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14/04/2012

Leitura Espiritual para 14 Abr 2012

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 22, 63; 23, 1-12

63 Entretanto os homens que guardavam Jesus, escarneciam d'Ele, batendo-Lhe. 64 Vendaram-Lhe os olhos e interrogavam-n'O: «Adivinha, quem é que Te bateu?». 65 E proferiam muitas outras injúrias contra Ele. 66 Quando foi dia, juntaram-se os anciãos do povo, os príncipes dos sacerdotes e os escribas. Levaram-n'O ao seu tribunal e disseram-Lhe: «Se Tu és o Cristo, declara-o». 67 Ele respondeu-lhes: «Se Eu vo-lo disser não Me acreditareis; 68 também se vos fizer qualquer pergunta, não Me respondereis. 69 Mas, doravante o Filho do Homem estará sentado à direita do poder de Deus». 70 Então disseram todos: «Logo Tu és o Filho de Deus?». Ele respondeu: «Vós o dizeis, Eu sou». 71 Então eles disseram: «Que necessidade temos ainda de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da Sua boca!».
Lc 23 1 Levantando-se toda a multidão, levaram-n'O a Pilatos. 2 Começaram a acusá-l'O, dizendo: «Encontrámos este homem sublevando a nossa nação, proibindo dar tributo a César e dizendo que é o Messias». 3 Pilatos interrogou-O: «Tu és o rei dos judeus?». Ele, respondendo, disse: «Tu o dizes». 4 Então Pilatos disse aos príncipes dos sacerdotes e ao povo: «Não encontro neste homem crime algum». 5 Porém, eles insistiam cada vez mais, dizendo: «Ele subleva o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia, onde começou, até aqui!». 6 Pilatos, ouvindo falar da Galileia, perguntou se aquele homem era galileu. 7 Quando soube que era da jurisdição de Herodes, remeteu-o a Herodes, que, naqueles dias, se encontrava também em Jerusalém. 8 Herodes, ao ver Jesus, ficou muito contente porque havia muito tempo tinha desejo de O ver, por ter ouvido d'Ele muitas coisas, e esperava vê-l'O fazer algum milagre. 9 Fez-Lhe muitas perguntas. Mas Ele nada respondeu. 10 Estavam presentes os príncipes dos sacerdotes e os escribas, acusando-O com grande insistência. 11 Herodes com os seus guardas desprezou-O, fez escárnio d'Ele, mandando-O vestir com uma túnica branca, e remeteu-O a Pilatos. 12 Naquele dia ficaram amigos Herodes e Pilatos, porque antes eram inimigos um do outro.




 Ioannes Paulus PP. II

Redemptor hominis
aos veneráveis Irmãos no Episcopado
aos Sacerdotes
às Famílias religiosas
aos Filhos e Filhas da Igreja
e a todos os Homens de Boa Vontade
no início do Seu Ministério Pontifical

1979.03.04

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6. Caminho para a união dos cristãos

E que dizer de todas aquelas iniciativas que se originaram da nova orientação ecuménica? O inesquecível Papa João XXIII, com clareza evangélica, pôs e enquadrou o problema da união dos cristãos como simples consequência da vontade do próprio Jesus Cristo, nosso Mestre, afirmada por mais de uma vez e expressa, de modo particular, durante a oração no Cenáculo, na véspera da sua morte: «Rogo... Pai... que todos sejam uma só coisa». 18 E o Concílio Vaticano II respondeu a esta exigência de forma concisa com o Decreto sobre o Ecumenismo. O Papa Paulo VI, por sua vez, valendo-se da colaboração do Secretariado para a União dos Cristãos, começou a dar os primeiros difíceis passos na caminhada para o conseguimento de uma tal união.

Já teríamos andado muito nesta caminhada? Sem querer dar uma resposta pormenorizada, podemos dizer que fizemos verdadeiros e importantes progressos. E uma coisa é certa: temos trabalhado com perseverança e coerência; e conjuntamente connosco têm vindo a aplicar-se também os representantes de outras Igrejas e de outras Comunidades cristãs, pelo que lhes estamos sinceramente obrigados. Depois, é certo também que na presente situação histórica da cristandade e do mundo, não se apresenta outra possibilidade para se cumprir a missão universal da Igreja pelo que respeita aos problemas ecuménicos, senão esta: procurar lealmente, com perseverança, com humildade e também com coragem as vias de aproximação e de união daquele modo que nos deixou o exemplo pessoal o Papa Paulo VI. Devemos buscar a união, portanto, sem nos deixarmos vencer pelo desânimo perante as dificuldades que se possam apresentar ou acumular ao longo de tal caminho; caso contrário, não seríamos fiéis à palavra de Cristo, não executaríamos o Seu testamento. E será lícito correr um tal risco?

Há pessoas que, encontrando-se diante das dificuldades, ou julgando negativos os resultados dos trabalhos iniciais no campo ecuménico, teriam tido vontade de voltar atrás. Há mesmo alguns que exprimem a opinião de que estes esforços são nocivos para a causa de Evangelho e levam a uma ulterior ruptura na Igreja, provocam a confusão de ideias nas questões da fé e da moral e vão desembocar a um específico indiferentismo. Talvez seja um bem que os porta-voz de tais opiniões exprimam os seus receios; no entanto, também pelo que se refere a este ponto, é necessário manter-se dentro dos devidos limites. É claro que esta nova fase da vida da Igreja exige de nós uma fé particularmente consciente, aprofundada e responsável. A verdadeira actividade ecuménica comporta abertura, aproximação, disponibilidade para o diálogo e busca em comum da verdade no pleno sentido evangélico e cristão; mas tal actividade de maneira nenhuma significa nem pode significar renunciar ou causar dano de qualquer modo aos tesouros da verdade divina, constantemente confessada e ensinada pela Igreja.

A todos aqueles que, por qualquer motivo, quereriam dissuadir a Igreja de buscar a unidade universal dos cristãos, é necessário repetir ainda uma vez: Ser-nos-á lícito deixar de o fazer? Poderemos nós — não obstante toda a fraqueza humana, todas as deficiências acumuladas nos séculos passados — não ter confiança na graça de Nosso Senhor, tal como ela se manifestou nos últimos tempos, mediante a palavra do Espírito Santo, que ouvimos durante o Concílio? Se procedêssemos assim, negaríamos a verdade que diz respeito a nós mesmos e que o Apóstolo expressou de maneira tão eloquente: «Pela graça de Deus sou aquilo que sou, e a graça que Ele me conferiu não foi estéril em mim». 19

Se bem que de um modo diverso e com as devidas diferenças, importa aplicar isto que acabámos de dizer agora à actividade que intenta a aproximação com os representantes das religiões não cristãs e que se exprime também ela através do diálogo, dos contactos, da oração em comum e da busca dos tesouros da espiritualidade humana, os quais, como bem sabemos, não faltam também aos membros destas religiões. Não acontece, porventura, algumas vezes, que a crença firme dos sequazes das religiões não cristãs — crença que é efeito também ela do Espírito da verdade operante para além das fronteiras visíveis do Corpo Místico — deixa confundidos os cristãos, não raro tão dispostos, por sua vez, a duvidar quanto às verdades reveladas por Deus e anunciadas pela Igreja, e tão propensos ao relaxamento dos princípios da moral e a abrir o caminho ao permissivismo ético? É nobre o estar predisposto para compreender cada um dos homens, para analisar todos os sistemas e para dar razão àquilo que é justo; isso, porém, não significa absolutamente perder a certeza da própria fé 20 ou então enfraquecer os princípios da moral, cuja falta bem depressa se fará ressentir na vida de inteiras sociedades, causando aí, além do mais, deploráveis consequências.

II. O MISTÉRIO DA REDENÇÃO

 7. No Mistério de Cristo

Entretanto, se as vias a seguir, para as quais o Concílio do nosso século orientou a Igreja, vias que nos indicou na sua primeira Encíclica o saudoso Papa Paulo VI, permanecerão de modo duradoiro exactamente as vias que nós todos devemos seguir, ao mesmo tempo nesta nova fase podemos justamente interrogar-nos: Como? De que maneira será conveniente prosseguir? O que será necessário fazer, para que este novo advento da Igreja, conjugado com o já iminente fim do segundo Milénio, nos aproxime d'Aquele que a Sagrada Escritura chama «Pai perpétuo», Pater futuri saeculi? 21 Esta é a pergunta fundamental que o novo Sumo Pontífice tem de pôr-se, a partir do momento em que aceitou, em espírito de obediência de fé, o chamamento em conformidade com a ordem mais de uma vez dirigida a Pedro: «Apascenta os meus cordeiros»; 22 o que quer dizer: «Sê pastor do meu rebanho»; e depois: «... e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos». 23

É precisamente aqui neste ponto, caríssimos Irmãos, Filhos e Filhas, que se impõe uma resposta fundamental e essencial, a saber: a única orientação do espírito, a única direcção da inteligência, da vontade e do coração para nós é esta: na direcção de Cristo, Redentor do homem; na direcção de Cristo, Redentor do mundo. Para Ele queremos olhar, porque só n'Ele, Filho de Deus, está a salvação, renovando a afirmação de Pedro: «Para quem iremos nós, Senhor? Tu tens as palavras de vida eterna». 24

Através da consciência da Igreja, tão desenvolvida pelo Concílio, através de todos os graus desta consciência, através de todos os campos de actividade onde a Igreja se afirma presente, se encontra e se consolida, devemos tender constantemente para Aquele «que é a Cabeça», 25 para «Aquele de quem tudo provém e nós somos criados para Ele», 26 para Aquele que é, ao mesmo tempo, «o caminho e a verdade» 27 e «a ressurreição e a vida», 28 para Aquele ao ver o Qual vemos o Pai, 29 para Aquele, enfim, que devia ir, deixando-nos 30 — entende-se aqui a alusão à sua morte na Cruz e depois à sua Ascensão ao Céu — para que o Consolador viesse a nós e continue a vir constantemente como o Espírito da verdade. 31 N'Ele estão «todos os tesouros da sabedoria e da ciência» 32 e a Igreja é o seu Corpo. 33 A Igreja «em Cristo é como que um sacramento, ou sinal, e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano»; 34 e disto é Ele a fonte! Ele mesmo! Ele o Redentor!

A Igreja não cessa de ouvir as suas palavras, continuamente as relê e reconstrói com a máxima devoção todos os pormenores da sua vida. Estas palavras são escutadas também pelos não cristãos. A vida de Cristo fala ao mesmo tempo também a muitos homens que ainda não se acham em condições de repetir com Pedro: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo». 35 Ele, Filho de Deus vivo, fala aos homens também como Homem: é a sua própria vida que fala, a sua humanidade, a sua fidelidade à verdade e o seu amor que a todos abraça. Fala, ainda, a sua morte na Cruz, isto é, a imperscrutável profundidade do seu sofrimento e do seu abandono. A Igreja não cessa nunca de reviver a sua morte na Cruz e a sua Ressurreição que constituem o conteúdo da vida quotidiana da mesma Igreja. De facto, é por mandato do próprio Cristo, seu Mestre, que a Igreja celebra incessantemente a Eucaristia, encontrando nela «a fonte da vida e da santidade», 36 o sinal eficaz da graça e da reconciliação com Deus e o penhor da vida eterna. A Igreja vive o seu mistério e nele vai aurir sem jamais se cansar, e busca continuamente as vias para tornar este mistério do seu Mestre e Senhor próximo do género humano: dos povos, das nações, das gerações que se sucedem e de cada um dos homens em particular, como se repetisse sempre, seguindo o exemplo do Apóstolo: «Tomei a resolução de não saber, entre vós, outra coisa, a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado». 37 A Igreja permanece na esfera do mistério da Redenção, que se tornou precisamente o princípio fundamental da sua vida e da sua missão.

8. Redenção: renovada criação

Redentor do mundo! N'Ele se revelou de um modo novo, de maneira admirável, aquela verdade fundamental respeitante à criação que o Livro do Génesis atesta quando repete mais de uma vez: Deus viu que as coisas eram boas. 38 O bem tem a sua nascente na Sapiência e no Amor. Em Jesus Cristo, o mundo visível, criado por Deus para o homem 39 — aquele mundo que, entrando nele o pecado, foi submetido à caducidade 40 _ readquire novamente o vínculo originário com a mesma fonte divina da Sapiência e do Amor. Com efeito, «Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigénito». 41 Assim como no homem-Adão este vínculo foi quebrado, assim no Homem-Cristo foi de novo reatado. 42 Não nos convencem, porventura, a nós homens do século vinte, as palavras do Apóstolo das gentes, pronunciadas com uma arrebatadora eloquência, acerca da «criação inteira que geme e sofre, em conjunto, as dores do parto, até ao presente», 43 e «atende ansiosamente a revelação dos filhos de Deus», 44 acerca da criação que «foi submetida à caducidade»? O imenso progresso nunca dantes conhecido, que se verificou particularmente no decorrer do nosso século, no campo do domínio sobre o mundo por parte do homem, não revela acaso ele próprio e ainda por cima em grau nunca dantes conhecido, aquela multiforme submissão «à caducidade»? Basta recordar aqui certos fenómenos, como por exemplo a ameaça do inquinamento do ambiente natural nos locais de rápida industrialização, ou então os conflitos armados que rebentam e se repetem continuamente, ou ainda as perspectivas de autodestruição mediante o uso das armas atómicas, das armas com hidrogénio e com os neutrões e outras semelhantes e a falta de respeito pela vida dos não nascidos. O mundo da época nova o mundo dos voos cósmicos, o mundo das conquistas científicas e técnicas, nunca alcançadas antes, não será ao mesmo tempo o mundo que «geme e sofre» 45 e «atende ansiosamente a revelação dos filhos de Deus»? 46

O Concílio Vaticano II, na sua penetrante análise do «mundo contemporâneo», chegava aquele ponto que é o mais importante do mundo visível, o homem, descendo — como Cristo — até ao profundo das consciências humanas, tocando mesmo o mistério interior do homem, que na linguagem bíblica (e também não bíblica) se exprime com a palavra «coração». Cristo, Redentor do mundo, é Aquele que penetrou, de uma maneira singular e que não se pode repetir, no mistério do homem e entrou no seu «coração». Justamente, portanto, o mesmo Concílio Vaticano II ensina: «Na realidade, só no mistério do Verbo Encarnado se esclarece verdadeiramente o mistério do homem. Adão, de facto, o primeiro homem, era figura do futuro (Rom 5, 14), isto é, de Cristo Senhor. Cristo, que é o novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu Amor, revela também plenamente o homem ao mesmo homem e descobre-lhe a sua vocação sublime». E depois, ainda: «Imagem de Deus invisível (Col 1, 15), Ele é o homem perfeito, que restitui aos filhos de Adão a semelhança divina, deformada desde o primeiro pecado. Já que n'Ele a natureza humana foi assumida, sem ter sido destruída, por isso mesmo também em nosso benefício ela foi elevada a uma dignidade sublime. Porque, pela sua Encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos de homem, pensou com uma mente de homem, agiu com uma vontade de homem e amou com um coração de homem. Nascendo da Virgem Maria, Ele tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado». 47 Ele, o Redentor do homem.

 9. Dimensão divina do mistério da Redenção

Ao reflectirmos novamente sobre este texto admirável do Magistério conciliar, não esqueçamos, nem sequer por um momento, que Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, se tornou a nossa reconciliação junto do Pai. 48 Ele precisamente e só Ele satisfez ao eterno amor do Pai, àquela paternidade que desde o princípio se expressou na criação do mundo, na doação ao homem de toda a riqueza do que foi criado, ao fazê-lo «pouco inferior aos anjos», 49 enquanto criado «à imagem e à semelhança de Deus»; 50 e, igualmente satisfez àquela paternidade de Deus e àquele amor, de um certo modo rejeitado pelo homem, com a ruptura da primeira Aliança 51 e das alianças posteriores que Deus «repetidas vezes ofereceu aos homens». 52 A redenção do mundo — aquele tremendo mistério do amor em que a criação foi renovada 53 — é, na sua raiz mais profunda, a plenitude da justiça num Coração humano: no Coração do Filho Primogénito, a fim de que ela possa tornar-se justiça dos corações de muitos homens, os quais, precisamente no Filho Primogénito, foram predestinados desde toda a eternidade para se tornarem filhos de Deus 54 e chamados para a graça, chamados para o amor. A cruz no Calvário, mediante a qual Jesus Cristo — Homem, Filho de Maria Virgem, filho putativo de José de Nazaré — «deixa» este mundo, é ao mesmo tempo uma nova manifestação da eterna paternidade de Deus, o Qual por Ele (Cristo) de novo se aproxima da humanidade, de cada um dos homens, dando-lhes o três vezes santo «Espírito da verdade». 55

Com esta revelação do Pai e efusão do Espírito Santo, que imprimem um sigilo indelével no mistério da Redenção, se explica o sentido da cruz e da morte de Cristo. O Deus da criação revela-se como Deus da redenção, como Deus «fiel a si próprio», 56 fiel ao seu amor para com o homem e para com o mundo, que já se revelara no dia da criação. E este seu amor é amor que não retrocede diante de nada daquilo que nele mesmo exige a justiça. E por isto o Filho «que não conhecera o pecado, Deus tratou-o, por nós, como pecado». 57 E se «tratou como pecado» Aquele que era absolutamente isento de qualquer pecado, fê-lo para revelar o amor que é sempre maior do que tudo o que é criado, o amor que é Ele próprio, porque «Deus é amor». 58 E sobretudo o amor é maior do que o pecado, do que a fraqueza e do que «a caducidade do que foi criado», 59 mais forte do que a morte; é amor sempre pronto a erguer e a perdoar, sempre pronto para ir ao encontro do filho pródigo, 60 sempre em busca da «revelação dos filhos de Deus», 61 que são chamados para a glória futura. 62 Esta revelação do amor é definida também misericórdia; 63 e tal revelação do amor e da misericórdia tem na história do homem uma forma e um nome: chama-se Jesus Cristo.

10. Dimensão humana do mistério da Redenção

O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se o não experimenta e se o não torna algo seu próprio, se nele não participa vivamente. E por isto precisamente Cristo Redentor, como já foi dito acima, revela plenamente o homem ao próprio homem. Esta é — se assim é lícito exprimir-se — a dimensão humana do mistério da Redenção. Nesta dimensão o homem reencontra a grandeza, a dignidade e o valor próprios da sua humanidade. No mistério da Redenção o homem é novamente «reproduzido» e, de algum modo, é novamente criado. Ele é novamente criado! «Não há judeu nem gentio, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher: todos vós sois um só em Cristo Jesus». 64 O homem que quiser compreender-se a si mesmo profundamente — não apenas segundo imediatos, parciais, não raro superficiais e até mesmo só aparentes critérios e medidas do próprio ser — deve, com a sua inquietude, incerteza e também fraqueza e pecaminosidade, com a sua vida e com a sua morte, aproximar-se de Cristo. Ele deve, por assim dizer, entrar n'Ele com tudo o que é em si mesmo, deve «apropriar-se» e assimilar toda a realidade da Encarnação e da Redenção, para se encontrar a si mesmo. Se no homem se actuar este processo profundo, então ele produz frutos, não somente de adoração de Deus, mas também de profunda maravilha perante si próprio. Que grande valor deve ter o homem aos olhos do Criador, se «mereceu ter um tal e tão grande Redentor», 65 se «Deus deu o seu Filho», para que ele, o homem, «não pereça, mas tenha a vida eterna». 66

Na realidade, aquela profunda estupefacção a respeito do valor e dignidade do homem chama-se Evangelho, isto é a Boa Nova. Chama-se também Cristianismo. Uma tal estupefacção determina a missão da Igreja no mundo, também, e talvez mais ainda, «no mundo contemporâneo». Tal estupefacção e conjuntamente persuasão e certeza, que na sua profunda raiz é a certeza da fé, mas que de um modo recôndito e misterioso vivifica todos os aspectos do humanismo autêntico, estão intimamente ligadas a Cristo. Ela estabelece também o lugar do mesmo Jesus Cristo — se assim se pode dizer — o seu particular direito de cidadania na história do homem e da humanidade. A Igreja, que não cessa de contemplar o conjunto do mistério de Cristo, sabe com toda a certeza da fé, que a Redenção que se verificou por meio da Cruz, restituiu definitivamente ao homem a dignidade e o sentido da sua existência no mundo, sentido que ele havia perdido em considerável medida por causa do pecado. E por isso a Redenção realizou-se no mistério pascal, que, através da cruz e da morte, conduz à ressurreição.

A tarefa fundamental da Igreja de todos os tempos e, de modo particular, do nosso, é a de dirigir o olhar do homem e de endereçar a consciência e experiência de toda a humanidade para o mistério de Cristo, de ajudar todos os homens a ter familiaridade com a profundidade da Redenção que se verifica em Cristo Jesus. Simultaneamente, toca-se também a esfera mais profunda do homem, a esfera — queremos dizer — dos corações humanos, das consciências humanas e das vicissitudes humanas.

Copyright © Libreria Editrice Vaticana

(Nota: Revisão da tradução para português por ama)

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Notas (em latim):
(17) Pauli PP. VI, Adhort. Apost. Evamgelii Nuntiandi: AAS (1976). pp. 5-76.
(18) Jo 17, 21; cfr. ibidem, 17, 11, 22 s.; 10, 10; Lc 9, 49 s. 54.
(19) 1 Cor 15, 10.
(20) " Cfr. Conc. Oec. Vat. I Const. dogm. de Fide catholica Dei Filius, Cann. III. De fide, n. 6: Conciliorum Oecumenicorum Decreta, Ed. Istituto per le Scienze Religiose, Bologna 1973, p. 811.
(21) Is 9, 6.
(22) Jo 21, 15.
(23) Lc 22, 32.
(24) Jo 6, 68; cfr. Act 4, 8-12.
(25) Cfr. Eph 1, 10. 22; 4; 25; Col 1, 18.
(26) 1 Cor 8, 6; cfr. Col 1, 17.
(27) Jo 14, 6.
(28) Jo 11, 25.
(29) Cfr. Jo 14, 9.
(30) Cfr. Jo 16, 7.
(31) Cfr. Jo 16, 7. 13.
(32) Col 2, 3.
(33) Cfr. Rom 12, 5; 1 Cor 6, 15; 10, 17; 12, 12. 27; Eph 1, 23; 2, 16; 4, 4; Col 1, 24; 3, 15.
(34) Conc.Oecum. Vat. II, Const. dogm. de Ecclesia Lumen Gentium, 1: AAS 57 (1965), p. 5.
(35) Mt 16, 16.
(36) Cfr. Litaniae SS. Cordis Iesu.
(37) 1 Cor 2, 2.
(38) Cfr. Gen 1, passim.
(39) Cfr. Gen 1, 26-30.
(40) Rom 8, 20; ibidem, 8, 19-22; Conc. Oecum. Vat. II, Const. de Ecclesia in mundo huius temporis Gaudium et Spes, 2; 13: AAS 58 (1966), pp. 1026; 1034 s. 15
(41) lo 3, 16.
(42) Cfr. Rom 5, 12-21.
(43) Rom 8, 22.
(44) Rom 8, 19.
(45) Rom 8, 22.
(46) Rom 8, 19.
(47) Const. past. de Ecelesia in mundo huius temporis Gaudium et Spes, 22: AAS 58 (1966), pp. 1042 s.
(48) Cfr. Rom 5, 11; Coi 1, 20.
(49) Ps 8, 6.
(50) Cfr. Gen, l, 26.
(51) Cfr. Gen 3, 6-13.
(52) Cfr, Missale Romanum, IV Prex Encharistica.
(53) Cfr. Conc.. Oecum. Vat. II, Const. past. de Ecclesia in mundo huius temporis Gaudium et Spes, 37: AAS 58 (1966), pp. 1054s; Const. dogm. de Ecclesia Lumen Gentium, 48: AAS 57 (1965), pp. 53s.
(54) Cfr. Rom 8, 29s.; Eph 1, S.
(55) Cfr. Jo 16, 13.
(56) Cfr. 1 Th 5, 24.
(57) 2 Cor 5, 21; cfr. Gal 3, 13.
(58) 1 Jo 4, 8. 16.
(59) Cfr. Rom 8, 20.
(60) Cfr. Lc 15, 11-32.
(61) Rom 8, 19.
(62) Cfr. Rom 8, 18.
(63) Cfr. S. Thomas, Summa Theol. III, q. 46, a. 1, ad 3.
(64) Gal 3, 28.
(65) Ex Praeconio paschali.
(66) Cfr. Jo 3, 16. 20.

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