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31/05/2012

Leitura espiritual para 31 Mai 2012

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.




Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 21, 1-25



1 Depois disto, Jesus voltou a mostrar-Se aos Seus discípulos, junto do mar de Tiberíades. Mostrou-Se deste modo: 2 Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e dois outros dos Seus discípulos. 3 Simão Pedro disse-lhes: «Vou pescar». Responderam-lhe: «Nós vamos também contigo». Partiram e entraram numa barca. Naquela noite nada apanharam. 4 Chegada a manhã, Jesus apresentou-Se na praia; mas os discípulos não conheceram que era Ele. 5 Jesus disse-lhes: «Rapazes, tendes alguma coisa para comer?». Responderam-Lhe: «Nada». 6 Disse-lhes: «Lançai a rede para o lado direito do barco, e encontrareis». Lançaram a rede e já não a podiam arrastar, por causa da grande quantidade de peixes. 7 Então aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: «É o Senhor!». Simão Pedro, ao ouvir dizer que era o Senhor, cingiu-se com a túnica, porque estava nu, e lançou-se à água. 8 Os outros discípulos, que não estavam distantes de terra, senão duzentos côvados, vieram no barco puxando a rede cheia de peixes. 9 Logo que saltaram para terra, viram umas brasas acesas, peixe em cima delas, e pão. 10 Jesus disse-lhes: «Trazei dos peixes que apanhastes agora». 11 Simão Pedro subiu à barca e arrastou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes. E, sendo tantos, não se rompeu a rede. 12 Jesus disse-lhes: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos ousava perguntar-Lhe: «Quem és Tu?», sabendo que era o Senhor. 13 Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com o peixe. 14 Foi esta a terceira vez que Jesus Se manifestou aos discípulos depois de ter ressuscitado dos mortos. 15 Depois de comerem, disse Jesus a Simão Pedro: «Simão, filho de João, amas-Me mais do que estes?». Ele respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Jesus disse-lhe: «Apascenta os Meus cordeiros». 16 Voltou a perguntar pela segunda vez: «Simão, filho de João, amas-Me?». Ele respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Jesus disse-lhe: «Apascenta as Minhas ovelhas». 17 Pela terceira vez disse-lhe: «Simão, filho de João, amas-Me?». Pedro ficou triste porque, pela terceira vez, lhe disse: «Amas-Me?», e respondeu-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo». Jesus disse-lhe: «Apascenta as Minhas ovelhas». 18 «Em verdade, em verdade te digo: Quando tu eras mais novo, cingias-te e ias onde desejavas; mas, quando fores velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde tu não queres». 19 Disse isto, indicando com que género de morte havia Pedro de dar glória a Deus. Depois de assim ter falado, disse: «Segue-Me». 20 Pedro, tendo-Se voltado, viu que o seguia aquele discípulo que Jesus amava, aquele mesmo que na ceia estivera reclinado sobre o Seu peito e Lhe perguntara: «Senhor, quem é que Te vai entregar?». 21 Pedro, vendo-o, disse a Jesus: «Senhor, e deste, que será?» 22 Jesus disse-lhe: «Se quero que ele fique até que Eu venha, que tens com isso? Tu, segue-Me». 23 Correu então entre os irmãos que aquele discípulo não morreria. Jesus, porém, não disse a Pedro: «Não morrerá», mas: «Se quero que ele fique até que Eu venha, que tens com isso?». 24 Este é aquele discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu, e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. 25 Muitas outras coisas fez Jesus. Se se escrevessem uma por uma, creio que nem todo o mundo poderia conter os livros que seria preciso escrever.








Ioannes Paulus PP. II
Redemptoris missio
sobre a Validade permanente
do Mandato Missionário


/…3

A Igreja ao serviço do Reino

20. A Igreja está efectiva e concretamente ao serviço do Reino. Em primeiro lugar, serve-o com o anúncio que chame à conversão: este é o primeiro e fundamental serviço à vinda do Reino para cada pessoa e para a sociedade humana. A salvação escatológica começa já agora, na novidade de vida em Cristo: «a todos os que O receberam, aos que crêem n'Ele, deu o poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1, 12).

A Igreja serve ainda o Reino, fundando comunidades, constituindo Igrejas particulares, levando-as ao amadurecimento da fé e da caridade, na abertura aos outros, no serviço à pessoa e à sociedade, na compreensão e estima das instituições humanas.

A Igreja, além disso, serve o Reino, difundindo pelo mundo os «valores evangélicos», que são a expressão do Reino, e ajudam os homens a acolher o desígnio de Deus. É verdade que a realidade incipiente do Reino se pode encontrar também fora dos confins da Igreja, em toda a humanidade na medida em que ela viva os «valores evangélicos» e se abra à acção do Espírito que sopra onde e como quer (cf. Jo 3, 8); mas é preciso acrescentar, logo a seguir, que esta dimensão temporal do Reino está incompleta, enquanto não se ordenar ao Reino de Cristo, presente na Igreja, em constante tensão para a plenitude escatológica. 28

As múltiplas perspectivas do Reino de Deus 29 não enfraquecem os fundamentos e as finalidades missionárias; pelo contrário, fortificam e expandem-nas. A Igreja é sacramento de salvação para toda a humanidade; a sua acção não se limita àqueles que aceitam a sua mensagem. Ela é força actuante no caminho da humanidade rumo ao Reino escatológico, é sinal e promotora dos valores evangélicos entre os homens. 30 Neste itinerário de conversão ao projecto de Deus, a Igreja contribui com o seu testemunho e actividade, expressa no diálogo, na promoção humana, no compromisso pela paz e pela justiça, na educação, no cuidado dos doentes, na assistência aos pobres e mais pequenos, mantendo sempre firme a prioridade das realidades transcendentes e espirituais, premissas da salvação escatológica.

A Igreja serve o Reino também com a sua intercessão, uma vez que aquele, por sua natureza, é dom e obra de Deus, como lembram as parábolas evangélicas e a própria oração que Jesus nos ensinou. Devemos suplicá-lo, para que seja acolhido e cresça em nós; mas devemos simultaneamente cooperar a fim de que seja aceite e se consolide entre os homens, até Cristo «entregar o Reino a Deus Pai», altura essa em que «Deus será tudo em todos» (1 Cor 15, 24.28).

CAPÍTULO III
 O ESPÍRITO SANTO PROTAGONISTA DA MISSÃO

 21. «No ápice da missão messiânica de Jesus, o Espírito Santo aparece-nos, no mistério pascal, em toda a Sua subjectividade divina, como Aquele que deve continuar agora a obra salvífica, radicada no sacrifício da cruz. Esta obra, sem dúvida, foi confiada aos homens: aos Apóstolos e à Igreja. No entanto, nestes homens e por meio deles, o Espírito Santo permanece o sujeito protagonista transcendente da realização dessa obra, no espírito do homem e na história do mundo». 31

Verdadeiramente o Espírito Santo é o protagonista de toda a missão eclesial: a Sua obra brilha esplendorosamente na missão ad gentes, como se vê na Igreja primitiva pela conversão de Cornélio (cf. At 10), pelas decisões acerca dos problemas surgidos (cf. At 15), e pela escolha dos territórios e povos (cf. At 16, 6 s). O Espírito Santo age através dos Apóstolos, mas, ao mesmo tempo, opera nos ouvintes: «pela Sua acção a Boa Nova ganha corpo nas consciências e nos corações humanos, expandindo-se na história. Em tudo isto, é o Espírito Santo que dá a vida». 32

O envio «até aos confins da terra» (At 1, 8)

22. Todos os evangelistas, ao narrarem o encontro de Cristo Ressuscitado com os Apóstolos, concluem com o mandato missionário: «foi-Me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, ensinai todas as nações (...) Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28, 18-20; cf. Mc 16, 15-18; Lc 24, 46-49; Jo 20, 21-23).

Esta missão é envio no Espírito, como se vê claramente no texto de S. João: Cristo envia os Seus, ao mundo, como o Pai O enviou a Ele; e, para isso, concede-lhes o Espírito. Lucas põe em estreita relação o testemunho que os Apóstolos deverão prestar de Cristo com a acção do Espírito, que os capacitará para cumprir o mandato recebido.

23. As várias formas do «mandato missionário» contêm pontos em comum, mas também acentuações próprias de cada evangelista; dois elementos, de facto, encontram- se em todas as versões. Antes de mais, a dimensão universal da tarefa confiada aos Apóstolos: «todas as nações» (Mt 28, 19); «pelo mundo inteiro, a toda a criatura» (Mc 16, 15); «todos os povos» (Lc 24, 47); «até aos confins do mundo» (At 1, 8). Em segundo lugar, a garantia, dada pelo Senhor, de que, nesta tarefa, não ficarão sozinhos, mas receberão a força e os meios para desenvolver a sua missão; estes são a presença e a potência do Espírito e a assistência de Jesus: «eles, partindo, foram pregar por toda a parte, e o Senhor cooperava com eles» (Mc 16, 20).

Quanto às diferenças de acentuação no mandato, Marcos apresenta a missão como proclamação ou querigma: «anunciai o Evangelho» (Mc 16, 15). O seu evangelho tem como objectivo levar o leitor a repetir a confissão de Pedro: «Tu és o Cristo» (Mc 8, 29) e a dizer como o centurião romano diante de Jesus morto na cruz: «verdadeiramente este Homem era o Filho de Deus» (Mc 15, 39). Em Mateus, o acento missionário situa-se na fundação da Igreja e no seu ensinamento (cf. Mt 28, 19-20; 16, 18); nele, o mandato evidencia a proclamação do Evangelho, mas enquanto deve ser completada por uma específica catequese de ordem eclesial e sacramental. Em Lucas, a missão é apresentada como um testemunho (cf. Lc 24, 48; At 1, 8), principalmente da ressurreição (At 1, 22); o missionário é convidado a crer na potência transformadora do Evangelho e a anunciar a conversão ao amor e à misericórdia de Deus — que Lucas ilustra muito bem —, a experiência de uma libertação integral até à raiz de todo o mal, o pecado.

João é o único que fala explicitamente de «mandato» — palavra equivalente a «missão» — e une directamente a missão confiada por Jesus aos seus discípulos, com aquela que Ele mesmo recebeu do Pai: «assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20, 21). Jesus, dirigindo-se ao Pai, diz: «assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os envio ao mundo» (Jo 17, 18). Todo o sentido missionário do Evangelho de S. João se pode encontrar na «Oração Sacerdotal»: a vida eterna é «que Te conheçam a Ti, único Deus Verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste» (Jo 17, 3). O fim último da missão é fazer participar na comunhão que existe entre o Pai e o Filho: os discípulos devem viver a unidade entre si, permanecendo no Pai e no Filho, para que o mundo conheça e creia (cf. Jo 17, 21.23). Trata-se de um texto de grande alcance missionário, fazendo-nos entender que somos missionários sobretudo por aquilo que se é, como Igreja que vive profundamente a unidade no amor, e não tanto por aquilo que se diz ou faz.

Portanto os quatro Evangelhos, na unidade fundamental de mesma missão, manifestam todavia um pluralismo, que reflecte as diversas experiências e situações das primeiras comunidades cristãs. Também esse pluralismo é fruto do impulso dinâmico do Espírito, convidando a prestar atenção aos vários carismas missionários e às múltiplas condições ambientais e humanas. No entanto, todos os evangelistas sublinham que a missão dos discípulos é colaboração com a de Cristo: «Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20). Assim a missão não se baseia na capacidade humana, mas na força de Cristo ressuscitado.

O Espírito guia a missão

24. A missão da Igreja, tal como a de Jesus, é obra de Deus, ou, usando uma expressão frequente em S. Lucas, é obra do Espírito Santo. Depois da ressurreição e ascensão de Jesus, os Apóstolos viveram uma intensa experiência que os transformou: o Pentecostes. A vinda do Espírito Santo fez deles testemunhas e profetas (cf. At 1, 8; 2, 17-18), infundindo uma serena audácia, que os leva a transmitir aos outros a sua experiência de Jesus e a esperança que os anima. O Espírito deu-lhes a capacidade de testemunhar Jesus «sem medo». 33

Quando os evangelizadores saem de Jerusalém, o Espírito assume ainda mais a função de «guia» na escolha tanto das pessoas como dos itinerários da missão. A Sua acção manifesta-se especialmente no impulso dado à missão que, de facto, se estende, segundo as palavras de Cristo, desde Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e vai até aos confins do mundo.

Os Actos dos Apóstolos referem seis «discursos missionários», em miniatura, que foram dirigidos aos judeus, nos primórdios da Igreja (cf. At 2, 22-39; 3, 12-26; 4, 9-12; 5, 29-32; 10, 34-43; 13, 16-41). Estes discursos-modelo, pronunciados por Pedro e por Paulo, anunciam Jesus, convidam a «converter-se», isto é, a acolher Jesus na fé e a deixar-se transformar n'Ele, pelo Espírito.

Paulo e Barnabé são impelidos pelo Espírito para a missão entre os pagãos (cf At 13, 46-48), mesmo no meio de tensões e problemas. Como devem viver os pagãos convertidos, a sua fé em Jesus? Ficam eles vinculados à tradição do judaísmo e à lei da circuncisão? No primeiro Concílio, que reúne em Jerusalém, à volta dos Apóstolos, os membros das diversas Igrejas, é tomada uma decisão considerada como emanada do Espírito Santo: não é necessário que o pagão se submeta à lei judaica para ser cristão. (cf At 15, 5-11.28) A partir desse momento, a Igreja abre as suas portas e torna-se a casa onde todos podem entrar e sentir-se à vontade, conservando as próprias tradições e cultura, desde que não estejam em contraste com o Evangelho.

25. Os missionários, seguindo esta linha de acção, tiveram presente os anseios e as esperanças, as aflições e os sofrimentos, a cultura do povo, para lhe anunciar a salvação em Cristo. Os discursos de Listra e de Atenas (cf. At 14, 15-17; 17, 22-31) são considerados modelo para a evangelização dos pagãos: neles, Paulo «dialoga» com os valores culturais e religiosos dos diferentes povos. Aos habitantes da Licaónia, que praticavam uma religião cósmica, Paulo lembra experiências religiosas que se referiam ao cosmos; com os Gregos, discute sobre filo sofia e cita os seus poetas (cf. At 17, 18.26-28). O Deus que vem revelar, já está presente nas suas vidas: de facto, foi Ele Quem os criou, e é Ele que misteriosamente conduz os povos e a história; no entanto, para reconhecerem o verdadeiro Deus, é necessário que abandonem os falsos deuses que eles próprios fabricaram, e se abram Àquele que Deus enviou para iluminar a sua ignorância e satisfazer os anseios dos seus corações (cf. At 17, 27-30). São discursos que oferecem exemplos de inculturação do Evangelho.

Sob o impulso do Espírito, a fé cristã abre-se decididamente às nações pagãs, e o testemunho de Cristo expande-se em direcção aos centros mais importantes do Mediterrâneo oriental, para chegar depois a Roma e ao extremo ocidente. É o Espírito que impele a ir sempre mais além, não só em sentido geográfico, mas também ultrapassando barreiras étnicas e religiosas, até se chegar a uma missão verdadeiramente universal.

O Espírito torna missionária toda a Igreja

26. O Espírito impele o grupo dos crentes a «constituírem comunidades», a serem Igreja. Depois do primeiro anúncio de Pedro no dia de Pentecostes e as conversões que se seguiram, forma-se a primeira comunidade (cf. At 2, 42-47; 4, 32-35).

Com efeito, uma das finalidades centrais da missão é reunir o povo de Deus na escuta do Evangelho, na comunhão fraterna, na oração e na Eucaristia. Viver a «comunhão fraterna» (koinonía) significa ter «um só coração e uma só alma» (At 4, 32), instaurando uma comunhão sob os aspectos humano, espiritual e material. A verdadeira comunidade cristã sente necessidade de distribuir os próprios bens, para que não haja necessitados, e todos possam ter acesso a esses bens, «conforme as necessidades de cada um» (At 2, 45; 4, 35). As primeiras comunidades, onde reinava «a alegria e a simplicidade de coração» (At 2, 46), eram dinamicamente abertas e missionárias: «gozavam da estima de todo o povo» (At 2, 47). Antes ainda da acção, a missão é testemunho e irradiação. 34

27. Os Actos dos Apóstolos mostram que a missão primeiro se dirigia a Israel, e depois aos pagãos. Para a actuação dessa missão, aparece antes de tudo o grupo dos Doze que, como um corpo guiado por Pedro, proclama a Boa Nova. Depois temos a comunidade dos crentes que, com o seu modo de viver e agir, dá testemunho do Senhor e converte os pagãos (cf. At 2, 46-47). Existem também enviados especiais, destinados a anunciar o Evangelho. Assim a comunidade cristã de Antioquia envia os seus membros em missão: depois de ter jejuado, rezado e celebrado a Eucaristia, ela faz notar que o Espírito escolheu Paulo e Barnabé para serem enviados (cf At 13, 1-4). Logo, nas suas origens, a missão foi vista como um compromisso comunitário e uma responsabilidade da Igreja local, que necessita de «missionários» para se expandir em direcção a novas fronteiras. Ao lado destes enviados, havia outros que testemunhavam espontaneamente a novidade que tinha transformado as suas vidas e uniam à Igreja apostólica, as comunidades em formação.

A leitura dos Actos mostra-nos que, no início da Igreja, a missão ad gentes, embora contando com missionários integralmente dedicados a ela por vocação especial, todavia era considerada como o fruto normal da vida cristã, graças ao compromisso de cada crente actuando através do testemunho pessoal e do anúncio explícito, sempre que possível.

O Espírito está presente e operante em todo o tempo e lugar

28. O Espírito manifesta-se particularmente na Igreja e nos seus membros, mas a Sua presença e acção são universais, sem limites de espaço nem de tempo. 35 O Concílio Vaticano II lembra a obra do Espírito no coração de cada homem, cuidando e fazendo germinar as «sementes do Verbo», presentes nas iniciativas religiosas e nos esforços humanos à procura da verdade, do bem, e de Deus. 36

O Espírito oferece ao homem «luz e forças que lhe permitem corresponder à sua altíssima vocação»; graças a Ele, «o homem chega, por meio da fé, a contemplar e saborear o mistério dos planos divinos»; mais ainda, «devemos acreditar que o Espírito Santo oferece a todos, de um modo que só Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao mistério pascal». 37 Seja como for, a Igreja sabe que o homem, solicitado incessantemente pelo Espírito de Deus, nunca poderá ser totalmente indiferente ao problema da religião, mantendo sempre o desejo de saber, mesmo se confusamente, qual o significado da sua vida, da sua actividade, e da sua morte. 38 O Espírito está, portanto, na própria origem da questão existencial e religiosa do homem, que surge não só de situações contingentes, mas sobretudo da estrutura própria do seu ser. 39

A presença e acção do Espírito não atingem apenas os indivíduos, mas também a sociedade e a história, os povos, as culturas e as religiões. Com efeito, Ele está na base dos ideais nobres e das iniciativas benfeitoras da humanidade peregrina: «com admirável providência, o Espírito dirige o curso dos tempos e renova a face da terra». 40

Cristo ressuscitado, «pela virtude do Seu Espírito, actua já nos corações dos homens, não só despertando o desejo da vida futura, mas também alentando, purificando e robustecendo a família humana para tornar mais humana a sua própria vida e submeter a terra inteira a este fim», 41 É ainda o Espírito que infunde as «sementes do Verbo», presentes nos ritos e nas culturas, e as faz maturar em Cristo. 42

29. Assim o Espírito que «sopra onde quer» (Jo 3, 8) e que «já estava a operar no mundo, antes da glorificação do Filho», 43 que «enche o universo, abrangendo tudo e de tudo tem conhecimento» (Sab 1, 7), induz-nos a estender o olhar, para podermos melhor considerar a Sua acção, presente em todo o tempo e lugar. 44 É uma referência que eu próprio sigo muitas vezes e que me guiou nos encontros com os mais diversos povos. As relações da Igreja com as restantes religiões baseiam-se num duplo aspecto: «respeito pelo homem na sua busca de resposta às questões mais profundas da vida, e respeito pela acção do Espírito nesse mesmo homem». 45 O encontro interreligioso de Assis, excluída toda e qualquer interpretação equívoca, reforçou a minha convicção de que «toda a oração autêntica é suscitada pelo Espírito Santo, que está misteriosamente presente no coração dos homens». 46

Este Espírito é o mesmo que agiu na encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus, e actua na Igreja. Não é de modo nenhum uma alternativa a Cristo, nem vem preencher uma espécie de vazio, como algumas vezes se sugere existir, entre Cristo e o Logos. Tudo quanto o Espírito opera no coração dos homens e na história dos povos, nas culturas e religiões, assume um papel de preparação evangélica, 47 e não pode deixar de se referir a Cristo, Verbo feito carne pela acção do Espírito, « a fim de, como Homem perfeito, salvar todos os homens e recapitular em Si todas as coisas ». 48

A acção universal do Espírito, portanto, não poder ser separada da obra peculiar que Ele desenvolve no Corpo de Cristo, que é a Igreja.

Sempre é o Espírito que actua, quer quando dá vida à Igreja impelindo-a a anunciar Cristo, quer quando semeia e desenvolve os seus dons em todos os homens e povos, conduzindo a Igreja à descoberta, promoção e acolhimento desses dons, através do diálogo. Qualquer presença do Espírito deve ser acolhida com estima e gratidão, mas discerni-la compete à Igreja, à qual Cristo deu o Seu Espírito para a guiar até à verdade total (cf. Jo 16, 13).

A actividade missionária está ainda no início

30. O nosso tempo, com uma humanidade em movimento e insatisfeita, exige um renovado impulso na actividade missionária da Igreja. Os horizontes e as possibilidades da missão alargam-se, e é-nos pedida, a nós cristãos, a coragem apostólica, apoiada sobre a confiança no Espírito. Ele é o protagonista da missão!

Na história da humanidade, há numerosas viragens que estimulam o dinamismo missionário, e a Igreja, guiada pelo Espírito, sempre respondeu com generosidade e clarividência. Também não faltaram os frutos! Pouco tempo atrás, celebrou-se o milénio da evangelização da Rússia e dos povos eslavos, estando para se celebrar o quingentésimo aniversário da evangelização das Américas; foram entretanto comemorados, de forma solene, os centenários das primeiras missões em vários Países da Ásia, da África e da Oceânia. A Igreja deve hoje enfrentar outros desafios, lançando-se para novas fronteiras, quer na primeira missão ad gentes, quer na nova evangelização dos povos que já receberam o anúncio de Cristo: A todos os cristãos, às Igrejas particulares e à Igreja universal, pede-se a mesma coragem que moveu os missionários do passado, a mesma disponibilidade para escutar a voz do Espírito.

(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
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Notas:
1 Cf. PAULO VI, Mensagem para o Dia Mundial das Missões/1972», Insegnamenti X (1972) 522: «Estas tensões internas, que debilitam e laceram algumas Igrejas e instituições locais, desapareceriam frente à firme convicção de que a salvação das comunidades locais se conquista pela cooperação na obra missionária, a fim de que esta se estenda até aos confins da terra ».
2 Cf. BENTO XV, Epist. ap. Maximum illud (30/XI/1919): AAS 11 (1919) 440-455; Pio XI, Carta Enc. Rerum Ecclesiae (28/II/1926): AAS 18 (1926) 65-83; Pto XII, Carta Enc. Evangelii praecones (2/VI/1951): AAS 43 (1951) 497-528; Carta Enc. Fidei donum (21/IV/1957): AAS 49 (1957), 225-248; Joãoo XXIII, Carta Enc. Princeps Pastorum (28/XI/1959): AAS 51 ( 1959) 833-864.
3 Carta Enc. Redemptor hominis (4/III/1979), 10: AAS 71 (1979) 274 s.
4 ibid., 10: l.c., 275. 5
5 Credo niceno-constantinopolitano: DzS 150.
6 Carta Enc. Redemptor hominis, 13: l.c., 283.
7 Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gatrdtüm et spes, 2.
8 ibid., 22.
9 Carta Enc. Dives in misericordia (30/XI/1980), 7: AAS 72 (1980) 1202.
10 Homilia da celebração eucarística em Cracóvía, 10 de Junbo de 1979: AAS 71 (1979) 873.
11 Cf. João XXIII, Carta Enc. Mater et magútra (15/V/1961), IV: AAS 53 (1961) 451-453.
12 Declaração sobre a liberdade religiosa Dtgnitatts humanae, 2.
13 Paulo VI, Exort. Ap. Evangelii nuntiandi (8/XII/1975), 53: AAS 68 (1976) 42.
14 Declaração sobre a liberdade religiosa Dignitatis humanae, 2.
15 Cf. Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 14-17; Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 3.
16 Cf. Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 48; Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 43; Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 7. 21.
17 Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 13.
18 ibid., 9.
19 Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 22.
20 Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 14.
21 Carta Enc. Dives in misericordia, 1: l.c., 1177.
22 Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 5.
23 Cf. Conc. ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 22.
24 Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium 4.
25 ibid., 5.
26 Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 16: l.c., 15.
27 Discurso de Abertura da III Sessão do Conc. Ecum. Vat. II, 14 de Setembro de 1904: AAS 56 (1964) 810.
28 PAULO VI, Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 34: l.c., 28.
29 Cf. COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL, Temi SceIti d'ecclesiologia no XX aniversário do encerramento do Conc. Ecum. Vat. II (7/X/1985), 10: «L'indole escatologica della Chiesa: Regno di Dio e Chiesa».
30 Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 39.
31 Carta Enc. Dominum et Vivificantem ( 18/V/1986), 42: AAS 78 (1986), 857.
32 ibid., 64: l.c., 892.
33 A expressão « sem medo » corresponde ao termo grego parresia, que significa também entusiasmo, vigor; cf. At 2, 29; 4, 13. 29. 31; 9, 27. 28; 13, 46; 14, 3; 18, 26; 19, 8. 26; 28, 31.
34 Cf. PAULO VI, Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 41-42: l.c., 31-33.
35 Cf. Carta Enc. Dominum et Vivificantem, 53: l.c., 874 s.
36 Cf. Conc. Ecum. Var. II, Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 3. 11. 15; Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 10-11. 22. 26. 38. 41. 92-93.
37 CONC. ECUM. VAT. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudaium et spes, 10. 15. 22.
38 ibid., 41.
39 Cf. Carta Enc. Dominum et Vivificantem, 54: l.c., 875 s.
40 CONC. ECUM. VAT. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaud:úm et spes, 26.
41 ibid., 38; cf. 93.
42 Cf. CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 17; Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 3. 15.
43 Conc. Ecum. Var. II, Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 4.
44 Cf. Carta Enc. Dominum et Vivificantem, 53: l.c., 874.
45 Discurso aos Dirigentes das religiões não cristãs, em Madras (Índia), a 5 de Fevereiro de 1986: AAS 78 (1986), 767; cf. Mensagem aos Povos da Asia, em Manila, a 21 de Fevereiro de 1981, 2-4: AAS 73 ( 1981 ), 392 s.; Discurso aos representantes das religíões nâo cristãs, em Tóquio, a 24 de Fevereiro de 1981, 3-4: Insegnamenti IV/1 ( 1981 ), 507 s.
46 Discurso aos Cardeais, à Família Pontifícia e à Cúria e Prelatura Romana, 22 de Dezembro de 1986, 11: AAS 79 (1987), 1089.
47 Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 16.
48 Conc. Ecum. Var. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 45; cf. Carta Enc. Dominum et Vivificantem, 54: l.c., 876.


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