, a visão é causa do deleite. Logo, esta tem prioridade sobre aquela.

O Filósofo suscita esta Questão e deixa-a irresoluta (2). Mas, quem a considerar diligentemente há-de por força concluir que a visão, operação do intelecto, tem prioridade sobre o deleite. Pois, este consiste na quietação da vontade, ora, a vontade só repousa num objecto por causa da bondade do mesmo. Portanto, se repousa nalguma operação, esse repouso procede da bondade da operação. Nem a vontade busca o bem por causa do repouso, porque então o acto próprio dela seria o fim, o que vai contra o já estabelecido (3). Antes, busca repousar na operação, porque esta é o seu bem.

Donde é manifesto, que a operação mesma, em que repousa a vontade tem prioridade sobre o repouso da vontade no bem.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como diz o Filósofo no mesmo passo, o deleite completa a operação como a beleza, a juventude, pois, esta resulta daquela. Donde, o deleite é uma perfeição concomitante à visão e não uma como perfeição que torna perfeita a visão, na sua espécie.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A apreensão sensitiva não alcança a essência comum do bem, mas um bem particular deleitável. Por isso o apetite sensitivo dos animais é levado ao acto por causa do deleite. O intelecto porém apreende a essência universal do bem, da consecução da qual resulta o deleite, e por isso visa, antes, o bem que o deleite. Donde resulta que o intelecto divino, instituidor da natureza, faz depender o deleite da actividade. Ora, não se deve julgar nada absolutamente, conforme a ordem do apetite sensitivo, mas, antes, segundo a do intelectivo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A caridade não busca o bem-amado por causa do deleite, mas é-lhe consequente deleitar-se no bem alcançado, que ama. E assim, não lhe corresponde, como fim, o deleite mas, antes, a visão, que primariamente lhe torna presente o fim.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:

1. X Ethic.
2. X Ethic.
3. Q. 1 a. 1 ad 2, q. 3 a. 4.

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