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08/12/2012

A experiência da dor 6


Os doentes são um tesouro

Na oração, imaginava-se a si mesmo como um dos Apóstolos, desejando reparar pela sua fuga no momento da Cruz. Para reparar pelas deserções que tinham aumentado tanto os sofrimentos de Jesus, desejava que os doentes fossem amados da mesma maneira que uma mãe ama com ternura o seu filho, e que nunca os deixassem sós.

«Como sempre, quando um meu filho se encontra doente, digo àqueles que vivem ao seu lado que devem cuidar dele de tal maneira que não sinta falta dos cuidados da sua mãe que está longe e que, naqueles momentos, devemos ser como uma mãe para esse meu filho, cuidando-o como a sua mãe o faria». E noutro momento, «Embora sejamos pobres, nunca devemos poupar nada no cuidado dos nossos irmãos doentes. Se fosse necessário, roubaríamos um pedacinho de Céu para eles e o Senhor perdoar-nos-ia» [i].

«Criança. — Doente. — Ao escrever estas palavras, não sentis a tentação de as pôr com maiúscula? É que, para uma alma enamorada, as crianças e os doentes são Ele» [ii]. Os doentes são um tesouro, costumava dizer, porque ao viver o ascetismo sorridente, que era tão apreciado por S. Josemaria, o doente pode converter a sua doença em oração.

Converte-se num tesouro também para outros porque, ao cuidá-lo, praticam a virtude da caridade e enriquecem-se, desde que o cuidado que prestam seja o melhor que podem oferecer. A doença é um tesouro para a Igreja porque cada pessoa doente participa na Paixão de Nosso Senhor na Cruz [iii].

O doente em estado grave, ao aproximar-se do momento do encontro pessoal com Deus, dirige-se para esse instante de uma maneira especial. Esse encontro tem um efeito de purificação profunda e, ao mesmo tempo, de paz.

«“Este homem está a morrer. Já não há nada a fazer [...]” — Foi há anos, num hospital de Madrid. Depois de se confessar, quando o sacerdote lhe dava a beijar o seu crucifixo, aquele cigano dizia aos gritos, sem que conseguissem calá-lo: — Com esta minha boca imunda não posso beijar o Senhor! — Mas, tu vais dar-Lhe, já a seguir um grande abraço e um grande beijo, no Céu!’ [...] Viste uma maneira mais formosamente tremenda de manifestar a contrição?» [iv].

Este episódio da vida do Fundador mostra fielmente a sua atitude frente à morte e à dor. O valor purificador do sofrimento do cigano adquire uma dimensão ilimitada e, juntamente com a graça do sacramento da Penitência, a morte perde o espectro do temor. Converte-se, pelo contrário, na oportunidade que a fé de todo o homem espera: a de poder contemplar a Deus cara a cara, não como Juiz, mas como Pai amoroso que nos espera para nos abraçar.

p. binetti, 2012.09.07



[i] Cfr. G. HERRANZ, "Sem medo à vida e sem medo à morte. Palavras de Monsenhor Josemaría Escrivá de Balaguer y Albás a médicos e doentes", em AA.VV., Em memória de Mons. Josemaría Escrivá de Balaguer, cit., p. 164.
[ii] Caminho, 419.
[iii] Cfr. P. URBANO, El hombre de Villa Tevere, Barcelona 1994, p. 235.
[iv] Via-sacra, III, 4.

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