Depois de tratar da criatura espiritual devemos tratar da corpórea, em cuja produção a Escritura comemora as três obras seguintes. A obra da criação, quando diz: No princípio criou Deus o céu e a terra etc.; da distinção, quando diz: Dividiu a luz das trevas e as águas que estavam por baixo do firmamento das que estavam por cima do firmamento; e a obra da ornamentação, quando diz: Façam-se uns luzeiros no firmamento, etc. Portanto, devemos tratar, em primeiro lugar, da obra da criação; em segundo, da da distinção; em terceiro, da ornamentação.
Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
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18/06/2012
Tratado da criação da criatura corpórea 1
Questão 65: Da obra da criação da
criatura corpórea.
Depois de tratar da criatura espiritual devemos tratar da corpórea, em cuja produção a Escritura comemora as três obras seguintes. A obra da criação, quando diz: No princípio criou Deus o céu e a terra etc.; da distinção, quando diz: Dividiu a luz das trevas e as águas que estavam por baixo do firmamento das que estavam por cima do firmamento; e a obra da ornamentação, quando diz: Façam-se uns luzeiros no firmamento, etc. Portanto, devemos tratar, em primeiro lugar, da obra da criação; em segundo, da da distinção; em terceiro, da ornamentação.
Sobre o primeiro ponto quatro artigos se
discutem:
Art. 1 — Se a criatura corpórea procede de
Deus.
Art. 2 — Se a criatura corpórea foi feita
para a bondade de Deus.
Art. 3 — Se a criatura corpórea foi criada
por Deus mediante os anjos.
Art. 4 — Se as formas dos corpos procedem dos
anjos.
Art. 1 — Se a criatura corpórea
procede de Deus.
O primeiro discute-se assim. — Parece que não
procede de Deus a criatura corpórea.
1. — Pois, diz a escritura: Aprendi que todas
as obras que Deus fez perseverarão para sempre. Ora, os corpos visíveis não
duram eternamente, conforme a Escritura: As coisas visíveis são temporais, e as
invisíveis são eternas. Logo, Deus não fez os corpos visíveis.
2. Demais. — Diz a Escritura: E viu Deus
todas as coisas que tinha feito, e eram muito boas. Ora, as criaturas corpóreas
são más, e o experimentamos por muitos males que nos causam, por exemplo, muitas
serpentes, o calor do sol e coisas semelhantes; assim, pois, é mau o que é
nocivo. Logo, as criaturas corpóreas não procedem de Deus.
3. Demais. — O que procede de Deus dele não
afasta, antes, a ele conduz. Ora, as criaturas corpóreas afastam de Deus, como
diz a Escritura: Não atendendo nós às coisas que se vêem. Logo, as criaturas
corpóreas não procedem de Deus.
Mas, em contrário, diz a Escritura: Qual fez
o céu e a terra, o mar, e todas as coisas que neles há.
Vários heréticos opinam que os
seres visíveis não foram criados por Deus, mas pelo mau princípio, e tiram
argumentos para o seu erro do lugar do Apóstolo: Deus deste século cegou os
entendimentos dos infiéis. — Mas tal opinião é absolutamente inadmissível.
Pois, se seres diversos para algo se unificam é necessário que essa unificação
tenha alguma causa, pois não se unificam por si mesmos. Donde, sempre que se
encontra alguma unidade em seres diversos, é necessário recebam estes de alguma
causa una a sua unidade; assim, diversos corpos cálidos recebem do fogo o
calor. Ora, o ser se encontra comumente em todas as coisas, embora diversas.
Logo, é forçoso haver um princípio do ser, em virtude do qual exista tudo o que
de qualquer modo existe — seres invisíveis e espirituais ou visíveis e
corporais. — Quanto ao diabo, ele se chama deus do século presente, não pela
criação, mas por lhe servirem os que vivem mundanamente, segundo o modo de
falar do Apóstolo: O deus deles é o ventre.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Todas as criaturas de
deus perduram, de certo modo, eternamente, ao menos quanto à matéria; pois, as
criaturas de nenhum modo se reduzem ao nada, mesmo as corruptíveis. Porém,
quanto mais se aproxima de Deus, que é imóvel, tanto mais imóveis são. Pois, as
criaturas corruptíveis perduram perpetuamente quanto à matéria,
transformando-se quanto à forma substancial. As criaturas incorruptíveis,
porém, permanecem, por certo, substancialmente, mas são mutáveis sob outros
aspectos, p. ex., localmente, como os corpos celestes, ou em relação aos
afetos, como as criaturas espirituais. E o dito do Apóstolo — As coisas
visíveis são temporais — embora verdadeiro quanto às coisas em si mesmo
consideradas, por estar toda criatura visível sujeita ao tempo, quanto ao seu
ser ou ao seu movimento, todavia o Apóstolo quis aplicá-lo às coisas visíveis
consideradas como prêmios do homem. Pois, dos prêmios do homem, os consistentes
em tais coisas são temporalmente transitórios; ao passo que permanecem eternamente
os que consistem nas coisas invisíveis. Por isso, antes já tinha dito: Produz
em nós um peso eterno de glória.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A criatura corpórea, por natureza, é
boa; mas não é o bem universal, senão um certo bem particular e restrito; e
dessa particularidade e restrição resulta, na criatura, a contrariedade, em
virtude da qual um bem se contrapõe ao outro, embora um e outro, em si mesmo,
seja um bem. Donde vem que alguns, considerando, nas coisas, não a natureza
própria delas, mas a conveniência deles, julgam absolutamente más as que lhes
são nocivas; sem atenderem que o nocivo para um, sob certo aspecto, é profícuo
para outro ou para os mesmos, sob diferente aspecto. O que de nenhum modo se
daria se os corpos fossem maus e nocivos em si mesmos.
RESPOSTA À TERCEIRA. — As criaturas, em si
mesmas, não afastam, mas aproximam de Deus, pois as coisas invisíveis de Deus,
compreendendo-se pelas coisas feitas, tornaram-se visíveis, como diz o
Apóstolo. E se afastam de Deus, é por culpa dos que delas usam incipientemente;
Donde, diz a Escritura: as criaturas se fizeram um laço para os pés dos
insensatos. Mas o facto mesmo de afastarem de Deus prova que dele procedem;
pois, se afastam de Deus os insipientes, é que os aliciam por algum bem nelas
existentes, bem que têm de Deus.
Depois de tratar da criatura espiritual devemos tratar da corpórea, em cuja produção a Escritura comemora as três obras seguintes. A obra da criação, quando diz: No princípio criou Deus o céu e a terra etc.; da distinção, quando diz: Dividiu a luz das trevas e as águas que estavam por baixo do firmamento das que estavam por cima do firmamento; e a obra da ornamentação, quando diz: Façam-se uns luzeiros no firmamento, etc. Portanto, devemos tratar, em primeiro lugar, da obra da criação; em segundo, da da distinção; em terceiro, da ornamentação.
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