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20/09/2012

Tratado sobre o Homem 79



Questão 88: Como a alma humana conhece as coisas que lhe são superiores.

Art. 2 — Se o nosso intelecto pode chegar a inteligir as substâncias imateriais, pelo conhecimento das coisas materiais.


(IV Sent., dist, XLIX, q.2, a.7, ad 12 ; II Cont. Gent., cap. XLI; De Verit., q.18, a. 5, ad 6; Qu. De Anima, a.16; In Boet. De Trin., q.6, a.3, 4 ; I Poster., XLI; De Causis, lect. VII).

O segundo discute-se assim. ― Parece que o nosso intelecto pode chegar a inteligir as substâncias imateriais, pelo conhecimento das coisas materiais.

1. ― Pois, como diz Dionísio, não é possível à mente humana subir à contemplação imaterial das hierarquias celestes, sem ajudar-se do auxílio material em si. Logo, conclui-se que, pelas coisas materiais, podemos ser levados a inteligir as substâncias imateriais.

2. Demais. ― A ciência está no intelecto. Ora, há ciências e definições das substâncias imateriais; pois, Damasceno define o anjo; e, tanto as disciplinas teológicas como as filosóficas nos transmitem certos ensinamentos a respeito dos anjos. Logo, as substâncias imateriais podem ser inteligidas por nós.

3. Demais. ― A alma humana pertence ao género das substâncias imateriais. Ora, ela pode ser inteligida por nós, por meio do seu acto, pelo qual intelige as coisas materiais. Logo, também as outras substâncias imateriais podem ser inteligidas por nós, por meio dos seus efeitos sobre as coisas materiais.

4. Demais. ― Só não pode ser compreendida pelos seus efeitos a causa que dista infinitamente deles. Ora, isto só é próprio de Deus. Logo, as outras substâncias imateriais criadas podem ser inteligidas por nós, por meio das coisas materiais.

Mas, em contrário, diz Dionísio, que os inteligíveis não podem ser apreendidos pelos sensíveis, nem os seres simples pelos compostos, nem os incorpóreos pelos corpóreos.

Como refere Averróis, um certo Avempace ensinava que, pelos verdadeiros princípios da filosofia, podemos chegar a inteligir as substâncias imateriais, por meio da intelecção das materiais. Pois, sendo natural ao nosso intelecto abstrair, da matéria, a quidade da coisa material, se houver ainda, nessa quidade, algo de material, o intelecto poderá, de novo abstrair; e, como isto não vai até ao infinito, ele poderá, finalmente, chegar a inteligir uma quidade absolutamente sem matéria. E isto é inteligir a substância imaterial. O que seria exatamente dito, se as substâncias imateriais fossem as formas e as espécies das matérias, como ensinavam os Platónicos. Não posto, porém, mas suposto que as substâncias imateriais sejam de essência totalmente diversa das quididades das coisas materiais, por mais que o nosso intelecto abstraia, da matéria, a quidade da coisa imaterial, nunca chegará a algo de semelhante à substância imaterial. Donde, pelas substâncias materiais não podemos perfeitamente inteligir as imateriais.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― Pelas coisas materiais podemos subir a um certo conhecimento das imateriais; não porém, a um conhecimento perfeito. Pois, não há comparação própria entre as coisas materiais e as imateriais; mas as semelhanças são muito dissemelhantes, como diz Dionísio, se porventura algumas se deduzem, dos seres materiais, para se inteligirem os imateriais.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― É sobretudo por via de remoção que, nas ciências, se tratam as coisas superiores. Assim, Aristóteles dá a conhecer os corpos celestes pela negação das propriedades dos corpos inferiores. Donde, com maioria de razão, as substâncias imateriais não pode ser conhecidas por nós, de modo que lhes apreendamos as quididades. Mas as ciências nos transmitem ensinamentos sobre elas, por via de remoção e por certas relações que têm com as coisas materiais.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A alma humana se intelige a si mesma pelo seu inteligir, acto próprio dela e que revela perfeitamente a virtude e a natureza da mesma. Mas nem deste modo, nem pelo mais que se descobre nas coisas materiais, pode ser conhecida perfeitamente a virtude e a natureza das substâncias imateriais; porque os meios sobreditos não são adequados às virtudes delas.

RESPOSTA À QUARTA. ― As substâncias imateriais criadas não têm o mesmo género natural que as substâncias materiais, porque não há nelas a mesma essência da potência e da matéria. Têm, todavia, o mesmo género lógico, porque também as substâncias imateriais, nas quais a quidade não se identifica com o ser, entram no predicamento da substância. Ao passo que Deus não tem de comum com as coisas materiais nem o género natural nem o lógico; pois Deus não está, absolutamente, em nenhum género, como já disse antes (q. 3, a. 5). Donde, pelas semelhanças das coisas materiais, pode ser conhecido, afirmativamente, algo, sobre os anjo, quanto à essência comum deles, embora não quanto a essência específica. De Deus, porém, de nenhum modo.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama

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