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17/10/2012

Leitura espiritual para 17 Out 2012


Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 23, 50-56; 24, 1-12


50 Então um homem, chamado José, que era membro do Sinédrio, varão bom e justo, 51 que não tinha concordado com a determinação dos outros, nem com os seus actos, oriundo de Arimateia, cidade da Judeia, que também esperava o reino de Deus, 52 foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. 53 Tendo-O descido da cruz, envolveu-O num lençol e depositou-O num sepulcro aberto na rocha, no qual ainda ninguém tinha sido sepultado. 54 Era o dia da Preparação e o sábado ia começar. 55 Ora as mulheres, que tinham vindo da Galileia com Jesus, acompanharam José, e observaram o sepulcro e o modo como o corpo de Jesus fora nele depositado. 56 Voltando, prepararam perfumes e unguentos. No sábado, observaram o descanso, segundo a Lei.
Lc 24 1 No primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, levando os perfumes que tinham preparado. 2 Encontraram removida a pedra do sepulcro. 3 Entrando, não encontraram o corpo do Senhor Jesus. 4 Aconteceu que, estando perplexas com isso, eis que apareceram junto delas dois homens com vestidos resplandecentes. 5 Estando elas medrosas e com os olhos no chão, disseram-lhes: «Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo? 6 Ele não está aqui, ressuscitou. Lembrai-vos do que Ele vos disse quando estava na Galileia: 7 Importa que o Filho do Homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia». 8 Então lembraram-se das Suas palavras. 9 Tendo voltado do sepulcro, contaram todas estas coisas aos onze e a todos os outros. 10 As que diziam aos Apóstolos estas coisas eram Maria Madalena, Joana, Maria, mãe de Tiago, e as outras que estavam com elas. 11 Mas estas palavras pareciam-lhes como que um delírio e não lhes deram crédito. 12 Todavia, Pedro levantou-se, correu ao sepulcro e, inclinando-se, viu só os lençois e retirou-se para casa, admirado com o que sucedera.





CARTA ENCÍCLICA
MYSTICI CORPORIS
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

O CORPO MÍSTICO DE JESUS CRISTO E NOSSA UNIÃO NELE COM CRISTO

PRIMEIRA PARTE

A IGREJA CORPO, "MÍSTICO" DE CRISTO

…/2

24. Temos visto até aqui, veneráveis irmãos, que a Igreja pela sua constituição se pode assemelhar a um corpo; segue-se que mostremos mais em particular, porque motivos se deve chamar não um corpo qualquer, mas o corpo de Jesus Cristo. Deduz-se isto do facto que nosso Senhor é o fundador, a cabeça, o conservador e salvador deste corpo místico.

a) Cristo foi o "Fundador" deste corpo

25. Devendo expor brevemente o modo como Cristo fundou o seu corpo social, acode-nos antes de mais nada esta sentença do nosso predecessor de feliz memória Leão XIII: "A Igreja, que já concebida, nascera do lado do segundo Adão, adormecido na cruz, manifestou-se pela primeira vez à luz do mundo de modo insigne no celebérrimo dia de Pentecostes".


[1] De facto o divino Redentor começou a fábrica do templo místico da Igreja, quando na sua pregação ensinou os seus mandamentos; concluiu-a quando, glorificado, pendeu da Cruz; manifestou-a enfim e promulgou-a quando mandou sobre os discípulos visivelmente o Espírito Paráclito.

26. Durante o seu ministério público escolhia os Apóstolos, enviando-os como ele próprio tinha sido enviado pelo Pai (Jo 17,18), como mestres, guias, agentes da santidade na assembleia dos fiéis; designava o chefe deles e seu vigário em terra (cf. Mt 16,18-19); fazia-lhes conhecer tudo o que tinha ouvido do Pai (Jo 15, 15; 17, 8.14); indicava também o baptismo (cf. Jo 3, 5) como meio para os que no futuro cressem serem incorporados no Corpo da Igreja; finalmente chegando ao anoitecer da vida, durante a última ceia, instituía a Eucaristia, admirável sacrifício e admirável sacramento.

27. Ter consumado no patíbulo da cruz a sua obra, afirmam-no, numa série ininterrupta de testemunhos, os santos Padres, que notam ter a Igreja nascido na cruz do lado do Salvador, qual nova Eva, mãe de todos os viventes (cf. Gn 3, 20). "Agora, diz o grande Ambrósio tratando do lado de Cristo aberto, é ela edificada, agora formada, agora esculpida, agora criada... Agora é a casa espiritual elevada a sacerdócio santo". [2] Quem devotamente investigar esta venerável doutrina, poderá sem dificuldade ver as razões em que ela se funda.

28. E primeiramente com a morte do Redentor, foi abrogada a antiga Lei e sucedeu-lhe o Novo Testamento; então com o sangue de Cristo foi sancionada para todo o mundo a Lei de Cristo com seus mistérios, leis, instituições e ritos sagrados. Enquanto o divino Salvador pregava num pequeno território - pois que não fora enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel (cf. Mt 15, 24) - corriam juntos a Lei e o Evangelho, [3] mas no patíbulo, onde morreu, anulou a Lei com as suas prescrições (cf. Ef 2, 15), afixou na cruz o quirógrafo do Antigo Testamento (cf. Cl 2, 14), estabelecendo, com o sangue, derramado por todo o género humano, a Nova Aliança (cf. Mt 26, 28; 1 Cor 11, 25). "Então, diz S. Leão Magno falando da cruz do Senhor, fez-se a transferência da Lei para o Evangelho, da Sinagoga para a Igreja, de muitos sacrifícios para uma única hóstia, tão evidentemente, que ao exalar o Senhor o último suspiro, o místico véu, que fechava os penetrais do templo e o misterioso santuário, se rasgou improvisamente de alto abaixo". [4]

29. Portanto na cruz morreu a Lei antiga; dentro em pouco será sepultada e se tornará mortífera, [5] para ceder o lugar ao Novo Testamento, para o qual tinha Cristo escolhido ministros idóneos na pessoa dos apóstolos (cf. 2 Cor 3,6): e é pela virtude da cruz que o Salvador, constituído em cabeça de toda a família humana já desde o seio da Virgem, exerce plenamente o seu múnus de cabeça da Igreja. "Pela vitória da cruz, segundo o doutor angélico, mereceu o poder e domínio sobre todas as gentes", [6] por ela enriqueceu imensamente aquele tesouro de graça que na glória do céu distribui incessantemente aos seus membros mortais; pelo sangue derramado na cruz fez com que, removido o obstáculo da ira divina, pudessem todos os dons celestes e em primeiro lugar as graças espirituais do Novo e Eterno Testamento correr das fontes do Salvador para a salvação dos homens, sobretudo dos fiéis; enfim na árvore da cruz adquiriu a sua Igreja, isto é, os membros do seu corpo místico, pois que estes não seriam a ele incorporados nas águas do baptismo, se não fosse pela virtude salutífera da cruz, onde o Senhor já adquiriu sobre eles, pleníssimo domínio.

30. Se o nosso Salvador por sua morte foi feito cabeça da Igreja no pleno sentido da palavra, igualmente pelo seu sangue, foi a Igreja enriquecida daquela abundantíssima comunicação do Espírito que divinamente a ilustra desde que o Filho do homem foi elevado e glorificado no seu doloroso patíbulo. Então como nota Santo Agostinho, [7] rasgado o véu do templo, o orvalho dos dons do Paráclito, que até ali descera somente sobre o velo, isto é, sobre o povo de Israel, começou deixando o velo enxuto, a regar a Igreja e abundantemente toda a terra, quer dizer a Igreja católica, que não conhece fronteira de estirpe ou território. Como no primeiro instante da encarnação, o Filho do Eterno Pai ornou a natureza humana, consigo substancialmente unida, com a plenitude do Espírito Santo, para que fosse apto instrumento da divindade na hora cruenta da redenção; assim na hora da sua preciosa morte enriqueceu a sua Igreja com os mais copiosos dons do Paráclito, para a tornar válido e perpétuo instrumento do Verbo encarnado na distribuição dos divinos frutos da redenção. De facto a missão jurídica da Igreja e o poder de ensinar, governar e administrar os sacramentos não têm força e vigor sobrenatural para edificar o corpo de Cristo, senão porque Cristo pendente da cruz abriu à sua Igreja a fonte das divinas graças com as quais pudesse ensinar aos homens doutrina infalível, governá-los salutarmente por meio de pastores divinamente iluminados, e inundá-los com a chuva das graças celestes.

31. Se considerarmos atentamente todos estes mistérios da cruz, já nos não parecerão obscuras as palavras do Apóstolo, onde ensina aos Efésios que Cristo, com o sangue, fez um povo único de judeus e gentios "destruindo na sua carne a parede interposta", que separava os dois povos; e que abrogou a Antiga Lei "para dos dois formar em si mesmo um só homem novo", isto é, a Igreja; e a ambos, reunidos num só Corpo, reconciliar com Deus pela cruz (cf. Ef 2, 14-16).

32. A Igreja que com seu sangue fundara, robusteceu-a com energias especiais descidas do céu, no dia de Pentecostes. Com efeito, depois de ter solenemente investido no seu ofício aquele que já antes tinha designado para seu vigário, subiu ao céu; e, sentado à direita do Pai, quis manifestar e promulgar a sua esposa com a descida visível do Espírito Santo, com o ruído do vento impetuoso e com as línguas de fogo (cf. At 2, 1-4). Como ele próprio ao princípio do seu público ministério tinha sido manifestado pelo Eterno Pai por meio do Espírito Santo que em figura de pomba desceu e pousou sobre ele (cf. Lc 3, 22; Mc 1, 10), assim igualmente quando os Apóstolos estavam para começar o sagrado ofício de pregar, mandou Cristo Senhor nosso do céu o seu Espírito que, tocando-os com línguas de fogo, mostrou, como com o dedo de Deus, a missão e o múnus sobrenatural da Igreja.

b) Cristo é a "cabeça" deste corpo

33. Em segundo lugar prova-se que este corpo místico, que é a Igreja, é realmente distinguido com o nome de Cristo, porque ele deve ser considerado de facto como sua cabeça. "Ele é, diz S. Paulo, a cabeça do corpo da Igreja" (Cl 1,18). Ele é a cabeça, da qual todo o corpo convenientemente organizado e coordenado recebe crescimento e desenvolvimento na sua edificação (cf. Ef 4,16, com Cl 2,19).

34. Bem sabeis, veneráveis irmãos, com que eloquência e esplendor trataram este assunto os doutores escolásticos e principalmente o Doutor angélico e comum; e não ignorais que os seus argumentos reproduzem fielmente a doutrina dos santos Padres; os quais, por sua parte, não faziam senão expor e comentar as sentenças da divina linguagem da Escritura.

35. Queremos, contudo, para comum utilidade tocar aqui brevemente este ponto. E primeiro é evidente que o Filho de Deus e da Virgem Santíssima deve chamar-se cabeça da Igreja por motivo de singularíssima excelência. A cabeça está colocada no alto. Ora quem foi colocado mais alto do que Cristo-Deus, o qual, como Verbo do Eterno Pai, deve ser considerado "primogénito de toda a criação"? (Cl 1,15).

Quem, elevado a maior altura do que Cristo-homem, o qual, nascido da Virgem imaculada, é verdadeiramente e por natureza Filho de Deus, e por sua prodigiosa e gloriosa ressurreição com que triunfou da morte, é o "primogénito dos mortos" (Cl 1,18; Ap 1,5). Quem, finalmente, colocado em maior altura do que aquele que de modo admirável, qual "único medianeiro entre Deus e os homens" (1Tm 2,5), junta a terra com o céu; que exaltado na cruz, como num trono de misericórdia, atraiu tudo a si (cf. Jo 12,32); e que, filho do homem eleito entre milhões, é amado por Deus mais que todos os homens, todos os anjos e todas as criaturas? [8]

36. E porque Cristo ocupa lugar tão sublime, com razão é ele só a reger e governar a Igreja; nova razão para se assemelhar à cabeça. Como a cabeça, para o dizer com as palavras de Santo Ambrósio, é "a cidade real" do corpo, [9] e, sendo dotada de maiores qualidades, dirige naturalmente todos os membros, aos quais sobe estar para olhar por eles, [10] assim o divino Redentor empunha o timão e governa toda a república cristã. Uma vez que governar uma sociedade composta de homens não é outra coisa do que com útil providência, meios aptos e rectas normas, conduzi-los a um fim determinado, [11] é fácil de ver que nosso Salvador, modelo e exemplar dos bons pastores (cf. Jo 10,1-18;1Pd 5,115), exercita maravilhosamente todos estes ofícios.

37. Ele, na sua vida mortal instruiu-nos com leis, conselhos, avisos, em palavras que não passarão nunca e para os homens de todos os tempos serão Espírito e vida (cf. Jo 6,63). Além disso deu aos apóstolos e seus sucessores o tríplice poder de ensinar, reger e santificar, poder definido com especiais leis, direitos e deveres, que constituem a lei fundamental de toda a Igreja.

38. Mas o nosso divino Salvador governa e dirige também por si mesmo e directamente a sociedade que fundou; pois reina nas inteligências e corações dos homens e dobra e compele a seu beneplácito as vontades ainda mais rebeldes. "O coração do rei está na mão do Senhor; incliná-lo-á para onde quiser" (Pr 21,1). Com este governo interno, ele, qual "pastor e bispo das nossas almas" (cf. 1Pd 2,25) não só tem cuidado de cada um em particular, mas também de toda a Igreja; tanto quando ilumina e fortalece os sagrados pastores para que fiel e frutuosamente se desempenhem de seus ofícios, como quando - em circunstâncias particularmente graves - faz surgir no seio da Igreja homens e mulheres de santidade assinalada, que sirvam de exemplo aos outros fiéis, para incremento do seu corpo místico. Acresce ainda que Cristo do céu vela sempre com particular amor pela sua esposa intemerata, que labuta neste terrestre exílio; e quando a vê em perigo, ou por si mesmo, ou pelos seus anjos (cf. At 8,26; 9,119; 10,1-7; 12,3-10), ou por aquela que invocamos como auxílio dos cristãos, e pelos outros celestes protectores, salva-a das ondas procelosas e, serenado e abonançado o mar, consola-a com aquela paz "que supera toda a inteligência" (Fl 4,7).

39. Não se julgue, porém, que o seu governo se limita a uma ação invisível, [12] ou extraordinária. Ao contrário, o divino Redentor governa o seu corpo místico de modo visível e ordinário por meio do seu vigário na terra. Vós bem sabeis, veneráveis irmãos, que Cristo nosso Senhor, depois de ter, durante a sua carreira mortal, governado pessoalmente e de modo visível o seu "pequeno rebanho" (Lc 12,32), quando estava para deixar este mundo e voltar ao Pai, confiou ao príncipe dos apóstolos o governo visível de toda a sociedade que fundara. E realmente, sapientíssimo como era, não podia deixar sem cabeça visível o corpo social da Igreja que instituíra. Nem se objecte que com o primado de jurisdição instituído na Igreja ficava o corpo místico com duas cabeças. Porque Pedro, com a força do primado, não é senão vigário de Cristo, e por isso a cabeça principal deste corpo é uma só: Cristo; o qual, sem deixar de governar a Igreja misteriosamente por si mesmo, rege-a também de modo visível por meio daquele que faz as suas vezes na terra; e assim a Igreja, depois da gloriosa ascensão de Cristo ao céu não está edificada só sobre ele, senão também sobre Pedro, como fundamento visível. Que Cristo e o seu vigário formam uma só cabeça ensinou-o solenemente nosso predecessor de imortal memória Bonifácio VIII, na Carta Apostólica Unam Sanctam [13] e os seus sucessores não cessaram nunca de o repetir.

40. Em erro perigoso estão, pois, aqueles que julgam poder unir-se a Cristo, cabeça da Igreja, sem aderirem fielmente ao seu vigário na terra. Suprimida a cabeça visível e rompidos os vínculos visíveis da unidade, obscurecem e deformam de tal maneira o corpo místico do Redentor, que não pode ser visto nem encontrado por quantos demandam o porto da eterna salvação.

41. Tudo o que dissemos da Igreja universal deve afirmar-se igualmente das comunidades cristãs particulares, tanto orientais como latinas, das quais consta e se compõe uma só Igreja católica; por isso que também a elas governa Jesus Cristo por meio da voz e autoridade dos respectivos prelados. Os bispos não só devem ser considerados como membros mais eminentes da Igreja universal, pois que se unem com nexo singularíssimo à cabeça de todo o corpo, e com razão se chamam "os primeiros dos membros do Senhor", [14] mas nas próprias dioceses, como verdadeiros pastores, apascentam e governam em nome de Cristo os rebanhos que lhes foram confiados; [15] ainda que nisto não sejam plenamente independentes, mas estão sujeitos à autoridade do romano pontífice, de quem receberam imediatamente o poder ordinário de jurisdição que possuem. Devem pois ser venerados, pelo povo cristão, como sucessores dos apóstolos por instituição divina; [16] a eles, como sagrados com a unção do Espírito Santo, muito melhor que às autoridades deste mundo, ainda que elevadas, se pode aplicar aquela sentença: "Não toqueis nos meus ungidos" (1Cr 16, 22; Sl 104,15).

42. É, por isso, imensa a nossa dor quando somos informados de que não poucos dos nossos irmãos no episcopado, porque de todo o coração se fizeram modelos do seu rebanho (cf. 1Pd 5,3) e defendem estrénua e fielmente, como devem, ‘o depósito da fé’ a eles confiado (cf. 1Tm 6,20); porque zelam o cumprimento das leis santíssimas, impressas pela mão de Deus nos corações dos homens, e a exemplo do supremo Pastor defendem o próprio rebanho contra a rapacidade dos lobos, não só se vêm eles próprios perseguidos e vexados, mas - o que para eles é bem cruel e penoso - vêm tratadas igualmente as suas ovelhas, os colaboradores do seu apostolado, e as próprias virgens consagradas a Deus. Essas injustiças, consideramo-las como feitas a nós mesmos e repetimos a eloquente frase do nosso predecessor de imortal memória, Gregório Magno: A nossa honra é a honra de nossos irmãos; e, então, verdadeiramente somos honrados, quando a nenhum deles se nega a honra que lhes é devida. [17]

43. Todavia não se julgue que Cristo, cabeça da Igreja, por estar posto tão alto, dispensa a cooperação do corpo; pois que deve aplicar-se ao corpo místico o que Paulo afirma do corpo humano: "Não pode a cabeça dizer aos pés: não preciso de vós" (lCor 12,21). É mais que evidente que os fiéis precisam do auxílio do divino Redentor, pois que ele disse: "Sem mim, nada podeis fazer" (Jo 15,5), e segundo o Apóstolo, todo o aumento deste corpo místico na sua edificação vem-lhe de Cristo, sua cabeça (Cf. Ef 4,16; Cl 2,19). Contudo é igualmente verdade, por mais admirável que pareça, que Cristo também precisa dos seus membros. E isso, em primeiro lugar, porque a pessoa de Jesus Cristo é representada pelo sumo-pontífice, e este, para não ficar esmagado sob o peso do múnus pastoral, precisa confiar a outros parte não pequena da sua solicitude, e todos os dias deve ser ajudado pelas orações de toda a Igreja. Além disso o nosso Salvador, enquanto rege por si mesmo de modo invisível a Igreja, quer ser ajudado pelos membros deste corpo místico na realização da obra da redenção; não por indigência ou fraqueza da sua parte, mas ao contrário porque ele assim o dispôs para maior honra da sua esposa intemerata. Com efeito, morrendo na cruz, deu à Igreja, sem nenhuma cooperação dela, o imenso tesouro da redenção; ao tratar-se porém de distribuir este tesouro, não só faz participante a sua incontaminada esposa desta obra de santificação, mas quer que de certo modo nasça da sua actividade. Tremendo mistério, e nunca assaz meditado: Que a salvação de muitos depende das orações e dos sacrifícios voluntários, feitos com esta intenção, pelos membros do corpo místico de Jesus Cristo, e da colaboração que pastores e féis, sobretudo os pais e mães de família, devem prestar ao divino Salvador.

Nota: revisão da tradução portuguesa por ama




[1] Encíclica Divinum Illud; AAS 29(1896-97), p. 649.
[2] S. Ambrósio, In Luc., II, 87; Migne, PL 15,1585.
[3] S. Tomás, Summa theol. I-II, q.103, a. 3, ad 2.
[4] S. Leão M., Sermo 68, 3; Migne, PL 54, 374.
[5] Cf. s. Jerônimo e s. Agostinho, Epist.112,14 e 116,16; Migne, PL 22, 924 et 943; S. Tomás, Summa theol., I-II, q.103, a. 3 ad 2; a. 4 ad 1; Concil. Flor., pro Iacob.: Mansi, 31,1738
[6] Cf. S. Tomás, Summa theol., III, q. 42, a. 1.
[7] Cf. De peccato orig., XXV, 29; Migne, PL 44, 400.
[8] Cf. Cirilo Alex., Comm. in Joh. I, 4; Migne PG 73, 69; S. Tomás, Summa theol.; I, q. 20, a. 4 ad 1.
[9] Hexaëm., VI. 55; Migne, PL 14, 265.
[10] Cf. s. Agostinho, De agon. Christ. XX, 22; Migne, PL 40, 301.
[11] Cf. s. Tomás, Summa theol.; l, q. 22, aa. l- 4.
[12] Cf. Leão XIII, enc. Satis Cognitum, AAS 28(1895-9fi), p. 725.
[13] Cf. Corpus luris Canonici, Extr. comm., I, 8,1.
[14] S. Greg. Magno, Moralia, XIV, 35, 43; Migne, PL LXXV,1062.
[15] Cf. Conc. Vat. I, Const. Pastor aeternus de Eccl., cap. 3.
[16] Cf. Cod. Iur. Can., cân. 329, § 1.
[17] Cf. Epist. ad Eulog., 30; Migne, PL 77, 933. 

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