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10/03/2012

Leitura Espiritual para 10 Mar 2012

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.




Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 6, 27-49

27 «Mas digo-vos a vós, que Me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; 28 abençoai os que vos amaldiçoam, orai pelos que vos caluniam. 29 Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. Ao que te tirar o manto, não o impeças de levar também a túnica. 30 Dá a todo aquele que te pede; e ao que leva o que é teu, não lho tornes a pedir. 31 O que quereis que vos façam os homens, fazei-o vós também a eles. 32 Se amais os que vos amam, que mérito tendes? Porque os pecadores também amam quem os ama. 33 Se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que mérito tendes? Os pecadores também fazem o mesmo. 34 Se emprestardes àqueles de quem esperais receber, que mérito tendes? Os pecadores também emprestam aos pecadores, para que se lhes faça outro tanto. 35 Vós, porém, amai os vossos inimigos; fazei bem e emprestai sem daí esperardes nada; e será grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, que é bom para com os ingratos e os maus. 36 Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. 37 Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; 38 dai e dar-se-vos-á. Uma medida boa, cheia, recalcada e a transbordar vos será lançada nas dobras do vosso vestido. Porque, com a mesma medida com que medirdes para os outros, será medido para vós». 39 Dizia-lhes também esta comparação: «Pode, porventura, um cego guiar outro cego? Não cairão ambos nalguma cova? 40 O discípulo não é mais que o mestre; mas todo o discípulo será perfeito, se for como o seu mestre. 41 «Porque vês tu a palha no olho do teu irmão, e não notas a trave que tens no teu? 42 Ou como podes tu dizer a teu irmão: “Deixa, irmão, que eu tire do teu olho a palha”, não vendo tu mesmo a trave que tens no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e depois verás bem para tirar a palha do olho de teu irmão. 43 Porque não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. 44 Porquanto cada árvore se conhece pelo seu fruto; pois nem se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos. 45 O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; o homem mau, do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala da abundância do coração. 46 «Porque Me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que Eu vos digo? 47 Todo aquele que vem a Mim, ouve as Minhas palavras, e as põe em prática, vou mostrar-vos a quem é semelhante. 48 É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou profundamente e pôs os alicerces sobre a rocha. Vindo uma inundação, investiu a torrente contra aquela casa e não pôde movê-la, porque estava bem edificada. 49 Mas quem ouve e não pratica, é semelhante a um homem que edificou a sua casa sobre a terra, sem alicerces. Investiu a torrente contra ela, e logo caiu, e foi grande a ruína daquela casa».


«Incarnationis mysterium”

BULA DE PROCLAMAÇÃO DO GRANDE JUBILEU DO ANO 2000


JOÃO PAULO BISPO
SERVO DOS SERVOS DE DEUS
A TODOS OS FIÉIS QUE CAMINHAM
PARA O TERCEIRO MILÉNIO:
SAÚDE E BÊNÇÃO APOSTÓLICA!


1. Tendo o mistério da encarnação do Filho de Deus diante dos olhos, a Igreja está para cruzar o limiar do terceiro milénio. Neste momento, mais do que nunca, sentimos o dever de fazer nosso o cântico de louvor e agradecimento do Apóstolo: «Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, do alto dos Céus, nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que n'Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos seus olhos. Predestinou-nos para sermos seus filhos adoptivos por meio de Jesus Cristo, por sua livre vontade. (...) [Deu-nos] a conhecer o mistério da sua vontade, segundo o beneplácito que n'Ele de antemão estabelecera, para ser realizado ao completarem-se os tempos: reunir sob a chefia de Cristo todas as coisas que há no céu e na terra» (Ef 1, 3-5.9-10).

Por estas palavras, se vê claramente que a história da salvação tem o seu ponto culminante e significado supremo em Jesus Cristo. N'Ele, todos nós recebemos «graça sobre graça» (Jo 1, 16), conseguindo ser reconciliados com o Pai (cf. Rm 5, 10; 2 Cor 5, 18).

O nascimento de Jesus em Belém não é um facto que se possa relegar para o passado. Diante d'Ele, com efeito, está a história humana inteira: o nosso tempo actual e o futuro do mundo são iluminados pela sua presença. Ele é “o Vivente” (Ap 1, 18), “Aquele que é, que era e que há-de vir” (Ap 1, 4). Diante d'Ele, deve dobrar-se todo o joelho no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua há-de proclamar que Ele é o Senhor (cf. Fil 2, 10-11). Cada homem, ao encontrar Cristo, descobre o mistério da sua própria vida. [i]

Jesus é verdadeiramente a realidade nova que supera tudo quanto a humanidade pudesse esperar, e tal permanecerá para sempre ao longo das épocas sucessivas da história. Deste modo, a encarnação do Filho de Deus e a salvação que realizou com a sua morte e ressurreição são o verdadeiro critério para avaliar a realidade temporal e qualquer projecto que procure tornar a vida do homem cada vez mais humana.

2. O Grande Jubileu do Ano 2000 está à porta. Desde a minha primeira Carta Encíclica, a Redemptor hominis, chamei a atenção para esta meta unicamente com o objectivo de preparar o ânimo de todos para se tornarem dóceis à acção do Espírito. [ii] Trata-se de um evento que será celebrado simultaneamente em Roma e em todas as Igrejas Particulares espalhadas pelo mundo e terá, por assim dizer, dois centros: um será a Cidade onde a Providência quis colocar a sede do Sucessor de Pedro e o outro, a Terra Santa onde o Filho de Deus enquanto homem nasceu, tomando a nossa carne de uma Virgem, chamada Maria (cf. Lc 1, 27). Por isso o Jubileu, além de ser celebrado em Roma, sê-lo-á também, com igual dignidade e importância, naquela Terra justamente chamada “santa” por ter visto nascer e morrer Jesus. Aquela Terra, na qual desabrochou a primeira comunidade cristã, é o lugar onde se verificaram as revelações de Deus à humanidade. É a Terra prometida que marcou a história do povo judeu, e é venerada também pelos adeptos do Islamismo. Possa o Jubileu propiciar um passo mais no diálogo recíproco, até um dia podermos, todos juntos — judeus, cristãos e muçulmanos —, trocar entre nós a saudação da paz em Jerusalém. [iii]

O tempo jubilar faz-nos ouvir aquela linguagem vigorosa que Deus usa, na sua pedagogia de salvação, para impelir o homem à conversão e à penitência, princípio e caminho da sua reabilitação e também condição para recuperar aquilo que não poderia conseguir só com as suas forças: a amizade de Deus, a sua graça, a vida sobrenatural, a única onde podem achar solução as aspirações mais profundas do coração humano.

A entrada no novo milénio encoraja a comunidade cristã a alargar o seu olhar de fé para horizontes novos no anúncio do Reino de Deus. Numa ocorrência tão especial como esta, é forçoso voltar com fidelidade segura à doutrina do Concílio Vaticano II, o qual, considerando as exigências actuais da evangelização, projectou nova luz sobre o compromisso missionário da Igreja. De facto, no Concílio a Igreja adquiriu uma consciência mais viva do seu próprio mistério e da missão apostólica que lhe foi confiada pelo seu Senhor. Esta consciência obriga a comunidade dos crentes a viver no mundo ciente de que é “o fermento e a alma da sociedade humana, a qual deve ser renovada em Cristo e transformada em família de Deus”. [iv] Para corresponder eficazmente a tal compromisso, ela deve permanecer na unidade e crescer na sua vida de comunhão. [v] A iminência do evento jubilar constitui um vigoroso estímulo nesta direcção.

A passagem dos crentes para o terceiro milénio não se ressente de forma alguma do cansaço que o peso de dois mil anos de história poderia acarretar consigo; antes, os cristãos sentem-se revigorados com a certeza de levarem ao mundo a luz verdadeira, Cristo Senhor. Ao anunciar Jesus de Nazaré, verdadeiro Deus e perfeito Homem, a Igreja oferece a todo o ser humano a perspectiva de ser “divinizado” e, dessa forma, tornar-se mais homem. [vi] Este é o único caminho pelo qual o mundo pode descobrir a sublime vocação a que é chamado, e realizá-la na salvação operada por Deus.

3. Durante estes anos de preparação imediata para o Jubileu, as Igrejas Particulares, de acordo com o que escrevi na minha Carta Tertio millennio adveniente, [vii] têm vindo a predispor-se, por meio da oração, da catequese e do empenho nas diversas formas da pastoral, para este evento que introduz a Igreja inteira num novo período de graça e de missão. E a aproximação da efeméride jubilar suscita também um crescente interesse da parte de quantos andam à procura de um sinal propício que os ajude a discernir os traços da presença de Deus no nosso tempo.

Os anos de preparação para o Jubileu foram colocados sob o signo da Santíssima Trindade: por Cristo — no Espírito Santo — a Deus Pai. O mistério da Trindade é origem do caminho de fé e o seu termo último, quando finalmente os nossos olhos contemplarem eternamente o rosto de Deus. Ao celebrarmos a Encarnação, mantemos o olhar fixo no mistério da Trindade. Jesus de Nazaré, revelador do Pai, satisfez plenamente o desejo escondido no coração de cada homem de conhecer Deus. Aquilo que a criação conservava impresso nela como selo da mão criadora de Deus e que os antigos Profetas tinham anunciado como promessa, tem a sua manifestação definitiva com a revelação de Cristo. [viii]

Jesus revela o rosto de Deus Pai, “misericordioso e compassivo” (Tg 5, 11), e, com o envio do Espírito Santo, torna patente o mistério de amor da Trindade. É o Espírito de Cristo que actua na Igreja e na história: é preciso permanecer à escuta d'Ele para reconhecer os sinais dos novos tempos e fazer com que a expectativa do regresso do Senhor glorioso se torne cada vez mais ardente no coração dos fiéis. Por isso, o Ano Santo deverá ser um único e incessante cântico de louvor à Trindade, Deus Altíssimo. Podem ajudar-nos estas palavras poéticas de S. Gregório de Nazianzo, o Teólogo:

“Glória a Deus Pai e ao Filho,
Rei do universo.
Glória ao Espírito, digno de louvor e todo santo.
A Trindade é um só Deus
que tudo criou e cumulou:
o céu de seres celestes, e a terra de terrestres.
O mar, os rios e as fontes,
Ele encheu-os de seres aquáticos,
tudo vivificando com o seu Espírito,
para que toda a criatura
entoe hinos ao seu sábio Criador,
causa única do viver e da duração dos seus dias.
Mais do que qualquer outra,
louve-O sempre a criatura racional
como grande Rei e Pai bom”. [ix]

4. Possa este hino à Trindade pela encarnação do Filho ser elevado conjuntamente por todos aqueles que, tendo recebido o mesmo Baptismo, partilham a mesma fé no Senhor Jesus. O carácter ecuménico do Jubileu seja um sinal concreto do caminho que, sobretudo nestes últimos decénios, estão a realizar os fiéis das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais. É a escuta do Espírito que nos deve tornar, a todos, capazes de chegar a manifestar visivelmente, na plena comunhão, a graça da filiação divina inaugurada pelo Baptismo: todos somos filhos de um único Pai. O Apóstolo não cessa de repetir, também hoje para nós, esta empenhada exortação: “Há um só corpo e um só Espírito, como existe uma só esperança no chamamento que recebestes. Há um único Senhor, uma única fé, um único baptismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, actua por meio de todos e Se encontra em todos” (Ef 4, 4-6). Parafraseando Santo Ireneu, não podemos permitir-nos de dar ao mundo a imagem de terra árida, depois de termos recebido a Palavra de Deus como chuva descida do céu; nem nunca poderemos pretender tornarmo-nos um único pão, se impedirmos à farinha de ser amalgamada pela água que sobre nós foi derramada. [x]

Cada ano jubilar é uma espécie de convite para uma festa nupcial. Acorramos todos, vindos das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais espalhadas pelo mundo, para a festa que se prepara; tragamos connosco aquilo que já nos une, e o olhar fixo unicamente em Cristo permita-nos crescer na unidade que é fruto do Espírito. Como Sucessor de Pedro, o Bispo de Roma vem por este meio dar maior força ao convite para a celebração jubilar, a fim de que a ocorrência bimilenária do mistério central da fé cristã seja vivida como caminho de reconciliação e como sinal de genuína esperança para todos os que levantam seu olhar para Cristo e para a sua Igreja, sacramento “da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano”. [xi]

5. Quantos acontecimentos históricos evoca a ocorrência jubilar! Penso naquele ano 1300, quando o Papa Bonifácio VIII, correspondendo ao desejo de todo o povo de Roma, deu solene início ao primeiro Jubileu da história. Retomando uma antiga tradição que conferia “abundantes remissões e indulgências de pecados” a quantos visitassem, na Cidade Eterna, a Basílica de S. Pedro, ele quis conceder naquela altura “uma indulgência de todos os pecados, não só mais abundante, mas pleníssima”. [xii] Desde então, a Igreja sempre celebrou o Jubileu como uma etapa significativa do seu caminhar para a plenitude em Cristo.

A história mostra o grande ímpeto com que o Povo de Deus sempre viveu os Anos Santos, vendo neles um tempo em que se fazia sentir mais intensamente o convite de Jesus à conversão. Não faltaram abusos e incompreensões ao longo deste caminho, mas os testemunhos de fé autêntica e de sincera caridade superam-nos de longe. Atesta-o de modo exemplar a figura de S. Filipe Néri, que, por ocasião do Jubileu de 1550, iniciou a chamada “caridade romana”, sinal tangível do acolhimento reservado aos peregrinos. Poder-se-ia escrever uma longa história de santidade, partindo precisamente da prática do Jubileu e dos frutos de conversão que a graça do perdão produziu em tantos crentes.

6. Durante o meu pontificado, tive a alegria de proclamar, em 1983, o Jubileu extraordinário pelos 1950 anos da redenção do género humano. Este mistério, realizado na morte e ressurreição de Cristo, constitui o auge dum evento que tem o seu início na encarnação do Filho de Deus. Por isso, este Jubileu pode justamente ser considerado “grande”, e a Igreja nutre o vivo desejo de acolher nos seus braços todos os fiéis, para lhes oferecer a alegria da reconciliação. De toda a Igreja elevar-se-á o hino de louvor e acção de graças ao Pai, que, no seu amor incomparável, nos concedeu em Cristo a graça de sermos “concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2, 19). Por ocasião desta grande festa, convidamos cordialmente a partilharem também da nossa alegria os adeptos de outras religiões e ainda todos aqueles que estão longe da fé em Deus. Como irmãos da única família humana, atravessamos juntos o limiar dum novo milénio, que exigirá o empenhamento e a responsabilidade de todos.

Para nós, crentes, o ano jubilar porá claramente em relevo a redenção operada por Cristo através da sua morte e ressurreição. Depois desta morte, ninguém pode ser separado do amor de Deus (cf. Rm 8, 21-39), senão por culpa própria. A graça da misericórdia vem ao encontro de todos, para que quantos foram reconciliados possam também ser “salvos pela sua vida” (Rm 5, 10).

Estabeleço, portanto, que o Grande Jubileu do Ano 2000 tenha início na noite de Natal de 1999, com a abertura da porta santa da Basílica de S. Pedro do Vaticano, que antecederá de poucas horas tanto a celebração inaugural prevista em Jerusalém e em Belém como a abertura da porta santa nas outras Basílicas Patriarcais de Roma. Quanto à Basílica de S. Paulo, a abertura da porta santa fica adiada para o dia 18 de Janeiro seguinte — uma terça-feira —, início da Semana de oração pela unidade dos cristãos, para sublinhar, deste modo também, o carácter ecuménico peculiar que possui este Jubileu.

Além disso, estabeleço que a inauguração do Jubileu nas Igrejas Particulares seja celebrada no dia santíssimo do Natal do Senhor Jesus, com uma solene Liturgia Eucarística presidida pelo Bispo diocesano na catedral e também na concatedral. Relativamente à concatedral, o Bispo pode confiar a presidência da celebração a um seu delegado. Uma vez que o rito de abertura da porta santa é próprio da Basílica Vaticana e das Basílicas Patriarcais, será conveniente que, na inauguração do período jubilar em cada uma das dioceses, tenha preferência a statio noutra igreja donde partirá a peregrinação para a catedral, a valorização litúrgica do Livro dos Evangelhos, a leitura de alguns parágrafos desta Bula, segundo as indicações do “Ritual da celebração do Grande Jubileu nas Igrejas Particulares”.

Que o Natal de 1999 seja, para todos, uma solenidade radiante de luz, o prelúdio duma experiência particularmente profunda de graça e misericórdia divina, que se prolongará até ao encerramento do Ano jubilar no dia da Epifania de Nosso Senhor Jesus Cristo, a 6 de Janeiro do ano 2001. Cada crente acolha o convite que os Anjos anunciam incessantemente: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens do seu agrado” (Lc 2, 14). Deste modo, o tempo do Natal será o coração pulsante do Ano Santo, que há-de trazer à vida da Igreja a abundância dos dons do Espírito para uma nova evangelização.

7. A instituição do Jubileu foi-se enriquecendo, ao longo da sua história, com sinais que atestam a fé e favorecem a devoção do povo cristão. De entre eles, há que recordar, antes de mais, a peregrinação. Esta reproduz a condição do homem, que gosta de descrever a sua própria existência como um caminho. Do nascimento até à morte, cada um vive na condição peculiar do homo viator. Por sua vez, a Sagrada Escritura testemunha repetidas vezes o valor do facto de pôr-se a caminho para ir aos lugares sagrados; era tradição do Israelita ir em peregrinação à cidade onde se conservava a arca da aliança, ou então visitar o santuário de Betel (cf. Jz 20, 18), ou o de Silo, onde Ana, mãe de Samuel, viu a sua oração atendida (cf. 1 Sam 1, 3). Submetendo-Se voluntariamente à Lei, também Jesus, com Maria e José, foi como peregrino à cidade santa de Jerusalém (cf. Lc 2, 41). A história da Igreja é o diário vivo duma peregrinação sem cessar. A caminho da cidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, da Terra Santa, ou de santuários — antigos e novos — dedicados à Virgem Maria e aos Santos: eis a meta de muitos fiéis que assim alimentam a sua devoção.

A peregrinação sempre constituiu um momento significativo na vida dos fiéis, revestindo expressões culturais diferentes nas várias épocas. Ela lembra o caminho pessoal do crente seguindo as pegadas do Redentor: é exercício de ascese activa, de arrependimento pelas faltas humanas, de vigilância constante sobre a própria fragilidade, de preparação interior para a conversão do coração. Através da vigilância, do jejum, da oração, o peregrino avança pela estrada da perfeição cristã, esforçando-se por chegar, com a ajuda da graça de Deus, “ao estado de homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4, 13).

8. Conexo com a peregrinação, temos o sinal da porta santa, aberta pela primeira vez na Basílica do Santíssimo Salvador de Latrão durante o Jubileu de 1423. Ela evoca a passagem do pecado à graça, que cada cristão é chamado a realizar. Jesus disse: “Eu sou a porta” (Jo 10, 7), para indicar que ninguém pode ter acesso ao Pai senão por Ele. Esta designação que Jesus faz de Si mesmo, atesta que só Ele é o Salvador enviado pelo Pai. Há um único acesso que abre de par em par a entrada na vida de comunhão com Deus: este acesso é Jesus, caminho único e absoluto de salvação. Só a Ele se podem aplicar, na sua verdade plena, estas palavras do Salmista: “Esta é a porta do Senhor; por ela entram apenas os justos” (Sal 118117, 20).

O sinal da porta lembra a responsabilidade de todo o crente quando este atravessa o seu limiar. Passar por aquela porta significa confessar que Jesus Cristo é o Senhor, revigorando a fé n'Ele para viver a vida nova que nos deu. É uma decisão que supõe a liberdade de escolher e ao mesmo tempo a coragem de abandonar alguma coisa, na certeza de adquirir a vida divina (cf. Mt 13, 44-46). Será com este espírito que o Papa, à frente de todos, atravessará a porta santa na noite de 24 para 25 de Dezembro de 1999. Ao cruzar o seu limiar, mostrará à Igreja e ao mundo o Santo Evangelho, fonte de vida e de esperança para o terceiro milénio que está a chegar. Através da porta santa, simbolicamente mais ampla porque aberta ao fim de um milénio, [xiii] Cristo integrar-nos-á mais profundamente na Igreja, seu Corpo e sua Esposa. Compreendemos assim quão rico de significado é o apelo do apóstolo Pedro, quando escreve que, unidos a Cristo, também nós entramos, “como pedras vivas, na construção dum edifício espiritual, por meio dum sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus” (1 Ped 2, 5).
[xiv]…/


[i]  Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 22.
[ii] Cf. n. 1: AAS 71 (1979), 258.
[iii] Cf. João Paulo II, Epíst. ap. Redemptionis anno (20 de Abril de 1984): AAS 76 (1984), 627.
[iv] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 40.
[v] Cf. João Paulo II, Carta ap. Tertio millennio adveniente (10 de Novembro de 1994), 36: AAS 87 (1995), 28.
[vi] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 41.
[vii] Cf. nn. 39-54: AAS 87 (1995), 31-37.
[viii] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Revelação divina Dei Verbum, 2.4.
[ix] Poemas dogmáticos, XXXI, Hymnus alias: PG 37, 510-511.
[x] Cf. Contra as heresias, III, 17: PG 7, 930.
[xi] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1.
[xii] Bula Antiquorum habet (22 de Fevereiro de 1300): Bullarium Romanum III/2, p. 94.
[xiii] Cf. João Paulo II, Carta ap. Tertio millennio adveniente (10 de Novembro de 1994), 33: AAS 87 (1995), 25.
[xiv] Copyright © Libreria Editrice Vaticana

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