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11/03/2012

Leitura Espiritual para 11 Mar 2012

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.




Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 7, 1-23

1 Tendo terminado este discurso ao povo, entrou em Cafarnaum. 2 Ora um centurião tinha doente, quase a morrer, um servo que lhe era muito querido. 3 Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-Lhe alguns anciãos dos judeus a pedir-Lhe que viesse curar o seu servo. 4 Eles, tendo ido ter com Jesus, pediam-Lhe instantemente, dizendo: «Ele merece que lhe faças esta graça, 5 porque é amigo da nossa nação e até nos edificou a sinagoga». 6 Jesus foi com eles. Quando estava já perto da casa, o centurião mandou uns amigos a dizer-Lhe: «Senhor, não Te incomodes, porque eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto. 7 Por essa razão nem eu me achei digno de ir ter contigo; mas diz uma só palavra, e o meu servo será curado. 8 Porque também eu, simples subalterno, tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: Vai! e ele vai; e a outro: Vem! e ele vem; e ao meu servo: Faz isto! e ele faz». 9 Jesus, ao ouvir isto, ficou admirado e, voltando-Se para a multidão que O seguia, disse: «Em verdade vos digo que não encontrei tanta fé em Israel». 10 Voltando para casa os que tinham sido enviados, encontraram o servo curado. 11 No dia seguinte foi para uma cidade, chamada Naim. Iam com Ele os Seus discípulos e muito povo.12 Quando chegou perto da porta da cidade, eis que era levado a sepultar um defunto, filho único de uma viúva; e ia com ela muita gente da cidade. 13 Tendo-a visto, o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: «Não chores». 14 Aproximou-Se, tocou no caixão, e os que o levavam pararam. Então disse: «Jovem, Eu te ordeno, levanta-te». 15 E o que tinha estado morto sentou-se, e começou a falar. Depois, Jesus, entregou-o à sua mãe. 16 Todos ficaram possuídos de temor e glorificavam a Deus, dizendo: «Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus visitou o Seu povo». 17 Esta opinião a respeito d'Ele espalhou-se por toda a Judeia e por toda a região circunvizinha. 18 Os discípulos de João referiam-lhe todas estas coisas. 19 João chamou dois e enviou-os a Jesus a dizer-Lhe: «És Tu o que há-de vir ou devemos esperar outro?» 20 Tendo ido ter com Ele, disseram-Lhe: «João Baptista enviou-nos a Ti, para Te perguntar: “És Tu o que há-de vir ou devemos esperar outro?”». 21 Naquela mesma ocasião Jesus curou muitos de doenças, de males, de espíritos malignos, e deu vista a muitos cegos. 22 Depois respondeu-lhes: «Ide referir a João o que vistes e ouvistes: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciada a boa nova; 23 e bem-aventurado aquele que não tiver em Mim ocasião de queda».


«Incarnationis mysterium”

BULA DE PROCLAMAÇÃO DO GRANDE JUBILEU DO ANO 2000
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9. Outro sinal peculiar, bem conhecido dos fiéis, é a indulgência, um dos elementos constitutivos do evento jubilar. Nela se manifesta a plenitude da misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos com o seu amor, expresso primariamente no perdão das culpas. Ordinariamente Deus Pai concede o seu perdão por meio do sacramento da Penitência e da Reconciliação. [i] De facto, a rendição consciente e livre ao pecado grave separa o crente da vida da graça com Deus, excluindo-o consequentemente da santidade a que é chamado. A Igreja, tendo recebido de Cristo o poder de perdoar em seu nome (cf. Mt 16, 19; Jo 20, 23), é, no mundo, a presença viva do amor de Deus que se inclina sobre toda a fraqueza humana para a acolher no abraço da sua misericórdia. É precisamente através do ministério da sua Igreja que Deus espalha pelo mundo a sua misericórdia por meio daquele dom precioso que, segundo antiquíssima designação, se chama “indulgência”.

O sacramento da Penitência oferece ao pecador “uma nova possibilidade de se converter e reencontrar a graça da justificação”, [ii] obtida pelo sacrifício de Cristo. Fica assim inserido novamente na vida de Deus e com plena participação na vida da Igreja. Confessando os seus pecados, o crente recebe verdadeiramente o perdão e pode tomar parte de novo na Eucaristia, como sinal da recuperada comunhão com o Pai e com a sua Igreja. Porém, a Igreja esteve sempre, desde a antiguidade, profundamente convencida de que o perdão, concedido gratuitamente por Deus, implica como consequência uma real mudança de vida, uma eliminação progressiva do mal interior, um renovamento da existência própria. O acto sacramental devia ser acompanhado por um acto existencial, com uma real purificação da culpa, que se chama precisamente penitência. Perdão não significa que este processo existencial se torne supérfluo, mas antes que adquire um sentido, que é aceite e agradável a Deus.

De facto, a realização da reconciliação com Deus não exclui a permanência de algumas consequências do pecado, das quais é necessário purificar-se. É precisamente neste âmbito que ganha relevo a indulgência, através da qual se manifesta o “dom total da misericórdia de Deus”. [iii] Pela indulgência é concedida, ao pecador arrependido, a remissão da pena temporal devida pelos seus pecados já perdoados quanto à culpa.

10. Com efeito, o pecado, devido ao seu carácter de ofensa à santidade e à justiça de Deus e também de desprezo da amizade pessoal que Deus tem pelo homem, tem uma dupla consequência. Em primeiro lugar, se for grave, comporta a privação da comunhão com Deus e, consequentemente, a exclusão da participação na vida eterna. Ao pecador arrependido, contudo, Deus, na sua misericórdia, concede o perdão do pecado grave e a remissão da “pena eterna” que lhe era devida.

Em segundo lugar, “todo o pecado, mesmo venial, traz consigo um apego desordenado às criaturas, o qual tem de ser purificado, quer nesta vida quer depois da morte, no estado que se chama Purgatório. Esta purificação liberta da chamada “pena temporal” do pecado”;  [iv] expiada esta é que fica cancelado tudo aquilo que obsta à plena comunhão com Deus e com os irmãos.

Por outro lado, a Revelação ensina que o cristão não está sozinho no seu caminho de conversão. Em Cristo e por Cristo, a sua vida encontra-se ligada por um vínculo misterioso à vida de todos os outros cristãos na unidade sobrenatural do Corpo místico. Deste modo, instaura-se entre os fiéis um intercâmbio maravilhoso de bens espirituais, em virtude do qual a santidade de um aproveita aos outros numa medida muito superior ao dano que o pecado de um pôde causar aos demais. Há pessoas que deixam atrás de si uma espécie de saldo de amor, sofrimento suportado, pureza e verdade, que atrai e sustenta os outros. É o fenómeno da “vicariedade”, sobre o qual assenta todo o mistério de Cristo. O seu amor superabundante salva-nos a todos. E faz parte também da grandeza do amor de Cristo não nos deixar na condição de destinatários passivos, mas chamar-nos a colaborar na sua obra salvífica e de modo particular na sua paixão. Assim o exprime o conhecido texto da carta aos Colossenses: “Completo o que falta aos sofrimentos de Cristo na minha carne, em favor do seu Corpo que é a Igreja” (1, 24).

Esta profunda realidade aparece admiravelmente expressa também numa passagem do Apocalipse, onde se descreve a Igreja como a esposa adornada com um vestido simples de linho branco, mas de linho fino, puro e resplandecente. E S. João escreve: “O linho fino são as virtudes dos santos” (Ap 19, 8). De facto, na vida dos santos é tecido aquele linho fino e resplandecente que é o vestido da eternidade.

Tudo provém de Cristo, mas, porque nós Lhe pertencemos, o que é nosso torna-se também d'Ele e adquire uma força que cura. A isto se alude ao falar do “tesouro da Igreja”, que são as obras boas dos santos. Rezar para obter a indulgência significa entrar nesta comunhão espiritual e, por conseguinte, abrir-se completamente aos outros. De facto, mesmo no âmbito espiritual, ninguém vive para si mesmo. E a preocupação salutar pela salvação da própria alma fica liberta do temor e do egoísmo apenas quando se torna também preocupação pela salvação do outro. É a realidade da comunhão dos santos, o mistério da “realidade vicária”, da oração como caminho de união com Cristo e com os seus santos. Ele toma-nos consigo para tecermos, juntamente com Ele, a veste branca da nova humanidade, a veste de linho fino resplandecente da Esposa de Cristo.

Assim, esta doutrina sobre as indulgências “ensina em primeiro lugar quão triste e amargo é ter abandonado o Senhor Deus (cf. Jer 2, 19). Com efeito os fiéis, quando lucram as indulgências, compreendem que com as suas próprias forças não seriam capazes de reparar o mal que, pelo pecado, causaram a si mesmos e a toda a comunidade, e consequentemente sentem-se estimulados a realizar actos salutares de humildade”. [v] Depois, a verdade acerca da comunhão dos santos, que une os crentes a Cristo e uns aos outros, ensina-nos também quanto pode cada um servir de ajuda aos outros — vivos ou defuntos — a fim de viverem cada vez mais intimamente unidos ao Pai celeste.

Com base nestas razões doutrinais e interpretando o sentir maternal da Igreja, disponho que todos os fiéis, convenientemente preparados, possam usufruir abundantemente, ao longo de todo o Jubileu, do dom da indulgência, segundo as indicações que acompanham esta Bula (cf. decreto anexo).

11. Estes sinais fazem parte já da tradição da celebração jubilar. Mas, o povo de Deus não deixará de manter a sua mente aberta para reconhecer outros possíveis sinais da misericórdia de Deus, operante no Jubileu. Na Carta Apostólica Tertio millennio adveniente, indiquei alguns que podem contribuir adequadamente para viver, com maior intensidade, a graça excelsa do Jubileu. [vi] Recordo-os aqui brevemente.

Antes de mais, o sinal da purificação da memória: isto requer de todos um acto de coragem e de humildade para reconhecerem as faltas cometidas por quantos detiveram e detêm o nome de cristãos.

O Ano Santo é, por sua natureza, um tempo de chamada à conversão. E esta constitui o primeiro tema da pregação de Jesus, com o qual está significativamente conexo o da disponibilidade a crer: “Arrependei-vos e acreditai na Boa Nova” (Mc 1, 15). Este imperativo de Cristo resulta da tomada de consciência do facto que “se completou o tempo” (Mc 1, 15). O completar-se o tempo de Deus traduz-se em apelo à conversão. Aliás, esta é primariamente fruto da graça. O Espírito é que impele cada um a “cair em si mesmo” e a sentir a necessidade de regressar à casa do Pai (cf. Lc 15, 17-20). Por conseguinte, o exame de consciência constitui um dos momentos mais qualificantes da existência pessoal. Por ele, de facto, cada pessoa é confrontada com a verdade da própria vida; e descobre assim a distância que separa as suas acções do ideal que se tinha proposto.

A história da Igreja é uma história de santidade. O Novo Testamento sublinha esta característica dos baptizados: são “santos” na medida em que, separados do mundo enquanto sujeito ao Maligno, se consagram a prestar o culto ao único e verdadeiro Deus. De facto, esta santidade manifesta-se nas vidas de tantos Santos e Beatos reconhecidos pela Igreja, mas também na vida de uma multidão imensa de mulheres e homens desconhecidos, cujo número é impossível calcular (cf. Ap 7, 9). A sua vida atesta a verdade do Evangelho, oferecendo ao mundo o sinal visível de que a perfeição é possível. No entanto, é forçoso reconhecer que a história regista também numerosos episódios que constituem um contra-testemunho para o cristianismo. Por causa daquele vínculo que nos une uns aos outros dentro do Corpo místico, todos nós, embora não tendo responsabilidade pessoal por isso e sem nos substituirmos ao juízo de Deus — o único que conhece os corações —, carregamos o peso dos erros e culpas de quem nos precedeu. Mas, também nós, filhos da Igreja, pecámos, tendo impedido à Esposa de Cristo de resplandecer em toda a beleza do seu rosto. O nosso pecado estorvou a acção do Espírito no coração de muitas pessoas. A nossa pouca fé fez cair na indiferença e afastou muitos de um autêntico encontro com Cristo.

Como Sucessor de Pedro, peço que neste ano de misericórdia a Igreja, fortalecida pela santidade que recebe do seu Senhor, se ajoelhe diante de Deus e implore o perdão para os pecados passados e presentes dos seus filhos. Todos pecaram, e ninguém pode declarar-se justo diante de Deus (cf. 1 Rs 8, 46). Repita-se sem temor: “Pecámos” (Jer 3, 25), mas mantendo viva a certeza de que, “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20).

O abraço que o Pai reserva para quem vier, arrependido, ao seu encontro será a justa recompensa para o reconhecimento humilde das culpas próprias e alheias, fundado na consciência do vínculo profundo que une entre si os membros todos do Corpo místico de Cristo. Os cristãos são convidados a assumir, perante Deus e os homens ofendidos pelos seus comportamentos, as faltas que cometeram. Façam-no sem nada pedir em troca, animados apenas pelo “amor de Deus [que] foi derramado em nossos corações” (Rm 5, 5). Não faltarão pessoas imparciais, capazes de reconhecer que a história do passado e do presente registou e continua a registar frequentes episódios de marginalização, de injustiça e de perseguição contra os filhos da Igreja.

Neste ano jubilar, ninguém queira excluir-se do abraço do Pai. Ninguém se porte como o irmão mais velho da parábola evangélica que se recusa a entrar em casa para festejar (cf. Lc 15, 25-30). A alegria do perdão seja mais forte e maior do que todo e qualquer ressentimento. Deste modo, a Esposa brilhará aos olhos do mundo com aquela beleza e santidade que provém da graça do Senhor. Há dois mil anos que a Igreja é o berço onde Maria depõe Jesus e O confia à adoração e contemplação de todos os povos. Possa, através da humildade da Esposa, resplandecer ainda mais a glória e a força da Eucaristia, que ela celebra e conserva no seu seio. Nos sinais do Pão e do Vinho consagrados, Cristo ressuscitado e glorioso, luz das nações (cf. Lc 2, 32), revela a continuidade da sua Encarnação. Ele permanece verdadeiramente vivo no nosso meio, para alimentar os crentes com o seu Corpo e Sangue.

Por isso, voltemos o olhar para o futuro. O Pai misericordioso não leva em conta os pecados de que verdadeiramente estamos arrependidos (cf. Is 38, 17). Ele realiza aqui algo de novo pois, no amor que perdoa, antecipa os novos céus e a nova terra. Portanto, que a fé se revigore, cresça a esperança, e a caridade se torne cada vez mais operativa, em ordem a um renovado compromisso de testemunho cristão no mundo do próximo milénio.

12. Um sinal da misericórdia de Deus, particularmente necessário hoje, é o da caridade, que abre os nossos olhos às carências daqueles que vivem pobres e marginalizados. Tais situações estendem-se hoje sobre vastas áreas sociais e cobrem populações inteiras com a sua sombra mortífera. O género humano tem pela frente novas formas de escravatura, mais subtis do que as conhecidas no passado; para muitas pessoas, a liberdade continua a ser uma palavra destituída de conteúdo. Numerosas nações, especialmente as mais pobres, vivem oprimidas por uma dívida que assumiu tais proporções que o seu pagamento se tornou praticamente impossível. Por outro lado, é claro que não se pode atingir um progresso real sem uma efectiva colaboração entre os povos das diversas línguas, raças, nacionalidades e religiões. Devem ser eliminadas as prepotências que levam ao predomínio de uns sobre os outros: tais prepotências são pecado e injustiça. Quem se preocupa em acumular tesouros apenas na terra (cf. Mt 6, 19), “não enriquece diante de Deus” (Lc 12, 21).

Da mesma forma, deve-se criar uma nova cultura de solidariedade e cooperação internacionais, na qual todos — especialmente os países ricos e o sector privado — assumam a sua quota-parte de responsabilidade para se chegar a um modelo de economia ao serviço de toda a pessoa. Não deve ser prorrogado ulteriormente o tempo em que também o pobre Lázaro possa sentar-se ao lado do rico para partilhar do mesmo banquete, sem ter de continuar constrangido a alimentar-se do que cai da mesa (cf. Lc 16, 19-31). A pobreza extrema é fonte de violências, rancores e escândalos; remediá-la é trabalhar pela justiça e consequentemente pela paz.

O Jubileu é um apelo mais à conversão do coração, através da mudança de vida. A todos recorda que não se deve absolutizar os bens da terra porque não são Deus, nem o seu domínio ou a pretensão de domínio pelo homem porque a terra pertence a Deus e a Ele somente: “A terra pertence-Me, e vós sois apenas estrangeiros e hóspedes na minha casa” (Lv 25, 23). Possa este ano de graça tocar o coração de quantos têm nas suas mãos os destinos dos povos!

13. Um sinal perene, e hoje particularmente eloquente, da verdade do amor cristão é a memória dos mártires. O seu testemunho não fique esquecido. Eles anunciaram o Evangelho, dando a vida por amor. Sobretudo nos nossos dias, o mártir é sinal daquele amor maior que contém em si todos os outros valores. A sua existência reflecte aquela palavra suprema, pronunciada por Cristo na cruz: “Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). O fiel que tenha considerado seriamente a sua vocação cristã, dentro da qual o martírio aparece como uma possibilidade preanunciada na Revelação, não pode excluir esta perspectiva do horizonte da própria vida. Estes dois mil anos depois do nascimento de Cristo estão marcados pelo persistente testemunho dos mártires.

Também este século, que caminha para o seu ocaso, conheceu numerosíssimos mártires, sobretudo por causa do nazismo, do comunismo e das lutas raciais ou tribais. Sofreram pela sua fé pessoas das diversas condições sociais, pagando com o sangue a sua adesão a Cristo e à Igreja ou enfrentando corajosamente infindáveis anos de prisão e de privações de todo o género, para não cederem a uma ideologia que se transformou num regime de cruel ditadura. Do ponto de vista psicológico, o martírio é a prova mais eloquente da verdade da fé, que consegue dar um rosto humano inclusive à morte mais violenta e manifestar a sua beleza mesmo nas perseguições mais atrozes.

Inundados pela graça no próximo ano jubilar, poderemos mais vigorosamente erguer ao Pai o nosso hino de gratidão, cantando: Te martyrum candidatus laudat exercitus (o exército resplandecente dos mártires canta os vossos louvores). Sim, é o exército daqueles que “lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro” (Ap 7, 14). Por isso, a Igreja espalhada por toda a terra deverá permanecer ancorada ao seu testemunho e defender zelosamente a sua memória. Possa o povo de Deus, revigorado na fé pelos exemplos destes autênticos campeões de diversa idade, língua e nação, cruzar confiadamente o limiar do terceiro milénio. À admiração pelo seu martírio associe-se, no coração dos fiéis, o desejo de poderem, com a graça de Deus, seguir o seu exemplo, caso o exijam as circunstâncias.

14. A alegria jubilar não seria completa se o olhar não se voltasse para Aquela que, com plena obediência ao Pai, para nós gerou na carne o Filho de Deus. Em Belém, completaram-se para Maria “os dias de Ela dar à luz” (Lc 2, 6), e, cheia do Espírito, deu à luz o Primogénito da nova criação. Chamada a ser a Mãe de Deus, Maria viveu plenamente a sua maternidade, desde o dia da concepção virginal até achar o seu coroamento no Calvário aos pés da cruz. Lá, por dom admirável de Cristo, Ela tornou-Se também Mãe da Igreja, a todos indicando a estrada que conduz ao Filho.

Mulher do silêncio e da escuta, dócil nas mãos do Pai, a Virgem Maria é chamada “bem-aventurada” por todas as gerações, porque soube reconhecer as maravilhas que n'Ela realizou o Espírito Santo. Jamais os povos se cansarão de invocar a Mãe da misericórdia, e sempre encontrarão refúgio sob a sua protecção. Aquela que, com seu filho Jesus e o esposo José, foi em peregrinação ao templo santo de Deus, proteja o caminho de quantos se fizerem peregrinos neste ano jubilar. Queira Ela interceder com particular intensidade, durante os próximos meses pelo povo cristão, para que obtenha a abundância da graça e da misericórdia, enquanto rejubila pelos dois mil anos passados desde o nascimento do seu Salvador.

A Deus Pai no Espírito Santo suba o louvor da Igreja, pelo dom da salvação em Cristo Senhor, agora e pelos séculos que hão-de vir.

Dado em Roma, junto de S. Pedro, no primeiro Domingo de Advento, dia 29 de Novembro do ano do Senhor de 1998, vigésimo primeiro de Pontificado.

Joannes Paulus II


[i] Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Reconciliatio et pænitentia (2 de Dezembro de 1984), 28-34: AAS 77 (1985), 250-273.
[ii] Catecismo da Igreja Católica, n. 1446.
[iii] João Paulo II, Bula Aperite portas Redemptori (6 de Janeiro de 1983), 8: AAS 75 (1983), 98.
[iv] Catecismo da Igreja Católica, n. 1472.
[v] Paulo VI, Const. ap. Indulgentiarum doctrina (1 de Janeiro de 1967), 9: AAS 59 (1967), 18.
[vi] Cf. nn. 33.37.51: AAS 87 (1995), 25-26.29-30.36.

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