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12/09/2012

Tratado sobre o Homem 71



Questão 86: Do que o nosso intelecto conhece nas coisas materiais.

Art. 2 — Se o nosso intelecto pode conhecer o infinito.


(De Verit., q. 2, art. 9; Compend. Theol., cap. CXXXIII).

O segundo discute-se assim. ― Parece que o nosso intelecto pode conhecer infinitas coisas.

1. ― Pois, Deus excede toda a infinidade de todos os seres. Ora, o nosso intelecto pode conhecê-lo, como já se disse (q. 12). Logo, com maior razão, pode conhecer infinitas outras coisas.

2. Demais. ― É natural ao nosso intelecto conhecer os géneros e as espécies. Mas, de certos géneros são infinitas as espécies, como os números, as proposições e as figuras. Logo, o nosso intelecto pode conhecer infinitas coisas.

3. Demais. ― Se um corpo não impedisse outro de existir num mesmo lugar, nada impediria existirem infinitos corpos num mesmo lugar. Ora, uma espécie inteligível não impede outra de existir simultaneamente no mesmo intelecto, pois, é possível saberem-se muitas coisas habitualmente. Logo, nada impede que o nosso intelecto tenha, habitualmente, ciência de infinitas coisas.

4. Demais. ― O intelecto, não sendo virtude da matéria corpórea, como já se viu (q. 76, a. 1), é potência infinita. Ora, uma virtude infinita pode se referir ao infinito. Logo, o nosso intelecto pode conhecer infinitas coisas.

Mas, em contrário, diz Aristóteles: o infinito, como tal é desconhecido.

Sendo a potência proporcionada ao seu objeto, necessário é que o intelecto esteja para o infinito, na mesma relação em que está o seu objeto, que é a quidade da coisa material. Ora, nas coisas materiais, não há infinito actual, mas só potencial, enquanto uma coisa sucede à outra, como diz Aristóteles. Donde, em o nosso intelecto há o infinito potencial, enquanto ele apreende uma coisa depois de outra; pois, o nosso intelecto nunca intelige tantas coisas de modo que não possa inteligir mais. Ora, nem actual nem habitualmente o nosso intelecto pode inteligir infinitas coisas. ― Actualmente não, porque não pode conhecer simultaneamente em acto senão o que conhece por uma espécie. Ora, o infinito não tem uma só espécie; do contrário teria a essência de todo e de perfeito. Donde, não pode ser inteligido senão apreendendo-se-lhe uma parte depois de outra, como resulta da sua definição em Aristóteles. Pois o infinito é aquilo de que se pode apreender uma quantidade, restando sempre alguma coisa mais a apreender. De modo que o infinito não poderia ser conhecido actualmente, sem que se lhe enumerassem todas as partes, o que é impossível. ― E pela mesma razão, não podemos inteligir infinitas coisas, habitualmente. Pois, em nós, o conhecimento habitual é causado pela consideração actual. Assim que, inteligindo, tornamo-nos cientes, como diz Aristóteles. Donde, não poderíamos ter o conhecimento distinto habitual de coisas infinitas, sem que considerássemos todas elas, enumerando-as pela sucessão do conhecimento, o que é impossível. ― E assim, nem actual nem potencialmente o nosso intelecto pode conhecer causas infinitas; mas só potencialmente, como já se disse.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― Como já ficou estabelecido antes (q. 7, a. 1), diz-se que Deus é infinito, como forma não determinada por qualquer matéria. Ao passo que, nas coisas materiais, diz-se infinita a que tem privação da determinação formal. E como a forma é conhecida em si, ao passo que a matéria sem a forma é desconhecida, daí vem que o infinito material é, em si, desconhecido. Porém o infinito formal, que é Deus, é conhecido em si mesmo; desconhecido, porém, para nós, pela deficiência do nosso intelecto que, no estado da vida presente, tem aptidão natural para conhecer as coisas materiais. E portanto, na vida presente, não podemos conhecer a Deus, senão pelos efeitos materiais. Na vida futura, porém, será eliminada, pela glória, a deficiência do nosso intelecto. E então, poderemos ver o próprio Deus, na sua essência, sem que, todavia, o compreendamos.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― É natural ao nosso intelecto conhecer as espécies pela abstração dos fantasmas. Donde, as espécies dos números e das figuras, quem não as imaginou, não as pode conhecer, nem actual nem habitualmente; salvo, talvez, genericamente e pelos princípios universais, o que é conhecer potencial e confusamente.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Se dois ou muitos corpos estivessem num lugar, não seria necessário que entrassem nesse lugar, sucessivamente, de modo que pela própria sucessão desse facto esses corpos localizados fossem enumerados. Ora, as espécies inteligíveis entram em o nosso intelecto sucessivamente, porque muitas, simultaneamente, não podem ser inteligidas. Donde, necessariamente, em o nosso intelecto estão espécies enumeradas e não infinitas.

RESPOSTA À QUARTA. ― Sendo infinito pela virtude, o nosso intelecto conhece o infinito. E a sua virtude é infinita por que não é determinada pela matéria corpórea. E, sendo capaz de conhecer o universal, abstrato da matéria individual, não fica consequentemente limitado a um indivíduo, mas, em si mesmo, se aplica a infinitos indivíduos.


Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama

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