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19/07/2012

Leitura espiritual para 19 Jul 2012


Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.




Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mt 27, 3-25


3 Então Judas, o traidor, vendo que Jesus fora condenado, tocado pelo remorso, tornou a levar as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, 4 dizendo: «Pequei, entregando sangue inocente». Mas eles disseram: «Que nos importa? Isso é contigo!». 5 Então, tendo atirado as moedas de prata para o templo, retirou-se e foi-se enforcar. 6 Os príncipes dos sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: «Não é lícito deitá-las na arca das esmolas, porque são preço de sangue». 7 E, tendo consultado entre si, compraram com elas o Campo do Oleiro para sepultura dos estrangeiros. 8 Por esta razão aquele campo foi chamado até ao dia de hoje “campo de sangue”. 9 Então se cumpriu o que foi anunciado pelo profeta Jeremias: “Tomaram as trinta moedas de prata, custo d'Aquele cujo preço foi avaliado pelos filhos de Israel, 10 e deram-nas pelo Campo do Oleiro, como o Senhor me ordenou”. 11 Jesus foi apresentado diante do governador, que O interrogou, dizendo: «És Tu o Rei dos Judeus?». Jesus respondeu-lhe: «Tu o dizes». 12 Mas, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. 13 Então Pilatos disse-Lhe: «Não ouves de quantas coisas Te acusam?». 14 E não lhe respondeu a palavra alguma, de modo que o governador ficou muito admirado. 15 O governador costumava, por ocasião da festa da Páscoa, soltar aquele preso que o povo quisesse. 16 Naquela ocasião tinha ele um preso famoso, que se chamava Barrabás. 17 Estando eles reunidos, perguntou-lhes Pilatos: «Qual quereis vós que eu vos solte? Barrabás ou Jesus, que se chama Cristo?». 18 Porque sabia que O tinham entregado por inveja. 19 Enquanto ele estava sentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: «Não te metas com esse justo, porque fui hoje muito atormentada em sonhos por causa d'Ele». 20 Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo a que pedisse Barrabás e que fizesse morrer Jesus.21 O governador, tomando a palavra, disse-lhes: «Qual dos dois quereis que vos solte?». Eles responderam: «Barrabás!». 22 Pilatos disse-lhes: «Que farei então de Jesus, que se chama Cristo?». 23 Disseram todos: «Seja crucificado!». O governador disse-lhes: «Mas que mal fez Ele?». Eles, porém, gritavam mais alto: «Seja crucificado!». 24 Pilatos, vendo que nada conseguia, mas que cada vez o tumulto era maior, tomando água, lavou as mãos diante do povo, dizendo: «Eu sou inocente do sangue deste justo; a vós pertence toda a responsabilidade!». 25 Todo o povo respondeu: «O Seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos».




Ioannes Paulus PP. II
Ut unum sint
sobre o Empenho Ecuménico

…/2

13. Este último documento enumera brevemente as implicações doutrinais desta situação. A propósito dos membros dessas Comunidades, declara: «Justificados no Baptismo pela fé, são incorporados a Cristo, e, por isso, com direito se honram com o nome de cristãos e justamente são reconhecidos pelos filhos da Igreja Católica como irmãos no Senhor». 17

Pensando nos múltiplos bens presentes nas outras Igrejas e Comunidades eclesiais, o Decreto acrescenta: «Tudo isso, que de Cristo provém e a Cristo conduz, pertence por direito à única Igreja de Cristo. Também não poucas acções sagradas da religião cristã são celebradas entre os nossos irmãos separados. Por vários modos, conforme a condição de cada Igreja ou Comunidade, estas acções podem realmente produzir a vida da graça. Devem mesmo ser tidas como aptas para abrir a porta à comunhão da salvação». 18

Trata-se de textos ecuménicos da maior importância. Para além dos limites da Comunidade Católica, não existe o vazio eclesial. Muitos elementos de grande valor (eximia), que estão integrados na Igreja Católica na plenitude dos meios de salvação e dos dons de graça que a edificam, acham-se também nas outras Comunidades cristãs.

14. Todos estes elementos trazem consigo o apelo à unidade, para nela encontrarem a sua plenitude. Não se trata de aglomerar todas as riquezas dispersas nas Comunidades cristãs, com o fim de se chegar a uma Igreja que Deus teria em vista para o futuro. Segundo a grande Tradição atestada pelos Padres do Oriente e do Ocidente, a Igreja Católica crê que, no acontecimento do Pentecostes, Deus já manifestou a Igreja na sua realidade escatológica, que Ele preparava «desde o tempo de Abel, o justo». 19 Ela já está presente. Por este motivo, já nos encontramos no fim dos tempos. Os elementos desta Igreja, já presente, existem, incorporados na sua plenitude, na Igreja Católica e, sem tal plenitude, nas outras Comunidades, 20 onde certos aspectos do mistério cristão foram, por vezes, mais eficazmente manifestados. O ecumenismo busca precisamente fazer crescer a comunhão parcial existente entre os cristãos até à plena comunhão na verdade e na caridade.

Renovação e conversão

15. Passando dos princípios, do imperativo da consciência cristã à realização do caminho ecuménico rumo à unidade, o Concílio Vaticano II põe em relevo sobretudo a necessidade da conversão do coração. O anúncio messiânico — «completou-se o tempo e o Reino de Deus está perto» —, e o consequente apelo — «convertei-vos e crede no Evangelho» (Mc 1, 15) —, com os quais Jesus inaugura a sua missão, indicam o elemento essencial que deve caracterizar qualquer novo início: a exigência fundamental da evangelização em cada etapa do caminho salvífico da Igreja. Mas isso aplica-se de modo particular ao processo desencadeado pelo Concílio Vaticano II que incluiu, no âmbito da renovação, a tarefa ecuménica de unir os cristãos divididos entre si: « Não existe verdadeiro ecumenismo sem conversão interior». 21

O Concílio apela tanto à conversão pessoal, como à conversão comunitária. O anseio de cada Comunidade cristã pela unidade cresce ao ritmo da sua fidelidade ao Evangelho. Ao referir-se às pessoas que vivem a sua vocação cristã, o Concílio fala de conversão interior, de renovação da mente. 22
Assim, cada um tem que se converter mais radicalmente ao Evangelho e, sem nunca perder de vista o desígnio de Deus, deve rectificar o seu olhar. Com o ecumenismo, a contemplação das «maravilhas de Deus» (mirabilia Dei) enriqueceu-se de novos espaços onde o Deus Trino suscita a acção de graças: a percepção de que o Espírito age nas outras Comunidades cristãs, a descoberta de exemplos de santidade, a experiência das infindáveis riquezas da comunhão dos santos, o contacto com aspectos surpreendentes do compromisso cristão. E correlativamente estendeu-se também a necessidade de penitência: a consciência de certas exclusões que ferem a caridade fraterna, de certas recusas em perdoar, de um certo orgulho, daquele entrincheiramento anti-evangélico na condenação dos «outros», de um desprezo que deriva de falsa presunção. Assim, toda a vida dos cristãos está marcada pela solicitude ecuménica e, de certo modo, eles são chamados a deixarem-se plasmar por ela.

16. No magistério conciliar, há um nexo claro entre renovação, conversão e reforma. Afirma: «A Igreja peregrina é chamada por Cristo a essa reforma perene. Como instituição humana e terrena, a Igreja necessita perpetuamente desta reforma. Assim, se em vista das circunstâncias das coisas e dos tempos houve deficiências (...), tudo seja recta e devidamente restaurado no momento oportuno». 23 Nenhuma Comunidade cristã pode furtar-se a este apelo.

Dialogando com franqueza, as Comunidades ajudam-se a olhar-se conjuntamente à luz da Tradição Apostólica. Isto leva-as a perguntar-se se realmente exprimem adequadamente tudo quanto o Espírito transmitiu através dos Apóstolos. 24 Pelo que diz respeito à Igreja Católica, várias vezes, como, por exemplo, por ocasião do aniversário do Baptismo da Rus', 25 ou da comemoração, ao cumprirem-se onze séculos, da acção evangelizadora dos Santos Cirilo e Metódio, 26 chamei a atenção para tais exigências e perspectivas. Mais recentemente, o Directório para a aplicação dos princípios e das normas sobre o ecumenismo, publicado com a minha aprovação pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, aplicou-as no campo pastoral. 27

17. Relativamente aos outros cristãos, os documentos principais da Comissão Fé e Constituição 28 e as declarações de numerosos diálogos bilaterais forneceram já às Comunidades cristãs úteis instrumentos para discernir o que é necessário ao movimento ecuménico e à conversão que este deve suscitar. Tais estudos são importantes sob dois aspectos: mostram os notáveis progressos já alcançados e infundem esperança por constituírem uma base segura para a busca da unidade que se há-de continuar e aprofundar.

A progressiva comunhão numa contínua reforma, realizada à luz da Tradição Apostólica, é, sem dúvida, um dos traços típicos e mais importantes do ecumenismo, na actual situação do povo cristão. Por outro lado, aquela é também uma garantia essencial para o seu futuro. Os fiéis da Igreja Católica não podem ignorar que o ímpeto ecuménico do Concílio Vaticano II é um dos resultados do grande empenhamento da Igreja de então em perscrutar-se à luz do Evangelho e da grande Tradição. Bem o compreendera o meu predecessor, Papa João XXIII, que, ao convocar o Concílio, se recusou a separar a actualização da abertura ecuménica. 29 No final da Assembleia Conciliar, o Papa Paulo VI consagrou a vocação ecuménica do Concílio ao retomar o diálogo da caridade com as Igrejas em comunhão com o Patriarca de Constantinopla, realizando com ele aquele gesto concreto e altamente significativo que «relegou para o esquecimento» — e «tirou da memória e do meio das Igrejas» — as excomunhões do passado. Há que lembrar que a criação de um organismo especial para o ecumenismo coincidiu com o próprio início da preparação do Concílio Vaticano II, 30 e que, através de tal organismo, os pareceres e avaliações das outras Comunidades cristãs tiveram a sua parte nos grandes debates sobre a Revelação, a Igreja, a natureza do ecumenismo, e a liberdade religiosa.

Importância fundamental da doutrina

18. Retomando uma ideia que o próprio Papa João XXIII tinha expresso na abertura do Concílio, 31 o Decreto sobre o ecumenismo menciona a forma de expor a doutrina, entre os elementos de reforma contínua. 32 Não se trata, neste contexto, de modificar o depósito da fé, de mudar o significado dos dogmas, de banir deles palavras essenciais, de adaptar a verdade aos gostos de uma época, de eliminar certos artigos do Credo com o falso pretexto de que hoje já não se compreendem. A unidade querida por Deus só se pode realizar na adesão comum ao conteúdo integral da fé revelada. Em matéria de fé, a cedência está em contradição com Deus, que é a Verdade. No Corpo de Cristo — Ele que é «Caminho, Verdade e Vida» (Jo 14, 6) —, quem poderia considerar legítima uma reconciliação levada a cabo à custa da verdade? A Declaração conciliar sobre a liberdade religiosa atribui à dignidade humana a procura da verdade, «sobretudo no que diz respeito a Deus e à sua Igreja», 33 e a adesão às suas exigências. Portanto um «estar juntos» que traísse a verdade, estaria em oposição com a natureza de Deus, que oferece a sua comunhão, e com a exigência de verdade que vive no mais profundo de todo o coração humano.

19. Contudo, a doutrina deve ser apresentada de modo que se torne compreensível àqueles para quem o próprio Deus a destina. Na Epístola encíclica Slavorum apostoli, lembrava como, por tal motivo, Cirilo e Metódio se esforçaram em traduzir as noções da Bíblia e os conceitos da teologia grega num contexto de experiências históricas e de pensamento muito diverso. Queriam que a única palavra de Deus fosse assim «tornada acessível pela adopção dos meios de se exprimir próprios de cada civilização». 34 Compreenderam que não podiam « impor aos povos aos quais deviam pregar nem sequer a indiscutível superioridade da língua grega e da cultura bizantina, ou os costumes e modos de comportar-se da sociedade mais desenvolvida, em que eles próprios haviam sido educados». 35 Desta forma, praticavam aquela «perfeita comunhão no amor preserva a Igreja de qualquer forma de particularismo, exclusivismo étnico ou preconceito racial, bem como de qualquer sobrançaria nacionalista». 36 No mesmo espírito, não hesitei em dizer aos aborígenes da Austrália: «Não deveis ser um povo dividido em duas partes (...). Jesus exorta-vos a acolher as suas palavras e os seus valores na vossa própria cultura». 37 Já que, por sua própria natureza, o dado de fé se destina à humanidade inteira, isso requer que ele seja traduzido em todas as culturas. De facto, o elemento que decide a comunhão na verdade é o significado da verdade. A expressão da verdade pode ser multiforme. E a renovação das formas de expressão torna-se necessária para transmitir ao homem de hoje a mensagem evangélica no seu significado imutável. 38

«Esta renovação tem, por isso, grande importância ecuménica». 39 E não só uma renovação no modo de exprimir a fé, mas da própria vida de fé. Poder-se-ia então perguntar: quem deve actuá-la? O Concílio responde com clareza a esta pergunta: tal solicitude «vale para toda a Igreja, tanto para os fiéis como para os pastores. Afecta a cada um em particular, de acordo com a sua capacidade, quer na vida cristã quotidiana, quer nas investigações teológicas e históricas». 40

20. Tudo isto é extremamente importante e de significado fundamental para a actividade ecuménica. Vê-se, de modo inequívoco, que o ecumenismo, o movimento a favor da unidade dos cristãos, não é só uma espécie de «apêndice , que se vem juntar à actividade tradicional da Igreja. Pelo contrário, pertence organicamente à sua vida e acção, devendo, por conseguinte, permeá-la no seu todo e ser como que o fruto de uma árvore que cresce sadia e viçosa até alcançar o seu pleno desenvolvimento.

Assim acreditava na unidade da Igreja o Papa João XXIII, e desse modo contemplava ele a unidade de todos os cristãos. Ao referir-se aos outros cristãos, à grande família cristã, constatava: «É muito mais forte aquilo que nos une do que quanto nos divide». E o Concílio Vaticano II, por seu lado, exorta: «Lembrem-se todos os cristãos de que tanto melhor promoverão a união dos cristãos quanto mais se esforçarem por levar uma vida mais pura, de acordo com o Evangelho. Porque, quanto mais unidos estiverem em comunhão estreita com o Pai, o Verbo e o Espírito, tanto mais íntima e facilmente conseguirão aumentar a fraternidade mútua». 41

Primado da oração

21. «Esta conversão do coração e esta santidade de vida, juntamente com as orações particulares e públicas pela unidade dos cristãos, devem ser tidas como a alma de todo o movimento ecuménico, e com razão podem ser chamadas ecumenismo espiritual». 42

Avança-se pelo caminho que conduz à conversão dos corações ao ritmo do amor que se dedica a Deus e, ao mesmo tempo, aos irmãos: a todos os irmãos, inclusive àqueles que não estão em plena comunhão connosco. Do amor nasce o desejo de unidade, mesmo naqueles que sempre ignoraram tal exigência. O amor é artífice de comunhão entre as pessoas e entre as Comunidades. Se nos amamos, tendemos a aprofundar a nossa comunhão, a orientá-la para a perfeição. O amor é dedicado a Deus como fonte perfeita de comunhão — a unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo —, para dela haurir a força de suscitar a comunhão entre as pessoas e as Comunidades, ou de a restabelecer entre os cristãos ainda divididos. O amor é a corrente mais profunda que dá vida e infunde vigor ao processo que leva à unidade.

Este amor encontra a sua expressão mais acabada na oração em comum. Quando os irmãos que não estão em perfeita comunhão entre si, se reúnem em comum para rezar, esta sua oração é definida pelo Concílio Vaticano II como alma de todo o movimento ecuménico. Essa oração comum é «um meio muito eficaz para impetrar a unidade», «uma genuína manifestação dos vínculos pelos quais ainda estão unidos os católicos com os irmãos separados». 43 Mesmo quando não se reza formalmente pela unidade dos cristãos, mas por outros motivos como, por exemplo, pela paz, a oração torna-se, por si própria, expressão e confirmação da unidade. A oração comum dos cristãos convida o próprio Cristo a visitar a comunidade dos que Lhe rezam: «Pois onde estiverem reunidos, em meu nome, dois ou três, Eu estou no meio deles» (Mt 18, 20).

22. Quando os cristãos rezam juntos, a meta da unidade fica mais próxima. A longa história dos cristãos, marcada por múltiplas fragmentações, parece recompor-se tendendo para a Fonte da sua unidade que é Jesus Cristo. Ele «é sempre o mesmo ontem, hoje e por toda a eternidade» (Heb 13, 8). Na comunhão de oração, Cristo está realmente presente; reza «em nós», «connosco» e «por nós». É Ele que guia a nossa oração no Espírito Consolador, que prometeu e deu à sua Igreja no Cenáculo de Jerusalém, quando a constituiu na sua unidade original.

No caminho ecuménico para a unidade, a primazia pertence, sem dúvida, à oração comum, à união orante daqueles que se congregam à volta do próprio Cristo. Se os cristãos, apesar das suas divisões, souberem unir-se cada vez mais em oração comum ao redor de Cristo, crescerá a sua consciência de como é reduzido o que os divide em comparação com aquilo que os une. Se se encontrarem sempre mais assiduamente diante de Cristo na oração, os cristãos poderão ganhar coragem para enfrentar toda a dolorosa realidade humana das divisões, e reencontrar-se-ão juntos naquela comunidade da Igreja, que Cristo forma incessantemente no Espírito Santo, apesar de todas as debilidades e limitações humanas.

23. Enfim, a comunhão na oração induz a ver com olhos novos a Igreja e o cristianismo. Com efeito, não se deve esquecer que o Senhor implorou do Pai a unidade dos seus discípulos, para que servisse de testemunho à sua missão e o mundo pudesse acreditar que o Pai O tinha enviado (cf. Jo 17, 21). Pode-se afirmar que o movimento ecuménico teve início, em determinado sentido, da experiência negativa daqueles que, anunciando o único Evangelho, se apelavam cada qual à própria Igreja ou Comunidade eclesial: uma contradição que não podia passar despercebida a quem escutava a mensagem de salvação e que nisso via um obstáculo para acolher o anúncio evangélico. Infelizmente, este grave impedimento não está superado. É verdade! Não estamos ainda em plena comunhão. E todavia, não obstante as nossas divisões, estamos percorrendo o caminho para a plena unidade — aquela unidade que caracterizava a Igreja Apostólica nos seus inícios e que nós procuramos sinceramente: prova-o a nossa oração comum, guiada pela fé. Nela, reunimo-nos no nome de Cristo que é Um. Ele é a nossa unidade.

A oração «ecuménica» está ao serviço da missão cristã e da sua credibilidade. Por isso, deve estar especialmente presente na vida da Igreja e em cada actividade que tenha a finalidade de favorecer a unidade dos cristãos. É como se tivéssemos sempre de voltar a reunir-nos no Cenáculo de Quinta-Feira Santa, embora a nossa presença juntos, em tal lugar, aguarde ainda a sua completa realização até quando, superados os obstáculos que se interpõem à perfeita comunhão eclesial, todos os cristãos possam reunir-se na única celebração da Eucaristia. 44

24. É motivo de alegria constatar como os vários encontros ecuménicos incluem, quase sempre, a oração, antes, culminam nela. A Semana de Oração pela unidade dos cristãos, que se celebra no mês de Janeiro ou, em alguns países, por volta do Pentecostes, tornou-se uma tradição difusa e consolidada. Mas, mesmo fora dela, muitas são as ocasiões, ao longo do ano, que induzem os cristãos a rezarem juntos. Neste contexto, desejo mencionar aquela experiência particular que é o peregrinar do Papa pelas Igrejas, nos diversos continentes e nos vários países da oikoumene contemporânea. Estou ciente de que foi o Concílio Vaticano II que encaminhou o Papa para este especial exercício do seu ministério apostólico. Mais: o Concílio fez deste peregrinar do Papa um preciso dever no cumprimento do papel do Bispo de Roma ao serviço da comunhão. 45 Estas minhas visitas comportaram, quase sempre, um encontro ecuménico e a oração comum de irmãos que procuram a unidade em Cristo e na sua Igreja. Recordo, com particular emoção, a oração em comum com o Primaz da Comunhão Anglicana na Catedral de Cantuária, em 29 de Maio de 1982, quando, naquele templo admirável, reconhecia uma « demonstração eloquente dos nossos longos anos de herança comum e dos tristes anos de separação que se lhes seguiram»; 46 nem posso esquecer os encontros ecuménicos nos Países Escandinavos e Nórdicos (1-10 de Junho de 1989), nas Américas e na África, ou aqueloutro na sede do Conselho Ecuménico das Igrejas (12 de Junho de 1984), o organismo que se propõe como objectivo chamar as Igrejas e as Comunidades eclesiais, que dele fazem parte, «à meta da unidade visível numa só fé e numa única comunidade eucarística, expressa no culto e na vida comum em Cristo». 47 E como poderei esquecer a minha participação na liturgia eucarística na igreja de S. Jorge, no Patriarcado Ecuménico (30 de Novembro de 1979), e a celebração na Basílica de S. Pedro, durante a visita a Roma do meu venerável Irmão, o Patriarca Dimítrios I (6 de Dezembro de 1987)? Naquela circunstância, junto do altar da Confissão, nós professamos juntos o Símbolo Niceno-Constantinopolitano, conforme o texto original grego. É impossível descrever em poucas palavras os traços específicos que caracterizaram cada um destes encontros de oração. Pelos condicionalismos do passado que, de modo variável, pesavam sobre cada um deles, todos se revestem de uma própria e singular expressividade; todos estão esculpidos na memória da Igreja, que é guiada pelo Espírito Paráclito na procura da unidade de todos os crentes em Cristo.

Revisão da tradução portuguesa por ama
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Notas: (em italiano)
17 Ibid., 3.
18 Ibid.
19 Cfr. S. Gregorio Magno, Homiliæ in Evangelia 19, 1: PL 76, 1154 citato in Conc. Ecum. Vat. II, Cost. dogm. sulla Chiesa Lumen gentium, 2.
20 Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 4.
21 Ibid., 7.
22 Cfr. ibid.
23 Ibid., 6.
24 Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Cost. dogm. sulla divina Rivelazione Dei Verbum, 7.
25 Cfr. Lett. ap. Euntes in mundum (25 gennaio 1988): AAS 80 (1988), 935-956.
26 Cfr. Ep. enc. Slavorum apostoli (2 giugno 1985): AAS 77 (1985), 779-813.
27 Cfr. Directoire pour l'application des principes et des normes sur l'Œcuménisme (25 marzo 1993): AAS 85 (1993), 1039-1119.
28 Cfr. in particolare il Documento detto di Lima: Battesimo, Eucaristia, Ministero (gennaio 1982): Ench. Œcum. 1, 1392-1446, e il Documento n. 153 di "Fede e Costituzione" Confessing the "One" Faith, Geneva 1991.
29 Cfr. Discorso di apertura del Concilio Ecumenico Vaticano II (11 ottobre 1962): AAS 54 (1962), 793.
30 Si tratta del Segretariato per la Promozione dell'Unità dei Cristiani, creato da Papa Giovanni XXIII con il Motu proprio Superno Dei nutu (5 giugno 1960), 9: AAS 52 (1960), 436 e confermato dai successivi documenti: Motu proprio Appropinquante Concilio (6 agosto 1962), c. III, a. 7, 2, I: AAS 54 (1962), 614; cfr. Paolo VI, Cost. ap. Regimini ecclesiæ universæ (15 agosto 1967), 92-94: AAS 59 (1967), 918-919. Questo Dicastero è attualmente denominato Pontificio Consiglio per la Promozione dell'Unità dei Cristiani: cfr. Giovanni Paolo II, Cost. ap. Pastor bonus (28 giugno 1988), V, art. 135-138: AAS 80 (1988), 895-896.
31 Cfr. Discorso di apertura del Concilio Ecumenico Vaticano II (11 ottobre 1962): AAS 54 (1962), 792.
32 Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 6.
33 Conc. Ecum. Vat. II, Dich. sulla libertà religiosa Dignitatis humanæ, 1.
34 Ep. enc. Slavorum apostoli (2 giugno 1985), 11: AAS 77 (1985), 792.
35 Ibid., 13, l.c., 794.
36 Ibid., 11, l.c., 792.
37 Discorso agli abitanti autoctoni (29 novembre 1986), 12: AAS 79 (1987), 977.
38 Cfr. S. Vincenzo di Lérins, Commonitorium primum, 23: PL 50, 667-668.
39 Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 6.
40 Ibid., 5.
41 Ibid., 7.
42 Ibid., 8.
43 Ibid.
44 Cfr. ibid., 4.
45 Cfr. Giovanni Paolo II, Lett. ap. Tertio millennio adveniente (10 novembre 1994), 24: AAS 87 (1995), 19-20.
46 Discorso nella cattedrale di Canterbury (29 maggio 1982), 5: AAS 74 (1982), 922.
47 Consiglio Ecumenico delle Chiese, Regolamento, III, 1 citato in Ench. Œcum. 1, 1392.

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