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19/12/2012

Tratado da bem-aventurança 15


Questão 2: Em que consiste a bem-aventurança do homem.


Art. 7 — Se a bem-aventurança do homem consiste em algum bem da alma.




O sétimo discute-se assim. — Parece que a bem-aventurança consiste em algum bem da alma.


1. — Pois, a bem-aventurança é um dos bens do homem. Ora, estes dividem-se em três classes: os bens externos, os bens do corpo e os bens da alma. Ora, a bem-aventurança não consiste nos bens externos, nem do corpo, como já se demonstrou. Logo, consiste nos da alma.

2. Demais. — Amamos alguém mais do que o bem que lhe desejamos, assim, amamos mais o amigo a quem desejamos o dinheiro, do que o dinheiro. Ora, todos desejam para si algum bem e, portanto amam-se a si mesmos mais que todos os outros bens. Mas a bem-aventurança é sumamente amada pois por ela tudo o mais é amado e desejado. Logo, ela consiste em algum bem do próprio homem, e como não consiste nos bens do corpo, há de por força consistir nos da alma.

3. Demais. — A perfeição é algo do ser aperfeiçoado. Ora, a bem-aventurança é uma perfeição do homem. Logo, é algo destes. Mas não pertence ao corpo, como já se demonstrou. Logo, pertence à alma, e assim consiste nos bens desta.

Mas, em contrário, como diz Agostinho, aquilo que constitui a vida feliz deve ser amado por si. Ora, o homem não deve ser amado por si mesmo, antes, tudo o que nele existe deve ser amado por Deus. Logo, a bem-aventurança não consiste em nenhum bem da alma.

Como já se disse, o fim é considerado sob duplo aspecto: como a causa mesmo que desejamos alcançar, e como o uso, a obtenção ou posse dela.

Se, pois consideramos o último fim do homem quanto à coisa mesmo desejada como último fim, é impossível que este seja a alma ou algo dela.

Pois esta, em si considerada, é existente em potência, assim, de ciente, em potência, passa a ciente em acto, de virtuosa em potência, para virtuosa em acto. Ora, sendo o acto como o complemento da potência, é impossível o que é, em si, potencial, ter a natureza de último fim. Donde, é impossível seja a alma em si o último fim de si mesma. — Também não o pode ser nada dela, potencial, actual ou habitual. Pois o bem, que é o último fim, é o bem perfeito que satisfaz o apetite. Ora, o apetite humano, que é a vontade, deseja o bem universal. Mas qualquer bem inerente à própria alma é bem participado, é por consequência particularizado. Donde, é impossível que algum deles seja o último fim do homem.

Se considerarmos, porém, o último fim do homem quanto à obtenção própira dele, à sua posse e a qualquer uso da coisa mesma desejada como fim, então ao último fim pertence algo do homem, por parte da alma, pois por esta é que o homem consegue a bem-aventurança.

Aquilo, porém, que é desejado como fim, é o em que consiste a bem-aventurança e faz feliz, e à consecução disto chama-se bem-aventurança.

Donde, devemos concluir que a bem-aventurança é algo da alma, mas o que ela consiste é algo de exterior à alma.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Na medida em que na divisão referida se compreendem todos os bens apetecíveis pelo homem, considera-se bem da alma, não só a potência, o hábito ou acto, mas também o objecto, que é extrínseco. E deste modo nada impede considerar como um bem da alma o em que consiste a bem-aventurança.

RESPOSTA À SEGUNDA. — No caso vertente, a bem-aventurança é amada, sobretudo como bem desejado, ao passo que o amigo é amado como o a quem se deseja o bem, e assim também o homem se ama a si mesmo. Donde, um e outro amor não tem o mesmo fundamento. Se porém, pelo amor da amizade o homem ama algo acima de si mesmo, isso se há-de examinar quando se tratar de caridade.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A bem-aventurança, em si, sendo perfeição da alma, é um certo bem a esta inerente. Mas o em que a bem-aventurança consiste, i. é, em fazer feliz, é algo de exterior à alma, como já se disse.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama

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