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24/04/2012

Tratado dos Anjos 20

Questão 54: Do conhecimento angélico.

Art. 5 — Se os anjos têm somente o conhecimento intelectual.

(III Cont. Gent., cap. CVIII; De Malo, q. 16, a. 1, ad 14)

O quinto discute-se assim. — Parece que os anjos não têm somente o conhecimento intelectual.

1. — Pois, diz Agostinho que nos anjos há a vida que intelige e sente 1. Logo, tem a potência sensitiva.

2. Demais. — Isidoro diz que os anjos conhecem muitas coisas por experiência 2. Ora, esta consta de muitos factos rememorados, como diz Aristóteles 3. Logo, têm eles também a potência memorativa.

3. Demais. — Dionísio diz que, nos demônios, a fantasia é proterva 4. Ora, a fantasia pertence à virtude imaginativa. E, pela mesma razão, os anjos, por serem da mesma natureza.

Mas, em contrário, diz Gregório que o homem sente, como os animais, e intelige, como os anjos.

A nossa alma tem certas potências, cujas operações se exercem por órgãos corpóreos; e tais operações são o acto de certas partes do corpo, como a visão o é dos olhos e a audição, dos ouvidos. Porém, ela tem certas faculdades, cujas operações não se exercem por órgãos corpóreos, como a inteligência e a vontade; e tais operações não são o acto de nenhuma parte do corpo. Ora, os anjos, não tendo corpos que lhes estejam naturalmente unidos, como no sobredito se colhe 5, só o intelecto e a vontade, dentre as faculdades humanas, lhes podem convir. E mesmo o Comentador reconhece que as substâncias separadas se dividem em inteligência e vontade 6. Pois, convém à ordem do universo que a suprema criatura intelectual o seja total e não parcialmente, como a nossa alma. E, por isso, os anjos são também chamados Intelectos e Inteligências, como já se disse antes 7.

E quanto às OBJECÇÕES em contrário pode responder-se-lhes de duplo modo. — Ou que as autoridades citadas seguem a opinião dos que ensinavam terem os anjos e os demónios corpos que lhes estão naturalmente unidos. E assim Agostinho, nos seus livros, usa frequentemente essa opinião, embora sem pretender afirmá-la; e por isso diz que não se deve gastar muito tempo com tal assunto. — Ou então, de outro modo, pode-se responder que tais autoridades, e outras semelhantes, devem ser interpretadas como por comparação. Pois, assim como o sentido tem apreensão certa do sensível próprio, assim é costume dizer-se que também o intelecto sente as coisas por uma apreensão certa, chamada, igualmente, sentença. Porém a experiência, podendo ser atribuída aos anjos, por semelhança das coisas conhecidas, não o pode pela virtude cognoscitiva. Assim, há em nós experiência quando conhecemos o singular pelos sentidos; mas os anjos, embora conheçam o singular, como a seguir se verá 8, não o conhecem pelos sentidos. Contudo podemos admitir a memória nos anjos, na acepção que Agostinho admite na nossa alma, se bem não lhes possa convir considerada como parte da alma sensitiva. Semelhantemente, a fantasia proterva é atribuída aos demónios por termo uma falsa estimação prática do verdadeiro bem; pois, o engano, em nós, resulta propriamente da fantasia, pela qual, à vezes, tomamos as semelhanças das coisas pelas próprias coisas, como acontece com os adormecidos e os loucos.

(Nota: Revisão da tradução para português por AMA)

S.TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica,

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Notas :
1. De civit. Dei, lib. VIII (cap. VI).
2. Sententiarum, c. X.
3. I Metaph. (lect. I).
4. De div. nom., c. IV (lect. XIX).
5. Q. 51, a. 1.
6. XII Metaphys. (comm. XXXVI).
7. Q. 54, a. 3, ad 1.
8. Q. 57, a. 2.

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