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14/08/2012

Tratado sobre o homem 42

Questão 81: Da sensualidade.
Em seguida deve tratar-se da sensualidade, sobre a qual três artigos se discutem:



Art. 1 ― Se a sensualidade é somente apetitiva.
Art. 2 — Se o apetite sensitivo se divide em irascível e concupiscível, como potências diversas.
Art. 3 — Se o irascível e o concupiscível obedecem à razão.

Art. 1 ― Se a sensualidade é somente apetitiva.
(II Sent., Dist. XXIV, q. 2, a. 1; De Verit., q. 25, a. 1).

O primeiro discute-se assim. ― Parece que a sensualidade não somente é apetitiva mas também cognitiva.

1. ― Pois, Agostinho diz, que o movimento sensual da alma, que se exerce pelos sentidos do corpo, nos é comum com os animais. Ora, os sentidos do corpo estão contidos na virtude cognitiva. Logo, a sensualidade é virtude cognitiva.

2. Demais. ― Coisas que entram na mesma divisão pertencem ao mesmo género. Ora, Agostinho divide a sensualidade por oposição com a razão superior e a inferior, que pertencem ao conhecimento. Logo, também a sensualidade é uma virtude cognitiva.

3. Demais. ― Na tentação do homem, a sensualidade está no lugar da serpente. Ora, a tentação dos nossos primeiros pais, desempenhou-se como anunciante e proponente do pecado, o que pertence à virtude cognitiva. Logo, a sensualidade é uma virtude cognitiva.

Mas, em contrário, a sensualidade se define: o apetite das coisas que pertencem ao corpo.

Sensualidade é palavra tirada do movimento sensual, de que fala Agostinho; assim, como do acto se tira o nome da potência, como da visão a vista. Ora, o movimento sensual é o apetite consequente à apreensão sensível; pois, o acto da virtude apreensiva não se chama propriamente movimento, como a ação do apetite. Porque, a operação da virtude apreensiva se completa estando as coisas apreendidas no apreendido; ao passo que a operação da virtude apetitiva se completa pelo inclinar-se do apetente para a coisa apetecida. Donde, a operação da virtude apreensiva é assimilada ao repouso; ao passo que a da virtude apetitiva mais se assimila ao movimento. Por isso, por movimento sensual se entende a operação da virtude apetitiva. Assim, a sensualidade é o nome do apetite sensitivo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― O dito de Agostinho, que o movimento sensual da alma se exerce pelos sentidos do corpo, não quer dizer que os sentidos do corpo estejam compreendidos na sensualidade; mas antes, que o movimento desta é uma como que inclinação para os sentidos do corpo, enquanto apetecemos as coisas apreendidas por eles. E assim, estes são como que os preâmbulos da sensualidade.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― A sensualidade divide-se por oposição com a razão superior e a inferior, enquanto estas têm de comum o acto da moção. Pois, a virtude cognitiva, à qual pertencem a razão superior e a inferior, é motiva; como também a virtude apetitiva, à qual pertence a sensualidade.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A serpente não só mostrou e propôs o pecado, mas também inclinou para o afecto deste; e por isto é que a sensualidade é representada pela serpente.

Nota: Revisão da tradução para português por ama

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