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26/10/2012

Tratado sobre a conservação e o governo das coisas 35


Questão 111: Da acção dos anjos sobre os homens.
Art. 2 — Se os anjos podem imutar a vontade do homem.


(Supra, q. 106, a. 2, 1ª II ªº, q. 80, a. 1, II Sent., dist. VIII, a. 5, III Cont. Gent., cap. LXXXVIII, XCII, De Verit., q. 22, a. 9, De Malo, q. 3, a. 3, 4, In Ioann, cap. XIII, lect I).

O segundo discute-se assim. — Parece que os anjos podem imutar a vontade do homem.


1. — Pois, a propósito do passo da Escritura (Heb 1, 7) — Que faz aos seus anjos espíritos, e aos seus ministros chama de fogo — diz a Glossa, que são fogo por serem férvidos, de espírito, e queimarem os nossos vícios. Ora, tal não seriam sem imutarem a vontade. Logo, os anjos podem imutá-la.

2. Demais. — Beda diz, que o diabo não é o causador dos maus pensamentos, mas, o incensor. Damasceno, porém, diz mais, que também é o causador, pois, escreve: toda malícia e as paixões imundas são excogitadas, por influência dos demónios, pois, é-lhes concedido causarem-nas nos homens. E por igual razão, os anjos bons causam e incitam os bons pensamentos. Ora, isso, não poderiam fazê-lo se não imutassem a vontade. Logo, imutam-na.

3. Demais. — Como já se disse (a. 1), o anjo ilumina o intelecto do homem mediante os fantasmas. Ora, como a fantasia, que serve ao intelecto, pode ser imutada pelo anjo, assim também o apetite sensitivo, que serve à vontade, pois, este é também uma virtude que usa de órgão corpóreo. Logo, assim como ilumina o intelecto também pode iluminar a vontade.

Mas, em contrário, imutar a vontade é próprio de Deus, conforme a Escritura (Pr 21, 1): O coração do rei está na mão do Senhor, ele o inclinará para qualquer parte que quiser.

A vontade pode ser imutada de dois modos. — Interiormente, e então, como o seu movimento não é senão a inclinação para a coisa querida, só Deus, que dá à natureza intelectual a virtude para tal inclinação, pode imutá-la. Pois, assim como a inclinação natural procede de quem dá a natureza, assim a inclinação da vontade só pode proceder de Deus, que causa a vontade. — De outro modo, a vontade é movida pelo exterior. E isto, no anjo, dá-se de uma só maneira, a saber, pelo bem apreendido pelo intelecto. Donde, a causa de ser alguma coisa apreendida como bem desejado, move a vontade. De modo que só Deus pode mover eficazmente a vontade, o anjo, porém, e o homem, podem movê-la, persuadindo-a, como antes se disse (q. 106, a. 2). — Mas além deste modo, também a vontade do homem é movida pelo exterior, e isso pela paixão referente ao apetite sensitivo, assim, pela concupiscência ou pela ira a vontade é inclinada a querer um certo objecto. E então, também os anjos, na medida em que podem provocar essas paixões, podem movê-la, não porém necessariamente, porque a vontade sempre fica livre de consentir na paixão ou lhe resistir.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Diz-se que os ministros de Deus, homens ou anjos, queimam os vícios e inflamam as virtudes, persuadindo.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Os demónios não podem originar os pensamentos, causando-os interiormente porque a virtude cogitativa está sujeita à vontade. Diz-se porém, que o diabo é incensor dos pensamentos, na medida em que incita a pensar ou a desejar o que foi pensado, persuadindo ou concitando a paixão. E a esse mesmo incender Damasceno chama causar, porque tal operação é interior. Ao passo que os bons pensamentos são atribuídos a Deus, princípio mais alto, embora sejam provocados pelo ministério dos anjos.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O intelecto humano, no estado presente, não pode inteligir, a não ser voltando-se para os fantasmas. Mas a vontade humana pode querer alguma coisa, pelo juízo da razão, sem seguir a paixão do apetite sensitivo. E por isso o símile não é o mesmo.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama

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