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16/05/2012

Leitura espiritual para 16 Mai 2012


Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.




Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 11, 38-57

38 Jesus, pois, novamente emocionado no Seu interior, foi ao sepulcro. Era este uma gruta com uma pedra colocada à entrada 39 Jesus disse: «Tirai a pedra». Marta, irmã do defunto, disse-Lhe: «Senhor, ele já cheira mal, porque está aí há quatro dias». 40 Jesus disse-lhe: «Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?». 41 Tiraram, pois, a pedra. Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: «Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido. 42 Eu bem sabia que Me ouves sempre, mas falei assim por causa do povo que está em volta de Mim, para que acreditem que Tu Me enviaste». 43 Tendo dito estas palavras, bradou em voz forte: «Lázaro, sai para fora!». 44 E saiu o que estivera morto, ligado de pés e mãos, com as ataduras, e o seu rosto envolto num sudário. Jesus disse-lhes: «Desligai-o e deixai-o ir». 45 Então, muitos dos judeus que tinham ido visitar Maria e Marta, vendo o que Jesus fizera, acreditaram n'Ele. 46 Porém, alguns deles foram ter com os fariseus e contaram-lhes o que Jesus tinha feito. 47 Os pontífices e os fariseus reuniram-se então em conselho e disseram: «Que fazemos, já que Este homem faz muitos milagres? 48 Se O deixamos proceder assim, todos acreditarão n'Ele; e virão os romanos e destruirão a nossa cidade e a nossa nação!». 49 Mas um deles, chamado Caifás, que era o Sumo Sacerdote naquele ano, disse-lhes: «Vós não sabeis nada, 50 nem considerais que vos convém que morra um homem pelo povo e que não pereça toda a nação!». 51 Ora ele não disse isto por si mesmo, mas, como era Sumo Sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação,52 e não somente pela nação, mas também para unir num só corpo os filhos de Deus dispersos.53 Desde aquele dia tomaram a resolução de O matar. 54 Jesus, pois, já não andava em público entre os judeus, mas retirou-Se para uma terra vizinha do deserto, para a cidade chamada Efraim e lá esteve com os Seus discípulos. 55 Estava próxima a Páscoa dos judeus e muitos daquela região subiram a Jerusalém antes da Páscoa para se purificarem. 56 Procuravam Jesus e diziam uns para os outros, estando no templo: «Que vos parece, não virá Ele à festa?». 57 Ora os príncipes dos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para que, se alguém soubesse onde Ele estava, O denunciasse para O prenderem.






Ioannes Paulus PP. II
Dominum et vivificantem
sobre o Espírito Santo
na Vida da Igreja e do Mundo

/…4

SEGUNDA PARTE
O ESPÍRITO QUE CONVENCE O MUNDO QUANTO AO PECADO

1. Pecado, justiça e juízo

27. Quando Jesus, durante o discurso de despedida no Cenáculo, anuncia a vinda do Espírito Santo «à custa» da própria partida e promete: «Quando eu for, vo-lo enviarei», precisamente nesse contexto, acrescenta: «E Ele, quando vier, convencerá o mundo quanto ao pecado, quanto à justiça e quanto ao juízo». 102 O mesmo Consolador e Espírito da verdade — que fora prometido como Aquele que «ensinará» e «recordará», como Aquele que «dará testemunho» e como Aquele que «guiará para toda a verdade» — é anunciado agora, com as palavras citadas, como Aquele que «convencerá o mundo quanto ao pecado, quanto à justiça e quanto ao juízo».

Parece ser também significativo o contexto. Jesus relaciona este anúncio do Espírito Santo com as palavras que indicam a própria «partida», mediante a Cruz, e que, mais ainda, realçam a necessidade da mesma «partida»: «É melhor para vós que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós». 103

Mas o que conta mais é a explicação que Jesus acrescenta a estas três palavras: pecado, justiça e juízo. Com efeito, diz assim: «Ele convencerá o mundo quanto ao pecado, quanto à justiça e quanto ao juízo. Quanto ao pecado, porque não crêem em mim; quanto à justiça, porque eu vou para o Pai e não me vereis mais; e quanto ao juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado». 104 No pensamento de Jesus, o pecado, a justiça e o juízo têm um sentido bem preciso, diverso daquele que alguém pretendesse, porventura, atribuir a tais palavras, independentemente da explicação de Quem fala. Esta explicação indica também como deve ser entendido aquele «convencer o mundo», que é próprio da acção do Espírito Santo. Aqui têm importância: quer o significado de cada palavra, quer o facto de Jesus as ter unido entre si na mesma frase.
«O pecado», nesta passagem, significa a incredulidade que Jesus encontrou no meio dos «seus», a começar pelos próprios conterrâneos de Nazaré. Significa a rejeição da sua missão, que levará os homens a condená-lo à morte. Quando fala, em seguida, da «justiça», Jesus parece ter em mente aquela justiça definitiva, que o Pai lhe fará, revestindo-o da glória da ressurreição e da ascensão ao céu: «Vou para o Pai». No contexto do «pecado» e da «justiça» assim entendidos, «o juízo» significa, por sua vez, que o Espírito da verdade demonstrará a culpa do «mundo» na condenação de Jesus à morte de Cruz. No entanto, Cristo não veio ao mundo somente para o julgar e condenar: Ele veio para o salvar. 105 O convencer quanto ao pecado e quanto à justiça tem como finalidade a salvação do mundo, a salvação dos homens. É esta verdade, precisamente, que parece ser acentuada pela afirmação de que «o juízo» afecta somente o «príncipe deste mundo», isto é, Satanás, aquele que, desde o princípio explora a obra da criação contra a salvação, contra a aliança e a união do homem com Deus: ele «já está julgado» desde o princípio. Se o Espírito Consolador deve convencer o mundo, exactamente quanto ao juízo, é para continuar nele a obra salvífica de Cristo.

28. Queremos agora concentrar a nossa atenção principalmente nesta missão do Espírito Santo, qual é a de «convencer o mundo quanto ao pecado», mas respeitando, ao mesmo tempo, o contexto geral das palavras de Jesus no Cenáculo. O Espírito Santo, que assume do Filho a obra da Redenção do mundo, assume por isso mesmo a função de o «convencer quanto ao pecado» em ordem à salvação. Este convencer realiza-se em constante referência à «justiça», isto é, à salvação definitiva em Deus, à efectivação da economia que tem como centro Cristo crucificado e glorificado. E esta economia salvífica de Deus subtrai, em certo sentido, o homem ao «juízo, isto é, à condenação, com que foi punido o pecado de Satanás, «príncipe deste mundo», aquele que, por causa do seu pecado, se tornou «dominador deste mundo tenebroso». 106 É assim que, mediante esta referência ao «juízo», se patenteiam vastos horizontes para a compreensão do «pecado», bem como da «justiça». O Espírito Santo, mostrando o pecado na economia da salvação, tendo como fundo a Cruz de Cristo, (dir-se-ia «o pecado salvado»), leva também a compreender como a sua missão é a de «convencer» mesmo quanto ao pecado que já foi definitivamente julgado («o pecado condenado»).

29. Todas as palavras pronunciadas pelo Redentor no Cenáculo, nas vésperas da sua Paixão, se inscrevem no tempo da Igreja. Em primeiro lugar, as palavras que se referem ao Espírito Santo, como Paráclito e Espírito da verdade: elas inscrevem-se, de um modo sempre novo, em cada geração e em cada época. Isto é confirmado, quanto ao nosso século, pelo conjunto dos ensinamentos do Concílio Vaticano II, especialmente na Constituição pastoral «Gaudium et spes». Muitas passagens deste documento indicam claramente que o Concílio, abrindo-se à luz do Espírito da verdade, se apresenta como o depositário autêntico dos anúncios e das promessas feitas por Cristo aos Apóstolos e à Igreja no discurso da despedida; de modo particular, daquele anúncio segundo o qual o Espírito Santo deve «convencer o mundo quanto ao pecado, quanto à justiça e quanto ao juízo».

Isto é indicado já no texto em que o mesmo Concílio explica como entende o «mundo»: ele «tem diante dos olhos o mundo dos homens, ou seja, a inteira família humana, no contexto de todas aquelas realidades no meio das quais ela vive; o mundo que é teatro da história do género humano, marcado pelos esforços do homem, pelas suas derrotas e pelas suas vitórias; o mundo que os cristãos acreditam ser criado e conservado pelo amor do Criador; mundo caído, sem dúvida, sob a escravidão do pecado, mas libertado por Cristo crucificado e ressuscitado, com a derrota do Maligno, a fim de ser transformado e poder alcançar, segundo os desígnios de Deus, a própria realização». 107 Em conexão com este texto, muito sintético, é necessário ler na mesma Constituição as outras passagens em que se procura mostrar, com todo o realismo da fé, a situação do pecado no mundo contemporâneo e também explicar a sua essência, partindo de diversos pontos de vista. 108

Quando Jesus, nas vésperas da Páscoa, fala do Espírito Santo como d'Aquele que «convencerá o mundo quanto ao pecado», por um lado, deve dar-se a esta sua afirmação o alcance mais vasto possível, uma vez que ela abrange todo o conjunto dos pecados na história da humanidade; mas, por outro lado, quando Jesus explica que este pecado consiste no facto de que «não crêem» n'Ele, tal alcance parece limitar-se àqueles que rejeitaram a sua missão messiânica de Filho do homem, condenando-o à morte de Cruz. Entretanto, é difícil deixar de notar como este alcance, mais «reduzido» e circunscrito historicamente do significado do pecado, se alarga até assumir uma amplidão universal, em virtude da universalidade da obra da Redenção que se realizou por meio da Cruz. A revelação do mistério da Redenção abre os caminhos para uma compreensão assim, na qual todos os pecados que se cometeram, em qualquer lugar e em qualquer momento, são referidos à Cruz de Cristo, incluindo indirectamente, portanto, também o pecado dos que «não acreditaram n'Ele», condenando o mesmo Jesus Cristo à morte de Cruz.

É a partir deste indispensável ponto de vista que nos importa voltar agora ao acontecimento do Pentecostes.

2. O testemunho do dia de Pentecostes

30. No dia de Pentecostes, teve a sua mais exacta e directa confirmação aquilo que fora anunciado por Cristo no discurso da despedida; em particular, o anúncio de que estamos a tratar «O Consolador... convencerá o mundo quanto ao pecado». Nesse dia, sobre os Apóstolos congregados no mesmo Cenáculo em oração, juntamente com Maria, Mãe de Jesus, desceu o Espírito Santo prometido, como lemos nos Actos dos Apóstolos: «Todos ficaram cheios de Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que se exprimissem» 109 «reconduzindo desse modo à unidade as raças dispersas e oferecendo ao Pai as primícias de todas as nações». 110

Aparece clara, aqui, a relação entre o anúncio feito por Cristo e este acontecimento. Entrevemos nele o primeiro e fundamental cumprimento da promessa do Paráclito. Este, enviado pelo Pai, vem «depois» da partida de Cristo, «à custa» da mesma. Trata-se de uma partida, primeiro, mediante a morte de Cruz; e depois, passados quarenta dias após a ressurreição, mediante a ascensão ao Céu. Nesse momento da ascensão, Jesus deu ainda aos Apóstolos ordem «de não se afastarem de Jerusalém, mas de esperarem lá a realização da promessa do Pai»; «sereis baptizados no Espírito Santo, dentro de não muitos dias»; «recebereis uma força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra». 111
Estas últimas palavras condensam um eco, ou uma recordação, do anúncio feito no Cenáculo. E no dia de Pentecostes esse anúncio realiza-se com toda a exactidão. Agindo sob o influxo do Espírito Santo, recebido pelos Apóstolos quando estavam em oração no Cenáculo, São Pedro apresenta-se e fala diante de uma multidão de pessoas de diferentes línguas, reunidas para a festa. Proclama aquilo que, de certeza, não teria tido a coragem de dizer anteriormente: «Homens de Israel,... Jesus de Nazaré — homem acreditado por Deus junto de vós, com milagres, prodígios e sinais, que Deus realizou no meio de vós por seu intermédio... depois de vos ser entregue, segundo o desígnio determinado e a presciência de Deus, vós o pregastes na Cruz, por mão de ímpios e o matastes. Mas Deus ressuscitou-o, libertando-o das angústias da morte, pois não era possível que Ele ficasse sob o seu domínio». 112

Jesus tinha predito e prometido: «Ele (o Espírito Santo)... dará testemunho de mim. E vós também dareis testemunho de mim». No primeiro discurso de São Pedro em Jerusalém, de forma bem clara tem o seu início esse testemunho: o testemunho a respeito de Cristo, crucificado e ressuscitado. O testemunho do Espírito Paráclito e dos Apóstolos. E no próprio conteúdo desse primeiro testemunho, o Espírito da verdade, pela boca de São Pedro, «convence o mundo quanto ao pecado»: convence-o, antes de mais, quanto àquele pecado que é a rejeição de Cristo, até à sua condenação à morte, até à Cruz no Gólgota. Repetir-se-ão as proclamações de conteúdo análogo, segundo o texto dos Actos dos Apóstolos, noutras ocasiões e em diversos lugares. 113

31. A partir deste primeiro testemunho do Pentecostes, a acção do Espírito da verdade, que «convence o mundo quanto ao pecado» da rejeição de Cristo, anda ligada de modo orgânico com o testemunho que deve ser dado do mistério pascal: do mistério do Crucificado e do Ressuscitado. E nesta conexão o mesmo «convencer quanto ao pecado» revela a própria dimensão salvífica. Trata-se, de facto, de um «convencimento» que tem como finalidade não a mera acusação do mundo nem, menos ainda, apenas a sua condenação; Jesus Cristo veio ao mundo não para o julgar e condenar, mas sim para o salvar. 114 Isto é bem salientado já neste primeiro discurso, quando São Pedro exclama: «Saiba toda a casa de Israel, com absoluta certeza, que Deus constituiu como Senhor e Messias, esse Jesus que vós crucificastes». 115 E, em seguida, quando as pessoas presentes perguntaram a São Pedro e aos Apóstolos: «que havemos de fazer, irmãos?», o mesmo São Pedro respondeu-lhes: «Convertei-vos e peça cada um o Baptismo em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados; recebereis, então, o dom do Espírito Santo». 116

Deste modo, o «convencer quanto ao pecado» torna-se conjuntamente um convencer quanto à remissão dos pecados, pelo poder do Espírito Santo. São Pedro, no seu discurso em Jerusalém, exorta à conversão, como Jesus exortava os seus ouvintes no início da sua actividade messiânica. 117 A conversão exige a convicção do pecado e contém em si o juízo interior da consciência; e este, sendo uma comprovação da acção do Espírito da verdade no íntimo do homem, torna-se ao mesmo tempo o novo princípio da generosa dádiva da graça e do Amor: «Recebei o Espírito Santo». 118 Assim, neste «convencer quanto ao pecado», descobrimos uma dupla dádiva: o dom da verdade da consciência, com o dom da certeza da redenção. O Espírito da Verdade é o Consolador.

O convencer quanto ao pecado, mediante o ministério do anúncio apostólico na Igreja nascente, é referido — sob o impulso do Espírito derramado no Pentecostes — ao poder redentor de Cristo crucificado e ressuscitado. Assim se verifica a promessa relativa ao Espírito Santo, feita antes da Páscoa: «Ele receberá do que é meu, para vo-lo anunciar». Por conseguinte, durante o evento do Pentecostes, quando São Pedro fala do pecado daqueles que «não acreditaram» 119 e entregaram a uma morte ignominiosa Jesus de Nazaré, ele dá testemunho da vitória sobre o pecado; uma vitória que se consumou, em certo sentido, mediante o maior pecado que o homem podia cometer: a morte de Jesus, Filho de Deus, consubstancial ao Pai! De modo análogo, pois, como a morte do Filho de Deus vence a morte humana: «Ero mors tua, o mors» (ó morte, eu hei-de ser a tua morte), 120 assim o pecado de ter crucificado o Filho de Deus «vence» o pecado humano! Vence aquele pecado que se consumou em Jerusalém, na Sexta-Feira Santa, como também cada pecado do homem. Com efeito, ao maior pecado da parte do homem corresponde, no coração do Redentor, a oblação do supremo amor, que supera o mal de todos os pecados dos homens. Com base nesta certeza, a Igreja, na Liturgia romana, não hesita em repetir todos os anos, durante a Vigília pascal, «O felix culpa!» (Ó ditosa culpa!), no anúncio da Ressurreição que o diácono faz com o canto do «Exultet».



32. Ninguém pode, todavia, «convencer o mundo», o homem e a consciência humana quanto a esta verdade inefável a não ser Ele mesmo, o Espírito da Verdade. Ele é o Espírito, que «perscruta as profundezas de Deus». 121 Diante do mistério do pecado, é preciso perscrutar «as profundezas de Deus» até onde for possível. Não basta perscrutar a consciência humana, como mistério íntimo do homem; mas é imprescindível penetrar no mistério íntimo de Deus, naquelas «profundezas de Deus» que se resumem na síntese: «ao Pai — no Filho — por meio do Espírito Santo». É exactamente o Espírito Santo que as «perscruta»; e a elas vai buscar a resposta de Deus ao pecado do homem. Com essa resposta encerra-se o processo de «convencer quanto ao pecado», como o acontecimento do Pentecostes põe em evidência.

Convencendo o «mundo» do pecado do Gólgota, da morte do Cordeiro inocente, como aconteceu no dia do Pentecostes, o Espírito Santo convence também de todos os pecados cometidos em qualquer lugar e em qualquer momento na história do homem: Ele, com efeito, fez ver a sua conexão com a Cruz de Cristo. O «convencer» é a demonstração do mal do pecado, de qualquer pecado, em relação com a Cruz de Cristo. O pecado, quando mostrado com esta relação, é reconhecido em toda dimensão do mal que lhe é própria, como «mysterium iniquitatis» (o mistério da iniquidade) 122 que em si mesmo contém e esconde. O homem não conhece esta dimensão — não a pode conhecer absolutamente, separando-a da Cruz de Cristo. Por isso, não pode ser «convencido» quanto a ela se não pelo Espírito Santo: Espírito da verdade, mas também Consolador.

O pecado, de facto, mostrado em relação com a Cruz de Cristo, é identificado simultaneamente na plena dimensão do «mysterium pietatis» (mistério da piedade), 123 como foi indicado na Exortação Apostólica pós-sinodal Reconciliatio et Paenitentia. 124 O homem também não conhece, de maneira nenhuma, esta dimensão do pecado fora da Cruz de Cristo. E também não pode ser dela «convencido» se não pelo Espírito Santo: por Aquele que «perscruta as profundezas de Deus».

3. O testemunho do princípio: a realidade original do pecado

33. A dimensão do pecado a que acabamos de aludir é a mesma que encontramos no testemunho do «princípio» anotado no Livro do Génesis: 125 no pecado que, segundo a Palavra de Deus revelada, constitui o princípio e a raiz de todos os outros. Encontramo-nos perante a realidade original do pecado na história do homem, ao mesmo tempo que na globalidade da economia da salvação. Pode dizer-se que nesse pecado tem início o «mistério da iniquidade»; mas que o mesmo é também o pecado em relação ao qual o poder redentor do «mistério da piedade» se torna particularmente transparente e eficaz. É o que exprime São Paulo, quando contrapõe à «desobediência» do primeiro Adão a «obediência» de Cristo, o segundo Adão: «a obediência até à morte». 126

Atendo-nos ao testemunho do princípio, o pecado na sua realidade original verifica-se na vontade — e na consciência — do homem, primeiro que tudo como «desobediência»; isto é, como oposição da vontade do homem à vontade de Deus. Esta desobediência original pressupõe a rejeição ou, pelo menos, o afastamento da verdade contida na Palavra de Deus, que cria o mundo. Esta Palavra é o próprio Verbo, que estava «no princípio junto de Deus», que «era Deus» e sem o qual «coisa alguma foi feita de tudo o que existe», porque o «mundo foi feito por meio d'Ele». 127 É o Verbo, que é também Lei eterna, fonte de toda a lei, que regula o mundo e especialmente os actos humanos. Portanto, quando Jesus Cristo, na véspera da sua Paixão, fala do pecado daqueles que «não acreditam n'Ele», nestas suas palavras, repassadas de sofrimento, há como que uma alusão longínqua àquele pecado que, na sua forma original, se iriscreve obscuramente no próprio mistério da criação. Aquele que fala é, de facto, não só o Filho do homem, mas também Aquele que é «o Primogénito de toda a criatura», «porque n'Ele foram criadas todas as coisas:... criadas por Ele, para Ele estão orientadas todas as coisas». 128 À luz desta verdade, compreende-se que a «desobediência», no mistério do princípio, pressupõe, em certo sentido, a mesma «não-fé», aquele mesmo «não acreditaram», que se repetirá em relação ao mistério pascal. Como dizíamos, trata-se da rejeição ou, pelo menos, do afastamento da verdade contida na Palavra do Pai. Esta rejeição exprime-se, na prática, como «desobediência», por um acto realizado como efeito da tentação, que provém do «pai da mentira». 129 Na raiz do pecado humano está, portanto, a mentira como radical rejeição da verdade contida no Verbo do Pai, mediante o qual se exprime a omnipotência amorosa do Criador: a omnipotência e conjuntamente o amor «de Deus Pai, Criador do céu e da terra».

34. «O Espírito de Deus», que segundo a descrição bíblica da criação, «adejava sobre as águas», 130 indica o mesmo «Espírito que perscruta as profundezas de Deus»: perscruta as profundezas do Pai e do Verbo-Filho no mistério da criação. Não é somente a testemunha directa do seu recíproco amor, do qual deriva a criação, mas Ele próprio é esse Amor. Ele mesmo, como Amor, é o eterno Dom incriado. N'Ele está a fonte e o início de toda a boa dádiva para as criaturas. O testemunho do princípio, que encontramos em toda a Revelação, começando pelo Livro do Génesis, é unânime quanto a este ponto. Criar quer dizer chamar do nada à existência; portanto, criar quer dizer doar a existência. E se o mundo visível foi criado para o homem, é ao homem, portanto, que o mundo é doado. 131 E, simultaneamente, o mesmo homem recebe na sua própria humanidade, como dom, uma especial «imagem e semelhança» de Deus. Isto significa estar dotado não só de racionalidade e liberdade, como propriedade constitutiva da natureza humana, mas também de capacidade, desde o princípio, para uma relação pessoal com Deus, como «eu» e «tu» e, por conseguinte, capacidade de aliança, que se verificará com a comunicação salvífica de Deus ao homem. Com este pano de fundo da «imagem e semelhança de Deus», «o dom do Espírito» significa, afinal, chamamento à amizade, na qual as transcendentes «profundezas de Deus», são abertas, de algum modo, à participação por parte do homem. O Concílio Vaticano II ensina: «Deus invisível (cf. Col 1, 15; 1 Tim 1, 17), na riqueza do seu amor, fala aos homens como a amigos (cf. Ex 33, 11; Jo 15, 14-15) e conversa com eles (cf. Bar 3, 38), para os convidar e os admitir à comunhão com Ele». 132

(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
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Notas:
102 Cf. Jo 16, 7 s.
103 Jo 16, 7.
104 Jo 16, 8-11.
105 Cf. Jo 3, 17; 12, 47.
106 Cf. Ef 6, 12.
107 Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 2.
108 Cf. Ibid., 10, 13, 27, 37, 63, 73, 79 e 80.
109 Act 2, 4.
110 Cf 5. IRENEU, Adversus haereses III, 17, 2; SC 211, pp. 330-332.
111 Act 1, 4. 5. 8.
112 Act 2, 22-24.
113.Cf. Act 3, 14 s., 4, 10. 27s.; 7, 52, 10, 39; 13, 28s. etc.
114 Cf. Jo 3, 17; 12, 47.
115 Act 2, 36.
116 Act 2, 37 s.
117 Cf. Mc 1, 15.
118 Jo 20, 22.
119 Cf. Jo 16, 9.
120 Os 13, li Vg; cf. 1 Cor 15, 55.
121 Cf. 1 Cor 2, 10.
122 Cf. 2 Tess 2, 7.
123 Cf. 1 Tm 3, 16.
124 Cf. Reconciliatio et Paenitentia (2 de Dezembro de 1984), nn. 19-22: AAS 77 (1985), pp. 229-233.
125 Cf. Gén 1-3.
126 Cf. Rom 5, 19; Flp 2, 8.
127 Cf. Jo 1, 1. 2. 3. 10.
128 Cf. Col 1, 15-18.
129 Cf Jo 8, 44.
130 Cf. Gén 1, 2.
131 Cf. Gén 1, 26 28- 29
132 Const. dogm. sobre a Divina Revelação Dei Verbum, 2.

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