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19/10/2012

Vida de Maria (III) - A VOZ DOS SANTOS


«Não houve nem nunca haverá oferenda feita por uma criatura, nem maior nem mais perfeita do que a que fez Maria a Deus quando se apresentou no Templo para Lhe oferecer, não incenso nem cordeiros, nem moedas de ouro, mas a si própria de todo e por inteiro, em perfeito holocausto, consagrando-se como vítima perpétua em Sua honra. Compreendeu muito bem a voz do Senhor que a chamava a dedicar-se toda inteira ao Seu amor, com aquelas palavras: Levanta-te, apressa-te, amiga minha... e vem (Ct 2, 10). Por isso queria o seu Senhor que se dedicasse de todo a amá-Lo e a alegrá-Lo: Ouve, minha filha, olha, inclina o teu ouvido e esquece o teu povo e a casa paterna (Sal 44, 14). E Ela, nesse mesmo instante, seguiu a chamada de Deus».

«Por amor a esta menina privilegiada acelerou o Redentor a Sua vinda ao mundo. Precisamente porque não se julgava digna sequer de ser escrava da Mãe de Deus, foi a escolhida para ser essa mãe. Com o aroma das suas virtudes e com as suas poderosas orações atraiu ao seu seio virginal o Filho de Deus. Por isso o seu divino Esposo lhe chamou rola: Ouviu-se na nossa terra a voz da rola (Ct 2, 12); não só porque Ela, tal como a rola, sempre gostou da solidão, vivendo neste mundo como num deserto, mas porque como a rola que vai sempre gemendo pela campina, Maria suspirava sempre compadecendo-se das misérias do mundo perdido e pedindo a Deus que outorgasse a redenção para todos. Com muito mais fervor do que os profetas Ela repetia, quando estava no templo, as súplicas e suspiros deles para que mandasse o Redentor: Envia, Senhor, o Cordeiro dominador da terra (Is 15, 1). Céus, gotejai lá de cima; e as nuvens chovam o Justo (Is 45, 8). Oh se rasgásseis os céus e descêsseis! (Is 44, 1)».

«Numa palavra, Ela era o objecto das complacências de Deus, ao contemplar esta virgenzinha aspirando sempre à mais elevada perfeição como coluna de incenso rica pelo aroma de todas as virtudes, tal como a descreve o Espírito Santo: Quem é esta que vai subindo pelo deserto como uma coluna de fumo feita de mirra e de incenso e de toda a espécie de aromas? (Ct 3, 6). Na verdade, diz Sofronio, era esta donzela o jardim das delícias do Senhor onde se encontravam toda a espécie de flores e todos os aromas das virtudes. Por isso, afirma São João Crisóstomo, Deus escolheu Maria para Sua Mãe, porque não encontrou na terra uma virgem mais santa nem mais perfeita que Maria, nem lugar mais digno para habitar do que o seu seio sacrossanto. São Bernardo diz de modo semelhante: não houve na terra sítio mais digno do que o seio virginal. Santo Antonino afirma que a bem-aventurada Virgem, para ser escolhida e destinada à dignidade de Mãe de Deus, tinha que possuir uma perfeição tão grande e consumada que superasse totalmente a perfeição de todas as outras criaturas: a suprema perfeição da graça é estar preparada para conceber o Filho de Deus».

«Como a santa menina Maria se ofereceu a Deus no templo com prontidão e por inteiro, assim nós neste dia apresentemo-nos a Maria sem demora e sem reserva e roguemos-lhe que nos ofereça a Deus, que não nos recusará vendo que somos oferecidos pelas mãos daquela que foi o templo vivo do Espírito Santo, as delícias do seu Senhor e a escolhida como Mãe do Verbo eterno. E esperemos toda a espécie de bens desta excelsa e muito agradecida Senhora que recompensa com grande amor os obséquios que recebe dos seus devotos».

(Stº. afonso maria de ligório, As glórias de Maria, Parte II, Discurso III.)


«Desde há quase trinta anos, Deus pôs no meu coração o anseio de fazer compreender às pessoas de qualquer estado, condição ou ofício, esta doutrina: a vida corrente pode ser santa e cheia de Deus; o Senhor chama-nos a santificar o trabalho quotidiano, porque aí está também a perfeição cristã. Consideramo-lo uma vez mais, contemplando a vida de Maria.

Não nos esqueçamos de que a quase totalidade dos dias que Nossa Senhora passou na Terra decorreram de forma muito semelhante aos dias de muitos milhões de mulheres, ocupadas a cuidar da sua família, a educar os seus filhos, a levar a cabo as tarefas do lar. Maria santifica as coisas mais pequenas, aquilo que muitos consideram erradamente como não transcendente e sem valor: o trabalho de cada dia, os pormenores de atenção com as pessoas queridas, as conversas e as visitas por motivo de parentesco ou de amizade... Bendita normalidade, que pode estar cheia de tanto amor de Deus!

Na verdade, é isso que explica a vida de Maria: o seu amor. Um amor levado ao extremo, até ao esquecimento completo de si mesma, contente por estar ali, onde Deus quer que esteja e cumprindo com esmero a vontade divina. Isso é o que faz com que o mais pequeno dos seus gestos nunca seja banal, mas cheio de significado. Maria, nossa Mãe, é para nós exemplo e caminho. Temos de procurar ser como Ela nas circunstâncias concretas em que Deus quer que vivamos».

(S. Josemaria, Cristo que passa, 148

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