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25/12/2012

Tratado da bem-aventurança 21


Questão 3: Que é a bem-aventurança.


Art. 5 — Se a bem-aventurança consiste na actividade do intelecto prático.

(IV Sent., dist. XLIX, q. 1 a . 1, q ª 3, III Ethic., lect. X spp.).

O quinto discute-se assim. — Parece que a bem-aventurança consiste na actividade do intelecto prático.




1. — Pois, o fim último da criatura consiste em assimilar-se com Deus. Ora, mais se assimila com ele pelo intelecto prático, causa das coisas inteligidas, do que pelo especulativo, cuja ciência é derivada das coisas. Logo, a bem-aventurança do homem consiste, antes, na operação do intelecto prático do que na do especulativo.

2. Demais. — a bem-aventurança é o bem perfeito do homem. Ora, o intelecto prático ordena-se sobretudo ao bem e o especulativo, ao verdadeiro. Por isso, somos considerados bons pela perfeição do intelecto prático e não pela do especulativo, pela qual nos consideram sábios ou inteligentes. Logo, a bem-aventurança do homem consiste, antes, no acto do intelecto prático do que no do especulativo.

3. Demais. — A bem-aventurança é um certo bem próprio ao homem. Ora, o intelecto especulativo se ocupa sobretudo com o que lhe é exterior, ao passo que o prático com o próprio homem, como as suas operações e paixões. Logo, a bem-aventurança do homem consiste, mais, na operação do intelecto prático que na do especulativo.

Mas, em contrário, diz Agostinho, que contemplação nos está prometida como fim de todas as opções e perfeição eterna das alegrias (1).

A bem-aventurança consiste, mais, na operação do intelecto especulativo, que na do prático.

O que resulta de tríplice consideração.

A primeira é que, se a bem-aventurança do homem é actividade, necessário é seja a mais elevada delas. Ora, esta é relativamente ao objecto mais elevado, o da mais elevada potência, que é o intelecto, cujo objecto por excelência é o bem divino, objecto, não do intelecto prático, mas do especulativo. Donde, na actividade contemplativa das coisas divinas consiste sobretudo a bem-aventurança. E como, no dizer de Aristóteles (2), cada ser é considerado como sendo o que nele é ótimo, tal operação há-se ser sobretudo a própria do homem, e a em máximo grau deleitável.

A segunda resulta de ser a contemplação principalmente buscada por si mesma. Ora, o acto do intelecto prático não é buscado, por si mesmo em vista da acção, pois, as ações, em si, se ordenam a algum fim. Donde e manifesto, que o último fim não pode consistir na vida ativa, pertencente ao intelecto prático.

A terceira resulta de que, na vida contemplativa, o homem comunica com seres superiores, i. é, com Deus e os anjos, com os quais se assimila, pela bem-aventurança. Ora, pelo que pertence à vida activa, os animais têm de certo modo comunidade com o homem, embora imperfeitamente.

Donde, a bem-aventurança última e perfeita, esperada na vida futura, consiste totalmente na contemplação. Enquanto a imperfeita, tal como pode ser adquirida nesta vida, consiste primeiro e principalmente na contemplação, e secundariamente na operação do intelecto prático, que ordena as ações e paixões humanas, como diz Aristóteles (3).

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A referida assimilação do intelecto prático com Deus é por proporcionalidade, pois está para o seu objecto conhecido, como Deus, para o seu. Ao passo que a assimilação do intelecto especulativo com Deus é por união ou informação, que é assimilação muito maior. E todavia, pode dizer-se que, em relação à sua essência, que é principalmente conhecida, Deus não tem conhecimento prático, mas somente especulativo.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O intelecto prático ordena ao-se bem exterior, ao passo que o especulativo, para o bem em si mesmo, que é a contemplação da verdade. E se esse for perfeito, o homem também fica totalmente sendo-o e torna-se bom, ora, esse bem o intelecto prático não o tem, antes ordena para ele.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A objecção procederia se o homem em si fosse o seu último fim.

Pois nesse caso a consideração e a ordenação dos seus actos e paixões seria a sua bem-aventurança. Mas, como o fim último do homem é um bem que lhe é extrínseco, i. é, Deus, que atingimos por operação do intelecto especulativo, por isso a sua bem-aventurança consiste, mais em tal actividade do que na do intelecto prático.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:

1. I De Trin.
2. IX et X Ethic
3. X Ethic

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