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28/04/2012

Tratado dos Anjos 24

Questão 56: Do conhecimento angélico dos seres imateriais.

Em seguida se tratará do conhecimento dos anjos quanto às coisas que conhecem. Primeiro, do conhecimento dos seres imateriais. Segundo, do conhecimento das coisas materiais.

Sobre o primeiro ponto três artigos se discutem:

Art. 1 — Se o anjo se conhece a si mesmo.
Art. 2 — Se um anjo conhece outro.
Art. 3 — Se os anjos, pelas suas faculdades naturais, podem conhecer a Deus.

Art. 1 — Se o anjo se conhece a si mesmo.

(II Cont. Gent., cap. XCVIII; De Verit., q. 8, a. 6; III De Anima, lect. IX; De Causis, lect. XIII)

O primeiro discute-se assim. — Parece que o anjo não se conhece a si mesmo.

1. — Pois, diz Dionísio que os anjos ignoram as próprias virtudes 1. Ora, conhecida a substância, conhecida está a virtude. Logo, o anjo não conhece a sua essência.

2. Demais. — O anjo é uma substância singular; do contrário, não agiria, pois, os actos são próprios dos seres singulares subsistentes. Ora, não sendo nenhum singular inteligível, não pode ser inteligido; e, assim, como o anjo só tem o conhecimento intelectual, nenhum anjo poderá conhecer-se a si mesmo.

3. Demais. — O intelecto move-se pelo inteligível, pois, o inteligir é certo modo de padecer, como diz Aristóteles 2. Ora, nada se move ou não por si mesmo, como se vê pelas coisas corpóreas. Logo, o anjo não pode inteligir-se a si mesmo.

Mas, em contrário, diz Agostinho, que o anjo, na sua própria conformação, isto é, na iluminação da verdade se conhece a si mesmo 3.

Como já ficou dito 4, o objecto comporta-se diferentemente em relação à acção imanente no sujeito e à transitiva para algo externo. Pois, nesta última, o objecto ou a matéria, para a qual passa o acto, é separada do agente, como, p. ex., o ser aquecido, do que aquece, e o edifício, do edificador. Mas, para que a acção imanente resulte, é necessário, que o objecto se una com o agente; assim, é necessário que o sensível se una com o sentido para que este se actualize. De modo que o objecto unido com a potência, está para tal acção como forma, princípio de acção nos outros agentes; pois, como o calor é o princípio formal da calefacção, no fogo, assim a espécie da coisa vista é o princípio formal da visão nos olhos.

Mas devemos considerar que tal espécie do objecto, ora está na faculdade cognoscitiva, em potência somente e, então, esta só em potência conhece; sendo, para que conheça em acto, é necessário que a faculdade cognoscitiva esteja reduzida ao acto da espécie. Se, porém, a faculdade tiver a espécie sempre em acto, então por esta pode conhecer sem nenhuma mutação ou recebimento precedente. Donde resulta que ser movido pelo objecto não é da essência do ser conhecente como tal, mas enquanto é potência cognoscitiva. E não importa para ser a forma princípio de ação, que ela própria seja às vezes inerente, e que seja por si subsistente; pois, o calor não aqueceria menos se fosse por si subsistente, do que aquece sendo inerente. Portanto, se há algum ser que, no género dos inteligíveis, se comporte como forma inteligível subsistente, esse intelige-se a si mesmo. O anjo, porém, sendo imaterial, é uma forma subsistente e, assim, inteligível em acto. Donde resulta que, pela sua forma, que é a sua substância, intelige-se a si mesmo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A citação é de antiga tradução, corrigida pela nova, que diz: além disso também eles mesmos, isto é., os anjos, terem conhecido as próprias virtudes; e em lugar disto estava na antiga tradução: e além disso eles ignorarem as próprias virtudes. Embora também se possa conservar a letra da antiga tradução, quanto a este ponto, que os anjos não conhecem perfeitamente a sua virtude, enquanto procedente da ordem da sabedoria divina, incompreensível para eles.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Nós não inteligimos as coisas corpóreas singularmente, não em razão da singularidade, mas da matéria que é nelas o princípio de individuação. Donde, se alguns seres singulares forem subsistentes, sem matéria, como os anjos, nada impede que sejam inteligíveis em acto.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Ser movido e padecer convém ao intelecto em potência; por isso, não tem lugar no intelecto angélico, sobretudo quanto ao inteligir-se este a si mesmo. Pois, a acção do intelecto não é da mesma natureza que a dos corpos, transeunte para outra matéria.

(Nota: Revisão da tradução para português por AMA)

S.TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica,

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Notas :
1. Angel. Hierarch., cap. VI.
2. III de anima (lect. VII).
3. II Super Genes. ad litteram (cap. VIII).
4. Q. 14, a. 2; q. 54, a. 2.

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