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03/04/2012

Leitura Espiritual para 03 Abr 2012


Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 18, 1-17

1 Disse-lhes também uma parábola, para mostrar que importa orar sempre e não cessar de o fazer: 2 «Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. 3 Havia também na mesma cidade uma viúva, que ia ter com ele, dizendo: Faz-me justiça contra o meu adversário. 4 Ele, durante muito tempo, não a quis atender. Mas, depois disse consigo: Ainda que eu não tema a Deus nem respeite os homens, 5 todavia, visto que esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, para que não venha continuamente importunar-me». 6 Então o Senhor acrescentou: «Ouvi o que diz este juiz iníquo. 7 E Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que a Ele clamam dia e noite, e tardará em socorrê-los? 8 Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do Homem, julgais vós que encontrará fé sobre a terra?». 9 Disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos por se considerarem justos, e desprezavam os outros: 10 «Subiram dois homens ao templo a fazer oração: um era fariseu e o outro publicano. 11 O fariseu, de pé, orava no seu interior desta forma: Graças Te dou, ó Deus, porque não sou como os outros homens: ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano. 12 Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo o que possuo. 13 O publicano, porém, conservando-se a distância, não ousava nem sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Meu Deus, tem piedade de mim, pecador.14 Digo-vos que este voltou justificado para sua casa e o outro não; porque quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado». 15 Traziam-Lhe também criancinhas, para que as tocasse. Os discípulos vendo isto repreendiam-nos.16 Porém, Jesus chamando-as a Si, disse: «Deixai vir a Mim as criancinhas e não as embaraceis, porque o reino de Deus é dos que se parecem com elas. 17 Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança não entrará nele».

CARTA APOSTÓLICA
MULIERIS DIGNITATEM
DO SUMO PONTÍFICE
JOÃO PAULO II
SOBRE A DIGNIDADE
E A VOCAÇÃO DA MULHER
POR OCASIÃO DO ANO MARIANO
/…5

A mulher surpreendida em adultério

14. Jesus entra na situação concreta e histórica da mulher, situação sobre a qual pesa a herança do pecado. Esta herança exprime-se, entre outras coisas, no costume que discrimina a mulher em favor do homem, e está enraizada também dentro dela. Deste ponto de vista, o episódio da mulher “surpreendida em adultério” (cf. Jo 8, 3-11) parece ser particularmente eloquente. No fim Jesus lhe diz: «não tornes a pecar»; mas, primeiro ele desperta a consciência do pecado nos homens que a acusam para apedrejá-la, manifestando assim a sua profunda capacidade de ver as consciências e as obras humanas segundo a verdade. Jesus parece dizer aos acusadores: esta mulher, com todo o seu pecado, não é talvez também, e antes de tudo, uma confirmação das vossas transgressões, da vossa injustiça “masculina”, dos vossos abusos?

Esta é uma verdade válida para todo o Género humano. O facto narrado no Evangelho de João pode apresentar-se em inúmeras situações análogas em todas as épocas da história. Uma mulher é deixada só, é exposta diante da opinião pública com “o seu pecado”, enquanto por detrás deste “seu” pecado se esconde um homem como pecador, culpado pelo “pecado do outro”, antes, co-responsável do mesmo. E, no entanto, o seu pecado escapa à atenção, passa sob silêncio: aparece como não responsável pelo “pecado do outro”! às vezes ele passa a ser até acusador, como no caso descrito, esquecido do próprio pecado. Quantas vezes, de modo semelhante, a mulher paga pelo próprio pecado (pode acontecer que seja ela, em certos casos, a culpada pelo pecado do homem como “pecado do outro”), mas paga ela só e paga sozinha! Quantas vezes ela fica abandonada na sua maternidade, quando o homem, pai da criança, não quer aceitar a sua responsabilidade? E ao lado das numerosas “mães solteiras” das nossas sociedades, é preciso tomar em consideração também todas aquelas que, muitas vezes, sofrendo diversas pressões, inclusive da parte do homem culpado, “se livram” da criança antes do seu nascimento. “Livram-se”: mas a que preço? A opinião pública de hoje tenta, de várias maneiras, “anular” o mal deste pecado; normalmente, porém, a consciência da mulher não consegue esquecer que tirou a vida do próprio filho, porque não consegue apagar a disponibilidade a acolher a vida, inscrita no seu “ethos” desde o “princípio”.

é significativo o comportamento de Jesus no facto descrito no Evangelho de João 8, 3-11. Talvez em poucos momentos como neste se manifesta o seu poder — o poder da verdade — a respeito das consciências humanas. Jesus está tranquilo, recolhido, pensativo. A sua consciência, aqui como no colóquio com os Fariseus (cf. Mt 19, 3-9), não estará talvez em contacto com o mistério do “princípio”, quando o homem foi criado homem e mulher, e a mulher foi confiada ao homem com a sua diversidade feminina, e também com a sua potencial maternidade? Também o homem foi confiado pelo Criador à mulher. Foram reciprocamente confiados um ao outro como pessoas feitas à imagem e semelhança do próprio Deus. Nesse ato de confiança está a medida do amor, do amor esponsal: para tornar-se “um dom sincero” um para o outro, é preciso que cada um dos dois se sinta responsável pelo dom. Esta medida destina-se aos dois — homem e mulher — desde o “princípio”. Após o pecado original, forças opostas operam no homem e na mulher, por causa da tríplice concupiscência, “fonte do pecado”. Essas forças agem no interior do homem. Por isso Jesus dirá no Sermão da montanha: «todo aquele que olhar para uma mulher com mau desejo, já com ela cometeu adultério no seu coração» (Mt 5, 28). Estas palavras, dirigidas directamente ao homem, mostram a verdade fundamental da sua responsabilidade em relação à mulher: pela sua dignidade, pela sua maternidade, pela sua vocação. Mas, indiretamente, elas se referem também à mulher. Cristo fazia tudo o que estava ao seu alcance para que — no âmbito dos costumes e das relações sociais daquele tempo — as mulheres reconhecessem no seu ensinamento e no seu agir a subjectividade e dignidade que lhes são próprias. Tendo por base a eterna “unidade dos dois”, esta dignidade depende hirtamente da própria mulher, como sujeito responsável por si, e é ao mesmo tempo “dada como responsabilidade” ao homem. Coerentemente Cristo apela para a responsabilidade do homem. Na presente meditação sobre a dignidade e a vocação da mulher, hoje, é preciso referir-se necessariamente à impostação que encontramos no Evangelho. A dignidade da mulher e a sua vocação — como, de resto, a do homem — encontram a sua vertente eterna no coração de Deus e, nas condições temporais da existência humana, estão estreitamente conexas com a “unidade dos dois”. Por isso, cada homem deve olhar para dentro de si e ver se aquela que lhe é confiada como irmã na mesma humanidade, como esposa, não se tenha tornado objecto de adultério no seu coração; se aquela que, sob diversos aspectos, é o co-sujeito da sua existência no mundo, não se tenha tornado para ele “objecto”: objecto de prazer, de exploração.

Custódias da mensagem evangélica

15. O modo de agir de Cristo, o Evangelho de suas obras e palavras é um protesto coerente contra tudo quanto ofende a dignidade da mulher. Por isso, as mulheres que se encontram perto de Cristo reconhecem-se a si mesmas na verdade que ele “ensina” e que ele “faz”, também quando esta verdade versa sobre a “pecaminosidade” delas. Sentem-se “libertadas” por esta verdade, restituídas a si mesmas: sentem-se amadas de “amor eterno”, por um amor que encontra directa expressão no próprio Cristo. No raio da acção de Cristo, a posição social delas se transforma. Sentem que Jesus lhes fala de questões sobre as quais, naquele tempo, não se discutia com uma mulher. O exemplo, em certo sentido, mais significativo a este respeito é o da Samaritana, junto ao poço de Siquém. Jesus — que sabe que é pecadora e disto lhe fala — conversa com ela sobre os mistérios mais profundos de Deus. Fala-lhe do dom infinito do amor de Deus, que é como uma «fonte de água que jorra para a vida eterna» (Jo 4, 14). Fala-lhe de Deus que é Espírito e da verdadeira adoração que o Pai tem direito de receber em espírito e verdade (cf. Jo 4, 24). Revela-lhe, enfim, ser ele o Messias prometido a Israel (cf. Jo 4, 26).

Este é um evento sem precedentes: essa mulher, e além do mais “mulher-pecadora”, torna-se “discípula” de Cristo; mais ainda, uma vez instruída, anuncia Cristo aos habitantes da Samaria, de modo que também eles o acolhem com fé (cf. Jo 4, 39-42). Um evento sem precedentes, se se tem presente o modo comum de tratar as mulheres, próprio de quantos ensinavam em Israel, enquanto no modo de agir de Jesus de Nazaré, tal evento se faz normal. A este propósito, merecem uma recordação particular também as irmãs de Lázaro: a Jesus amava Marta, Maria, irmã dela e Lázaro” (cf. Jo 11, 5). Maria «escutava a palavra» de Jesus. Quando vai visitá-los em casa, ele mesmo define o comportamento de Maria como «a melhor parte» em relação à preocupação de Marta com os afazeres domésticos (cf. Lc 10, 38-42). Noutra ocasião, também Marta — depois da morte de Lázaro — se torna interlocutora de Cristo e o colóquio se refere às mais profundas verdades da revelação e da fé. «Senhor, se estivesses aqui, não teria morrido meu irmão» — «Teu irmão ressuscitará» — “Sei que há-de ressuscitar no último dia”. Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que venha a morrer, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês nisto?» — «Sim, Senhor, creio que és o Cristo, o Filho de Deus, que deve vir ao mundo» (Jo 11, 21-27). Depois desta profissão de fé, Jesus ressuscita Lázaro. Também o colóquio com Marta é um dos mais importantes do Evangelho.

Cristo fala com as mulheres sobre as coisas de Deus, e elas compreendem-nas: uma autêntica ressonância da mente e do coração, uma resposta de fé. E por esta resposta marcadamente “feminina” Jesus exprime apreço e admiração, como no caso da mulher Cananeia (cf. Mt 15, 28). Por vezes, Ele propõe como exemplo essa fé viva, permeada de amor: ensina, portanto, tomando como ponto de referência essa resposta feminina da mente e do coração. Assim acontece no caso da mulher “pecadora”, cujo modo de agir, na casa do fariseu, é tomado por Jesus como ponto de partida para explicar a verdade sobre a remissão dos pecados: «são perdoados os seus muitos pecados visto que muito amou. Mas aquele a quem pouco se perdoa pouco ama» (Lc 7, 47). Por ocasião de outra unção, Jesus toma a defesa, diante dos discípulos e particularmente diante de Judas, da mulher e da sua acção: «por que molestais esta mulher? Foi por certo uma boa obra que ela praticou comigo... Ao derramar este unguento perfumado sobre o meu corpo, fê-lo para preparar-me para a sepultura. Em verdade vos digo que em todo o mundo, onde quer que seja pregada esta boa-nova, também o que ela fez será dito para seu louvor» (Mt 26, 6-13).

Na realidade, os Evangelhos não só descrevem o que fez aquela mulher em Betânia, na casa de Simão o leproso, mas colocam também em destaque como, no momento da prova definitiva e determinante para toda a missão messiânica de Jesus de Nazaré, aos pés da Cruz se encontram, primeiras entre todos, as mulheres. Dos apóstolos, somente João permaneceu fiel. As mulheres, ao invés, são muitas. Estavam presentes não só a Mãe de Cristo e a «irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena» (Jo 19, 25), mas «muitas mulheres que observavam de longe: isto é, aquelas que tinham seguido a Jesus desde a Galileia, prestando-lhe assistência» (Mt 27, 55). Como se vê, naquela que foi a mais dura prova da fé e da fidelidade, as mulheres demonstraram-se mais fortes que os apóstolos: nesses momentos de perigo, aquelas que “amam muito” conseguem vencer o medo. Antes, havia as mulheres na via dolorosa, «que batiam no peito e se lamentavam por ele» (Lc 23, 27). Antes ainda, havia a mulher de Pilatos que advertira o marido: “Não te encarregues desse justo, pois que hoje padeci muito em sonhos por causa dele” (Mt 27, 19).

Primeiras testemunhas de Ressurreição

16. Desde o início da missão de Cristo, a mulher demonstra para com Ele e seu mistério uma sensibilidade especial que corresponde a uma característica da sua feminilidade. É preciso dizer, além do mais, que uma confirmação particular disso se verifica em relação ao mistério pascal, não só no momento da Cruz, mas também na manhã da Ressurreição. As mulheres são as primeiras junto à sepultura. São as primeiras a encontrá-la vazia. São as primeiras a ouvir: «não está aqui, porque ressuscitou, como tinha dito» (Mt 28, 6). São as primeiras a abraçar-lhe os pés (cf. Mt 28, 9). São também as primeiras a serem chamadas a anunciar esta verdade aos apóstolos (cf. Mt 28, 1-10; Lc 24, 8-11). O Evangelho de João (cf. também Mc 16, 9) coloca em destaque a função particular de Maria Madalena. É a primeira a encontrar o Cristo ressuscitado.

De início, supõe tratar-se do jardineiro; reconhece-o só quando ele a chama pelo nome: «Maria!» diz-lhe Jesus. Ela, voltando-se, exclama em hebraico: «Rabbuni!», que quer dizer «Mestre!» Diz-lhe Jesus: «não me retenhas, porque ainda não subi para o Pai; mas vai ter com meus irmãos e diz-lhes que vou subir para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus». E Maria Madalena foi logo anunciar aos discípulos: «Vi o Senhor e também o que lhe tinha falado» (Jo 20, 16-18).

Por isso ela é chamada também “a apóstola dos apóstolos” Maria Madalena foi a testemunha ocular do Cristo ressuscitado antes dos apóstolos e, por essa razão, foi também a primeira a dar-lhe testemunho diante dos apóstolos. Este acontecimento, em certo sentido, coroa tudo o que foi dito em precedência sobre o ato de Cristo de confiar as verdades divinas às mulheres, de igual maneira que aos homens. Pode-se dizer que assim se cumpriram as palavras do Profeta: “Derramarei o meu espírito sobre todo homem, e tornar-se-ão profetas os vossos filhos e as vossas filhas” (J1 3, 1). Cinquenta dias depois da ressurreição de Cristo, estas palavras confirmam-se mais uma vez no cenáculo de Jerusalém, durante a vinda do Espírito Santo, o Paráclito (cf. At 2, 17).

Tudo o que se disse até aqui sobre o comportamento de Cristo em relação às mulheres confirma e esclarece, no Espírito Santo, a verdade sobre a igualdade dos dois — homem e mulher. Deve-se falar de uma “paridade” essencial: dado que os dois — a mulher e o homem — são criados à imagem e semelhança de Deus, ambos são em igual medida susceptíveis de receber a dádiva da verdade divina e do amor no Espírito Santo. Um e outro acolhem as suas “visitas” salvíficas e santificantes.

O facto de ser homem ou mulher não comporta aqui nenhuma limitação, como não limita em absoluto a acção salvífica e santificante do Espírito no homem o facto de ser judeu ou grego, escravo ou livre, segundo as palavras bem conhecidas do apóstolo: “todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gál 3, 28). Esta unidade não anula a diversidade. O Espírito Santo, que opera essa unidade na ordem sobrenatural da graça santificante, contribui em igual medida para o facto que se “tornem profetas os vossos filhos” e que se tornem profetas “as vossas filhas”. “Profetizar” significa exprimir com a palavra e com a vida “as grandes obras de Deus” (cf. At 2, 11), conservando a verdade e a originalidade de cada pessoa, seja homem ou mulher. A “igualdade” evangélica, a “paridade” da mulher e do homem no que se refere às “grandes obras de Deus”, tal como se manifestou de modo tão límpido nas obras e nas palavras de Jesus de Nazaré, constitui a base mais evidente da dignidade e da vocação da mulher na Igreja e no mundo. Toda vocação tem um sentido profundamente pessoal e profético. Na vocação assim entendida, a personalidade da mulher atinge uma nova medida: a medida das “grandes obras de Deus”, das quais a mulher se torna sujeito vivo e testemunha insubstituível.

VI

MATERNIDADE - VIRGINDADE

Duas dimensões da vocação da mulher

17. Devemos agora dirigir a nossa meditação para a virgindade e a maternidade, duas dimensões particulares na realização da personalidade feminina. A luz do Evangelho, elas adquirem a plenitude do seu sentido e valor em Maria, que como Virgem se tornou Mãe do filho de Deus. Estas duas dimensões da vocação feminina encontraram-se nela e conjugaram-se de modo tão excepcional que, sem se excluírem, se completaram admiravelmente. A descrição da Anunciação no Evangelho de Lucas indica claramente que isso parecia impossível à Virgem de Nazaré. Quando ela ouve as palavras: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus”, ela logo pergunta: «Como se realizará isso, pois eu não conheço homem?» (Lc 1, 31. 34). Na ordem comum das coisas, a maternidade é fruto do “conhecimento” recíproco do homem e da mulher na união matrimonial. Maria, firme no propósito da própria virgindade, pergunta ao mensageiro divino, e dele obtém a explicação: «Virá sobre ti o Espírito Santo»; a tua maternidade não será consequência de um “conhecimento” matrimonial, mas será obra do Espírito Santo, e a «potência do Altíssimo» estenderá a sua “sombra” sobre o mistério da concepção e do nascimento do Filho. Como Filho do Altíssimo, ele te é dado exclusivamente por Deus, do modo conhecido por Deus. Maria, portanto, manteve o seu virginal «não conheço homem» (cf. Lc 1, 34) e, ao mesmo tempo, se tornou Mãe. A virgindade e a maternidade coexistem nela: não se excluem, nem se limitam reciprocamente. Antes, a pessoa da Mãe de Deus ajuda todos — especialmente todas as mulheres — a perceberem de que modo estas duas dimensões e estes dois caminhos da vocação da mulher, como pessoa, se desdobram e se completam reciprocamente.

Maternidade

18. Para participar deste “perceber” é preciso mais uma vez aprofundar a verdade sobre a pessoa humana, recordada pelo Concílio Vaticano II. O homem — tanto o homem como a mulher — é a única criatura na terra que Deus quis por si mesma: é uma pessoa, é um sujeito que decide por si. Ao mesmo tempo, o homem “não pode se encontrar plenamente senão por um dom sincero de si mesmo”. Já foi dito que esta descrição, aliás, em certo sentido, esta definição da pessoa corresponde à verdade bíblica fundamental sobre a criação do homem — homem e mulher — à imagem e semelhança de Deus. Esta não é uma interpretação puramente teórica, ou uma definição abstrata, pois ela indica essencialmente o sentido do ser humano, salientando o valor do dom de si, da pessoa. Nesta visão da pessoa inclui-se também a essência do “ethos” que, em ligação com a verdade da criação, será desenvolvido plenamente pelos Livros da Revelação e, particularmente, pelos Evangelhos.

Essa verdade sobre a pessoa abre, além disso, o caminho para uma plena compreensão da maternidade da mulher. A maternidade é fruto da união matrimonial entre um homem e uma mulher, do “conhecimento” bíblico que corresponde à “união dos dois numa só carne” (cf. Gén 2, 24) e, deste modo, ela realiza — por parte da mulher — um especial “dom de si mesma” como expressão do amor conjugal, pelo qual os esposos se unem entre si de modo tão íntimo que constituem “uma só carne”. O “conhecimento” bíblico realiza-se segundo a verdade da pessoa só quando o dom recíproco de si não é deformado nem pelo desejo do homem de tornar-se “senhor” da sua esposa (“ele te dominará”), nem pelo fechar-se da mulher nos próprios instintos (“sentir-te-ás atraída para o teu marido”: Gén 3, 16).

O dom recíproco da pessoa no matrimónio abre-se para o dom de uma nova vida, de um novo homem, que é também pessoa à semelhança de seus pais. A maternidade implica desde o início uma abertura especial para a nova pessoa: e precisamente esta é a “parte” da mulher. Nessa abertura, ao conceber e dar à luz o filho, a mulher “se encontra por um dom sincero de si mesma”. O dom da disponibilidade interior para aceitar e dar ao mundo o filho está ligado à união matrimonial, que — como foi dito — deveria constituir um momento particular do dom recíproco de si por parte tanto do homem como da mulher. A concepção e o nascimento do novo homem, segundo a Bíblia, são acompanhados das seguintes palavras da mulher-geratriz: “Adquiri um homem com o favor de Deus” (Gén 4, 1). A exclamação de Eva, “mãe de todos os viventes”, repete-se toda vez que vem ao mundo um novo homem e exprime a alegria e a consciência da mulher na participação do grande mistério do eterno gerar. Os esposos participam do poder criador de Deus!

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