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24/02/2012

Leitura Espiritual para 24 Fev 2012

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver texto completo para hoje, clicar abaixo
Evangelho: Mc 16, 1-20


1 Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram perfumes para irem embalsamar Jesus. 2 Partindo no primeiro dia da semana, de manhã cedo, chegaram ao sepulcro quando o sol já era nascido. 3 Diziam entre si: «Quem nos há-de retirar a pedra da entrada do sepulcro?». 4 Mas, olhando, viram removida a pedra, que era muito grande. 5 Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado do lado direito, vestido de uma túnica branca e ficaram assustadas. 6 Ele disse-lhes: «Não vos assusteis. Buscais a Jesus Nazareno, o crucificado? Ressuscitou, não está aqui. Eis o lugar onde O depositaram. 7 Mas ide, dizei a Seus discípulos e a Pedro que Ele vai diante de vós para a Galileia; lá O vereis, como Ele vos disse». 8 Elas, saindo do sepulcro, fugiram, porque as tinha assaltado o temor e estavam como que fora de si. Não disseram nada a ninguém, tal era o medo que tinham. 9 Jesus, tendo ressuscitado de manhã, no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demónios. 10 Ela foi noticiá-lo aos que tinham andado com Ele, os quais estavam tristes e chorosos. 11 Tendo eles ouvido dizer que Jesus estava vivo e que fora visto por ela, não acreditaram. 12 Depois disto, mostrou-Se de outra forma a dois deles, enquanto iam para a aldeia; 13 os quais foram anunciar aos outros, que também a estes não deram crédito. 14 Finalmente, apareceu aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a sua incredulidade e dureza de coração, por não terem dado crédito aos que O tinham visto ressuscitado. 15 E disse-lhes: «Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda a criatura. 16 Quem crer e for baptizado, será salvo; mas quem não crer, será condenado. 17 Eis os milagres que acompanharão os que crerem: Expulsarão os demónios em Meu nome, falarão novas línguas, 18 pegarão em serpentes e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará mal; imporão as mãos sobre os doentes, e serão curados». 19 O Senhor, depois de assim lhes ter falado, elevou-Se ao céu e foi sentar-Se à direita do Pai. 20 Eles, tendo partido, pregaram por toda a parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com os milagres que a acompanhavam.

CARTA APOSTÓLICA
MANE NOBISCUM DOMINE
DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II
AO EPISCOPADO, CLERO E FIÉIS PARA O ANO DA EUCARISTIA

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«Eu estou convosco todos os dias» (Mt 28,20)

16. Todas estas dimensões da Eucaristia se encontram num aspecto que, mais do que qualquer outro, põe à prova a nossa fé: é o mistério da presença «real». Com toda a tradição da Igreja, acreditamos que, sob as espécies eucarísticas, está realmente presente Jesus. Uma presença — como eficazmente explicou o Papa Paulo VI — que se diz «real», não por exclusão como se as outras formas de presença não fossem reais, mas por antonomásia enquanto, por ela, Se torna substancialmente presente Cristo completo na realidade do seu corpo e do seu sangue. [1] Por isso a fé pede-nos para estarmos diante da Eucaristia com a consciência de que estamos na presença do próprio Cristo. É precisamente a sua presença que dá às outras dimensões — de banquete, memorial da Páscoa, antecipação escatológica — um significado que ultrapassa, e muito, o de puro simbolismo. A Eucaristia é mistério de presença, mediante o qual se realiza de modo excelso a promessa que Jesus fez de ficar connosco até ao fim do mundo.

Celebrar, adorar, contemplar

17. Grande mistério, a Eucaristia! Mistério que deve ser, antes de mais nada, bem celebrado. É preciso que a Santa Missa seja colocada no centro da vida cristã e que, em cada comunidade, tudo se faça para celebrá-la decorosamente, segundo as normas estabelecidas, com a participação do povo, valendo-se dos diversos ministros no desempenho das atribuições que lhes estão previstas, e com uma séria atenção também ao aspecto de sacralidade que deve caracterizar o canto e a música litúrgica. Um compromisso concreto deste Ano da Eucaristia poderia ser estudar a fundo, em cada comunidade paroquial, os «prænotanda» da Instrução Geral do Missal Romano. O caminho privilegiado para ser introduzido no mistério da salvação, actuada nos «sinais» sagrados, continua a ser o de seguir com fidelidade o desenrolar do ano litúrgico. Os Pastores empenhem-se na catequese «mistagógica», muito apreciada pelos Padres da Igreja, que ajuda a descobrir as valências dos gestos e das palavras da liturgia, ajudando os fiéis a passar dos sinais ao mistério e a implicar no mesmo toda a sua existência.

18. De modo particular torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da Missa como no culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da presença real de Cristo, tendo o cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, os gestos, os movimentos, o comportamento no seu todo. A tal respeito, as normas recordam — como ainda recentemente tive ocasião de o reafirmar [2] — o relevo que deve ser dado aos momentos de silêncio quer na celebração quer na adoração eucarística. Numa palavra, é necessário que todo o modo de tratar a Eucaristia por parte dos ministros e dos fiéis seja caracterizado por um respeito extremo. [3] A presença de Jesus no sacrário deve constituir como que um pólo de atracção para um número cada vez maior de almas enamoradas d'Ele, capazes de permanecerem longamente a escutar a sua voz e, de certo modo, a sentir o palpitar do seu coração: «Saboreai e vede como é bom o Senhor!» (Sal 34/33, 9).

Que a adoração eucarística fora da Missa se torne, durante este ano, um compromisso especial para as diversas comunidades religiosas e paroquiais. Permaneçamos longamente prostrados diante de Jesus presente na Eucaristia, reparando com a nossa fé e o nosso amor as negligências, esquecimentos e até ultrajes que o nosso Salvador Se vê obrigado a suportar em tantas partes do mundo. Aprofundemos na adoração a nossa contemplação pessoal e comunitária, servindo-nos também de subsídios de oração baseados sempre na Palavra de Deus e na experiência de tantos místicos antigos e recentes. O próprio Rosário, visto no seu sentido profundo, bíblico e cristocêntrico, que recomendei na carta apostólica Rosarium Virginis Mariæ, poderá ser um caminho particularmente adaptado para a contemplação eucarística, actuada em companhia e na escola de Maria. [4]

Neste ano, seja vivida com particular fervor a solenidade do Corpus Domini com a tradicional procissão. A fé neste Deus que, tendo encarnado, Se fez nosso companheiro de viagem, seja proclamada por toda a parte particularmente pelas nossas estradas e no meio das nossas casas, como expressão do nosso amor agradecido e fonte inexaurível de bênção.

III

A EUCARISTIA FONTE E EPIFANIA
DE COMUNHÃO

«Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós» (Jo 15,4)

19. Ao pedido dos discípulos de Emaús para que ficasse «com» eles, Jesus responde com um dom muito maior: através do sacramento da Eucaristia encontrou o modo de permanecer «dentro» deles. Receber a Eucaristia é entrar em comunhão profunda com Jesus. «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós» (Jo 15,4). Esta relação de íntima e recíproca «permanência» permite-nos antecipar de algum modo o céu na terra. Não é porventura este o maior anseio do homem? Não foi isso mesmo o que Deus Se propôs, ao realizar na história o seu desígnio de salvação? Ele colocou no coração do homem a «fome» da sua Palavra (cf. Am 8,11), uma fome que ficará saciada apenas na plena união com Ele. A comunhão eucarística foi-nos dada para «nos saciarmos» de Deus sobre esta terra, à espera da saciedade plena no céu.

Um só pão, um só corpo

20. Mas esta intimidade especial, que se realiza na «comunhão» eucarística, não pode ser adequadamente compreendida nem plenamente vivida fora da comunhão eclesial. Isto mesmo o sublinhei várias vezes na encíclica Ecclesia de Eucharistia. A Igreja é o corpo de Cristo: caminha-se «com Cristo» na medida em que se está em relação «com o seu corpo». Cristo providencia a geração e fomento desta unidade com a efusão do Espírito Santo. E Ele mesmo não cessa de promovê-la através da sua presença eucarística. Com efeito, é precisamente o único Pão eucarístico que nos torna um só corpo. Afirma-o o apóstolo Paulo: «Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão» (1Cor 10,17). No mistério eucarístico, Jesus edifica a Igreja como comunhão, segundo o modelo supremo evocado na oração sacerdotal: «Para que todos sejam um só; como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em ti, que também eles estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste» (Jo 17,21).

21.Fonte da unidade eclesial, a Eucaristia é também a sua máxima manifestação. A Eucaristia é epifania de comunhão. Por isso, é que a Igreja põe condições para se poder tomar parte de modo pleno na celebração eucarística. [5] As várias limitações devem levar-nos a tomar uma consciência cada vez maior de quão exigente seja a comunhão que Jesus nos pede. É comunhão hierárquica, fundada na consciência das diversas funções e ministérios, continuamente reafirmada inclusive na Oração Eucarística através da menção do Papa e do Bispo diocesano. É comunhão fraterna, cultivada com uma «espiritualidade de comunhão» que nos leva a sentimentos de recíproca abertura, estima, compreensão e perdão. [6]
[7]…/
Btº João Paulo II, Carta Apostólica - Mane nobiscum domine

«Um só coração e uma só alma» (Act 4,32)

22. Em cada Santa Missa, somos chamados a confrontar-nos com o ideal de comunhão que o livro dos Actos dos Apóstolos esboça como modelo para a Igreja de sempre. É a Igreja congregada ao redor dos Apóstolos, convocada pela Palavra de Deus, capaz de uma partilha que inclui não só os bens espirituais, mas também os materiais (cf. Act 2,42-47; 4,32-35). Neste Ano da Eucaristia, o Senhor convida a aproximarmo-nos o mais possível deste ideal. Sejam vividos com particular empenho os momentos já sugeridos pela liturgia para a «Missa estacional», quando o Bispo celebra na catedral com os seus presbíteros e diáconos e com a participação do povo de Deus em todas as suas componentes. Tal é a «manifestação» principal da Igreja. [8] Mas é louvável individuar outras ocasiões significativas, mesmo a nível das paróquias, para que o sentido da comunhão cresça, haurindo da celebração eucarística um renovado fervor.

O Dia do Senhor

23. Desejo em particular que, neste ano, se ponha um empenho especial em descobrir e viver plenamente o Domingo como dia do Senhor e dia da Igreja. Ficaria feliz se se voltasse a meditar tudo o que deixei escrito na carta apostólica Dies Domini. De facto, «é precisamente na Missa dominical que os cristãos revivem, com particular intensidade, a experiência feita pelos Apóstolos na tarde de Páscoa, quando, estando eles reunidos, o Ressuscitado lhes apareceu (cf. Jo 20,19). Naquele pequeno núcleo de discípulos, primícias da Igreja, estava de algum modo presente o povo de Deus de todos os tempos». [9] No seu empenho pastoral, os sacerdotes prestem, durante este ano de graça, uma atenção ainda maior à Missa dominical, como celebração onde a comunidade paroquial se encontra em conjunto, contando ordinariamente com a participação dos vários grupos, movimentos e associações nela presentes.

IV

A EUCARISTIA PRINCÍPIO
E PROJECTO DE «MISSÃO»

«Partiram imediatamente» (Lc 24,33)

24. Os dois discípulos de Emaús, depois de terem reconhecido o Senhor, «partiram imediatamente» (Lc 24,33) para comunicar o que tinham visto e ouvido. Quando se faz uma verdadeira experiência do Ressuscitado, alimentando-se do seu corpo e do seu sangue, não se pode reservar para si mesmo a alegria sentida. O encontro com Cristo, continuamente aprofundado na intimidade eucarística, suscita na Igreja e em cada cristão a urgência de testemunhar e evangelizar. Quis sublinhá-lo precisamente na homilia em que fiz o anúncio do Ano da Eucaristia, referindo-me às palavras de Paulo: «Sempre que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha» (1Cor 11,26). O Apóstolo coloca em estreita inter-relação o banquete e o anúncio: entrar em comunhão com Cristo no memorial da Páscoa significa ao mesmo tempo experimentar o dever de fazer-se missionário do acontecimento que esse rito actualiza. [10] A despedida no final de cada Missa constitui um mandato, que impele o cristão para o dever de propagação do Evangelho e de animação cristã da sociedade.

25. Para tal missão, a Eucaristia oferece não apenas a força interior, mas também em determinado sentido o projecto. Na realidade, aquela é um modo de ser que passa de Jesus para o cristão e, através do seu testemunho, tende a irradiar-se na sociedade e na cultura. Para que isso aconteça, é necessário que cada fiel assimile, na meditação pessoal e comunitária, os valores que a Eucaristia exprime, as atitudes que ela inspira, os propósitos de vida que suscita. Como não ver nisto o mandato especial que poderia brotar do Ano da Eucaristia?

Dar graças

26. Um elemento fundamental deste projecto emerge do próprio significado da palavra «eucaristia»: acção de graças. Em Jesus, no seu sacrifício, no seu «sim» incondicional à vontade do Pai, está o «sim», o «obrigado» e o «amen» da humanidade inteira. A Igreja é chamada a recordar aos homens esta grande verdade. É urgente que tal se faça sobretudo na nossa cultura secularizada, que respira o olvido de Deus e cultiva uma vã auto-suficiência do homem. Encarnar o projecto eucarístico na vida quotidiana, nos lugares onde se trabalha e vive — na família, na escola, na fábrica, nas mais diversas condições de vida — significa, para além do mais, testemunhar que a realidade humana não se justifica sem a referência ao Criador: «Sem o Criador, a criatura não subsiste». [11] Esta abertura transcendente, que nos induz a um «obrigado» perene — nisto consiste a atitude eucarística — por tudo o que temos e somos, não prejudica a legítima autonomia das realidades terrenas, [12] mas fundamenta-a da forma mais verdadeira ao colocá-la simultaneamente dentro dos seus justos limites.

Neste Ano da Eucaristia, haja um empenho, por parte dos cristãos, de testemunhar com mais vigor a presença de Deus no mundo. Não tenhamos medo de falar de Deus e de ostentar sem vergonha os sinais da fé. A «cultura da Eucaristia» promove uma cultura do diálogo, que nela encontra força e alimento. É errado considerar que a referência pública à fé possa ofender a justa autonomia do Estado e das instituições civis, ou então encorajar atitudes de intolerância. Se historicamente não faltaram erros nesta matéria mesmo em crentes, como fiz questão de reconhecer por ocasião do Jubileu, há que atribuí-los, não às «raízes cristãs», mas à incoerência dos cristãos face às suas raízes. Quem aprende a dizer «obrigado» à maneira de Cristo crucificado, poderá ser um mártir, mas nunca um algoz.

O caminho da solidariedade

27. A Eucaristia não é expressão de comunhão apenas na vida da Igreja; é também projecto de solidariedade em prol da humanidade inteira. A Igreja renova continuamente na celebração eucarística a sua consciência de ser «sinal e instrumento» não só da íntima união com Deus mas também da unidade de todo o género humano. [13] Cada Missa, mesmo quando é celebrada sem assistência ou numa remota região da terra, possui sempre o sinal da universalidade. O cristão, que participa na Eucaristia, dela aprende a tornar-se promotor de comunhão, de paz, de solidariedade, em todas as circunstâncias da vida. A imagem lacerada do nosso mundo, que começou o novo milénio com o espectro do terrorismo e a tragédia da guerra, desafia ainda mais fortemente os cristãos a viverem a Eucaristia como uma grande escola de paz, onde se formem homens e mulheres que, a vários níveis de responsabilidade na vida social, cultural, política, se fazem tecedores de diálogo e de comunhão.

Ao serviço dos últimos

28. Há ainda um ponto para o qual queria chamar a atenção, porque sobre ele se joga em medida notável a autenticidade da participação na Eucaristia, celebrada na comunidade: é o impulso que esta aí recebe para um compromisso real na edificação duma sociedade mais equitativa e fraterna. Na Eucaristia, o nosso Deus manifestou a forma extrema do amor, invertendo todos os critérios de domínio que muitas vezes regem as relações humanas e afirmando de modo radical o critério do serviço: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos» (Mc 9,35). Não é por acaso que, no Evangelho de João, se encontra, não a narração da instituição eucarística, mas a do «lava-pés» (cf. Jo 13,1-20): inclinando-Se a lavar os pés dos seus discípulos, Jesus explica de forma inequivocável o sentido da Eucaristia. S. Paulo, por sua vez, reafirma vigorosamente que não é lícita uma celebração eucarística onde não resplandeça a caridade testemunhada pela partilha concreta com os mais pobres (cf. 1Cor 11,17-22.27-34).

Por que não fazer então deste Ano da Eucaristia um período em que as comunidades diocesanas e paroquiais se comprometam de modo especial a ir, com operosidade fraterna, ao encontro de alguma das muitas pobrezas do nosso mundo? Penso no drama da fome que atormenta centenas de milhões de seres humanos, penso nas doenças que flagelam os países em vias de desenvolvimento, na solidão dos idosos, nas dificuldades dos desempregados, nas desgraças dos imigrantes. Trata-se de males que afligem, embora em medida diversa, também as regiões mais opulentas. Não podemos iludir-nos: do amor mútuo e, em particular, da solicitude por quem passa necessidade, seremos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Cristo (cf. Jo 13,35; Mt25,31-46). Com base neste critério, será comprovada a autenticidade das nossas celebrações eucarísticas.

CONCLUSÃO

29.O Sacrum Convivium, in quo Cristus sumitur! O Ano da Eucaristia nasce do assombro que a Igreja sente diante deste grande Mistério. É um assombro que não cessa de permear o meu espírito. Dele brotou a encíclica Ecclesia de Eucharistia. Sinto como sendo uma grande graça do vigésimo sétimo ano de ministério petrino, que estou para iniciar, poder chamar agora toda a Igreja a contemplar, louvar, adorar de modo muito especial este inefável Sacramento. O Ano da Eucaristia seja para todos ocasião preciosa para uma renovada consciência do tesouro incomparável que Cristo entregou à sua Igreja. Seja estímulo para a sua celebração mais viva e sentida, da qual brote uma existência cristã transformada pelo amor.

Muitas iniciativas se poderão realizar nesta linha, ao critério dos Pastores das Igrejas particulares. A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos não deixará de oferecer, para o efeito, sugestões e propostas úteis. Todavia não peço que se façam coisas extraordinárias, mas que todas as iniciativas sejam marcadas por profunda interioridade. Mesmo que o seu fruto fosse apenas reavivar em todas as comunidades cristãs a celebração da Missa dominical e incrementar a adoração eucarística fora da Missa, este ano de graça teria conseguido um significativo resultado. Mas é bom apostar alto, não se contentando com medidas medíocres, porque sabemos poder contar sempre com a ajuda de Deus.

30. A vós, amados Irmãos no Episcopado, confio este ano, seguro de que acolhereis o meu convite com todo o vosso ardor apostólico.

Vós, sacerdotes, que repetis cada dia as palavras da consagração e sois testemunhas e arautos do grande milagre de amor que acontece entre as vossas mãos, deixai-vos interpelar pela graça deste ano especial, celebrando cada dia a Santa Missa com a alegria e o fervor da primeira vez e detendo-se de boa vontade em oração diante do Sacrário.

Seja um ano de graça para vós, diáconos, que estais envolvidos de perto no ministério da Palavra e no serviço do Altar. Também vós, leitores, acólitos, ministros extraordinários da comunhão, tende viva consciência do dom a vós concedido através das mansões que vos são confiadas em ordem a uma digna celebração da Eucaristia.

De forma particular dirijo-me a vós, futuros sacerdotes: na vida de Seminário, procurai fazer experiência de quão amável é não só participar diariamente na Santa Missa, mas também demorar-se longamente em diálogo com Jesus Eucaristia.

Vós, consagrados e consagradas, chamados pela própria consagração a uma contemplação mais prolongada, recordai que Jesus no Sacrário espera por vós junto d'Ele, para derramar nos vossos corações aquela experiência íntima da sua amizade que é a única que pode dar sentido e plenitude à vossa vida.

Vós, fiéis todos, descobri novamente o dom da Eucaristia como luz e força para a vossa vida quotidiana no mundo, no exercício das respectivas profissões e em contacto com as mais diversas situações. Descobri-o sobretudo para viverdes plenamente a beleza e a missão da família.

Enfim, muito espero de vós, jovens, ao fixar-vos o nosso encontro para a Jornada Mundial da Juventude, em Colónia. O tema escolhido — «Viemos adorá-Lo (Mt 2, 2)» — presta-se a sugerir-vos de modo particular a justa disposição para viver este ano eucarístico. Ponde, no encontro com Jesus escondido sob o véu eucarístico, todo o entusiasmo da vossa idade, da vossa esperança, da vossa capacidade de amar.

31. Diante dos nossos olhos temos o exemplo dos Santos, que encontraram na Eucaristia o alimento para o seu caminho de perfeição. Quantas vezes se comoveram até às lágrimas na experiência de tão grande mistério e viveram horas indescritíveis de alegria «esponsal» diante do Sacramento do Altar. Ajude-nos sobretudo a Virgem Santa, que encarnou a lógica da Eucaristia na sua existência inteira. «A Igreja, vendo em Maria o seu modelo, é chamada a imitá-La também na sua relação com este mistério santíssimo». [14] O Pão eucarístico que recebemos é a carne imaculada do Filho: «Ave verum corpus natum de Maria Virgine». Neste ano de graça, a Igreja, sustentada por Maria, encontre novo impulso para a sua missão e reconheça cada vez mais na Eucaristia a fonte e o apogeu de toda a sua vida.

A todos chegue, portadora de graça e de alegria, a minha Bênção.

Vaticano, 7 de Outubro, memória de Nossa Senhora do Rosário, de 2004, vigésimo sexto ano de Pontificado.

IOANNES PAULUS PP.II

Copyright © Libreria Editrice Vaticana


[1] Cf. Carta enc. Mysterium fidei (3 de Setembro de 1965), 39: AAS 57 (1965), 764; S. Congr. dos Ritos, Instr. Eucharisticum mysterium sobre o culto do Mistério Eucarístico (25 de Maio de 1967), 9: AAS 59 (1967), 547.
[2] Cf. Mensagem Spiritus et Sponsa, no XL aniversário da Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium (4de Dezembro de 2003), 13: AAS 96 (2004), 425.
[3] Cf. Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instr. Redemptionis sacramentum sobre algumas coisas que se devem observar e evitar relativamente à Santíssima Eucaristia (25 de Março de 2004): Suplemento de L'Osservatore Romano (24 de Abril de 2004).
[4] Cf. Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instr. Redemptionis sacramentum sobre algumas coisas que se devem observar e evitar relativamente à Santíssima Eucaristia (25 de Março de 2004): Suplemento de L'Osservatore Romano (24 de Abril de 2004)137: o.c., 7.
[5] Cf. João Paulo II, Carta enc. Ecclesia de Eucharistia (17 de Abril de 2003), 44: AAS 95 (2003), 462; Código de Direito Canónico, cân. 908; Código dos Cânones das Igrejas Orientais, cân. 702; Pont. Cons. para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Directório Ecuménico (25 de Março de 1993), 122-125, 129-131: AAS 85 (1993), 1086-1089; Congr. para a Doutrina da Fé, Carta Ad exsequendam (18 de Maio de 2001): AAS 93 (2001), 786.
[6] Cf. João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6de Janeiro de 2001), 43: AAS 93 (2001), 297.
[7] Copyright © Libreria Editrice Vaticana
[8] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, 41.
[9] N. 33: AAS 90 (1998), 733.
[10] Cf. Homilia na solenidade do «Corpus Domini» (10 de Junho de 2004), 1: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 12/VI/2004), 301.
[11] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 36.
[12] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 36.
[13] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1.
[14] João Paulo II, Carta enc. Ecclesia de Eucharistia (17 de Abril de 2003), 53: AAS 95 (2003), 469.

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