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16/04/2012

Leitura Espiritual para 16 Abr 2012

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 23, 33-49

33 Quando chegaram ao lugar que se chama Calvário, ali O crucificaram a Ele e aos ladrões, um à direita e outro à esquerda. 34 Jesus dizia: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem». Dividindo os Seus vestidos, sortearam-nos. 35 O povo estava a observar. Os príncipes dos sacerdotes com o povo O escarneciam, dizendo: «Salvou os outros, salve-Se a Si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de Deus». 36 Também O insultavam os soldados que, aproximando-se d'Ele e oferecendo-Lhe vinagre, 37 diziam: «Se és o rei dos Judeus, salva-Te a Ti mesmo!». 38 Estava também por cima da Sua cabeça uma inscrição: «Este é o Rei dos Judeus». 39 Um daqueles ladrões que estavam suspensos da cruz, blasfemava contra Ele, dizendo: «Se és o Cristo, salva-Te a Ti mesmo e a nós». 40 O outro, porém, tomando a palavra, repreendia-o, dizendo: «Nem tu temes a Deus, estando no mesmo suplício? 41 Quanto a nós fez-se justiça, porque recebemos o castigo que mereciam as nossas acções, mas Este não fez nenhum mal». 42 E dizia a Jesus: «Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu reino». 43 Jesus disse-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso». 44 Era então quase a hora sexta, e toda a terra ficou coberta de trevas até à hora nona; 45 escureceu-se o sol e rasgou-se pelo meio o véu do templo. 46 Jesus, exclamando em alta voz, disse: «Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito». Dizendo isto, expirou. 47 O centurião, vendo o que tinha acontecido, glorificou a Deus, dizendo: «Na verdade este homem era justo!». 48 E toda a multidão que assistiu a este espectáculo, e viu o que sucedera, retirava-se batendo no peito. 49 Todos os conhecidos de Jesus, e as mulheres que O tinham seguido desde a Galileia, se mantinham à distância observando estas coisas.


 


Ioannes Paulus PP. II
Redemptor hominis
aos veneráveis Irmãos no Episcopado
aos Sacerdotes
às Famílias religiosas
aos Filhos e Filhas da Igreja
e a todos os Homens de Boa Vontade
no início do Seu Ministério Pontifical

1979.03.04

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15. De que é que o homem contemporâneo tem medo

Conservando, pois, viva na memória a imagem que de maneira tão perspicaz e autorizada traçou o Concílio Vaticano II, procuraremos, uma vez mais ainda, adaptar este quadro aos «sinais dos tempos», bem como às exigências da situação que muda continuamente e evolui em determinadas direcções.

O homem de hoje parece estar sempre ameaçado por aquilo mesmo que produz; ou seja, pelo resultado do trabalho das suas mãos e, ainda mais, pelo resultado do trabalho da sua inteligência e das tendências da sua vontade. Os frutos desta multiforme actividade do homem, com muita rapidez e de modo muitas vezes imprevisível, passam a ser, não tanto objecto de «alienação», no sentido de que são simplesmente tirados àquele que os produz, quanto, ao menos parcialmente e num círculo consequente e indirecto dos seus efeitos, tais frutos se voltam contra o próprio homem. Eles passam então, de facto, a ser dirigidos, ou podem ser dirigidos contra o homem. E nisto assim parece consistir o capítulo principal do drama da existência humana contemporânea na sua mais ampla e universal dimensão. O homem, portanto, cada vez mais vive com medo. Ele teme que os seus produtos, naturalmente não todos e não na maior parte, mas alguns e precisamente aqueles que encerram uma especial porção da sua genialidade e da sua iniciativa, possam ser voltados de maneira radical contra si mesmo; teme que eles possam tornar-se meios e instrumentos de uma inimaginável autodestruição, perante a qual todos os cataclismos e as catástrofes da história, que nós conhecemos, parecem ficar a perder de vista. Deve pôr-se, portanto, uma interrogação: porque razão, um tal poder, dado desde o princípio ao homem, poder mediante o qual ele devia dominar a terra, 98 se volta assim contra ele, provocando um compreensível estado de inquietude, de consciente ou inconsciente medo, e de ameaça que de diversas maneiras se comunica a toda a família humana contemporânea e se manifesta sob vários aspectos?

Este estado de ameaça contra o homem, da parte dos seus próprios produtos, tem várias direcções e vários graus de intensidade. Parece que estamos cada vez mais cônscios do facto de a exploração da terra, do planeta em que vivemos, exigir um planeamento racional e honesto. Ao mesmo tempo, tal exploração para fins não somente industriais mas também militares, o desenvolvimento da técnica não controlado nem enquadrado num plano com perspectivas universais e autenticamente humanístico, trazem muitas vezes consigo a ameaça para o ambiente natural do homem, alienam-no nas suas relações com a natureza e apartam-no da mesma natureza. E o homem parece muitas vezes não dar-se conta de outros significados do seu ambiente natural, para além daqueles somente que servem para os fins de um uso ou consumo imediatos. Quando, ao contrário, era vontade do Criador que o homem comunicasse com a natureza como «senhor» e «guarda» inteligente e nobre, e não como um «desfrutador» e «destrutor» sem respeito algum.

O progresso da técnica e o desenvolvimento da civilização do nosso tempo, que é marcado aliás pelo predomínio da técnica, exigem um proporcional desenvolvimento também da vida moral e da ética. E no entanto este último, infelizmente, parece ficar sempre atrasado. Por isso, este progresso, de resto tão maravilhoso, em que é difícil não vislumbrar também os autênticos sinais da grandeza do mesmo homem, os quais, em seus germes criativos, já nos são revelados nas páginas do Livro do Génesis, na descrição da sua mesma criação, 99 este progresso não pode deixar de gerar multíplices inquietações. Uma primeira inquietação diz respeito à questão essencial e fundamental: Este progresso, de que é autor e fautor o homem, torna de facto a vida humana sobre a terra, em todos os seus aspectos, «mais humana»? Torna-a mais «digna do homem»? Não pode haver dúvida de que, sob vários aspectos, a torna de facto tal. Esta pergunta, todavia, retorna obstinadamente e pelo que respeita àquilo que é essencial em sumo grau: se o homem, enquanto homem, no contexto deste progresso, se torna verdadeiramente melhor, isto é, mais amadurecido espiritualmente, mais consciente da dignidade da sua humanidade, mais responsável, mais aberto para com o outros, em particular para com os mais necessitados e os mais fracos, e mais disponível para proporcionar e prestar ajuda a todos.

Esta é a pergunta que os cristãos devem pôr-se, precisamente porque Cristo os sensibilizou assim de modo universal quanto ao problema do homem. E a mesma pergunta devem também pôr-se todos os homens, especialmente aqueles que fazem parte daqueles ambientes sociais que se dedicam activamente ao desenvolvimento e ao progresso nos nossos tempos. Ao observar estes processos e tomando parte neles, não podemos deixar que se aposse de nós a euforia, nem podemos deixar-nos levar por um unilateral entusiasmo pelas nossas conquistas; mas todos devemos pôr-nos, com absoluta lealdade, objectividade e sentido de responsabilidade moral, as perguntas essenciais pelo que se refere à situação do homem, hoje e no futuro. Todas as conquistas alcançadas até agora, bem como as que estão projectadas pela técnica para o futuro, estão de acordo com o progresso moral e espiritual do homem? Neste contexto o homem, enquanto homem, desenvolve-se e progride, ou regride e degrada-se na sua humanidade? Prevalece nos homens, «no mundo do homem» — que é em si mesmo um mundo de bem e de mal moral — o bem ou o mal? Crescem verdadeiramente nos homens, entre os homens, o amor social, o respeito pelos direitos de outrem — de todos e de cada um dos homens, de cada nação, de cada povo — ou, pelo contrário, crescem os egoísmos de vário alcance, os nacionalismos exagerados em vez do autêntico amor da pátria, e, ainda, a tendência para dominar os outros, para além dos próprios e legítimos direitos e méritos, e a tendência para desfrutar de todo o progresso material e técnico-produtivo exclusivamente para o fim de predominar sobre os outros, ou em favor deste ou daqueloutro imperialismo?

Eis as interrogações essenciais que a Igreja não pode deixar de pôr-se, porque, de maneira mais ou menos explícita, as põem a si próprios biliões de homens que vivem hoje no mundo. O tema do desenvolvimento e do progresso anda nas bocas de todos e aparece nas colunas de todos os jornais e nas publicações, em quase todas as línguas do mundo contemporâneo. Não esqueçamos, todavia, que este tema não contém somente afirmações e certezas mas também perguntas e angustiosas inquietudes. Estas últimas não são menos importantes do que as primeiras. Elas correspondem à natureza dialéctica fundamental da solicitude do homem pelo homem, pela sua própria humanidade e pelo futuro dos homens sobre a face da terra. A Igreja, que é animada pela fé escatológica, considera esta solicitude pelo homem, pela sua humanidade e pelo futuro dos homens sobre a face da terra e, por consequência, pela orientação de todo o desenvolvimento e progresso, como um elemento essencial da sua missão, indissoluvelmente ligado com ela. E o princípio de uma tal solicitude encontra-o a mesma Igreja no próprio Jesus Cristo, como testemunham os Evangelhos. E é por isso mesmo que ela deseja acrescê-la continuamente n'Ele, ao reler a situação do homem no mundo contemporâneo, segundo os mais importantes sinais do nosso tempo.

16. Progresso ou ameaça?

Se, portanto, o nosso tempo, o tempo da nossa geração, o tempo que se vai aproximando do fim do segundo Milénio da nossa era cristã, se nos manifesta como um tempo de grande progresso, ele apresenta-se também como um tempo de multiforme ameaça contra o homem, da qual a Igreja deve falar a todos os homens de boa vontade e sobre a qual ela deve constantemente dialogar com eles. A situação do homem no mundo contemporâneo, de facto, parece estar longe das exigências objectivas da ordem moral, assim como das exigências da justiça e, mais ainda, do amor social. Não se trata aqui senão daquilo que teve a sua expressão na primeira mensagem do Criador dirigida ao homem no momento em que lhe dava a terra, para que ele a «dominasse». 100 Esta primeira mensagem de Deus foi confirmada depois, no mistério da Redenção, por Cristo Senhor. Isto foi expresso pelo Concílio Vaticano II naqueles belíssimos capítulos do seu ensino que dizem respeito à «realeza» do homem, isto é, à sua vocação para participar na função real — o «munus regale» — do mesmo Cristo. 101 O sentido essencial desta «realeza» e deste «domínio» do homem sobre o mundo visível, que lhe foi confiado como tarefa pelo próprio Criador, consiste na prioridade da ética sobre a técnica, no primado da pessoa sobre as coisas e na superioridade do espírito sobre a matéria.

É por isso mesmo que é necessário acompanhar atentamente todas as fases do progresso hodierno: é preciso, por assim dizer, fazer a radiografia de cada uma das suas etapas exactamente deste ponto de vista. Está em causa o desenvolvimento da pessoa e não apenas a multiplicação das coisas, das quais as pessoas podem servir-se. Trata-se — como disse um filósofo contemporâneo e como afirmou o Concílio — não tanto de «ter mais», quanto de «ser mais». 102 Com efeito, existe já um real e perceptível perigo de que, enquanto progride enormemente o domínio do homem sobre o mundo das coisas, ele perca os fios essenciais deste seu domínio e, de diversas maneiras, submeta a elas a sua humanidade, e ele próprio se torne objecto de multiforme manipulação, se bem que muitas vezes não directamente perceptível; manipulação através de toda a organização da vida comunitária, mediante o sistema de produção e por meio de pressões dos meios de comunicação social. O homem não pode renunciar a si mesmo, nem ao lugar que lhe compete no mundo visível; ele não pode tornar-se escravo das coisas, escravo dos sistemas económicos, escravo da produção e escravo dos seus próprios produtos. Uma civilização de feição puramente materialista condena o homem a tal escravidão, embora algumas vezes, indubitavelmente, isso aconteça contra as intenções e as mesmas premissas dos seus pioneiros. Na raiz da actual solicitude pelo homem está sem dúvida alguma este problema. E não é questão aqui somente de dar uma resposta abstracta à pergunta: quem é o homem; mas trata-se de todo o dinamismo da vida e da civilização. Trata-se do sentido das várias iniciativas da vida quotidiana e, ao mesmo tempo, das premissas para numerosos programas de civilização, programas políticos, económicos, sociais, estatais e muitos outros.

Se nós ousamos definir a situação do homem contemporâneo como estando longe das exigências objectivas da ordem moral, longe das exigências da justiça e, ainda mais, do amor social, é porque isto é confirmado por factos bem conhecidos e por confrontos que se podem fazer e que, por mais de uma vez, já tiveram ressonância directa nas páginas das enunciações pontifícias, conciliares e sinodais. 103 A situação do homem na nossa época não é certamente uniforme, mas sim diferenciada de múltiplas maneiras. Estas diferenças têm as suas causas históricas, mas também têm uma forte ressonância ética. É assaz conhecido, de facto, o quadro da civilização consumista, que consiste num certo excesso de bens necessários ao homem e a sociedades inteiras — e aqui trata-se exactamente das sociedades ricas e muito desenvolvidas — enquanto que as restantes sociedades, ao menos largos estratos destas, sofrem a fome, e muitas pessoas morrem diariamente por desnutrição ou inacção. Simultaneamente sucede que se dá por parte de uns um certo abuso da liberdade, que está ligado precisamente a um modo de comportar-se consumista, não controlado pela ética, enquanto isso limita contemporaneamente a liberdade dos outros, isto é, daqueles que sofrem notórias carências e se vêem empurrados para condições de ulterior miséria e indigência.

Este confronto, universalmente conhecido, e o contraste a que dedicaram a sua atenção, nos documentos do seu magistério, os Sumos Pontífices do nosso século, mais recentemente João XXIII assim como Paulo VI, 104 representam como que um gigantesco desenvolvimento da parábola bíblica do rico avarento e do pobre Lázaro. 105

A amplitude do fenómeno põe em questão as estruturas e os mecanismos financeiros, monetários, produtivos e comerciais, que, apoiando-se em diversas pressões políticas, regem a economia mundial: eles demonstram-se como que incapazes, quer para reabsorver as situações sociais injustas, herdadas do passado, quer para fazer face aos desafios urgentes e às exigências éticas do presente. Submetendo o homem às tensões por ele mesmo criadas, dilapidando, com um ritmo acelerado, os recursos materiais e energéticos e comprometendo o ambiente geofísico, tais estruturas dão azo a que se estendam incessantemente as zonas de miséria e, junto com esta, a angústia, a frustração e a amargura. 106

Encontramo-nos aqui perante o grande drama, que não pode deixar ninguém indiferente. O sujeito que, por um lado, procura auferir o máximo proveito, bem como aquele que, por outro lado, paga as consequências dos danos e das injúrias, é sempre o homem. E tal drama é ainda mais exacerbado pela proximidade com os estratos sociais privilegiados e com os países da opulência, que acumulam os bens num grau excessivo e cuja riqueza se torna, muitas vezes por causa do abuso, motivo de diversos mal-estares. A isto ajuntem-se a febre da inflação e a praga do desemprego: e eis outros sintomas de tal desordem moral, que se faz sentir na situação mundial e que exige por isso mesmo resoluções audaciosas e criativas, conformes com a autêntica dignidade do homem. 107

Uma tal tarefa não é impossível de realizar. O princípio de solidariedade, em sentido lato, deve inspirar a busca eficaz de instituições e de mecanismos apropriados: quer se trate do sector dos intercâmbios, em que é necessário deixar-se conduzir pelas leis de uma sã competição, quer se trate do plano de uma mais ampla e imediata redistribuição das riquezas e dos controlos sobre as mesmas, a fim de que os povos que se encontram em vias de desenvolvimento económico possam, não apenas satisfazer às suas exigências essenciais, mas também progredir gradual e eficazmente.

Não será fácil avançar, porém, neste difícil caminho, no caminho da indispensável transformação das estruturas da vida económica, se não intervier uma verdadeira conversão das mentes, das vontades e dos corações. A tarefa exige a aplicação decidida de homens e de povos livres e solidários. Com muita frequência se confunde a liberdade com o instinto do interesse individual e colectivo, ou ainda com o instinto de luta e de domínio, quaisquer que sejam as cores ideológicas de que eles se revistam. E óbvio que esses instintos existem e operam; mas não será possível ter-se uma economia verdadeiramente humana, se eles não forem assumidos, orientados e dominados pelas forças mais profundas que se encontram no homem, e que são aquelas que decidem da verdadeira cultura dos povos. E é precisamente destas fontes que deve nascer o esforço, no qual se exprimirá a verdadeira liberdade do homem, e que será capaz de a assegurar também no campo económico. O desenvolvimento económico, conjuntamente com tudo aquilo que faz parte do seu modo próprio e adequado de funcionar, tem de ser constantemente programado e realizado dentro de uma perspectiva de desenvolvimento universal e solidário dos homens tomados singularmente e dos povos, conforme recordava de maneira convincente o meu Predecessor Paulo VI na Encíclica Populorum Progressio. Sem isso, a simples categoria do «progresso económico» torna-se uma categoria superior, que passa a subordinar o conjunto da existência humana às suas exigências parciais, sufoca o homem, desagrega as sociedades e acaba por desenvolver-se nas suas próprias tensões e nos seus mesmos excessos.

É possível assumir este dever; testemunham-no os factos certos e os resultados, que é difícil enumerar aqui de maneira mais pormenorizada. E uma coisa, contudo, é certa: na base deste campo gigantesco é necessário estabelecer, aceitar e aprofundar o sentido da responsabilidade moral, que tem de assumir o homem. Ainda uma vez e sempre, o homem. Para nós cristãos uma tal responsabilidade torna-se particularmente evidente, quando recordamos — e devemos recordá-lo sempre — a cena do juízo final, segundo as palavras de Cristo, referidas no Evangelho de São Mateus. l08

Essa cena escatológica tem de ser sempre «aplicada» à história do homem, deve ser sempre tomada como «medida» dos actos humanos, como um esquema essencial de um exame de consciência para cada um e para todos: «Tive fome e não Me destes de comer...; estava nu e não Me vestistes...; estava na prisão e não fostes visitar-Me ». 109 Estas palavras adquirem um maior cunho de admoestação ainda, se pensamos que, em vez do pão e da ajuda cultural a novos estados e nações que estão a despertar para a vida independente, algumas vezes, se lhes oferecem, não raro com abundância, armas modernas e meios de destruição, postos ao serviço de conflitos armados e de guerras, que não são tanto uma exigência da defesa dos seus justos direitos e da sua soberania, quanto sobretudo uma forma de «chauvinismo», de imperialismo e de neo-colonialismo de vários géneros. Todos sabemos bem que as zonas de miséria ou de fome, que existem no nosso globo, poderiam ser «fertilizadas» num breve espaço de tempo, se os gigantescos investimentos para os armamentos, que servem para a guerra e para a destruição, tivessem sido em contrapartida convertidos em investimentos para a alimentação, que servem para a vida.

Esta consideração talvez permaneça parcialmente «abstracta»; talvez dê azo a uma e à outra «parte» para se acusar reciprocamente, esquecendo, cada qual, as próprias culpas; talvez provoque mesmo novas acusações contra a Igreja.

Esta, porém, não dispondo de outras armas, senão das do espírito, das armas da palavra e do amor, não pode renunciar a pregar a Palavra, insistindo oportuna e inoportunamente. 110 Por isso, ela não cessa de solicitar a cada uma das partes e de pedir a todos, em nome de Deus e em nome do homem: Não mateis! Não prepareis para os homens destruições e extermínio! Pensai nos vossos irmãos que sofrem a fome e a miséria! Respeitai a dignidade e a liberdade de cada um!

Copyright © Libreria Editrice Vaticana

(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
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Notas (em latim):
(98) Cfr. Gen 1, 28.
(99) Cfr. Gen 1-2.
(100) Gen 1, 28; cfr. Conc. Oecum. Vat. II, Decr. de iustrumentis communicationis socialis Inter Mirifica, 6: AAS 50 (1964), p. 147; Const. past. de Ecclesia in mundo huius temporis Gaudium et Spes, 74, 78: AAS 58 (1966), pp. 1095 s.; 1101 a.
(101) Cfr. Const. dogm. de Ecclesia Lumen Gentium, 10; 36: AAS 57 (1965), pp. 14 s.; 41 s.
(102) Cfr. Const. past. de Ecclesia in mundo huius temporis Gaudium et Spes, 35: AAS 58 (1966), p. 1053; Paulus PP. VI, Allocutio ad Viros e Legatorum Coetu, 7 Ian. 1965: AAS 57 (1965), p. 232; Litt. Encycl. Populorum Progressio, 14: AAS 59 (1967), p. 264.
(103) Cfr. Plus PP. XII, Nuntius radiophonicus, quinquagesimo exacto anno a Litteris Encyclicis «Rerum Novarum » a Leone PP. XIII datis (1 Iun. 1941): AAS 33 (1941), pp. 195-205; Nuntius radiophonicus in pervigilio Nativitatis D. N. Iesu Christi universo orbi datus (24 Dec. 1941): AAS 34 (1942), PP. 10-21; Nuntius radiophonicus in pervigilio Nativitatis D. N. Iesu Christi universo orbi datus (24 Dec. 1942): AAS 35 (1943),- pp. 9-24; Nuntius radiophonicus in pervigilio Nativitatis D. N. Iesu Christi universo orbi datus (24 Dee. 1943): AAS 36 (1944), pp. 11-24; Nuntius radlophonleus in pervigilio Nativitatis D. N. Iesu Christi universo orbi datus (24 Dec. 1944):AAS 37 (1945), pp. 10-23; Sermo, astantibus PP. Cardinalibus, habitus (24 Dec. 1945): AAS 38 (1946), pp. 15-25; Allocutio, astantibus PP. Cardinalibus, habita (24 Dec. 1946) : AAS 39 (1947), pp. 7-17; Nuntius radiophonieus in pervigilio Nativitatis D. N. Iesu Christi universo orbi datus (24 Dee. 1947): AAS 40 (1948), pp. 8-16; Ioannes PP. XXIII, Lltt. Enc.Mater et Magistra: AAS 53 (1961), pp. 401-464; Litt. Enc. Pacem in terris: AAS 55 (1963), pp. 257304; Paulus PP. VI, Litt. Enc. Ecclesiam Suam: AAS 56 (1964), pp. 609-659; Allocutio in Consilio Nationum Unitarum habita (4 Oct. 1965) : AAS 57 (1965), pp. 877-885; Lltt. Enc. Populorum Progressio: AAS 59 (1967), pp. 257-299; Allocutio ad Columbianos agricultores v. d. « campesinos » habita (23 Aug. 1968) : AAS 60 (1968), pp. 619-623; Allocutio ad Praesules ex Amerieue Latinae regionibus habita (24 Aug. 1968): AAS 60 (1968), pp. 639-649; Allocutio Romae habita ad Consilium v. d. « Food and Agriculture Organization » (F.A.O.) (16 Nov. 1970) : AAS 62 (1970), pp. 830-814; Ep. Apost. Octogesima Adveniens: AAS 63 (1971), pp. 401-441; Allocutio ad Sacri Collegii Patres habita (23 lun. 1972): AAS 64 (1972), pp. 496-505; Ioannes Paulus PP. II, Allocutio ad III Coetum Generalem Episcoporum Americae Latinae (28 Ian. 1979): AAS 71 (1979), pp. 187 ss.; Allocutio ad « Indios », quos vulgari lingua appellant, in pago Cuilapan prole urbem Oaxacam (29 Ian. 1979) : loc. cit., pp. 207 ss.; Allocutio ad operarios in urbe Guadalaiara habita (30 Ian. 1979) : loc. cit., pp. 221 ss.; Allocutio ad operarlos in urbe Monterreyensl habita (31 Ian. 1979) loc. cit., pp. 240 ss.; Conc. Oecum. Vat. II, Declaratio de libertate religiosa Dignitatis Humanae: AAS 58 (1966), pp. 929-941; Const. past. de Ecclesia in mundo huius temporis Gaudium et Spes: AAS 58 (1966), pp. 1025-1115; Documenta Synodi Episcoporum, De iustitia in mando: AAS 63 (1971), pp. 923-941.
(104) Cfr. Ioannes PP. XXIII, Litt. Enc. Mater et Magistra: AAS 53 (1961), pp. 418ss.; Litt. Enc. Pacem in terris: AAS 55 (1963), pp. 289 ss.; Paulus PP. VI, Litt. Enc. Populorum Progressio: AAS 59 (1967), pp. 257-299.
(105) Cfr. Lc 16, 19-31.
(106) Ioannes Paulus PP. II, Homilia habita Dominicopoli (25 Ian. 1979) n. 3: AAS. 71 (1979), pp. 157 ss.; Allocutio habita ad «Indios», quos v. d., probe urbem Oaxaeam (30 Ian. 1979) n. 2: loc. cit., pp. 207ss.; Allocutio ad operarios in urbe Monterreyensi habita (31 Ian. 1979), n. 4 : loc. cit., p. 241 s.
(107) Cfr. Paulus PP. VI, Ep. Apost. Octogesima Adveniens, n. 42: AAS 63 (19711, p. 431.
(108) Cfr. Mt 25, 31-46.
(109) Mt 25, 42. 43. 39.
(110) 2 Tim 4, 2. 40 s.

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