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08/07/2012

Tratado sobre o homem 5

Questão 75 Da alma em si mesma
Art. 5 ― Se a alma é composta de matéria e forma.


(I Sent., dist. VIII, q. 5, a. 2; II dist. XVII, q. 1, a. 2; II Cont. Gent., cap. L; Quodl. III, q. VIII; IX, q. 4, a. 1; De Spirit. Creat., a. 1; a. 9, ad; Qu. De Anima, a. 6; Opusc. XV, De Angelis, cap. VII).

O quinto discute-se assim. ― Parece que a alma é composta de matéria e forma.

1. ― Pois, a potência divide-se por oposição com o acto. Ora, todos os seres em acto, quaisquer que sejam, participam do primeiro acto, que é Deus; por cuja participação todos são bons, entes e viventes, como é claro pela doutrina de Dionísio. Logo, quaisquer seres em potência participam da primeira potência. Ora, esta é a matéria-prima. Como, pois, a alma humana é, de certo modo, potencial, o que se evidência por ser o homem, às vezes, inteligente em potência, resulta que ela participa da matéria-prima, tendo a esta como parte sua.

2. Demais. ― Onde quer que se encontrem as propriedades da matéria, aí se encontra a matéria. Ora, na alma encontram-se tais propriedades, a saber, o ser sujeito e o transmutar-se; pois, é sujeito da ciência e da virtude e muda-se da ignorância para a ciência ou do vicio para a virtude. Logo, na alma, há matéria.

3. Demais. ― O que não tem matéria não tem a causa do seu ser, como diz Aristóteles. Ora, a alma, sendo criada por Deus, tem essa causa. Logo, tem matéria.

4. Demais. ― O que não tem matéria, mas só forma, é acto puro e infinito. Ora, tal só Deus o é. Logo, a alma tem matéria.

Mas, em contrário, Agostinho prova que a alma não é feita de matéria corpórea nem espiritual.

A alma não tem matéria, o que se pode duplamente provar. ― Primeiro, pela natureza da alma, em comum, que a torna forma de certo corpo. Ora, ou a alma é, em si, forma total ou parcial. Se total, é impossível que tenha, como parte, a matéria, considerada esta última como ser somente potencial; pois, a forma, como tal, sendo acto; o que é puramente potencial não pode ser parte deste, pois, a potência, repugna ao acto, dividida, como é, por oposição a ele. Se parcial, essa parte considerá-la-emos como alma; e a matéria, de que é o acto primário, como o primeiro animado. Segundo, especialmente, pela natureza da alma humana, enquanto intelectiva. Pois, é manifesto, tudo o que é recebido por outro ser o é ao modo desse ser recipiente. Assim, o que é conhecido o é do modo pelo qual a sua forma está no conhecente. Ora, a alma intelectiva conhece as coisas em a natureza absoluta delas, p. ex., uma pedra enquanto absolutamente pedra. Donde, a forma da pedra, na sua razão formal própria, está absolutamente na alma intelectiva. Logo, esta é forma absoluta e não algo composto de matéria e forma; pois, se o fosse, ela receberia as formas das coisas como individuais; e assim não conheceria senão o singular, como se dá com as potências sensitivas, que recebem as formas das coisas num órgão corpóreo; pois, a matéria é o princípio da individuação das formas. Resulta, portanto, que a alma intelectiva e toda substância intelectual conhecedora das formas, absolutamente, carece da composição de forma e matéria.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― O acto primeiro é o princípio universal de todos os actos, pois, é o infinito, que, em si, compreende virtualmente todas as coisas, como diz Dionísio. Por isso, é participado por elas, não como parte, mas pela difusão da processão de si mesmo. Porém, a potência, como receptiva do acto, deve proporcionar-se a este. Ora, os actos recebidos, procedentes do primeiro acto infinito, e sendo determinadas participações dele, são diversos. Donde, não pode haver uma potência única receptiva de todos os actos, como há um acto único que influi em todos os actos participados; do contrário, a potência receptiva se adequaria à potência activa do acto primeiro. Há, porém, outra potência receptiva, na alma intelectiva, diferente daquela da matéria-prima, como se vê pela diversidade das coisas recebidas; pois, ao passo que a matéria-prima recebe as formas individuais, o intelecto recebe as absolutas. E, portanto, tal potência, existente na alma intelectiva, mostra que a alma não é composta de matéria e forma.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Ser sujeito e transmutar-se convém à matéria como potencial. Se, portanto, uma é a potência do intelecto e outra a da matéria-prima, também haverá noções diversas da sujeição e da transmutação. Assim, o intelecto é sujeito da ciência e transmuta-se da ignorância para a ciência, enquanto é potencial em relação às espécies inteligíveis.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A forma é, para a matéria, a causa do existir e do agir; donde, o agente, como redutor da matéria ao acto da forma, transmutando-a, é-lhe a causa da existência. Se, porém, há alguma forma subsistente, esta não existe por nenhum princípio formal nem tem causa que a transmute da potência para o acto. Por isso, depois das palavras anteriores, o Filósofo conclui que os seres compostos de matéria e forma não têm outra causa a não ser a que os move da potência para o acto; todos os seres, porém, que não têm matéria e são seres, absolutamente, são a sua mesma quididade.

RESPOSTA À QUARTA. ― Todo o participado se compara com o participador, como acto deste. Ora, necessário é que qualquer forma criada, que se suponha por si subsistente, participe do ser; pois, a própria vida, ou qualquer causa de semelhante, participa do ser em si, como diz Dionísio. Ora, o ser, participado, sendo limitado pela capacidade do participante, segue-se que só Deus, que é o seu próprio ser é acto puro e infinito. Nas substâncias intelectuais, porém, há composição de acto e de potência; não de matéria e forma mas, de forma e do ser participado. E, por isso, alguns as consideram compostas da causa do ser e do ser; pois, o ser em si mesmo é a causa de qualquer outro ser existir.

Nota: Revisão da tradução para português por ama

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