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31/05/2012

MEU CARO MÊS DE MAIO


Resolvi escrever-te este artigo por pensar que te podias sentir discriminado relativamente ao teu mano Outubro, o qual apareceu no ano passado como Mês do Rosário. E claro que de modo nenhum te queria desconsiderar, pois és um grande mês. Tirando a maiúscula pela nova ortografia e o facto de teres o nome mais curto de todos os meses: só quatro letras! Mas não te queixes do Português, pois em Inglês ou Francês tens apenas três. E enquanto Outubro é o mês também do outono e das folhas coloridas, tu és o mês da primavera, das flores e, deixa-me gabar-te também, o Mês de Maria! E começas bem, logo com a festa de S. José Operário no dia 1 e o Dia da Mãe no teu primeiro domingo. E por aí fora, com o dia 13 marcado pela Senhora de Fátima, que apareceu aos pastorinhos nesse domingo de 1917, altura em que lhes pediu, tal como nas outras cinco vezes mais em que lhes apareceu, que rezassem o terço todos os dias.

Volta e meia, os petizes, antes das aparições, rezavam uma versão compacta do terço, na qual, em vez das dez ave-marias completas, diziam, em cada dezena, apenas as palavras “Ave-maria – Santa Maria, Ave-maria – Santa Maria, Ave-maria – Santa Maria… “ e num instante passavam às brincadeiras ou à merenda, enquanto as ovelhas pastavam. Como tudo mudou para eles, até nisso, com muitos terços (completos, claro) e sacrifícios bem duros para criancitas tão novas! Felizmente que esta devoção do Mês de Maria continua bem viva e se pratica em muitas igrejas, e recordo a daquela onde me baptizei e de onde, no fim, contemplava com enlevo a cruz iluminada do Monte da Virgem.

Aliás, a prática do terço era um costume em família durante todo o ano, mesmo quando entrava pelo meio alguma brincadeira. Como a do meu avô, em cuja casa se rezava também o terço e era ele quem passava as contas, enquanto a avó, a empregada e algum neto que sempre por lá parava, respondiam. Numa ocasião, o velho mas robusto e reformado oficial de cavalaria sai-se com esta: “Caramba, já rezei 40 ave-marias e ninguém deu por falta da glória”. Na verdade, cada dezena de ave-marias é intervalada pela glória e pelo pai-nosso, mas sem querer, a gente às vezes distraía-se um bocado ou, como neste caso, um bocadão. Mesmo sem dormitar no sofá, até porque naquela sala só havia cadeiras um tanto duras.

Por tudo isto, e pelo muito mais que de resto já tenho contado, não tens que sentir nenhum complexo de inferioridade, bem pelo contrário. E agora, deixa-me que termine com uma história que mandaram pela Net – mais uma! – e que acho que te vem mesmo a propósito.

Conta-se que S. Pedro, muito preocupado ao notar a presença de algumas almas que ele não se lembrava de ter deixado entrar no Céu, começou a investigar e encontrou um lugar por onde elas entravam. Dirigiu-se então ao Senhor e disse-lhe: “Senhor Jesus, observei que temos aqui algumas almas a quem não me lembro de ter aberto as portas para que passassem a desfrutar da felicidade eterna. Fiz algumas investigações e achei um vão por onde elas entram. É melhor que tu próprio vejas...” Jesus aceitou acompanhá-lo e viu que desse vão descoberto surgia, vindo da terra, um imenso cordão de pedrinhas, em grupos de dez, entremeados por uma mais grossa, e por onde constantemente subiam muitas almas. Alarmado, disse S. Pedro: “Creio, Senhor, que devemos fechar esta entrada!” “Não, não – respondeu-lhe Jesus – deixa ficar assim... essas são coisas da minha Mãe!

Fernando Sena Esteves

em O VERDADEIRO OLHAR

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