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09/10/2012

Tratado sobre a conservação e o governo das coisas 18


Questão 108: Da ordenação dos anjos por hierarquias e ordens.
Em seguida devemos tratar da ordenação dos anjos por hierarquias e ordens; pois, como já se disse, os superiores iluminam os inferiores, e não vice-versa.



E sobre esta questão oito artigos se discutem:
Art. 1 — Se todos os anjos são da mesma hierarquia.
Art. 2 — Se numa mesma hierarquia há muitas ordens.
Art. 3 — Se há vários anjos numa mesma ordem.
Art. 4 — Se a distinção de hierarquia e de ordens procede da natureza dos anjos.
Art. 5 — Se as ordens dos anjos são convenientemente denominadas
Art. 6 — Se os graus das ordens estão convenientemente distribuídos.
Art. 7 — Se as ordens permanecerão depois do dia do juízo.
Art. 8 — Se os homens serão transferidos às ordens dos anjos.

Art. 1 — Se todos os anjos são da mesma hierarquia.

(III, q. 8, a. 4; II Sent., dist. IX, a. 3; IV, dist. XXIV, q. 2, a. 1, qª 2, ad 4; Ephes., cap. I, lect. VII).

O primeiro discute-se assim. — Parece que todos os anjos são da mesma hierarquia.

1. — Pois, sendo os anjos as criaturas supremas, é necessário admitir-se que são otimamente dispostos. Mas, como diz claramente o Filósofo, a melhor disposição é a da multidão regida por um só chefe. Ora, como a hierarquia não é senão a chefia sagrada, resulta que todos os anjos são da mesma hierarquia.

2. Demais. — Dionísio diz, que a hierarquia é ordem, ciência e acção. Ora, todos os anjos convêm na mesma ordem, em relação a Deus, a quem conhecem e por quem são regulados, nas suas acções. Logo, todos são da mesma hierarquia.

3. Demais. — A chefia sagrada, chamada hierarquia, tanto existe entre os homens como entre os anjos. Ora, todos os homens são da mesma hierarquia. Logo, também todos os anjos.

Mas, em contrário, Dionísio distingue três hierarquias de anjos.

Como se disse, a hierarquia é uma chefia sagrada. Ora, a palavra chefia abrange duas coisas: o chefe e o povo governado por ele. Ora, como Deus é o chefe, não só de todos os anjos, mas também dos homens e de toda criatura, por isso, todos os anjos e toda criatura racional formam uma só hierarquia, que possa ser participante das coisas sagradas, conforme a expressão de Agostinho: há duas cidades, isto é, duas sociedades; uma, a dos anjos bons e dos homens; outra, a dos maus. Se, porém, se considerar a chefia em relação ao povo sujeito a um mesmo chefe, então forma uma chefia o povo que pode estar, de um mesmo modo, sob o governo de um mesmo chefe; e, os povos, que não puderem ser governados do mesmo modo, pelo mesmo chefe, formam chefias diversas. Assim, sob um mesmo rei, estão as diversas cidades, regidas por leis e governadores diversos. Ora, é manifesto que os homens recebem as iluminações divinas de modo diverso dos anjos; pois, estes recebem-na na sua pureza inteligível, ao passo que aqueles, como diz Dionísio, sob semelhanças sensíveis. E portanto, é forçoso distinguir a hierarquia humana da angélica.

E do mesmo modo, distinguem-se três hierarquias de anjos. Pois, como já se disse (q. 55, a. 3), quando se tratou do conhecimento dos anjos, os anjos superiores têm conhecimento mais universal da verdade, que os inferiores. Ora, esta apreensão universal do conhecimento pode ser dividida por três graus, nos anjos, pois, as razões das causas, sobre as quais os anjos são iluminados, podem considerar-se sob tríplice aspecto. — Primeiro, enquanto procedentes do primeiro princípio universal, que é Deus. E este modo convém à primeira hierarquia, que chega até Deus, e, corno diz Dionísio, está colocada quase nos vestíbulos de Deus. — Segundo, enquanto tais razões dependem das causas universais já criadas, de certa maneira, multiplicadas. E este modo convém à segunda hierarquia. — Terceiro, enfim, enquanto tais razões se aplicam a coisas singulares dependentes das causas próprias. E este modo convém à ínfima hierarquia, o que plenamente ficará explicado quando se tratar de cada uma das ordens (a. 6). Assim, pois, as hierarquias se distinguem em relação à multidão governada.

Donde, é manifesto que erram e vão contra a intenção de Dionísio, os que introduzem, nas divinas Pessoas, a hierarquia a que chamam supraceleste. Pois, nas Pessoas divinas há uma ordem de natureza e não de hierarquia. Porque, como diz Dionísio, a ordem de hierarquia consiste em serem uns purificados, iluminados e aperfeiçoados e em purificar, iluminar e aperfeiçoar a outros. E longe de nós introduzir tais distinções nas Pessoas divinas.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A objecção é procedente, quanto à chefia, relativamente ao chefe, porquanto é óptimo que o povo seja governado por um só chefe, como explica o Filósofo nos passos citados.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Quanto ao conhecimento do próprio Deus, a quem todos os anjos vêm do mesmo modo, ou seja, em essência, neles não se distinguem hierarquias; mas, quanto à razão das coisas criadas, como já se disse.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Todos os homens são da mesma espécie e, por isso, é-lhes co-natural o mesmo modo de inteligir. Ora, como não se dá o mesmo com os anjos, não há semelhança de razão.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama

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