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07/11/2012

Viagem no oceano da fé 5


É também nesta linha que se compreende o equilíbrio que deve entrecorrer noutro par, o da fé e religião. A primeira é adesão pessoal, a segunda pode ser entendida como prática externa, manifestação ritual e social. Certamente se pode compreender o valor paradoxal da oração formulada pelo maior teólogo protestante do século XX, Karl Barth: «Senhor, livra-me da religião e dá-me a fé!».
De facto a religiosidade pode reduzir-se a convenções, comportamentos exteriores, ritualismo, antropologia cultural, e a este propósito os profetas bíblicos foram inexoráveis a combater qualquer confusão entre religião e fé. Todavia é indiscutível que a fé implica e envolve a pessoa na sua integralidade e, portanto, compreende igualmente as escolhas sociais, atitudes visíveis, produz estruturas, exprime-se em ritos e tradições, torna-se religião porque espírito e corpo são intimamente ligados, operam e comunicam entre si. (...)

[Entre as várias representações artísticas da fé] escolhemos a tela “A Fé”, executada pelo grande pintor flamengo Jan Vermeer em 1675 e agora conservada no Metropolitan Museum de Nova Iorque.
Vestida de branco, segundo os cânones alegóricos codificados, mas com uma sobreveste azul, a Fé é uma mulher com a mão direita sobre o coração, o olhar levantado ao alto para uma luz irradiante do infinito, o pé sobre o globo terrestre, enquanto que no pavimento uma maçã e uma serpente esmagada por uma pedra incarnam o pecado e satanás derrotados pela fé em Deus.
O braço esquerdo pousa sobre uma mesa que é, no entanto, semelhante a um altar, sobre o qual se apoiam o cálice eucarístico, o livro das Escrituras e o crucifixo, o mesmo Cristo crucificado que domina também a parede que está atrás da Fé, expressão do próprio coração do Credo cristão.

Vermeer: Com os olhos nesta imagem, deixemos serpentear até ao fim uma pergunta inquietante de Cristo, pergunta que se transforma num apelo. No Evangelho de Lucas Jesus lança esta interrogação que talvez nos atinja mais do que aos interlocutores de então: «Quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?» (18, 8). O fio interminável da fé, iniciado com os próprios primórdios da história humana, parece aos nossos dias tornar-se cada vez mais frágil. E então Cristo continua a repetir, como na última ceia da sua vida terrena, entre as paredes do Cenáculo, um convite que ressoa ainda hoje com o mesmo frémito: «Credes em Deus; crede também em mim» (João 14, 1).

armindo dos santos vaz, ocd, Semana de Espiritualidade 2012, Avessadas, © SNPC | 11.10.12
Card. gianfranco ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, In L'Osservatore Romano (26.7.2012), © SNPC (trad.) | 11.10.12

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