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06/11/2012

Leitura espiritual para 06 Nov 2012


Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 8, 1-20


1 Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2 Ao romper da manhã, voltou para o templo e todo o povo foi ter com Ele, e Ele, sentado, os ensinava. 3 Então os escribas e os fariseus trouxeram-Lhe uma mulher apanhada em adultério; puseram-na no meio, 4 e disseram-Lhe: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de adultério. 5 Ora Moisés, na Lei, mandou-nos apedrejar tais mulheres. E Tu que dizes?». 6 Diziam isto para Lhe armarem uma cilada, a fim de O poderem acusar. Porém, Jesus, inclinando-Se, pôs-Se a escrever com o dedo na terra. 7 Continuando, porém, eles a interrogá-l'O, levantou-Se e disse-lhes: «Aquele de vós que estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra». 8 Depois, tornando a inclinar-Se, escrevia na terra. 9 Mas eles, ouvindo isto, foram-se retirando, um após outro, começando pelos mais velhos; e ficou só Jesus com a mulher diante d'Ele. 10 Então, levantando-Se, disse-lhe: «Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?». 11 Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Então Jesus disse: «Nem Eu te condeno; vai e doravante não peques mais». 12 Outra vez lhes falou Jesus, dizendo: «Eu sou a luz do mundo; quem Me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida». 13 Os fariseus disseram-Lhe: «Tu dás testemunho de Ti mesmo; o Teu testemunho, por isso, não é verdadeiro». 14 Jesus respondeu: «Embora Eu dê testemunho de Mim mesmo, o Meu testemunho é verdadeiro, porque sei donde vim e para onde vou, mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou. 15 Vós julgais segundo a carne, Eu não julgo a ninguém; 16 e, se julgo alguém, o Meu juízo é verdadeiro, porque Eu não estou só, mas comigo está o Pai que Me enviou. 17 Na vossa Lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é digno de fé. 18 Sou Eu que dou testemunho de Mim mesmo e Meu Pai que Me enviou também dá testemunho de Mim». 19 Disseram-Lhe, pois: «Onde está Teu Pai?». Jesus respondeu: «Não conheceis nem a Mim nem a Meu Pai; se Me conhecêsseis a Mim, certamente conheceríeis também Meu Pai». 20 Estas palavras disse-as Jesus nas dependências do Tesouro, ensinando no templo; e ninguém O prendeu, porque ainda não tinha chegado a Sua hora.





CARTA ENCÍCLICA
MEDIACTOR DEI
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

SOBRE A SAGRADA LITURGIA
PRIMEIRA PARTE

NATUREZA, ORIGEM, PROGRESSO DA LITURGIA


…/2

II. A liturgia é culto externo e interno

20. Todo o conjunto do culto que a Igreja rende a Deus deve ser interno e externo. É externo porque o exige a natureza do homem composto de corpo e alma, porque Deus dispõe que "pelo conhecimento das coisas visíveis sejamos atraídos ao amor das invisíveis",     


[1] porque tudo o que vem da alma é naturalmente expresso pelos sentidos, e ainda porque o culto divino pertence não somente ao particular mas também à colectividade humana e consequentemente é necessário que seja social, o que é impossível, no âmbito religioso, sem vínculos e manifestações exteriores, e, enfim, porque é um meio que põe particularmente em evidência a unidade do corpo místico, acrescenta-lhe santos entusiasmos, consolida-lhe as forças, intensifica-lhe a acção: "se bem que, com efeito, as cerimónias, em si mesmas, não contenham nenhuma perfeição e santidade, são todavia actos externos de religião que, como sinais, estimulam a alma à veneração das coisas sagradas, elevam a mente à realidade sobrenatural, nutrem a piedade, fomentam a caridade, aumentam a fé, robustecem a devoção, instruem os simples, ornam o culto de Deus, conservam a religião e distinguem os verdadeiros dos falsos cristãos e dos heterodoxos. [2]

21. Mas o elemento essencial do culto deve ser o interno. É necessário, com efeito, viver sempre em Cristo, dedicar-se todo a ele, a fim de que nele, com ele e por ele, se dê glória ao Pai. A sagrada liturgia requer que estes dois elementos estejam intimamente ligados, o que ela não se cansa jamais de repetir toda vez que prescreve um acto externo de culto. Assim, por exemplo, a propósito do jejum, nos exorta: "a fim de que se opere de facto em nosso íntimo o que a nossa observância professa externamente". [3] De outro modo, a religião se torna um formalismo sem fundamento e sem conteúdo. Sabeis, veneráveis irmãos, que o divino Mestre considera indignos do templo sagrado e expulsa dele os que crêm honrar a Deus somente com o som de bem construídas palavras e com atitudes teatrais e estão persuadidos de poder prover de modo adequado à sua salvação sem arrancar da alma os vícios inveterados". [4] A Igreja, portanto, quer que todos os fiéis se prostrem aos pés do Redentor para professar-lhe o seu amor e a sua veneração, quer que as multidões, como as crianças que andaram ao encontro de Cristo quando entrava em Jerusalém com alegres aclamações, acompanhem o Rei dos reis e o sumo autor de todos os benefícios, aclamando-o com o canto de glória e de agradecimento, quer que haja orações em seus lábios, ora súplices, ora alegres e agradecidas, com as quais, como os apóstolos junto ao lago de Tiberíades, possam experimentar o auxílio de sua misericórdia e de seu poder, ou como Pedro, no monte Tabor, a Deus se abandonem e a todas as suas coisas nos místicos transportes da contemplação.

22. Não têm, pois, noção exacta da sagrada liturgia, aqueles que a consideram como parte somente externa e sensível do culto divino ou como cerimonial decorativo, nem se enganam menos, aqueles que a consideram como mero conjunto de leis e preceitos com que a hierarquia eclesiástica ordena a realização dos ritos.

23. Deve, portanto, ser bem conhecido de todos que não se pode honrar dignamente a Deus, se a alma não cuida de conseguir a perfeição da vida, e que o culto rendido a Deus pela Igreja em união com a sua Cabeça divina tem a eficácia suprema de santificação.

24. Essa eficácia, se se trata do sacrifício eucarístico e dos sacramentos, provém antes de tudo do valor da acção em si mesma (ex opere operacto), se se considera ainda a actividade própria da imaculada esposa de Jesus Cristo com a qual orna de orações e de sacras cerimónias o sacrifício eucarístico e os sacramentos, ou, se se trata dos sacramentais e de outros ritos instituídos pela hierarquia eclesiástica, então a eficácia deriva principalmente da acção da Igreja (ex opere operantis Ecclesiae), enquanto esta é santa e opera sempre em íntima união com a sua Cabeça.

25. A esse propósito, veneráveis irmãos, desejamos que volvais a vossa atenção às novas teorias sobre "piedade objectiva" segundo as quais, esforçando-se para pôr em evidência o mistério do corpo místico, a realidade efectiva da graça santificante e a acção divina dos sacramentos e do sacrifício eucarístico, se pretenderia descuidar ou diminuir a "piedade subjectiva" ou pessoal.

26. Nas celebrações litúrgicas e, em particular, no augusto sacrifício do altar, continua-se, sem dúvida, a obra da nossa redenção, cujos frutos nos são aplicados. Cristo realiza a nossa salvação cada dia nos sacramentos e no seu sacrifício e, por meio deles, purifica continuamente e consagra a Deus o género humano. Têm, portanto, uma virtude obsjectiva, com a qual, de facto, fazem nossas almas participantes da vida divina de Jesus Cristo. Eles, pois, têm não por nossa, mas por divina virtude, a eficácia de reunir a piedade dos membros com a piedade da Cabeça e torná-la, de certo modo, uma acção de toda a comunidade. Desses profundos argumentos alguns concluem que toda a piedade cristã deve concentrar-se no mistério do corpo místico de Cristo, sem nenhuma consideração pessoal e subjectiva, e por isso acreditam que se deva descuidar das outras práticas religiosas não estritamente litúrgicas e realizadas fora do culto público.

27. Todos, no entanto, podem verificar que essas conclusões acerca das duas espécies de piedade, ainda que os princípios acima expostos sejam ótimos, são completamente falsas, insidiosas e perniciosíssimas.

28. É verdade que os sacramentos e o sacrifício do altar têm uma intrínseca virtude enquanto são acções do próprio Cristo que comunica e difunde a graça da Cabeça divina nos membros do corpo místico, mas, para terem a devida eficácia, exigem as boas disposições da nossa alma, como, a propósito da eucaristia, são Paulo admoesta: "cada um examine a si mesmo e coma deste pão e beba do cálice". [5] Por isso mesmo, a Igreja define com brevidade e clareza todos os exercícios com os quais a nossa alma se purifica, especialmente durante a quaresma: "fortalezas da milícia cristã", [6] são, com efeito, as acções dos membros que, com o auxílio da graça, desejam aderir à sua Cabeça a fim de que "nos seja manifesta – para repetir as palavras de santo Agostinho – na nossa Cabeça a própria fonte da graça". [7] Mas deve-se notar que estes membros são vivos, providos de razão e de vontade própria, por isso é necessário que eles, encostando os lábios à fonte, retirem e assimilem o alimento vital e removam tudo o que lhe pode impedir a eficácia. Devemos, pois, afirmar que a obra da redenção, independente em si mesma da nossa vontade, requer o esforço íntimo da nossa alma para que possamos conseguir a eterna salvação.

29. Se a piedade privada e interna dos particulares se descuidasse do augusto sacrifício do altar e dos sacramentos, e se subtraísse ao influxo salvador que emana da Cabeça nos membros, seria, sem dúvida, reprovável e estéril, mas quando todas as providências e os exercícios de piedade não estritamente litúrgicos fixam o olhar da alma sobre actos humanos unicamente para endereçá-los ao Pai que está nos céus, para estimular salutarmente os homens à penitência e ao temor de Deus e arrancá-los da atracção do mundo e dos vícios, para conduzi-los felizmente por árduo caminho ao vértice da santidade, então, não apenas são sumamente louváveis, mas necessários, porque descobrem os perigos da vida espiritual, estimulam-nos à aquisição da virtude e aumentam o fervor com o qual nos devemos dedicar todos ao serviço de Jesus Cristo. A genuína piedade que o Angélico chama "devoção" e que é o acto principal da virtude da religião com o qual os homens se ordenam rectamente, se orientam oportunamente para Deus e livremente se consagram ao culto, [8] têm necessidade da meditação das realidades sobrenaturais e das práticas espirituais para que se alimente, estimule e fortifique e nos anime à perfeição. É que a religião cristã devidamente praticada requer, sobretudo, que a vontade se consagre a Deus e influa sobre as outras faculdades da alma. Mas todo acto da vontade pressupõe o exercício da inteligência e, antes que se conceba o desejo e o propósito de dar-se a Deus por meio do sacrifício, é absolutamente necessário o conhecimento dos argumentos e dos motivos que levam à religião, como, por exemplo, o fim último do homem e a grandeza da divina Majestade, o dever de obediência ao Criador, os tesouros inexauríveis do amor com o qual ele nos quis enriquecer, a necessidade da graça para alcançar a meta assinalada, e o caminho particular que a divina Providência nos preparou unindo-nos todos, como membros de um corpo, a Jesus Cristo Cabeça. E já que nem sempre os motivos do amor dominam a alma agitada pelas paixões, é muito oportuno que nos impressione ainda a consideração salutar da divina justiça para levar-nos à humildade cristã, à penitência e à emenda.

30. Todas estas considerações não devem ser uma vazia e abstrata lembrança, mas devem visar efectivamente a submeter os nossos sentidos e as suas faculdades à razão iluminada pela fé, a purificar a alma que se une cada dia mais intimamente a Cristo e sempre mais a ele se conforma e dele recebe a inspiração e a força divina de que tem necessidade, e para que sejam aos homens estímulo sempre mais eficaz ao bem, à fidelidade ao próprio dever, à prática da religião, ao fervoroso exercício da virtude, é necessário ter presente este ensinamento: "Sois de Cristo e Cristo é de Deus". [9] Tudo, pois, seja orgânico e teocêntrico se queremos que tudo seja em verdade endereçado à glória de Deus pela vida e pela virtude que nos vêm da nossa Cabeça divina: "tendo, pois, confiança de entrar no santo dos santos pelo sangue de Cristo, pelo novo e vivo caminho que ele inaugurou para nós através da sua carne, e tendo um grande sacerdote que preside à casa de Deus, aproximemo-nos com um coração sincero, com plenitude de fé, alma purificada da consciência de culpa, lavado o corpo com água limpa, apeguemo-nos firmes à profissão da nossa esperança... e sejamos solícitos uns para com os outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras". [10]

31. Disso deriva o harmonioso equilíbrio dos membros do corpo místico de Jesus Cristo. Com o ensino da fé católica, com a exortação à observância dos preceitos cristãos, a Igreja prepara o caminho à sua acção propriamente sacerdotal e santificadora, dispõe-nos a uma contemplação mais íntima da vida do divino Redentor e conduz-nos a uma consciência mais profunda dos mistérios da fé para que recebamos o alimento sobrenatural e a força para seguro progresso na vida perfeita por meio de Jesus Cristo. Não somente pelas obras de seus ministros mas ainda pelas obras dos fiéis particulares imbuídos do espírito de Jesus Cristo, a Igreja esforça-se em fazer penetrar esse mesmo espírito na vida e na actividade privada, familiar, social, e até económica e política dos homens, para que todos os que são chamados filhos de Deus possam mais facilmente conseguir o seu próprio fim.

32. Dessa maneira a acção particular e o esforço ascético dirigido à purificação da alma estimulam as energias dos fiéis e preparam-nos para participar com melhores disposições do augusto sacrifício do altar e a receber os sacramentos com maior fruto, e a celebrar os sagrados ritos, de modo a torná-los mais animados e formados para a oração e para a abnegação cristã para cooperar activamente nas inspirações e nos convites da graça, para imitar cada dia mais a virtude do Redentor, não somente para vantagem própria mas ainda para a vantagem de todo o corpo da Igreja, no qual todo o bem que se cumpre provém da virtude da Cabeça e redunda em benefício dos membros.

33. Por isso na vida espiritual não pode haver nenhuma oposição ou repugnância entre a acção divina que infunde a graça nas almas para continuar a nossa redenção e a operosa colaboração do homem que não deve tornar vão o dom de Deus, [11] entre a eficácia do rito externo dos sacramentos que provém do seu intrínseco valor (ex opere operacto), e o mérito de quem os administra ou recebe (opus operantis), entre as orações privadas e as preces públicas, entre a ética e a contemplação, entre a vida ascética e a piedade litúrgica, entre o poder de jurisdição e de legítimo magistério e o poder eminentemente sacerdotal que se exercita no próprio sagrado ministério.

34. Por graves motivos a Igreja prescreve aos ministros do altar e aos religiosos, precisamente porque são destinados de modo particular a realizar as funções litúrgicas do sacrifício e do louvor divino, que, nos tempos estabelecidos, atendam à meditação piedosa, ao exame diligente e à emenda da consciência e aos outros exercícios espirituais. [12] Sem dúvida, a prece litúrgica, sendo pública oração da ínclita esposa de Jesus Cristo, tem maior dignidade do que a das orações privadas, mas esta superioridade não quer dizer que entre estes dois géneros de oração haja contraste ou oposição. Ambas se fundem e se harmonizam porque animadas de um único espírito: "tudo e em todos, Cristo" [13] e tendem ao mesmo fim: até que Cristo seja formado em nós. [14]

III. A liturgia é regulada pela hierarquia eclesiástica

35. Para melhor compreender, ainda, a sagrada liturgia é necessário considerar outro seu carácter importante.

A Igreja é uma sociedade, exige, por isso, uma autoridade e hierarquia próprias. Se todos os membros do corpo místico participam dos mesmos bens e alguns tendem aos mesmos, nem todos gozam do mesmo poder e são habilitados a cumprir as mesmas acções. O divino Redentor estabeleceu, com efeito, o seu reino sob fundamentos da ordem sagrada, que é reflexo da hierarquia celeste. Somente aos apóstolos e àqueles que, depois deles, receberam dos seus sucessores a imposição das mãos, é conferido o poder sacerdotal em virtude do qual, como representam diante do povo que lhes foi confiado a pessoa de Jesus Cristo, assim representam o povo diante de Deus. Esse sacerdócio não vem transmitido nem por herança, nem por descendência carnal, nem resulta da emanação da comunidade cristã ou de delegação popular. Antes de representar o povo, perante Deus, o sacerdote representa o divino Redentor, e porque Jesus Cristo é a cabeça daquele corpo do qual os cristãos são membros, ele representa Deus junto do povo. O poder que lhe foi conferido não tem, pois, nada de humano em sua natureza, é sobrenatural e vem de Deus: "assim como o Pai me enviou, assim eu vos envio:..' , [15] "quem vos ouve, a mim ouve...", [16] "percorrendo todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura, quem crer e for baptizado, será salvo". [17]

37. Por isso o sacerdócio externo e visível de Jesus Cristo transmite-se na Igreja não de modo universal, genérico e indeterminado, mas é conferido a indivíduos eleitos, com a geração espiritual da ordem, um dos sete sacramentos, o qual não somente confere uma graça particular, própria deste estado e deste ofício, mas ainda um carácter indelével que configura os ministros sagrados a Jesus Cristo sacerdote, demonstrando-os capazes de cumprir aqueles actos legítimos de religião com os quais os homens são santificados e Deus é glorificado, segundo as exigências da economia sobrenatural.

38. Com efeito, como o lavacro do baptismo distingue os cristãos e separa-os dos outros que não foram lavados na água purificadora e não são membros de Cristo, assim o sacramento da ordem distingue os sacerdotes de todos os outros cristãos não consagrados, porque somente eles, por vocação sobrenatural, foram introduzidos no augusto ministério que os destina aos sagrados altares e os constituem instrumentos divinos por meio dos quais se participa da vida sobrenatural com o corpo místico de Jesus Cristo. Além disso, como já dissemos, somente estes são marcados com carácter indelével que os configura ao sacerdócio de Cristo e somente as suas mãos são consagradas "para que seja abençoado tudo o que abençoam e tudo o que consagram seja consagrado e santificado em nome de nosso Senhor Jesus Cristo". [18] Aos sacerdotes, pois, deve recorrer quem quer que deseje viver em Cristo, a fim de receber deles o conforto, o alimento da vida espiritual, o remédio salutar que o curará e o fortificará para que possa felizmente ressurgir da perdição e do abismo dos vícios, deles, enfim, receberá a bênção que consagra a família e por eles o último suspiro da vida mortal será dirigido ao ingresso na beatitude eterna.

39. Já que a sagrada liturgia é exercida sobretudo pelos sacerdotes em nome da Igreja, a sua organização, o seu regulamento e a sua forma não podem depender senão da autoridade da Igreja. Esta é não somente uma consequência da própria natureza do culto cristão, mas é ainda confirmada pelo testemunho da história.

40. Esse direito inconcusso da hierarquia eclesiástica é provado ainda pelo facto de ter a sagrada liturgia estreita ligação com aqueles princípios doutrinários que a Igreja propõe como fazendo parte de verdades certíssimas, e por isso deve conformar-se aos ditames da fé católica proclamados pela autoridade do supremo magistério para proteger a integridade da religião revelada por Deus.

41. A esse propósito, veneráveis irmãos, fazemos questão de pôr em sua justa luz uma coisa que pensamos não ignorais, isto é, o erro daqueles que pretenderam que a sagrada liturgia fosse como uma experimentação do dogma, de modo que, se uma destas verdades tivesse, através dos ritos da sagrada liturgia, trazido frutos de piedade e de santidade, a Igreja deveria aprová-la, e repudiá-la em caso contrário. Donde o princípio: "a lei da oração é lei da fé".

42. Não é, porém, assim que ensina e manda a Igreja. O culto que ela rende a Deus é, como de modo breve e claro diz santo Agostinho, uma contínua profissão de fé católica, e um exercício da esperança e da caridade: "a Deus se deve honrar com a fé, a esperança e a caridade". [19] Na sagrada liturgia fazemos explícita profissão de fé não somente com a celebração dos divinos mistérios, com o cumprimento do sacrifício e a administração dos sacramentos, mas ainda recitando e cantando o Símbolo da fé, que é como o distintivo e a téssera dos cristãos, com a leitura de outros documentos e das sagradas letras escritas por inspiração do Espírito Santo. Toda a liturgia tem, pois, um conteúdo de fé católica enquanto atesta publicamente a fé da Igreja.

43. Por esse motivo, sempre que se tratou de definir um dogma, os sumos pontífices e os concílios, abeberando-se das chamadas "fontes teológicas", não raramente tiraram argumentos também dessa sagrada disciplina, como fez, por exemplo, o nosso predecessor de imortal memória Pio IX quando definiu a Imaculada Conceição de Maria Virgem. Do mesmo modo, a Igreja e os santos padres, quando se discutia uma verdade controversa ou posta em dúvida, não deixaram de pedir luz também aos ritos veneráveis transmitidos pela antiguidade. Assim se tornou conhecida e venerada a sentença: "A lei da oração estabeleça a lei da fé". [20] A liturgia, portanto, não determina nem constitui em sentido absoluto e por virtude própria a fé católica, mas antes, sendo ainda uma profissão da verdade celeste, profissão dependente do supremo magistério da Igreja, pode fornecer argumentos e testemunhos de não pouco valor para esclarecer um ponto particular da doutrina cristã. Se queremos distinguir e determinar, de modo geral e absoluto, as relações que intercorrem entre fé e liturgia, podemos afirmar com razão que "a lei da fé deve estabelecer a lei da oração". O mesmo deve dizer-se ainda quando se trata das outras virtudes teológicas: "na... fé, na esperança e na caridade oramos sempre com desejo contínuo". [21]

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.



[1] Missal Rom., Prefácio da Nativ.
[2] I. Card. Bona, De divina psalmodia, c 19, § 3,1.
[3] Missal Rom., Secreta da féria V depois do II Dom. de Quaresma.
[4] Cf. Mc 7,6 e Is 29,13.
[5] 1 Cor 11, 28.
[6] Missal Rom., Féria IV de Cinzas: oração depois da imposição das cinzas.
[7] De praedestinatione sanctorum, 31.
[8] Cf.  s. Tomás, Summa Theol., II-II, q. 82, a, 1.
[9] Cf. 1 Cor 3,23.
[10] Hb 10,19-24.
[11] Cf. 2 Cor 6,1.
[12] Cf. CIC, cân 125,126, 565, 571, 595,1367.
[13] Col 3,11.
[14] Cf. Gl 4,19.
[15] Jo 20,21.
[16] Lc 10, 16
[17] Mc 16,15-16.
[18] Pont. Rom., De ordinatione presbyteri, in manuum unctione.
[19] Enchiridion, c. 3.
[20] De gratia Dei "Indiculus", Dz 246.
[21] S. Agostinho, Epist.130, ad Probam, 18.

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