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11/04/2012

Leitura Espiritual para 11 Abr 2012


Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 22, 1-20


1 Aproximava-se a festa dos Ázimos, chamada Páscoa. 2 Os príncipes dos sacerdotes e os escribas procuravam modo de matar Jesus; porém, temiam o povo. 3 Ora Satanás entrou em Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, um dos doze, 4 o qual foi combinar com os príncipes dos sacerdotes e com os oficiais de que modo lh'O entregaria. 5 Ficaram contentes e combinaram com ele dar-lhe dinheiro. 6 Judas deu a sua palavra e buscava ocasião oportuna de lh'O entregar sem que a multidão soubesse. 7 Chegou o dia dos Ázimos, no qual se devia imolar a Páscoa. 8 Jesus enviou Pedro e João, dizendo: «Ide, preparai-nos a refeição pascal». 9 Eles perguntaram: «Onde queres que a preparemos?». 10 Ele disse-lhes: «Logo que entrardes na cidade, sair-vos-á ao encontro um homem levando uma bilha de água; segui-o até à casa em que entrar, 11 e direis ao dono da casa: O Mestre manda dizer-te: Onde está a sala em que hei-de comer a Páscoa com os Meus discípulos? 12 Ele vos mostrará uma grande sala mobilada no andar de cima; preparai aí o que for preciso». 13 Indo eles, encontraram tudo como Jesus dissera; e prepararam a Páscoa. 14 Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa com os Apóstolos e 15 disse-lhes: «Desejei ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer, 16 porque vos digo que não mais a comerei até que ela se cumpra no reino de Deus». 17 Tendo tomado o cálice, deu graças, e disse: «Tomai e distribuí-o entre vós, 18 porque vos declaro que não tornarei a beber do fruto da vide até que chegue o reino de Deus». 19 Depois tomou um pão, deu graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: «Isto é o Meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de Mim». 20 Depois da ceia fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a nova Aliança no Meu sangue, que é derramado por vós».

 



CARTA APOSTÓLICA
SALVIFICI DOLORIS
DO SUMO PONTÍFICE
JOÃO PAULO II
AOS BISPOS, AOS SACERDOTES,
ÀS FAMÍLIAS RELIGIOSAS
E AOS FIÉIS DA IGREJA CATÓLICA
SOBRE O SENTIDO CRISTÃO
DO SOFRIMENTO HUMANO

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20. Os textos do Novo Testamento exprimem esta mesma ideia em diversos pontos. Na segunda Carta aos Coríntios, o Apóstolo escreve: «Em tudo atribulados, mas não oprimidos, perplexos, mas não desesperados, perseguidos, mas não abandonados, abatidos, mas não perdidos, por toda a parte levamos sempre no corpo os sofrimentos de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste no nosso corpo. De facto, enquanto vivemos, somos continuamente entregues à morte por causa de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal... com a certeza de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará também a nós com Jesus». (58)

São Paulo fala dos diversos sofrimentos e, em particular, daqueles em que os primeiros cristãos se tornavam participantes «por causa de Jesus». Estes sofrimentos permitem aos destinatários desta Carta participar na obra da Redenção, realizada mediante os sofrimentos e a morte do Redentor. A eloquência da Cruz e da morte, no entanto, é completada com a eloquência da Ressurreição. O homem encontra na Ressurreição uma luz completamente nova, que o ajuda a abrir caminho através das trevas cerradas das humilhações, das dúvidas, do desespero e da perseguição. Por isso, o Apóstolo escreverá ainda na segunda Carta aos Coríntios: «Pois, assim como são abundantes para nós os sofrimentos de Cristo, assim por obra de Cristo é também superabundante a nossa consolação». (59) Noutras passagens dirige aos destinatários dos escritos palavras de encorajamento: «Que o Senhor dirija os vossos corações para o amor de Deus e a paciência de Cristo». (60) E na Carta aos Romanos escreve: «Exorto-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecer os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; é este o culto espiritual que lhe deveis prestar». (61)

A própria participação nos sofrimentos de Cristo, nestas expressões apostólicas, reveste-se de uma dupla dimensão. Se um homem, se torna participante dos sofrimentos de Cristo, isso acontece porque Cristo abriu o seu sofrimento ao homem, porque Ele próprio, no seu sofrimento redentor, se tornou, num certo sentido, participante de todos os sofrimentos humanos. Ao descobrir, pela fé, o sofrimento redentor de Cristo, o homem descobre nele, ao mesmo tempo, os próprios sofrimentos, reencontra-os, mediante a fé, enriquecidos de um novo conteúdo e com um novo significado.

Esta descoberta ditou a São Paulo palavras particularmente vigorosas na Carta aos Gálatas: «Com Cristo estou cravado na Cruz; e já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim. E, enquanto eu vivo a vida mortal, vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim». (62) A fé permite ao autor destas palavras conhecer aquele amor que levou Cristo à Cruz. E se ele amou assim, sofrendo e morrendo, então, com este seu sofrimento e morte, ele vive naquele a quem amou assim, vive no homem: em Paulo. E vivendo nele — à medida que o Apóstolo, consciente disso mediante a fé, responde com amor ao seu amor — Cristo torna-se também de um modo particular unido ao homem, a Paulo, através da Cruz. Esta união inspirou ao mesmo Apóstolo, ainda na Carta aos Gálatas, estas outras palavras, não menos fortes: «Quanto a mim, jamais suceda que eu me glorie a não ser na Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, como eu para o mundo». (63)

21. A Cruz de Cristo projecta a luz salvífica de um modo assim tão penetrante sobre a vida do homem e, em particular, sobre o seu sofrimento, porque, mediante a fé, chega até ele juntamente com a Ressurreição: o mistério da paixão está contido no mistério pascal. As testemunhas da paixão de Cristo são, ao mesmo tempo, testemunhas da sua Ressurreição. São Paulo escreve: «Poderei conhecê-lo, a ele e à força da sua Ressurreição, e ser integrado na participação dos seus sofrimentos, transformado numa imagem da sua morte, com a esperança de chegar à ressurreição dos mortos». (64) O Apóstolo experimentou isto verdadeiramente: em primeiro lugar, «a força da Ressurreição» de Cristo, no caminho de Damasco; e só depois, nesta luz pascal, chegou àquela «participação nos seus sofrimentos» de que fala, por exemplo, na Carta aos Gálatas. A caminhada de São Paulo é claramente pascal: a participação na Cruz de Cristo realiza-se através da experiência do Ressuscitado e, por isso, graças a uma participação especial na Ressurreição. E por esta razão que mesmo nas expressões do Apóstolo sobre o tema do sofrimento aparece tão frequentemente o motivo da glória, à qual a Cruz de Cristo dá início.

As testemunhas da Cruz e da Ressurreição estavam convencidas de que «através de muitas tribulações é que temos de entrar no reino de Deus». (65) E São Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses, exprime-se deste modo: «Nós mesmos nos ufanamos de vós... pela vossa constância e pela vossa fidelidade, no meio de todas as vossas aflições e perseguições que suportais. É isto um indício do justo juízo de Deus, para que sejais feitos dignos do reino de Deus, pelo qual, precisamente, sofreis». (66) Portanto, a participação nos sofrimentos de Cristo é, ao mesmo tempo, sofrimento pelo reino de Deus. Aos olhos de Deus justo, frente ao seu juízo, todos os que participam nos sofrimentos de Cristo tornam-se dignos deste reino. Mediante os seus sofrimentos, eles restituem, em certo sentido, o preço infinito da paixão e morte de Cristo, que se tornou o preço da nossa Redenção: por este preço, o reino de Deus foi de novo consolidado na história do homem, tornando-se a perspectiva definitiva da sua existência terrena. Cristo introduziu-nos neste reino pelo seu sofrimento. E é também mediante o sofrimento que amadurecem para ele os homens envolvidos pelo mistério da Redenção de Cristo.

22. À perspectiva do reino de Deus está unida também a esperança daquela glória, cujo início se encontra na Cruz de Cristo. A Ressurreição revelou esta glória — a glória escatológica — que na Cruz de Cristo era completamente ofuscada pela imensidão do sofrimento. Aqueles que participam nos sofrimentos de Cristo, estão também chamados, mediante os seus próprios sofrimentos, para tomar parte na glória. São Paulo exprime esta ideia em diversas passagens. Aos Romanos, escreve: «Somos... co-herdeiros de Cristo, se, porém, sofrermos com ele, para sermos também glorificados com ele. Tenho como coisa certa, efectivamente, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção alguma com a glória que há-de revelar-se em nós». (67) Na segunda Carta aos Coríntios lemos: «Realmente, o leve peso da nossa tribulação do momento presente prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória: não que nós olhemos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis». (68) O Apóstolo Pedro exprimirá esta verdade nas seguintes palavras da sua primeira Carta: «Alegrai-vos, antes, na medida em que participais nos sofrimentos de Cristo, para que também vos alegreis e rejubileis na sua gloriosa aparição». (69)

O motivo do sofrimento e da glória tem uma característica profundamente evangélica, que se clarifica mediante a referência à Cruz e à Ressurreição. A Ressurreição tornou-se, antes de mais nada, a manifestação da glória, que corresponde à elevação de Cristo por meio da sua Cruz. Com efeito, se a Cruz representou aos olhos dos homens o despojamento de Cristo, ela foi, ao mesmo tempo, aos olhos de Deus a sua elevação. Na Cruz, Cristo alcançou e realizou em toda a plenitude a sua missão: cumprindo a vontade do Pai, realizou-se ao mesmo tempo a si mesmo. Na fraqueza manifestou o seu poder; e na humilhação, toda a sua grandeza messiânica Não são porventura uma prova desta grandeza todas as palavras pronunciadas durante a agonia, no Gólgota, e, de modo especial, as palavras que se referem aos autores da crucifixão: «Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem»? (70) Estas palavras impõem-se àqueles que são participantes dos sofrimentos de Cristo, com a força de um exemplo supremo. O sofrimento constitui também um chamamento a manifestar a grandeza moral do homem, a sua maturidade espiritual. Disto deram prova, ao longo das diversas gerações, os mártires e os confessores de Cristo, fiéis às palavras: «Não temais os que matam o corpo e que não podem matar a alma». (71)

A Ressurreição de Cristo revelou a glória que está contida no próprio sofrimento de Cristo, a qual muitas vezes se reflectiu e se reflecte no sofrimento do homem, como expressão da sua grandeza espiritual. Importa reconhecer esta glória, não só nos mártires da fé, mas também em muitos outros homens que, por vezes, mesmo sem a fé em Cristo, sofrem e dão a vida pela verdade e por uma causa justa. Nos sofrimentos de todos estes é confirmada, de um modo particular, a grande dignidade do homem.

23. O sofrimento, de facto, é sempre uma provação — por vezes, uma provação muito dura — à qual a humanidade é submetida. Impressiona-nos nas páginas das Cartas de São Paulo, com frequência, aquele paradoxo evangélico da fraqueza e da força, experimentado de maneira particular pelo Apóstolo, e que experimentam com ele também todos aqueles que participam nos sofrimentos de Cristo. Na segunda Carta aos Coríntios, escreve: «De boa vontade me ufanarei de preferência das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo». (72) Na segunda Carta a Timóteo lemos: «É também por esta causa que eu sofro estes males, mas não me envergonho: porque sei em quem depositei a minha confiança». (73) E na Carta aos Filipenses dirá mesmo expressamente: «Tudo posso naquele que me dá força». (74)

Aqueles que participam nos sofrimentos de Cristo têm diante dos olhos o mistério pascal da Cruz e da Ressurreição, no qual Cristo, numa primeira fase, desce até às últimas da debilidade e da impotência humana: efectivamente, morre pregado na Cruz. Mas dado que nesta fraqueza se realiza ao mesmo tempo a sua elevação, confirmada pela força da Ressurreição, isso significa que as fraquezas de todos os sofrimentos humanos podem ser penetradas pela mesma potência de Deus, manifestada na Cruz de Cristo. Nesta concepção, sofrer significa tornar-se particularmente receptivo, particularmente aberto à acção das forças salvíficas de Deus, oferecidas em Cristo à humanidade. Nele, Deus confirmou que quer operar de um modo especial por meio do sofrimento, que é a fraqueza e o despojamento do homem; e ainda, que é precisamente nesta fraqueza e neste despojamento que Ele quer manifestar o seu poder. Compreende-se, deste modo, a recomendação da primeira Carta de São Pedro: Se alguém «sofre por ser cristão, não se envergonhe, mas dê glória a Deus por este título». (75)

Na Carta aos Romanos, o Apóstolo Paulo pronunciar-se-á ainda mais detidamente sobre este tema do «nascer da força na fraqueza» e do retemperar-se espiritual do homem no meio das provações e tribulações, que é vocação especial daqueles que participam nos sofrimentos de Cristo: «Gloriamo-nos também nas tribulações, sabendo que da tribulação deriva a paciência; da paciência a virtude comprovada; e da virtude comprovada a esperança. A esperança não engana, porque o amor de Deus se encontra largamente difundido nos nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado». (76) No sofrimento está como que contido um particular apelo à virtude que o homem por seu turno deve exercitar. É a virtude da perseverança em suportar tudo aquilo que incomoda e faz doer. Ao proceder assim, o homem dá livre curso à esperança, que mantém em si a convicção de que o sofrimento não prevalecerá sobre ele, nem o privará da dignidade própria do homem, que anda unida à consciência do sentido da vida. E este sentido manifesta-se simultaneamente com a obra do amor de Deus, que é o dom supremo do Espírito Santo. A medida que participa deste amor, o homem sabe orientar-se quando mergulhado no sofrimento: reencontrando-se, reencontra «a alma» que julgava ter «perdido» (77) por causa do sofrimento.

24. As experiências do Apóstolo participante nos sofrimentos de Cristo, no entanto, vão ainda mais longe. Na Carta aos Colossenses podemos ler as palavras que representam como que a última etapa do itinerário espiritual em relação ao sofrimento. São Paulo escreve: «Alegro-me nos sofrimentos suportados por vossa causa e completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja». (78) E numa outra Carta, o mesmo Apóstolo interpela os destinatários: «Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?». (79)

No mistério pascal, Cristo deu início à união com o homem na comunidade da Igreja. O mistério da Igreja exprime-se nisto: a partir do acto em que alguém recebe o Baptismo, que configura a Cristo, e depois mediante o seu Sacrifício — sacramentalmente mediante a Eucaristia — a Igreja edifica-se espiritualmente, sem cessar, como Corpo de Cristo. Neste Corpo, Cristo quer estar unido a todos os homens, e está unido de modo especial àqueles que sofrem. As palavras da Carta aos Colossenses, acima citadas, atestam o carácter excepcional desta união. De facto, aquele que sofre em união com Cristo — assim como o Apóstolo Paulo suportava as suas «tribulações» em união com Cristo — não só aure de Cristo aquela força de que em precedência se falou, mas «completa» também com o seu sofrimento «aquilo que falta aos sofrimentos de Cristo». Neste contexto evangélico, é posta em relevo, de um modo especial, a verdade sobre o carácter criativo do sofrimento. O sofrimento de Cristo criou o bem da Redenção do mundo. Este bem é em si mesmo inexaurível e infinito. Ninguém lhe pode acrescentar coisa alguma. Ao mesmo tempo, porém, Cristo no mistério da Igreja, que é o seu Corpo, em certo sentido abriu o próprio sofrimento redentor a todo o sofrimento humano. Na medida em que o homem se torna participante nos sofrimentos de Cristo — em qualquer parte do mundo e em qualquer momento da história — tanto mais ele completa, a seu modo, aquele sofrimento, mediante o qual Cristo operou a Redenção do mundo.

Quererá isto dizer, porventura, que a Redenção operada por Cristo não é completa? Não. Isto significa apenas que a Redenção, operada por virtude do amor satisfatório, permanece constantemente aberta a todo o amor que se exprime no sofrimento humano. Nesta dimensão — na dimensão do amor — a Redenção, já realizada totalmente, realiza-se em certo sentido constantemente. Cristo operou a Redenção completa e cabalmente; ao mesmo tempo, porém, não a fechou: no sofrimento redentor, mediante o qual se operou a Redenção do mundo, Cristo abriu-se desde o princípio, e continua a abrir-se constantemente, a todo o sofrimento humano. Sim, é algo que parece fazer parte da própria essência do sofrimento redentor de Cristo: o facto de ele solicitar a ser incessantemente completado.

Deste modo, com tal abertura a todos os sofrimentos humanos, Cristo operou com o seu próprio sofrimento a Redenção do mundo. Esta Redenção, no entanto, embora tenha sido realizada em toda a sua plenitude pelo sofrimento de Cristo, à sua maneira vive e desenvolve-se ao mesmo tempo na história dos homens. Vive e desenvolve-se como o Corpo de Cristo, que é a Igreja; e nesta dimensão, todo o sofrimento humano, em razão da sua união com Cristo no amor, completa o sofrimento de Cristo. Completa-o como a Igreja completa a obra redentora de Cristo. O mistério da Igreja — daquele Corpo que completa também em si o corpo crucificado e ressuscitado de Cristo — indica, ao mesmo tempo, aquele âmbito no qual os sofrimentos humanos completam o sofrimento de Cristo. Só à luz disto e com esta dimensão — da Igreja-Corpo de Cristo que se desenvolve continuamente no espaço e no tempo — é que se pode pensar e falar «daquilo que falta» aos sofrimentos de Cristo. O Apóstolo, de resto, sublinha-o claramente quando fala da necessidade de completar «aquilo que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja».

A Igreja, precisamente, que sem cessar vai aurir nos infinitos recursos da Redenção, introduzindo esta na vida da humanidade, é a dimensão na qual o sofrimento redentor de Cristo pode ser constantemente completado pelo sofrimento do homem. Nisto é posta também em relevo a natureza divino-humana da Igreja. O sofrimento parece participar, de certo modo, nas características desta natureza; e, por isso, reveste-se também de um valor especial aos olhos da Igreja. É um bem, diante do qual a Igreja se inclina com veneração, com toda a profundidade da sua fé na Redenção. Inclina-se também diante dele com toda a profundidade daquela fé com que acolhe em si mesma o inexprimível mistério do Corpo de Cristo.

VI

O EVANGELHO DO SOFRIMENTO

25. As testemunhas da Cruz e da Ressurreição de Cristo transmitiram à Igreja e à humanidade um Evangelho específico do sofrimento. O próprio Redentor escreveu este Evangelho; em primeiro lugar, com o seu sofrimento assumido por amor, a fim de que o homem «não pereça, mas tenha a vida eterna». (80) Este sofrimento, juntamente com a palavra viva do seu ensino, tornou-se uma fonte abundante para aqueles que participaram nos sofrimentos de Jesus na primeira geração dos seus discípulos e confessores. E é consolador — como é também evangélica e historicamente exacto — notar que ao lado de Cristo, em primeiríssimo lugar e bem em evidência junto dele, se encontra sempre a sua Mãe santíssima, porque com toda a sua vida ela dá um testemunho exemplar deste particular Evangelho do sofrimento. Em Maria, os sofrimentos, numerosos e intensos, sucederam-se com tal conexão e encadeamento, que bem demonstram a sua fé inabalável; e foram, além disso, uma contribuição para a Redenção de todos. Na realidade, desde o colóquio misterioso que teve com o anjo, Ela entrevê na sua missão de mãe a «destinação» de compartilhar, de maneira única e irrepetível, a mesma missão do seu Filho. E teve bem depressa a confirmação disso, quer nos acontecimentos que acompanharam o nascimento de Jesus em Belém, quer no anúncio explícito de velho Simeão, que lhe falou de uma espada bem afiada que haveria de trespassar-lhe a alma, quer, ainda, na ansiedade e nas privações da fuga precipitada para o Egipto, motivada pela decisão cruel de Herodes.

E mais ainda: depois das vicissitudes da vida oculta e pública do seu Filho, por ela certamente partilhadas com viva sensibilidade, foi no Calvário que o sofrimento de Maria Santíssima, conjunto ao de Jesus, atingiu um ponto culminante dificilmente imaginável na sua sublimidade para o entendimento humano; mas, misterioso, por certo sobrenaturalmente fecundo para os fins da salvação universal. A sua subida ao Calvário e aquele seu «estar» aos pés da Cruz com o discípulo amado foram uma participação muito especial na morte redentora do Filho, assim como as palavras que ela pôde escutar dos lábios de Jesus foram como que a entrega solene deste Evangelho particular, destinado a ser anunciado a toda a comunidade dos fiéis.

Testemunha da paixão pela sua presença, nela participante com a sua compaixão, Maria Santíssima ofereceu uma contribuição singular ao Evangelho do sofrimento, realizando antecipadamente aquilo que afirmaria São Paulo com as palavras citadas no início desta reflexão. Sim, Ela tem títulos especialíssimos para poder afirmar que «completa na sua carne — como igualmente no seu coração — aquilo que falta aos sofrimentos de Cristo».

À luz do inacessível exemplo de Cristo que se reflecte com uma evidência singular na vida da sua Mãe, o Evangelho do sofrimento, através da experiência e da palavra dos Apóstolos, torna-se fonte inexaurível para as gerações sempre novas, que se sucedem na história da Igreja. O Evangelho do sofrimento significa não apenas a presença do sofrimento no Evangelho, como um dos temas da Boa Nova, mas também a revelação da força salvífica e do significado salvífico do sofrimento na missão messiânica de Cristo e, em seguida, na missão e na vocação da Igreja.

Cristo não escondia aos seus ouvintes a necessidade do sofrimento. Pelo contrário, dizia-lhes muito claramente: «Se alguém quer vir após mim... tome a sua cruz todos os dias»; (81) e aos seus discípulos punha algumas exigências de ordem moral, cuja realização só é possível se cada um se «renega a si mesmo». (82) O caminho que conduz ao reino dos céus é «estreito e apertado»; e Cristo contrapõe-no ao caminho «largo e espaçoso» que, porém, «leva à perdição». (83) Diversas vezes Cristo disse também que os seus discípulos e confessores haveriam de encontrar muitas perseguições; o que — como se sabe — aconteceu, não só nos primeiros séculos da vida da Igreja, nos tempos do império romano, mas não cessou de se verificar também em diversos outros períodos da história e em diversos lugares da terra, mesmo nos nossos dias.

Eis aqui algumas frases de Cristo sobre este tema: «Deitar-vos-ão as mãos e perseguir-vos-ão, entregando-vos às sinagogas, e metendo-vos nos cárceres, arrastando-vos à presença de reis e de governadores, por causa do meu nome; isso proporcionar-vos-á ocasião para dardes testemunho de mim. Gravai, pois, no vosso coração que não deveis preparar a vossa defesa, porque eu vos darei língua e sabedoria tais a que não poderão contrastar nem contradizer os vossos adversários. Sereis traídos até pelos vossos pais, pelos irmãos, pelos parentes e amigos, e causarão a morte a alguns de vós. Sereis odiados por todos por causa do meu nome; mas nem um só cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa constância ganhareis as vossas almas». (84)

O Evangelho do sofrimento fala em diversos pontos, primariamente, do sofrimento «por Cristo», «por causa de Cristo»; e isto é expresso com as próprias palavras de Jesus, ou então com as palavras dos seus Apóstolos. O Mestre não esconde aos seus discípulos e àqueles que o seguirão a perspectiva de um tal sofrimento; pelo contrário, apresenta-lha com toda a franqueza, indicando-lhes ao mesmo tempo as forças sobrenaturais que os acompanharão no meio das perseguições e tribulações sofridas «pelo seu nome». Estas serão, ao mesmo tempo, como que um meio especial de verificar a semelhança a Cristo e a união com ele. «Se o mundo vos odeia, ficai sabendo que, primeiro do que a vós, me odiou a mim...; mas porque não sois do mundo — ao contrário, eu vos separei do meio do mundo — por isso é que o mundo vos odeia... O servo não é maior que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos hão-de perseguir a vós... Mas farão tudo isso contra vós por causa do meu nome, porque não conhecem Aquele que me enviou». (85)

«Disse-vos isto para que tenhais paz em mim: no mundo tereis que sofrer. Mas tende confiança! Eu venci o mundo». (86)

Este primeiro capítulo do Evangelho do sofrimento, que fala das perseguições, isto é, das tribulações por causa de Cristo, contém em si um chamamento especial à coragem e à fortaleza, apoiado pela eloquência da Ressurreição. Cristo venceu definitivamente o mundo com a sua ressurreição; todavia, porque a sua ressurreição está ligada à sua paixão e morte, ele venceu este mundo, ao mesmo tempo, com o seu sofrimento. Sim, o sofrimento foi inserido de um modo singular naquela vitória sobre o mundo que se manifestou na ressurreição. Cristo conserva no seu corpo ressuscitado os sinais das feridas causadas pelo suplício da Cruz: nas suas mãos, nos seus pés e no seu lado. Pela ressurreição, ele manifesta a força vitoriosa do sofrimento; e quer incutir a convicção desta força no coração daqueles que escolheu como seus Apóstolos e daqueles que ele continua a escolher e a enviar. O Apóstolo Paulo dirá: «Todos aqueles que querem viver piedosamente em Jesus Cristo serão perseguidos». (87)

Notas:
(58) 2 Cor. 4, 8-11. 14.
(59) Ibid. 1, 5.
(60) 2 Thess. 3, 5.
(61) Rom. 12, 1.
(62) Gal. 2, 19-20.
(63) Ibid. 6, 14.
(64) Phil. 3, 10-11.
(65) Act. 14, 22.
(66) 2 Thess. 1, 4-5.
(67) Rom. 8, 17-18.
(68) 2 Cor. 4, 17-18.
(69) 1 Petr. 4, 13.
(70) Luc. 23, 34.
(71) Matth. 10, 28.
(72) 2 Cor. 12, 9.
(73) 2 Tim. 1, 12.
(74) Phil. 4, 13.
(75) 1 Petr. 4, 16.
(76) Rom. 5, 3-5.
(77) Cfr. Marc. 8, 35; Luc. 9, 24; Io. 12, 25.
(78) Col. 1, 24.
(79) 1 Cor. 6, 15.
(80) Io. 3, 16.
(81) Luc. 9, 23.
(82) Cfr. ibid.
(83) Cfr. Matth. 7, 13-14.
(84) Luc. 21, 12-19.
(85) Io. 15, 18-21.
(86) Ibid. 16, 33.
(87) 2 Tim. 3, 12.

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