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06/05/2012

Tratado dos Anjos 32


Questão 58: Do modo do conhecimento angélico.

Em seguida, devemos tratar do modo do conhecimento angélico. E, sobre este ponto, sete artigos se discutem;
 
Art. 1 — Se o intelecto angélico às vezes está em potência.
Art. 2 — Se o anjo pode inteligir simultaneamente muitas coisas.
Art. 3 — Se o anjo conhece discorrendo.
Art. 4 — Se os anjos inteligem compondo e dividindo.
Art. 5 — Se no intelecto do anjo pode haver falsidade.
Art. 6 — Se nos anjos há conhecimento vespertino e matutino.
Art. 7 — Se o conhecimento vespertino é o mesmo que o matutino.

Art. 1 — Se o intelecto angélico às vezes está em potência.

(Ia IIae, q. 50, a. 6; II Cont. Gent., cap. XCVII, XCVIII, CI; De Malo, q. 16, a. 56)

O primeiro discute-se assim. – Parece que o intelecto angélico às vezes está em potência.

1. — Pois o movimento é o ato do existente em potência, como diz Aristóteles 1. Ora, as mentes angélicas, inteligindo, movem-se, como diz Dionísio 2. Logo, às vezes, estão em potência.

2. Demais. — Como o desejo busca o que não se tem mas que se pode ter, quem deseja inteligir alguma coisa está em potência em relação a ela. Mas a Escritura diz (1 Pd 1, 12): Ao qual os mesmos anjos desejam ver. Logo, a inteligência angélica, às vezes, está em potência.

3. Demais. — No livro Das causas 3 se diz que a inteligência intelige ao modo da sua substância. Mas a substância angélica tem, de mistura, algo de potencial. Logo, às vezes, intelige em potência.

Mas, em contrário, diz Agostinho que os anjos, desde que foram criados, gozam, por uma santa e pia contemplação, da própria eternidade do Verbo 4. Ora, o intelecto que contempla não está em potência, mas em ato. Logo, o intelecto angélico não é potencial.

Como diz o Filósofo 5, de dois modos pode o intelecto estar em potência. Um é o estado em que se encontra antes de aprender ou descobrir, isto é, antes de ter o hábito da ciência. Outro é o em que já tem a ciência, mas sem a atualizar. — Ora, do primeiro modo, o intelecto angélico nunca está em potência em relação às coisas que o seu conhecimento natural pode alcançar. Pois, assim como os corpos superiores, ou seja, os celestes não têm, quanto à existência, uma potência que não seja completada pelo acto, assim as inteligências celestes, isto é, angélicas, não têm nenhuma potência inteligível que não seja totalmente completada pelas espécies inteligíveis conaturais. Mas, quanto ao que lhes for divinamente revelado, nada impede que lhes seja potencial o intelecto; pois, assim, também os corpos celestes estão, às vezes, em potência a serem iluminados pelo sol. — Do segundo modo, porém, o intelecto angélico pode estar em potência em relação às coisas que conhece por conhecimento natural; pois, nem todas as que assim conhece, as considera actualmente. Todavia, o conhecimento que tem do Verbo e das coisas vistas neste, nunca é potencial, pois o Verbo é contemplado sempre e actualmente, bem como as coisas nele vistas. Pois esta visão é a beatitude dos anjos; e a beatitude não consiste num hábito, mas num acto, como diz o Filósofo 6

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O movimento, na expressão citada, não se entende como o acto do imperfeito, isto é, do que existe em potência, mas como o acto do perfeito, ou seja, do que existe em acto. E assim, o inteligir e o sentir chamam-se movimentos, como diz Aristóteles 7

RESPOSTA À SEGUNDA. — Esse desejo dos anjos não exclui a coisa desejada mas o tédio que dela pudessem ter. — Ou se diz, que desejam a visão de Deus, em respeito a novas revelações que dele recebem, conforme o oportuno às suas atividades.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Na substância do anjo não há nenhuma potência desprovida do acto. E semelhantemente, nem o intelecto angélico está em potência de modo a ficar desprovido do acto.

S. tomás de aquino, Suma Teológica.

(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
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Notas:
1. III Physic. (lect. II).
2. De div. nom., cap. IV (lect. VII).
3. Prop. 8.
4. II Super Genes. ad litt. (cap. VIII).
5. III de anima (lect. VIII); VIII Phys. (lect. VIII).
6. I Ethic. (lect. XII).
7. III De anima (lect. XII).

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