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27/02/2012

Boxe

Navegando pela minha cidade
Tenho pena de não ter podido assistir ao seminário com a lenda do boxe Javier Castillejo “ El Lince de Parla” organizado pela Arena de Matosinhos no passado dia 11 de Fevereiro.

“Considerado o pugilista mais espectacular de Espanha e do Mundo Javier Castilleja conseguiu a árdua tarefa de escrever o seu nome a ouro no panorama mundial do boxe profissional. Mediático e sempre espectacular nos seus combates o seu fight record de 72 combates com 62 vitórias e 1 nulo com 43 KO e o seu incrível currículo onde cintilam 8 cinturões mundiais, seis da Europa e 3 de Espanha e 2 da União Europeia fazem deste seminário um momento único de privar e aprender com um verdadeiro campeão”[1].

Em compensação, às nove e meia da noite de sábado passado já lá estava assentado na bancada, acompanhado por um amigo, para assistir ao Campeonato Ibérico de Kickboxing em 7 assaltos entre o português Elson Agante e o espanhol David de Dios na categoria de 71 quilos.

O boxe é um desporto cuja prática exige muitas virtudes humanas, nomeadamente: coragem; lealdade; perseverança; prudência; respeito; fair play e optimismo. Por isso se aprende muito vendo um combate de boxe. Edifica ver na arena, entre cordas, debaixo da luz intensa dos projectores, dois homens exercendo estas virtudes.

Só por uma questão de snobismo parolo o boxe não tem hoje em dia a projecção que já teve no século XIX quando era apelidado de nobre arte. Se há quem o considere violento é porque nunca viu um jogo de futebol ou porque está muito distraído e não repara na enorme violência que é a vida de todos os dias, principalmente de quem não tem sentido para ela. E esta é a maior violência que o homem pode sofrer ou fazer a si mesmo.

Sendo a virtude a disposição habitual para praticar o bem, que existirá na sua ausência? Penso que exactamente a imensa tristeza e angústia do vazio niilista contemporâneo. Ou seja, para quê o esforço de melhorar? Para quê viver a vida se ela não tem sentido? O que é e para que serve a alegria? Para quê viver if life is shit and then you die?

 [Nietzsche considera o niilismo uma grande alegria, pois liberta-nos para viver a vida que escolhemos, no entanto muitas pessoas consideram isso horrível. Nas palavras de Dostoiévsky: “Se Deus não existe, então tudo é permitido”. Em nossa opinião, o niilismo traduz uma mente tão fechada quanto a do fanatismo, e nem um nem outro constituem fundamento suficiente para basear uma vida digna de ser vivida] [2]

De facto, sendo o homem um ser sublime, a desistência de ir mais além de si próprio - de se transcender – acaba por o fazer apodrecer no estaleiro dos barcos inacabados, sem nunca ter desfraldado as velas ao vento e navegado até aos mares do Sul onde se caçam as baleias e voam os albatrozes.

Porque onde não há virtudes humanas ou naturais não há virtudes sobrenaturais. E onde estas não existem dando suporte à vida interior, esta estiola e morre de tristeza.

O cinturão de Campeão Ibérico na categoria de 71 quilos foi entregue com toda a justiça ao espanhol David de Dios. Esteve ao ataque e a marcar pontos durante todos os sete assaltos.

Afonso Cabral





[1]  Sic - in cartaz promocional da Arena Matosinhos
[2] Hubert Dreyfus /Sean Dorrance Kelly – Uma Vida Iluminada – Lua de Papel -2011 –pág. 33

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