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20/11/2012

Tratado sobre a conservação e o governo das coisas 59



Questão 115: Da acção da criatura corpórea.

Art. 5 — Se os corpos celestes podem causar impressões sobre os demónios.



(De Pot., q. 6: a. 10).

O quinto discute-se assim. — Parece que os corpos celestes podem causar impressões sobre os demónios.


1. — Pois, os demónios, em dependência de certos crescentes da lua, Vexam os homens, que por isso se chamam lunáticos, como se lê na Escritura. Ora, tal não se daria se os demónios não estivessem sujeitos aos corpos celestes. Logo, eles estão-no.

2. Demais. — Os nigromantes observam certas constelações para invocar os demónios. Ora, estes não seriam invocados, por meio dos corpos celestes, se a eles não estivessem sujeitos. Logo, estão sujeitos às ações de tais corpos.

3. Demais. — Os corpos celestes têm maior virtude que os inferiores. Ora, os demónios são afastados por certos corpos inferiores, como ervas, pedras e animais, por certos sons determinados, e por vezes, figurações e fingimentos, como diz Porfírio, citado por Agostinho. Logo, com maior razão, estão sujeitos à acção dos corpos celestes.

Mas, em contrário, os demónios são superiores, na ordem da natureza, aos corpos celestes. Pois, o agente é superior ao paciente, como diz Agostinho. Logo, os demónios não estão sujeitos à acção dos corpos celestes.

Sobre os demónios há tríplice opinião. — A primeira é a dos Peripatéticos, que ensinam a não existência deles, e o que a arte nigromântica lhes atribui faz-se por virtude dos corpos celestes. E neste sentido é que Agostinho cita o dito de Porfírio: na terra são fabricadas pelos homens, potestades aptas a obedecerem aos vários efeitos dos astros. Mas esta opinião é manifestamente falsa. Pois, a experiência ensina que, por meio dos demónios, são feitas muitas coisas, para o que de nenhum modo bastaria a virtude dos corpos celestes. Assim, o falarem os possessos língua que desconhecem, citarem versos e passos de autores que nunca conheceram, fazerem os nigromantes com que estátuas falem e se movam, e coisas semelhantes.

Isto levou os Platónicos a dizer que os demónios são animais de corpo aéreo e espírito passivo, conforme Apuleio, citado por Agostinho. E esta é a segunda opinião, de acordo com a qual os demónios estão sujeitos aos corpos celestes, do mesmo modo pelo qual, como já se estabeleceu, o estão os homens. Mas, pelo que ficou exposto, esta opinião é evidentemen­te falsa. Pois, como já dissemos, os demónios são substâncias intelectuais não unidas a corpos. — Por onde é claro que não estão sujeitos à acção dos corpos celestes, nem em si mesmos, nem acidental, nem directa, nem indirectamente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Por duas razões é que os demónios podem vexar os homens, conforme alguns crescentes da lua. — Primeira, para infamarem uma criatura de Deus, como o é a lua, segundo dizem Jerónimo e Crisóstomo. — A segunda está em que, podendo operar só mediante as virtudes naturais, como antes se disse, consideram, nas suas obras, as aptidões dos corpos para os efeitos intencionados. Ora, é manifesto que o cérebro é a mais húmida de todas as partes do corpo, como diz Aristóteles, e por isso está sujeito em máximo grau à acção da lua, que tem a propriedade de mover o humor. E como no cérebro é que têm o seu complemento as virtudes animais, por isso os demónios, conforme certos crescentes da lua, perturbam a fantasia do homem, quando descobrem que o cérebro está disposto para isso.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Os demónios invocados sob certas constelações, acodem por duas razões. — Primeira, para fazerem os homens erradamente crer que há, nas estrelas, algum nome. — Segunda, porque vêm que, sob certas constelações, a matéria corpórea está mais disposta aos efeitos para os quais foram invocados.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz Agostinho, os demónios são aliciados por vários géneros de pedras, ervas, vegetais, animais, versos e ritos, não como os animais, pelos alimentos, mas como os espíritos, pelos sinais, a saber, enquanto tais coisas lhes são exibidas como sinal da honra divina, que para si desejam.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama

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