Páginas

09/11/2012

Viagem no oceano da fé 7


Na Bíblia, a imagem do caminho tornou-se motivo condutor. O caminho da fé feito por Abraão, à procura da terra para onde Deus o mandava… O caminho de libertação, feito pelo povo de Israel sob a liderança de Moisés… O caminho de Babilónia para Jerusalém, de volta à pátria perdida do Israel exilado… O caminho feito por Jesus, da Galileia até Jerusalém, onde realizou a obra da salvação humana… O caminho dos discípulos para Emaús, em que “Jesus se pôs a caminho com eles”, suscitando o regresso a Jerusalém: o caminho da desesperança para a alegria, da desolação para a vida nova… A imagem do Caminho é uma constante da história da salvação bíblica para expressar a busca de Deus pela fé. É uma categoria hermenêutica para interpretar a história de cada crente à procura das realidades definitivas.
Os místicos cristãos usaram a metáfora do caminho para exprimir a convicção de que a vida humana faz sentido enquanto caminha para a transcendência e para a união com Deus. Entre eles, distinguiu-se Teresa de Jesus com o Caminho de perfeição. A metáfora era conhecida no seu tempo para falar da vida espiritual por etapas. Mas esses antecedentes literários e espirituais na pena da santa dissolvem-se num feixe de alusões que entreabrem as suas intuições.

Com o título Caminho de perfeição ela significava muito do que as literaturas clássicas e bíblica queriam significar. Um fio linear tece o tema da oração mental e contemplativa. Quer ajudar a empreender um caminho orante. Não perde a ideia do progresso a fazer na via “das muitas coisas que é preciso olhar para começar esta viagem divina, que é caminho real para o céu. Ganha-se, indo por ele, um grande tesouro” (C 21,1). “Importa muito ter uma grande e muito determinada determinação de não parar até chegar a ele, venha o que vier, suceda o que suceder, trabalhe-se o que se trabalhar, murmure quem murmurar, quer lá se chegue, quer se morra no caminho” (C 21, 2).
A imagem do Caminho, omnipresente no escrito, revela o magistério espiritual da mãe e da mestra, oferecendo uma pedagogia psicológica e teológica que predispõe para a perfeição na oração. É o caminho do evangelho, das bem-aventuranças. Ponto de partida do Caminho espiritual é a alma humana, a sua capacidade, a sua vocação de transcendência. Ponto de chegada é a comunhão pessoal com Deus, com a sua vontade.

O Caminho de Perfeição orienta o orante para um encontro com marcação, feita por Jesus: “vinde a mim todos” (Mt 11,28). Não leva a um deus domesticado e compreensível na justiça equitativa. Termina no encontro com o Deus amor libertador.

“Não vos fiqueis no caminho, mas pelejai… E indo sempre com esta determinação de antes morrer que deixar de chegar ao fim do caminho… [o Senhor] vos dará de beber com toda a abundância” (C 20,1-2). “Esta oração evangélica [do pai-nosso]… encerra em si todo o caminho espiritual, desde o princípio até Deus engolfar a alma e lhe dar abundantemente a beber da fonte da água viva, que eu vos disse estar ao fim do caminho” (C 42,5).

Caminho de perfeição é um Caminho de salvação através da oração e do amor fraterno. Tem como objetivo construir um tipo de pessoa, configurada pela libertação de todas as peias e pondo o afeto em Jesus e no próximo, no mundo em crise. A pessoa que então emerge a caminho é um ser transcendido e incarnado, simples e inquebrantável.

armindo dos santos vaz, ocd, Semana de Espiritualidade 2012, Avessadas, © SNPC | 11.10.12
Card. gianfranco ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, In L'Osservatore Romano (26.7.2012), © SNPC (trad.) | 11.10.12

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.