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08/06/2012

Tratado dos anjos 65

Questão 63: Da malícia dos anjos quanto à culpa.

Art. 4 — Se alguns demónios são naturalmente maus.
O quarto discute-se assim. — Parece que alguns demónios são naturalmente maus.

1. — Pois, diz Porfírio, como refere Agostinho, que há um certo género de demónios de natureza falaz, que simulam os deuses e as almas dos defuntos. Ora, ser falaz é ser mau. Logo, alguns demónios são naturalmente maus.

2. Demais. — Como os anjos foram criados por Deus, assim também os homens. Ora, alguns homens são naturalmente maus, dos quais diz a Escritura: A malícia é-lhes natural. Logo, também alguns homens podem ser naturalmente maus.

3. Demais. — Alguns animais irracionais têm certas malícias naturais; assim, as raposas são naturalmente sorrateiras, o lobo é naturalmente rapace; e contudo são criaturas de Deus. Logo, também os demónios, embora criaturas de Deus, podem ser naturalmente maus.

Mas, em contrário, diz Dionísio, que os demónios não são naturalmente maus.

Tudo o existente, enquanto existe e tem uma determinada natureza, tende naturalmente para algum bem, por provir de um princípio bom, pois, sempre o efeito se converte no seu princípio. Ora, acontece que todo bem particular vai sempre acompanhado de algum mal; assim, com o fogo vai junto o mal de consumir outros seres; mas nenhum mal pode ir de mistura com o bem universal. Se, portanto, há algum ser cuja natureza se ordene a algum bem particular, esse pode naturalmente tender para algum mal, não como mal, mas acidentalmente, enquanto esse mal vai com algum bem. Se, porém, há algum ser cuja natureza seja ordenada ao bem, segundo a noção comum de bem, esse não pode tender para nenhum mal. Ora, é manifesto, toda natureza intelectual, se ordena ao bem universal, que pode apreender e é o objecto da vontade. Donde, sendo os demónios substâncias intelectuais, de nenhum modo podem ter inclinação natural para qualquer mal. E logo, não podem ser naturalmente maus.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Agostinho, no passo citado, repreende Porfírio dizendo que os demónios são naturalmente falazes; e afirma que são falazes, não naturalmente, mas por vontade própria. Mas Porfírio ensinou que os demónios são naturalmente falazes, por os conceber como animais de natureza sensitiva e alma passiva. Ora, a natureza sensitiva ordena-se para algum bem particular com o qual pode ir misturado com mal. E, deste modo, os demónios podem ter inclinação natural para o mal; acidentalmente, porém, enquanto o mal está misturado com o bem.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Pode-se dizer que a malícia de alguns homens é natural, quer pelo costume, que é uma segunda natureza, quer por inclinação natural, por parte da natureza sensitiva, a alguma paixão desordenada; assim, alguns são chamados naturalmente iracundos ou concupiscentes. Não, porém, por parte da natureza intelectual.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Os brutos, segundo a natureza sensitiva, têm inclinação natural a certos bens particulares, com os quais vão misturados com certos males. Assim a raposa, a buscar o alimento sagazmente, com o que vai junto o dolo; por isso, ser dolosa não é mal para a raposa, porque lhe é natural, assim como também não é mal para o cão ser furioso, conforme diz Dionísio.

Revisão da tradução portuguesa por ama

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